Proclamar Libertação – Volume 37
Prédica: Lucas 7.36-8.3
Leituras: 2 Samuel 11.26-12.10.13-15 e Gálatas 2.15-21
Autor: Verner Hoefelmann
Data Litúrgica: 4º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 16/06/2013
1. Introdução
As três perícopes deste domingo têm um tema em comum: podemos ter comunhão com Deus não por causa de nossas próprias virtudes, e sim porque Deus mesmo, em sua misericórdia, vem ao nosso encontro e remove as barreiras que nos separam dele. Isso se mostra na história do grande rei Davi. Ao pronunciar o veredito de morte sobre o homem rico, que matou a ovelhinha do homem pobre para dar de comer a um hóspede, Davi caiu na armadilha do profeta Natã: pronunciou um juízo contra si mesmo e viu-se entregue aos desígnios de Deus (2Sm). Em outras palavras, o apóstolo Paulo diz a mesma coisa na Carta aos Gálatas: ninguém é justificado diante de Deus com base em justiça própria, adquirida pela observância da lei, e sim com base na graça de Deus, mediada em Cristo e recebida pela fé. O texto de prédica concretiza essa temática com dois exemplos. Simão serve como exemplo negativo: ele recebeu Jesus em sua casa para um jantar. Mas se distanciou de seu hóspede, deixando de usufruir uma relação de amizade, comunhão e amor com ele. A mulher anônima é o exemplo positivo: a despeito de sua má fama, ela encontrou acolhimento, perdão e amor junto a Jesus, experiência essa que lhe abriu as portas para uma nova vida.
2. Exegese
A história da pecadora perdoada faz parte de um pequeno bloco de textos que Lucas inseriu na sequência de Marcos. Alguns deles são exclusivos, outros, com paralelo em Mateus, derivados da fonte Q. O bloco inicia em Lucas 6.17, com o sermão da planície, e termina em 8.3. A partir daí, Lucas retoma o fio narrativo de Marcos. Apesar de ser tradição exclusiva, Lucas 7.36-50 assemelha-se a outro relato, que os demais evangelhos situam em Betânia, às portas da paixão (Mc 14.3-9; Mt 26.6-13; Jo 12.1-8). É difícil definir a relação entre as duas tradições. O esquema narrativo é o mesmo: ambas falam de um banquete em que Jesus foi ungido por uma mulher. O gesto provoca uma reação negativa, mas Jesus a defende e elogia. Há outros detalhes em comum, mas também diferenças significativas. A comparação entre os textos mostra, de modo exemplar, como as tradições “viveram” nas primeiras comunidades.
Mas uma diferença é decisiva: os outros evangelhos vinculam a unção com o rito fúnebre que aguarda Jesus, ou seja, eles colocam a unção a serviço da teologia da cruz. Lucas, convém lembrar, omite o episódio da unção em Betânia. Por quê? Certamente porque o vê representado no presente relato. Caso seja uma tradição independente, Lucas parece tê-la enriquecido com detalhes extraídos da unção em Betânia. De qualquer forma, ao deslocar a tradição do contexto de Marcos, ele imprime a ela um novo acento: agora ela aponta para o perdão dos pecados, que tem sua raiz no ministério de Jesus, um tema, aliás, recorrente no evangelho (Lc 1.77; 3.3; 5.8; 11.4; 13.1-5;17.3-4; 18.3; 23.34 etc.). No final das contas, as temáticas têm algo em comum, pois o perdão dos pecados que Jesus concede ao longo de sua vida (a unção da pecadora) estabelece-se definitivamente por meio de sua morte (a unção em Betânia).
A relação do texto com o contexto parece evidente: ele ilustra a fama de Jesus como “amigo de publicanos e pecadores” (7.34); mais do que isso: evidencia que, no tempo de João Batista, assim como no tempo de Jesus, alguns pecadores acolhem de forma inesperada a mensagem libertadora (7.29), enquanto outros, que se têm por justos, rejeitam-na, atraindo sobre si o juízo (7.30). A pecadora perdoada e o fariseu autossuficiente são exemplos disso.
