Texto-base do Tema e Lema da IECLB para 2020
Proclamar Libertação – Volume 44
Prédica: João 15.16
Autoria: Presidência da IECLB
Tema: Viver o Batismo
Lema: Eu escolhi vocês para que deem fruto. (João 15.16)
“A vida cristã é simplesmente um batismo diário,
iniciado uma vez e em constante andamento.”
(Martim Lutero, Catecismo Maior)
O XXXI Concílio da Igreja, realizado em 2018 na cidade de Curitiba/PR, aprovou as cinco metas missionárias da IECLB para o período de 2019-2024. As metas definem as áreas prioritárias e o rumo da nossa ação missionária. São propósitos para toda a igreja. A primeira meta diz que queremos ser uma “Igreja que valoriza o sacerdócio geral, capacita as pessoas e aprofunda a fé para seu testemunho na Igreja e no mundo”. O Tema do Ano de 2020 tem como pano de fundo especialmente essa meta. Viver o Batismo é viver o sacerdócio geral de todas as pessoas que creem. O Batismo é a origem e a base para o exercício do sacerdócio. Mas como entendemos o Batismo e o sacerdócio geral? Nada melhor do que recorrer ao tesouro da tradição bíblica e luterana, bem como às manifestações da IECLB sobre esses assuntos. O texto-base que apresentamos é um resumo sistematizado desse precioso tesouro de que dispomos.
Batismo como sacramento
O Batismo é um sacramento. Sacramentos são meios da graça de Deus, ou seja, são meios que Deus utiliza para conceder perdão e salvação. Um sacramento possui três componentes: mandamento divino, promessa da graça e elemento visível. Seguindo esse pressuposto, a Igreja Luterana reconhece dois sacramentos: o Batismo e a Santa Ceia. Esses sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo (= mandamento divino), oferecem perdão e salvação (= promessa da graça) e são perceptíveis na forma de água, pão e fruto da videira (= elemento visível).
O mandamento divino no Batismo é a instrução de Jesus: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando–os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês (Mateus 28.18-20).
A promessa da graça no Batismo é a afirmação de Jesus: Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado (Marcos 16.16).
Sobre o mandamento e a promessa, Martim Lutero escreveu: “Nessas palavras você deve observar, em primeiro lugar, que aqui se trata de mandamento e instituição por parte de Deus, que não se deve duvidar de que o Batismo seja coisa divina, não concebida ou inventada por humanos […]. A palavra e o mandamento de Deus estão aí a instituir, fundamentar e confirmar o Batismo” (Catecismo Maior). Jesus Cristo delegou a tarefa de batizar na condição de ressuscitado que recebeu de Deus toda a autoridade no céu e na terra. A legitimidade do Batismo está, portanto, na autoridade divina. Por isso o Batismo não é um ato humano, mas de Deus: “ser batizado no nome de Deus é ser batizado não por pessoas, mas pelo próprio Deus. Mesmo que se realize pela mão humana, é autêntico ato [ou obra] do próprio Deus” (Catecismo Maior).
O elemento visível no Batismo é a água. Ela é necessária para a vida das plantas, dos animais e dos seres humanos. Sem água não podemos viver; por isso ela é símbolo de vida. A água tem o poder de purificar, o que faz dela um símbolo de renovação. A água também pode destruir e, neste sentido, simboliza a morte. Todas essas representações são úteis para falar sobre o Batismo, porém a água do Batismo não é apenas um elemento simbólico, “mas é a água contida no mandamento de Deus e ligada à palavra de Deus. […] Sem a palavra de Deus a água é só água e não é batismo” (Catecismo Menor). Não é o sentido simbólico, a qualidade ou a quantidade de água que dignificam o Batismo, mas a palavra de Deus.
Qual é o efeito do Batismo?
Para Lutero, o objetivo do Batismo é tornar a pessoa bem-aventurada. Bem-aventurada, na percepção do Reformador, é a pessoa que entra no reino de Cristo e vive com ele eternamente. Quando somos batizadas e batizados em nome do trino Deus, a dignidade de carregar esse nome nos é dada. E “onde estiver o nome de Deus, somente pode haver vida e boa-aventurança” (Catecismo Maior).
