Tema e lema 2002: Mãos à Obra
Subsídios e Estímulos
Pedrinhas para um mosaico sobre o tema e lema da IECLB 2002
Lema: porque ele (Deus) nos amou primeiro (1 Jo 4.19)
1 – Aspectos da realidade
O tema pressupõe uma necessidade de construção ou reconstrução. Em caso de construção o sentimento predominante pode ser de ânimo e força de vontade. Em caso de reconstrução podemo-nos sentir como diante de ruínas que nos causam incertezas, insegurança e desânimo.
Ao escrever estas linhas, em fins de setembro de 2001, não posso esquecer ou ignorar o acontecimento dramático do dia 11 de setembro em Nova Yorque e Washington. Em poucos minutos foi devastado o que era tido como símbolo mundial do poder sócio-econômico cultural e bélico. As reações das pessoas e nações oscilam entre sentimentos de ódio, vingança, condenação, autocrítica e reconhecimento de omissão e culpa que contribuíram para tanta desgraça ou mesmo a originaram.
Sentimentos semelhantes, tão diferentes e contraditórios, devem ter caracterizado também aquelas pessoas exiladas que voltaram, em torno de 540 antes de Cristo, do cativeiro babilônico. Esperançosas e jubilosas celebraram a libertação. Tendo voltado “para casa”, porém, encontraram somente ruínas e um mundo estranho e hostil. Desilusão paralisante e profunda resignação perigavam tomar conta delas.
Também a nós, hoje, assaltam perguntas e mais perguntas, como por exemplo: Será que os governantes resistem à violência vingativa? Serão capazes de parar com a promoção de protecionismos, acumulação de riquezas na mão de poucos, negando a dois terços dos povos do mundo o direito à vida digna? Estamos dispostos a reconhecer tais fatos como atos de violência, mais ou menos camuflada mas geradora de reações violentas? Será que finalmente vamos conseguir uma nova ordem sócio-econômica mundial que possibilita mais justiça e paz a todas as pessoas e todos os povos, especialmente aos que mais delas carecem? Será que teremos a humilde grandeza de colocar em segundo plano nossas divergências a fim de somar todos os esforços para buscar maior equilíbrio ecológico no planeta e no espaço? Somente assim nossos netos poderão viver neste mundo de Deus, resgatado em sua intencionalidade semelhante a um belo jardim!
Tais perguntas, entre outras, nos defrontam com a amplitude da missão de Deus em nossos dias. Ela implica em santo serviço.
2 – Deus nos serve primeiro
Segundo o Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI) é Deus que nos serve primeiro. De graça, sem merecimento nosso, Cristo se doa em nosso favor. Em sua vida, morte, ressurreição e ascensão ele nos oferece a razão para viver com esperança. Ela não é a última que morre, muito antes a única que conduz ao reino de Deus.
Pelo poder do Espírito Santo ele nos desperta a fé que confia na vitória da vida sobre a morte, apesar das aparências em contrário. Pelo santo batismo nos torna filhas e filhos de Deus. Incorpora-nos no corpo de Cristo, na grande família de Deus, na comunidade e na igreja de Cristo. É por isso que o lema da IECLB para o ano de 2002, destaca a razão do nosso ser igreja, ou seja, porque ele nos amou primeiro (1 Jo 4.19).
3 – O amor de Deus nos cativa e liberta
Este amor de Deus nos envolve e cativa. Liberta-nos do Eu para o Tu. Faz-nos abrir a mão e o bolso para repartir com quem necessita
– de tempo para ouvir,
– de um ombro para se encostar e soluçar,
– de uma ocupação para ser útil e ganhar o pão de cada dia,
– de um lugar para estudar e de outro para tratar de sua saúde.
De maneira tão concreta 1 Jo 4.19 e seu contexto menor falam da prática do amor ao próximo. É grata resposta ao amor recebido por Cristo.
Todos os apelos para o amor ao próximo que não emanam deste indicativo, são mera filosofia moralista que ignora a nossa necessidade de libertação do Eu para o Tu. E essa não se dá por apelos à força da boa vontade, mas somente pela obra salvífica de Cristo, abraçada em fé.