A perícope pode ser estruturada em três sequências: a) a cena inusitada à mesa (v. 36-39): o gesto da mulher constitui o centro (v. 37-38) e está emoldurado pelo convite (v. 36) e pela decepção do hospedeiro (v. 39); b) a resposta de Jesus à crítica implícita do hospedeiro (v. 40-47): ela é mediada por uma parábola (v. 41-43), que logo é aplicada à situação (v. 44-47); c) a reação de Jesus ao gesto da mulher (v. 48-50): ele confirma-lhe o perdão (v. 48-49) e despede-a em paz (v. 50). Lucas 8.1-3 é um sumário e constitui, a rigor, uma nova perícope, como mostra a mudança de cenário. Mas se ajusta bem ao contexto, ao indicar que a acolhida da mulher por Jesus e o amor que ela demonstrou não foram eventos isolados, e sim representativos para muitos outros.
V. 36-39 – O convite dirigido a Jesus introduz o texto e qualifica-o como uma cena de banquete. O hospedeiro é um fariseu, chamado mais tarde de Simão (v. 40,43,44; cf. Mc 14.3). Outros fariseus hospedam Jesus no evangelho (11.37; 14.1) ou estão presentes em cenas de banquete (5.30; 15.1-2). Seu zelo para com a lei e sua conduta autossuficiente e excludente são ilustradas em 19.9-14 com uma parábola cortante. Simão considera Jesus um profeta (v. 39) e quer fazer-lhe um obséquio. O verbo kataklino (reclinar-se à mesa – v. 36) mostra que se trata de um banquete solene, pois o costume é atestado em Israel apenas para situações especiais; ao mesmo tempo, explica a cena seguinte, em que a mulher chega por trás e alcança os pés de Jesus. Tais banquetes honoríficos eram abertos a espectadores. Por isso a mulher pode entrar. A mulher é uma pecadora, ou seja, alguém que notória e publicamente vive à margem da lei. Assim a descreve o narrador (v. 37), assim a considera o fariseu (v. 39), assim a reconhece Jesus (v. 47). Poderia ser uma prostituta ou esposa de um homem que exerce profissão desprezível, mas o texto não indica a natureza específica de seu pecado. Também não é possível vinculá-la a alguma pessoa conhecida, como Maria Madalena.
De qualquer forma, mesmo que o texto não o explicite, seu gesto pressupõe um conhecimento prévio da pregação de Jesus ou alguma vivência junto a ele. Por isso ela vem procurá-lo para expressar sua devoção a ele (compare com 8.2-3). Ela traz um frasco de alabastro, fabricado com uma pedra calcária fina, considerado o mais apropriado para conservar o unguento (um perfume líquido, dissolvido em azeite). Seu gesto é descrito com minúcias: a) ela chora intensamente; b) rega os pés de Jesus com as lágrimas; c) enxuga-os com os próprios cabelos; d) beija-os; e) unge-os com o unguento. O texto não menciona o motivo das lágrimas. Mas elas podem indicar arrependimento de seus pecados ou alegria pela experiência do perdão de Deus. Jesus interpreta o gesto como demonstração de carinho, gratidão e amor, que ele não encontrou no anfitrião (cf. v. 44-46). Esse, ao contrário, desaprova intimamente o fato de Jesus não impedir a ação da mulher, expressando assim sua decepção com o hóspede: se fosse mesmo um profeta (cf. 4.24; 7.16; 13.33), saberia reconhecer a condição das pessoas com as quais lida (v. 39).
V. 40-47 – Em sua resposta, Jesus mostra que conhece a situação pública da mulher tanto quanto o íntimo de Simão. Esse agora o chama de mestre (v. 40), um título geralmente utilizado por discípulos (5.5; 8.24,45; 9.33; 19.39), mas também por pessoas de fora desse círculo, como expressão de reverência (10.25; 11.45; 12.13; 18.18). A cena expõe o método de Jesus, que ensina através de imagens e engaja o interlocutor na reflexão. A parábola fala de um prestamista que, surpreendentemente, perdoa a dívida de dois devedores: 500 denários de um, dez vezes menos de outro (v. 41-42). O denário equivale a um dia de trabalho (Mt 20.2). A diferença entre as dívidas é enorme, mas o motivo que leva o credor a esse gesto é o mesmo: nenhum deles tem condições de saldá-la (v. 42). Ao confirmar que o primeiro devedor haverá de devotar mais amor e gratidão ao prestamista (v. 42-43), o fariseu começa a enredar-se, como Davi diante do profeta Natã. A aplicação da parábola identifica os seus personagens (v. 44-46): o grande devedor representa a mulher, que tem muito a agradecer e demonstrar diante de Jesus. O pequeno devedor representa Simão, que provavelmente jamais se consideraria um insolvente, como Jesus igualmente o caracteriza: acha que está em dia com Deus, assim como o fariseu da outra parábola (18.9-14).