O Batismo nos torna pessoas bem-aventuradas porque realiza em nós o perdão dos pecados. Isso acontece unicamente pela ação de Deus: ele nos salvou, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia. Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna (Tito 3.5-7).
Unida à palavra de Deus, a água do Batismo afoga o pecado e nos faz ressurgir como nova pessoa. Ganhamos assim a identidade de pessoas justificadas por Deus. Embora os nossos pecados sejam afogados, não estamos totalmente livres do poder do mal. Durante toda a vida carregaremos a ambiguidade de sermos, ao mesmo tempo, pessoas justificadas e pecadoras. A graça de Deus, todavia, permanecerá e sempre poderemos retornar a ela sem a necessidade de um novo Batismo. Por ser obra de Deus, o Batismo acontece uma só vez e vale para toda a vida. A prática do rebatismo é inadmissível porque menospreza a obra de Deus.
O Batismo nos torna pessoas bem-aventuradas porque nos une a Cristo: todos vocês que foram batizados em Cristo, de Cristo se revestiram (Gálatas 3.27). O Batismo estabelece um vínculo pessoal com Jesus e nos torna participantes da sua vida, morte e ressurreição: Fomos sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós andemos em novidade de vida (Romanos 6.4).
O Batismo nos torna pessoas bem-aventuradas porque nos agracia com o Espírito Santo. A pessoa batizada em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo está colocada sob o âmbito da ação do trino Deus. Neste sentido, a Igreja Luterana reconhece que o Espírito Santo é concedido no Batismo. Por meio do Espírito Santo, Deus nos purifica e dá nova vida. É por isso que Lutero afirma que o Batismo é “um banho de novo nascimento no Espírito Santo” (Catecismo Menor).
Batismo e fé
O artigo 9 da Confissão de Augsburgo declara que o Batismo é necessário e que por ele se oferece a graça de Deus. A falta de fé não invalida o Batismo: “Se a palavra estiver junto com a água, o Batismo será autêntico, mesmo que não seja corretamente recebido ou usado, uma vez que ele não está vinculado à nossa fé, como disse, mas à palavra” (Catecismo Maior). Ainda assim, a promessa de Jesus Cristo diz: Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado (Marcos 16.16). Como entender que o Batismo traz salvação, porém somente será salva a pessoa que crer? Essa aparente contradição pode ser dissipada se considerarmos a distinção entre eficácia e proveito: “A graça de Deus é sempre eficaz, embora a pessoa batizada possa permanecer sem proveito dela, se não houver a fé” (Diálogo sobre o Batismo – 2005). Por meio da fé, a pessoa batizada recebe o que Deus lhe prometeu no Batismo. Sem a fé, o Batismo não será aproveitado. Entretanto, é preciso lembrar que também a fé não é obra humana: Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus (Efésios 2.8).
Somos filhas e filhos de Deus pela fé e pelo Batismo (Gálatas 3.26s). Essa identidade é uma concessão divina. Nós não controlamos a ação de Deus e por isso também reconhecemos que pessoas não batizadas podem ser salvas. O Batismo é um meio da graça, porém não é a única possibilidade para a salvação: “A graça de Deus pode dispor e dispõe de outros recursos. A graça de Deus é maior do que os meios que ele coloca à disposição da Igreja para partilhá-la” (Livro de Batismo).
Batismo e vida comunitária
O Batismo se dirige à pessoa em particular e cria um vínculo pessoal com Cristo. A partir do acontecimento único do Batismo, a pessoa é revestida de Cristo e está em Cristo. Estar em Cristo significa fazer parte do corpo de Cristo: Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, constituem um só corpo, assim também é com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo (1 Coríntios 12.12s). O vínculo com Cristo é pessoal, porém não é individual. Do corpo de Cristo participam as pessoas batizadas das diferentes denominações cristãs, formando assim a santa igreja cristã, que confessamos por meio do Credo Apostólico.
A união com Cristo e com o Espírito Santo nos torna participantes da igreja cristã. Mas o Batismo também nos vincula a uma comunidade específica e à IECLB em âmbito nacional. O guia comunitário Nossa Fé – Nossa Vida diz que a IECLB “é o convívio de pessoas por ela batizadas ou admitidas, diferentes umas das outras, todas elas, no entanto, chamadas para viverem seu batismo”. O Batismo é celebrado em culto comunitário justamente para assinalar que a comunidade integra a pessoa em seu convívio, a fim de que possa desenvolver e viver a fé.