É esse testemunho evangélico luterano que devemos ao mundo marcado por tantas propostas de auto-salvação.
4 – O amor de Deus nos compromete
Assim, de forma palpável, passamos adiante o amor que Deus nos oferece. É esse o compromisso batismal, decorrente da dádiva graciosa. Já que no batismo fomos ordenados sacerdotes e sacerdotisas, somos incumbidos com a tarefa de resgatar e promover a comunhão integral. Importa restabelecer e tecer a teia de relações do ser humano com o meio, com Deus e consigo mesmo. É isso e nada menos que caracteriza o santo serviço, a diaconia.
O desafio é tão grande que uma comunidade ou igreja sozinha não consegue abraçá-lo. Por isso o PAMI afirma:
“A ação diaconal ultrapassa as fronteiras internas e externas. Une-se ecumenicamente e coopera, na medida do possível, com órgãos governamentais e não-governamentais, a fim de promover a justiça através da cura dos males sociais [penso no mais amplo sentido da palavra]” (PAMI, p. 14).
Temos, pois, diante de nós a reconstrução e criação da vida em comunhão, da vida em comunidade. Deus, através do Espírito Santo, chama, capacita e envia pessoas para recriar e criar a vida. Importa, pois, dar-mo-nos as mãos, somar os saberes, as experiências, as capacidades e os esforços. Assim o tema da IECLB para o ano de 2002 nos conclama:
5 – Mãos à obra!
5.1 – É um convite, um imperativo, uma ordem para construir respectivamente para reconstruir. Não tem caráter opressor ou explorador, mas muito antes, um tom de ânimo e estímulo, no sentido de: Coragem, vamos lá! Vamos reconstruir as muralhas de Jerusalém, a cidade arrasada, por volta de 540 AC. Tendo reerguido as muralhas teremos a proteção necessária para viver e reconstruir as casas. Não desanimemos! Vai dar certo!
5.2 – Quem fala? É o profeta Neemias. Ele também veio da Babilônia para animar as pessoas recém voltadas para Jerusalém. Mas quem é ele? Será que é apenas um amigo bem intencionado, mas cujas forças também são limitadas tanto quanto as nossas? Ele se dirige ao povo dizendo em 2.17s.:
“ ‘Vejam como é difícil a nossa situação! A cidade de Jerusalém está em ruínas, e os seus portões foram destruídos. Vamos construir de novo as muralhas da cidade e acabar com essa vergonha.’ 18- Então contei a eles como Deus me havia abençoado e me ajudado. E também contei o que o rei me tinha dito. Eles disseram: Vamos começar a reconstrução!’ E se aprontaram para começar o trabalho.” (nova BLH)
5.3 – O que ele fala?
5.3.1 – Anima para olhar a realidade (v. 17a). A pessoa cabisbaixa enxerga só o chão à frente dos pés. Para ver a realidade, é preciso levantar a cabeça desanimada. É necessário lavar os olhos para enxergar os sinais da não-vida. É preciso ouvir os clamores por socorro, mesmo os gemidos silenciosos. Esse perceber também implica em estar atento às notícias impressas e televisionadas.
5.3.2 –Testemunha que, já no passado, Deus se tem manifestado como socorro. Conta experiências da própria vida. Importa abrirmos espaços em nossos encontros comunitários para se compartilhar depoimentos pessoais sobre como Deus tem ajudado. O profeta certamente também lembra de como Deus deu forças aos cativos ao longo dos 40 anos de exílio e cativeiro. Reaviva a memória no sentido de considerar o milagre de Deus ter libertado o seu povo escravizado através do rei Ciro, uma pessoa pagã. Deus é ilimitado em seu poder a ponto de poder utilizar-se de tudo e de quaisquer pessoas como instrumento de sua bênção.
5.3.3 – Neemias lembra de como o rei já tem ajudado, liberando materiais de construção (cf. 2.7s.). Assim Deus auxilia através de pessoas que se sensibilizam e repartem.