O v. 47 resume o saldo da conversa. Jesus diz a Simão: perdoados estão os muitos pecados dela. O verbo na voz passiva indica que Deus é sujeito lógico da ação descrita. Mas a sequência da frase (porque ela muito amou) parece estranha ao texto. Se entendermos a conjunção hoti em sentido causal (porque), o amor da mulher torna-se o motivo do perdão. Mas isso iria contrapor-se ao sentido da parábola e da frase que segue (aquele a quem pouco se perdoa pouco ama). Por isso a conjunção deve possuir aqui um sentido explicativo, não para enunciar o motivo do perdão, e sim para expressar sua realidade já existente. O verbo afeontai, no perfeito, aponta na mesma direção: indica que a mulher usufrui, no presente, uma condição que lhe foi dada num passado recente.
V. 48-50 – A mulher, o tempo todo, está no centro da perícope: na primeira cena, ela domina a ação; na segunda, é o foco do debate; agora ela se torna a interlocutora de Jesus, que finalmente reage a seu gesto. Jesus repete, agora diretamente a ela, a fórmula do perdão. O mesmo verbo no perfeito indica, uma vez mais, que Jesus não está transmitindo o perdão, e sim apenas confirmando (v. 48). Foi a experiência prévia do perdão que provocou o gesto amoroso da mulher. Sabemos agora que havia outras pessoas presentes no banquete (v. 49), que perguntam, perplexos, pela identidade desse homem que perdoa pecados em nome de Deus. Jesus despede a mulher com um voto de paz e com uma fórmula que mais parece um desfecho de cura: a tua fé te salvou (v. 50; cf. 8.58; 17.19; 18.42). A palavra final de Jesus mostra o que levou a mulher a buscar o perdão de Deus: a fé. Trata-se de um ato de confiança num Deus que, por mais pecaminoso e deteriorado que tenha sido o passado de quem o procura, não hesita em restabelecer uma relação de amizade. Essa fé levou a pecadora a manifestar sua gratidão e seu amor a Jesus, o mediador da salvação que ela havia experimentado. Lucas 8.1-3, como já dito, não faz parte da perícope, mas mostra o percurso de outras mulheres, que encontraram cura e libertação em Jesus, levando-as a tomar parte em seu ministério.
3. Meditação
O texto alude a três personagens (o fariseu, a mulher e Jesus) e à forma como eles procuram relacionar-se com Deus e, por consequência, com outros seres humanos. De Jesus vamos falar enquanto falamos dos outros dois. Comecemos com o fariseu Simão. Não é correta, historicamente, a caricatura que às vezes se faz desse grupo, consagrada até mesmo em nosso vocabulário. Fariseu virou sinônimo de hipócrita, fingido, orgulhoso. Sua interpretação casuística da lei, aferrada a detalhes e preciosismos, podia favorecer, sim, uma piedade inautêntica e hipócrita. Mas sua hipocrisia não é um comportamento subjetivo, como se tentassem aparentar uma coisa que eles sabem que não são. O problema deles não é falta de zelo, sinceridade, devoção ou piedade. Eles estão convictos de suas posições e cheios de boas intenções. É o que vemos em Simão. Talvez nos surpreenda o fato de que um fariseu convide Jesus para um jantar, pois os conhecemos como seus principais adversários. Mas Simão está bem-intencionado ao convidar Jesus. Considerava-o um profeta, um homem de Deus e queria homenageá-lo, conhecer seu ponto de vista e aprender com suas palavras.
O problema de Simão é que, em sua devoção religiosa, ele parte de premissas equivocadas. Uma delas é que a vontade de Deus está definida em detalhes e codificada em leis e regras, que podem ser naturalmente obedecidas. Uma delas diz que uma pessoa de bem deve evitar o contato com pessoas moralmente suspeitas, ainda mais quando elas são transgressoras públicas da lei. Essas pessoas transmitem sua impureza por mero contato, como se fosse um vírus perigoso. E a impureza afasta o ser humano de Deus. Por isso o fariseu franze a testa quando aquela mulher se aproxima de Jesus e ele se deixa tocar, como se nada de errado estivesse acontecendo. Todos sabem que aquela criatura, além de mulher, é uma pecadora! Como pode Jesus permitir uma coisa dessas? A sensibilidade religiosa de Simão entra em alerta máximo. Ele jamais ousaria questionar seu sistema religioso.
Aqui nada se cria, nada se perde, nada se transforma. Por isso ele começa a matutar em seu íntimo: o errado só pode ser Jesus. Equivoquei-me ao convidá-lo para a minha casa: ele não é nenhum profeta. Se fosse, saberia quem é essa mulher e evitaria o contato com ela.