A IECLB admite ao Batismo crianças, pessoas jovens e adultas. Ao batizarmos crianças, reconhecemos que a graça de Deus não depende de nosso mérito ou entendimento. Nesse aspecto seguimos o que Lutero escreveu no Catecismo Maior: “Levamos a criança com a ideia e na esperança de que ela acredite, e rogamos que Deus lhe dê a fé, mas não é com base nessa que batizamos, e sim com base na ordem dada por Deus”. Uma comunidade que batiza crianças precisa assumir a responsabilidade pela educação cristã para despertar e manter viva a confiança na graça de Deus. O Programa Missão Criança, desenvolvido em muitas de nossas comunidades, é um exemplo do compromisso com a educação cristã. Por meio do Missão Criança, temos a possibilidade de cumprir com a tarefa de batizar, educar na fé cristã e promover a vivência comunitária da fé.
Batismo e a luta contra o pecado
Lutero escreveu que é necessário observar três coisas no Batismo: o sinal, o significado, a fé (Obras Selecionadas, v. 1, p. 415-424).
• O sinal consiste em mergulhar a pessoa na água em nome do trino de Deus e tirá-la novamente. Por meio desse sinal somos reconhecidas e reconhecidos como povo de Cristo. Lutero considerava que a imersão na água representa bem o significado de afogar o pecado, porém não insistiu nessa modalidade de Batismo.
• O significado é um morrer para o pecado e uma ressurreição na graça de Deus: “o velho ser humano, concebido e nascido em pecado, é afogado, e um novo ser humano, nascido na graça, surge e se levanta”. O afogamento do pecado e o renascer na graça de Deus acontecem ao longo de toda a vida. Somente com a morte o significado do Batismo se realizará por completo.
• A fé. Precisamos crer que o Batismo nos une com Deus e que Deus quer nos tratar com misericórdia, não nos julgando com todo o rigor a que teria direito. Sem a fé, a pessoa iria desesperar em seus pecados.
A partir do Batismo carregamos o sinal de Deus, porém a natureza humana permanece pecaminosa. Qual seria então o benefício do Batismo, se ele não afasta completamente de nós o pecado? O benefício, segundo Lutero, é que Deus se alia conosco. No Batismo, Deus faz um pacto que nos permite enfrentar a luta contra o pecado: “ainda que maus pensamentos ou desejos se manifestem e ainda que, por vezes, peques e caias, se tornares a te erguer e a entrar na aliança, teus pecados já se foram por força do sacramento e do pacto, como diz São Paulo em Rm 8.1” (Obras Selecionadas, v. 1).
Porque a natureza pecaminosa permanece até a morte, a vida cristã é um constante reviver o Batismo: “por arrependimento diário, a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. E, por sua vez, deve sair e ressurgir nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus para sempre” (Catecismo Menor). Assim como Deus se compromete conosco, também nós precisamos nos dispor a subjugar o pecado. A pessoa que cair em pecado deve se lembrar do Batismo com toda força e confiança, sabendo que Deus não a quer condenar. O próprio Lutero escreveu a frase “sou batizado” para lembrar-se da ação misericordiosa de Deus. É necessário, entretanto, precaver-se da negligência e da falsa segurança. A partir da afirmação de que Deus não considera o pecado, mas quer dar a salvação, alguém poderia pensar: vou viver a vida do jeito que quero e, na hora da morte, me arrependerei e me lembrarei do meu Batismo. Para quem pensa assim, Lutero escreve: “Ao pecares tão petulante e deliberadamente, confiante na graça, toma cuidado que o juízo não te pegue e se antecipe ao teu arrependimento” (Obras Selecionadas, v. 1). O Batismo pode ser comparado a uma roupa que se usa todos os dias para vencer o mal e permanecer na fé.