5.4 – Pela fala do profeta Deus encoraja e reanima o povo sofrido de tal maneira que assume o desafio, dizendo: “Vamos começar a reconstrução!” – ‘E se aprontaram para começar o trabalho’. Arregaçaram as mangas!
6 – Meditando sobre o cartaz
6.1 – Ao falarmos em “meditar sobre o …”, expressamos que somos o sujeito e tratamos o cartaz como objeto. O que desta maneira analítica perceberemos em termos de detalhes certamente poderá ser importante. Entretanto, uma arte sempre é mais do que a eventual soma de seus detalhes. Este “mais” e este “todo” dificilmente perceberemos enquanto permanecermos na postura de sujeito.
Importa trocar de papel. Tornar-se objeto do cartaz, dispondo-se e expondo-se a ele, colocando-se abaixo dele. Então ele assumirá o papel de sujeito que me faz perceber, ouvir, sentir. Ele acaba cativando-me. É esse o mistério do meditar com o coração ou, como os antigos diziam, é o mistério da contemplação. Ele me cativa, envolve todo o meu ser, não me deixa como sou, coloca-me a caminho, …
6.2 – Mãos predominam o cartaz. Mãos amassam o pão. São bonitas. Ágil e carinhosamente trabalham a massa, como se a estivessem acariciando.
6.3 – A massa de farinha integral ainda reflete algo dos grãos que se sacrificaram. Tendo se doado, abnegando-se de sua existência em favor do objetivo maior do pão, cumprem sua verdadeira finalidade.
O grão já tinha desistido de sua existência quando se deixou semear e quando se desfez na terra para reverter em muito fruto. Na hora do moer se dispôs novamente para o sacrifício em favor de algo maior. Agora, no amassar o pão e logo depois no assar, mais uma vez se doa em favor do mistério de nutrir a vida.
6.4 – Jesus diz: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto” (Jo 12.24). Sacia famintos com pão do céu. Morrer para viver – este é o mistério da vida!
Cristo diz: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede”(Jo 6.35). Em sua palavra e ao redor de sua mesa Cristo nos sacia a fome e sede de vida.
6.5 – Servidos e amados por ele, temos as duas mãos livres para servir, repartir e amar.
Isso assume formas concretas. Deus preza o concreto e o corporal. Foi por isso que se tornou pessoa em Jesus. Ele saciou pessoas famintas, curou doentes, perdoou quem se voltou a Deus, reintegrou na comunhão pessoas marginalizadas e excluídas, celebrou a alegria de casamento com gente simples, sacrificou a própria vida em favor do mundo. Deus não deixou o seu Filho nas garras da morte, mas o ressuscitou com novo corpo que não mais morre. Com isso deu razão ao novo jeito de viver: doando-se é que se recebe; morrendo é que seremos ressuscitados para a vida.
6.6 – As pequenas fotos abaixo do símbolo do amassar o pão, expressam alguns flashes de mãos na obra. Procuremos identificar de que forma isso acontece em cada momento.
Uma das fotos contém inúmeras mãos coloridas. São impressões das mãos das 120 pessoas delegadas ao XXII Concílio da Igreja, realizado em outubro de 2000, em Chapada dos Guimarães. Com esse gesto os conciliares expressaram a sua disposição em unir-se na missão que Deus realiza na e através da IECLB. Foi nesse sentido que aprovaram, com unanimidade, o Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI), sob o título ”Recriar e criar comunidade juntos para que haja Nenhuma comunidade sem missão e Nenhuma missão sem comunidade”. Este espírito missionário expresso no PAMI quer determinar todo o nosso ser IECLB, pelo menos ao longo dos próximos sete anos! É por isso que o emblema da IECLB está no fundo da foto. E é por isso que essa mesma foto foi reproduzida em forma ampliada para servir de fundo da parte inferior do cartaz.