E, de repente, quando olhamos ao redor ou contemplamos o espelho, Simão parece muito familiar. Ele é uma pessoa piedosa, confiável, assídua, correta, bem-intencionada, autoconfiante, convicta de suas ideias, mas extremamente inflexível, dura, incompassiva, incapaz de compreender os dramas humanos, pronta para julgar a incompetência dos outros e colocar-se num patamar especial. Jesus tem uma palavra a dizer aos Simões: apesar da tua entrega, do teu zelo, do teu esforço, tu também estás em dívida diante de Deus. Talvez não sejas um ladrão, um adúltero, um assassino, um corrupto, um explorador. Mas ofendes a santidade de Deus quando pensas que estás à sua altura. “O que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias como se não o tiveras recebido?”
A segunda personagem é a mulher. Não sabemos seu nome, seu passado, seu estado civil, suas condições de vida. Sabemos que já nasceu em desvantagem pelo fato de ser mulher. Sabemos que, em seu nascimento, sua mãe foi tida como impura durante 80 dias (se fosse um menino, seria a metade do tempo). Sabemos algo de seu presente: ela está na boca do povo, pelo qual é conhecida na cidade como pecadora. As pessoas de bem devem afastar-se dela, sim, o próprio Deus está longe dela e nega-lhe o seu favor. Podemos imaginar como a mulher se sente: inferiorizada, desprezada, discriminada, desamparada, autoestima em baixa, sem força e perspectiva para lutar por uma vida com mais sentido e qualidade.
Essa mulher ouve falar de Jesus, que declara bem-aventurados os pobres, que se ocupa com leprosos, que convive com gente desprezada, que aceita mulheres em seu círculo de amigos, que trata os desprezados com dignidade, que perdoa pecados em nome de um Deus que se compadece dos miseráveis, que fortalece as pessoas para um novo começo. Não sabemos se já o havia encontrado antes. De qualquer forma, o eco da mensagem de Jesus ressoa forte em seu coração. É disso, exatamente disso, que ela está precisando. Quando ela sabe que Jesus está na casa de Simão, talvez tenha hesitado. Se Simão a conhece, ela também conhece Simão: sabe quantas vezes ele desviou o olhar dela e passou de largo, como se não a tivesse visto. Mas ela decide que não pode perder a oportunidade de mostrar gratidão a Jesus e demonstrar o amor que possui por ele. Mune-se de coragem, supera as barreiras e entra na casa de Simão. Quando enxerga Jesus, não pode conter as lágrimas e começa a retribuir a hospitalidade que sentiu primeiro em Jesus. Os detalhes da cena nós já conhecemos.
Jesus também tem uma palavra para a mulher. Toma-a como exemplo positivo para Simão. Transforma-a na verdadeira anfitriã daquele banquete. Elogia a gratidão e o amor que ela demonstrou. Sim, ele, que veio para servir, deixa-se servir por ela e aceita seu gesto de gratidão e amor. Não ignora os muitos pecados dela, mas não a condena por isso. Confirma-lhe o perdão de Deus, proclama o valor de sua fé, despede-a em paz. O Deus que ele representa alegra-se mais com um pecador que se arrepende, que pretende recomeçar a partir de Deus, do que com noventa e nove justos que permanecem impenitentes, porque acham que não têm que mudar nada.
Procuremos o rosto dessa mulher em nosso meio. Se não estou enganado, poucos deles estão em nossas igrejas. Estranhamente, pessoas de igreja parecem mais com Simão. Mas a mensagem do texto exorta-nos a contemplar a mulher. Diante de Deus, temos que aprender a reconhecer-nos em seu rosto. Deus só pode presentear-nos com seu perdão e com a força que dele brota se nos reconhecermos como devedores. Muitas pessoas se perguntam por que essa mulher permaneceu anônima no evangelho. Talvez a resposta seja mais simples do que se pensa: é para que cada um de nós coloque ali o seu nome.
4. Imagem para a prédica
A imagem da ponte nunca aparece na Bíblia. Mas caracteriza muito bem o que Jesus veio fazer: criar condições para que as pessoas se aproximem de Deus e, por consequência, entre si. A palavra fariseus significa separados e caracteriza uma atitude oposta: construir cercas em torno de si para manter-se distante de quem não pertence ao seleto grupo. A esse propósito pode-se utilizar a história que segue.