O fruto do Batismo
Eu escolhi vocês para que deem fruto (João 15.16). Esse é o Lema bíblico que acompanha e aprofunda a reflexão sobre o Tema do Ano 2020. O Lema provém do contexto de uma comparação: Deus é o lavrador, Jesus é a videira e as pessoas que o seguem são os ramos da videira (João 15.1-17). Jesus escolheu pessoas para o discipulado, para anunciar e vivenciar o reino de Deus. Pelo Batismo, Deus igualmente nos escolhe e nos chama para produzir o fruto do seu reino. A palavra “escolher” não significa que Deus seleciona algumas pessoas para a salvação e outras para a condenação. Deus quer salvação abrangente e ilimitada, e é por isso que o Batismo se destina a todas as pessoas. Também a convocação para produzir fruto é destinada a todas as pessoas.
Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o lavrador. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto ele limpa, para que produza mais fruto ainda (João 15.1s). A função do ramo é dar fruto, e ele somente pode fazer isso porque duas condições lhe foram dadas. Em primeiro lugar, o ramo foi limpo: Vocês já estão limpos por causa da palavra que lhes tenho falado (João 15.3). O ramo não é “autolimpante”, mas é limpo por Deus. Pela Palavra e pelo Batismo, Deus nos perdoa e capacita a dar fruto. Em segundo lugar, o ramo dá fruto porque está ligado ao tronco: Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada (João 15.5). É a videira que alimenta o ramo. Fora da videira, o ramo não pode dar fruto e tampouco pode viver. Fora da videira, o ramo deixa de ser ramo e se torna lenha. O que nos possibilita dar fruto é o vínculo com Jesus Cristo, estabelecido pelo Batismo. O Batismo traz proveito na medida em que permanecemos nele. E “permanecer” é justamente a orientação que Jesus dá: permaneçam no meu amor. Se vocês guardarem os meus mandamentos, permanecerão no meu amor (João 15.9-10). Permanecer no amor de Cristo equivale a guardar – no sentido de praticar – seus mandamentos. Sem a disposição para seguir os ensinamentos não há discipulado nem permanência em Cristo.
O fruto da videira é a uva. A partir da uva é possível fazer suco, vinho, geleia, doce e outros produtos. Qual é o fruto que se espera da pessoa batizada e da comunidade cristã? A palavra de Jesus não deixa dúvidas: O meu mandamento é este: que vocês amem uns aos outros, assim como eu os amei (João 15.12). O fruto do discipulado é o amor. Esse é o fruto essencial, do qual serão derivados outros “produtos”. Permanecer no amor de Cristo é praticar seus mandamentos. Praticar os mandamentos equivale a praticar o amor. É no amor, portanto, que se decide a permanência em Cristo. Mas de que amor estamos falando? Na Bíblia, o amor entre pessoas tem o sentido de promover a vida na perspectiva de Deus. Deus quer a salvação de todas as pessoas, quer vida digna e bem-estar para todas as pessoas, quer justiça e paz em todos os lugares. Amar significa buscar o bem–estar em sentido amplo e universal. Não é tarefa simples e requer, entre outras coisas, empenho na promoção da paz e da justiça, disposição e desprendimento para ajudar a quem necessita. Quem ama anuncia o reino de Deus às pessoas e procura vivenciar com elas os sinais desse reino.
O amor é a expressão máxima da fé e a característica básica da comunidade cristã por um motivo elementar: ele é o princípio do agir de Deus. Tudo o que Deus faz é motivado por amor. Deus escolheu Israel e o libertou da escravidão do Egito por amor: Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho (Oseias 11.1). Jesus Cristo morreu na cruz por amor: Ninguém tem amor maior do que este: de alguém dar a própria vida pelos seus amigos (João 15.13). Nós podemos amar porque já fomos agraciadas e agraciados com o amor divino: Como o Pai me amou, também eu amei vocês (João 15.9). Dar fruto outra coisa não é do que transmitir o amor que recebemos de Deus. Nossa ação é decorrência da ação de Deus.
Batismo e sacerdócio geral de todas as pessoas que creem
O sacerdócio geral de todas as pessoas que creem é elemento constitutivo da fé cristã e teve papel decisivo na Reforma Protestante. Igreja Luterana é igreja que anuncia e vivencia o sacerdócio geral. E o que significa “sacerdócio geral de todas as pessoas que creem”? O sacerdócio geral parte do princípio de que Jesus Cristo é o nosso mediador: Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade, Cristo Jesus (1 Timóteo 2.5). Jesus Cristo, o mediador e grande sumo sacerdote (Hebreus 4.14), nos confere a dignidade de sacerdotes e sacerdotisas. Cada pessoa, a partir da fé em Cristo, é chamada para testemunhar as obras de Deus: Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2.9).