6.7 – A missão é fazer pão que sacia fome de vida. De Cristo, o diácono por excelência, ela recebe sua motivação e capacitação. Essa missão é tão ampla que ultrapassa a capacidade de apenas duas mãos. Deus quer utilizar também as mãos de você, por mais insignificante, afastado/a ou desajeitado/a que se possa sentir. Juntemos as nossas mãos, nossos saberes, jeitos e esforços. A obra é tão grande que tem lugar para todas as mãos, mesmo para minhas! Por isso: Mãos à obra!
6.8 – Não precisamos ficar assustados diante de tamanha responsabilidade ou mesmo em realidade adversa. Deus nos amou em Cristo. Esse amor venceu, vence e vencerá em definitivo, no final dos tempos. Ele terá a última palavra. Por isso: a causa é de Cristo que vive e faz viver. Por ser dele, ela não poderá sucumbir. Já que ele nos amou, ama e amará, dispomos também as nossas mãos à obra que é dele. Vamos lá, juntos!
7 – Relacionando o tema com o PAMI
7.1 – Relembrando o objetivo do PAMI (aprovado em out. de 2000), p. 1, queremos recriar a comunidade para que ela vivencie solidariedade fraterna, se torne aberta, acolha pessoas de fora e ultrapasse quaisquer fronteiras por causa do evangelho, com vistas à criação de novas comunidades. Pois viver em comunhão é o meio de viver dignamente, para não dizer sobreviver, num mundo globalizado que isola, marginaliza e exclui.
7.2 – Para tanto nos foram dadas, como ponto de partida, propostas concretas (cf. p. 21-26), desafios específicos para a vida comunitária bem como desafios específicos para o ser IECLB nos próximos sete anos (cf. p.27).
7.3 – No ano de 2001, sob o tema e o lema – “Ide fazei discípulos … para que tenham vida … em abundância” – temos enfatizado que o PAMI é a concretização da missão com que o próprio Cristo nos incumbe. Ela objetiva promover vida para tudo e todos, especialmente para o que é mais carente.
7.4 – No ano de 2002 lembraremos novamente o ponto de partida e de chegada da missão que é o amor de Deus. Este não nos acomoda nem nos faz resignar diante das dificuldades e adversidades. Pelo contrário, o amor de Deus, experimentado por seu povo ao longo da história, terá a última palavra. É somente nisso que se baseiam a nossa esperança e a nossa coragem de abraçar a missão de Deus. Por isso demo-nos as mãos, somemos os esforços, intercambiemos as experiências e ensaiemos o repartir em parcerias internas.
– Nesse sentido importa intensificar a formação de lideranças, o que entrementes é prioridade em todos os sínodos. Compartilhemos as experiências feitas neste tocante e intercambiemos recursos humanos e didáticos.
– Urge investir na comunicação e na publicidade. Identifiquemos os prédios comunitários com o símbolo da IECLB e coloquemos placas indicativas, na entrada da localidade, anunciando endereço e horários dos encontros da comunidade. Revisemos os conteúdos e jeitos de nossas pregações para que se tornem mais evangélicas e mais convincentes, ensaiando a arte de diferenciar e interrelacionar Lei e Evangelho; invistamos tempo e recursos na comunicação não-verbal para que a mensagem se torne carne, palpável e cativante. Ampliemos a presença nos meios de comunicação impressa, radiofônica e televisionada.
– Em Pentecostes, todas as comunidades são convocadas a realizarem o Dia de Missão, formando uma grande corrente IECLB afora. Na ocasião, queremos levantar ofertas generosas e espontâneas para a criação de uma nova comunidade, em cidade com mais de 200.000 habitantes.
– É necessário trabalhar com perseverança, em todas as comunidades, o tema “Relacionar a fé com o nosso tempo, nossos dons, talentos, bens e dinheiro. Pois não se participa da missão de Deus sem recursos humanos, estratégicos e financeiros.
Que tal, priorizarmos esses desafios no ano de 2002! É obvio que tal sugestão não é excludente. Entretanto, na reunião dos presidentes e pastores sinodais, em set. de 2001, sentiu-se uma tendência de caminhar nesta direção. Que tal, recriar e criar comunidade juntos! Nesse sentido Mãos à obra!