Dois irmãos que moravam em fazendas vizinhas, separadas por um riacho, entraram em conflito. Foi a primeira grande desavença em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas agora tudo havia mudado. O que começou como um pequeno mal-entendido explodiu agora numa troca ríspida de palavras, seguidas por semanas de total silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu alguém bater à sua porta: “Estou procurando trabalho”, disse um homem. “Talvez você tenha algum serviço para mim.” “Sim”, disse o fazendeiro. “Claro! Vê aquela fazenda ali, além do riacho? É do meu vizinho; na verdade, do meu irmão. Nós brigamos e não posso mais
suportá-lo. Vê aquela pilha de madeira ali no celeiro? Use-a para construir uma cerca bem alta.” “Acho que entendo a situação”, disse o carpinteiro. “Mostre-me onde estão a pá e os pregos.” O irmão mais velho entregou o material e foi para a cidade.
O homem ficou ali medindo, cortando, trabalhando o dia inteiro. Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez da cerca, uma ponte, ligando as duas margens do riacho. Era um belo trabalho, mas o fazendeiro ficou enfurecido e falou: “Que ousadia de sua parte construir essa ponte depois de tudo o que lhe contei!”. Mas as surpresas não pararam por aí. Ao olhar novamente para a ponte, viu seu irmão se aproximando. Por um instante permaneceu imóvel. O irmão mais novo tomou a palavra: “Você realmente foi muito generoso construindo esta ponte mesmo depois do que eu lhe disse”. De repente, num impulso, o irmão mais velho correu na direção do outro, e ambos abraçaram-se fortemente. O carpinteiro que fez o trabalho partiu com sua caixa de ferramentas. “Espere, fique conosco! Temos outros trabalhos para você”, disseram os irmãos. O carpinteiro respondeu: “Eu adoraria, mas tenho outras pontes para construir”.
5. Subsídios litúrgicos
Versículo de entrada:
“Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes concede a sua graça” (1Pe 5.5).
Confissão de pecados:
Temos a confessar-te, Senhor, que não conhecemos a dimensão de nosso pecado e da dívida que temos junto a ti. Não temos coragem de olhar para dentro de nós mesmos para reconhecer as motivações escusas e mesquinhas que movem as nossas decisões e ações. Temos procurado impressionar as pessoas com o que somos e temos, sem reconhecer que temos recebido todas as boas coisas de ti. Temos nos distanciado de pessoas e julgado suas atitudes, como se fôssemos melhores do que elas ou superiores a elas. Temos permitido que o orgulho e a autossuficiência nos mantenham afastados de pessoas. E sobretudo, Senhor, não sabemos viver a partir da tua misericórdia e das tuas dádivas, preferindo confiar em nossas próprias forças. Conscientiza-nos sobre os nossos pecados, concede-nos teu perdão e ensina-nos a viver a partir de tua graça. Amém.
Oração de coleta:
Obrigado, Senhor, que nos conduziste a este momento de louvor e adoração a ti e de comunhão com irmãos e irmãs na fé. Aquieta o nosso coração e ajuda-nos a concentrar-nos em tua palavra, para que ela se torne lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho. Amém.
Oração final:
Deus de bondade e misericórdia: depois de ouvir o evangelho de hoje, damo-nos conta, em tua presença, de quantas barreiras costumamos erguer: barreiras em tua direção, quando não damos ouvidos à tua palavra e preferimos andar em nossos próprios caminhos, que nos conduzem para longe de ti; barreiras
em direção ao nosso próximo, quando nos julgamos superiores a ele, melhores ou mais competentes do que ele, quebrando assim a solidariedade que nos caracteriza como teus filhos e filhas, dependentes de tua graça e misericórdia. Obrigado, Senhor, que como um carpinteiro o teu filho Jesus Cristo construiu pontes: pontes que nos conduzem de volta a ti e aproximam o céu e a terra; pontes que nos libertam de nossa solidão; pontes que nos ajudam a superar preconceitos; pontes que nos reaproximam de raças e classes sociais distintas; pontes que reaproxima gerações distintas; pontes que reaproximam pessoas separadas por ódio e inimizade; pontes que nos reaproximam da dor e do sofrimento alheio; pontes que nos levam a prestar e a receber solidariedade. Ajuda-nos a desconstruir as cercas que erguemos e ensina-nos a construir pontes. Amém.
Bibliografia
BOVON, François. El evangelio según Lucas. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2005.
FITZMYER, Joseph. El evangelio según Lucas. Madrid: Ediciones Cristiandad, 1987.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).