Com base em 1 Pedro 2.9, Martim Lutero afirmou com muita convicção: “todos nós somos ordenados sacerdotes através do Batismo” (Obras Selecionadas, v. 2, p. 282). Utilizando a imagem da igreja como um corpo (1 Coríntios 12.12ss), Lutero insistiu que todas as pessoas batizadas fazem parte do corpo de Cristo e todas exercem uma função. Quem faz parte do corpo recebe do corpo e contribui com ele. Um membro do corpo não pode simplesmente decidir não contribuir para o corpo. Por isso o sacerdócio é compromisso de toda pessoa cristã. Não se trata de um grupo seleto, mas de toda a comunidade, aliás, de toda a cristandade. Nenhuma pessoa cristã está excluída, muito pelo contrário, cada pessoa tem a incumbência de participar na missão de Deus. Neste sentido, falamos de sacerdócio geral de todas as pessoas que creem.
A finalidade do sacerdócio é a proclamação da palavra de Deus e a realização da sua obra no mundo. Mas por que Deus não faz a sua obra sozinho, já que pode e sabe perfeitamente fazê-la? Lutero levantou essa pergunta e deu também a resposta: “Sim, ele o pode perfeitamente, mas não quer fazê-lo sozinho, quer que obremos com ele e nos dá a honra de querer efetuar a sua obra conosco e através de nós. […] Da mesma forma, embora unicamente ele seja bem-aventurado, quer nos dar a honra e não ser bem-aventurado sozinho, mas nos quer bem-aventurados junto com ele” (Obras Selecionadas, v. 2, p. 124). Deus é todo-poderoso e não depende de nós. Mesmo assim, Deus nos chama para fazer parte da sua obra. O sacerdócio é, portanto, um privilégio. Deus nos concede o privilégio de ser instrumentos do seu agir. A pessoa que reconhece a ação de Deus é tomada por tamanha gratidão que não pode calar e ficar de braços cruzados. Ela vira testemunha e coopera com Deus. Neste sentido, o sacerdócio é também uma resposta de gratidão a Deus.
O sacerdócio geral é afirmação da igualdade das pessoas batizadas e implica a valorização dos diferentes dons: “Os membros da comunidade têm muitos dons, nem sempre conhecidos e despertados. Todos eles devem ser utilizados na busca do alvo da comunidade: ser instrumento da missão de Deus no mundo” (Nossa Fé – Nossa Vida). Mesmo que todas as pessoas sejam sacerdotes e sacerdotisas, a igreja necessita de ministérios organizados e de pessoas especialmente qualificadas para certos serviços. Por isso existe o ministério com ordenação. Na IECLB, o ministério com ordenação se desdobra em quatro ênfases: pastoral, catequética, diaconal e missionária. Sacerdócio geral e ministérios específicos existem para servir a Deus. Cada pessoa contribui com seu dom e sua capacitação para a obra de Deus no mundo.
Viver o Batismo
O Tema e o Lema do Ano 2020 nos chamam para vivenciar o Batismo e a fé. Muitas perguntas podem ser feitas a partir do Tema e do Lema: O que significa ser pessoa batizada em nosso contexto? Como podemos nos vestir com a “roupa do Batismo”? O que entendemos por pecado e por luta contra o pecado? Que ações concretizam o amor, que é o fruto do discipulado? Como vivenciar o sacerdócio geral na comunidade e fora dela? Essas e outras questões que surgem no contexto da vida comunitária indicam que a vivência do Batismo é dinâmica e desafiadora. Temos muito a refletir e a realizar. O Batismo não permite ficar inerte. Batismo não é o ponto de chegada, mas o ponto de partida para a jornada na fé. É transformação e efeito ao longo da vida. Na vivência do Batismo, permanecemos em união com Cristo e nos colocamos a serviço, tal qual cantamos:
Sempre quero estar contigo, sempre a ti, Jesus, servir;
não me afasto, em ti me abrigo, teu caminho hei de seguir.
És da minha vida a vida, da minha alma és o vigor.
Eu sou vide a ti unida; a videira és tu, Senhor.
(Livro de Canto da IECLB, 606)
Presidência da IECLB
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).