Aceite o convite e assuma o compromisso!
Proclamar Libertação – Volume 42
Prédica: Marcos 1.14-20
Leituras:
Autoria: Aline Danielle Stüewer e Joel Haroldo Baade
Data Litúrgica: 3º domingo após Epifania
Data da Pregação: 21/01/2018
1. Introdução
Estamos vivendo o 3° Domingo após Epifania, momento em que lembramos a revelação de Deus em Jesus. Deus revela a sua vontade e a sua missão em. Por isso o texto do evangelho fala do início da pregação de Jesus. Após ser batizado e passar pela tentação no deserto, Jesus volta para a Galileia, pregando o arrependimento e lembrando que o tempo está cumprido. No caminho, Jesus chama discípulos para junto com ele espalharem a boa nova.
O texto do Antigo Testamento fala do segundo chamado de Jonas para ir a Nínive exortar ao arrependimento dos pecados. Também destaca que os ninivitas se arrependeram dos seus maus caminhos, mudaram de vida, e por isso Deus lhes concedeu uma nova chance. Na mesma direção, o apóstolo Paulo alerta a comunidade de Corinto a prestar atenção no modo como tem vivido, pois o tempo está chegando. Por isso não devem se prender a nada deste mundo, pois “a aparência deste mundo passa”.
Os três textos exortam ao arrependimento dos pecados e à mudança de vida a partir do encontro com Jesus.
2. Exegese
A análise exegética baseia-se na comparação de quarto versões: Almeida Revista e Atualizada (ARA), Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), Pastoral e Jerusalém. Foi também consultado o texto grego para avaliação das traduções. A leitura das análises anteriores em Proclamar Libertação também foi realizada; contemplou-se o texto de 2014 (PL 39).
Os versículos 14 e 15 constituem uma pequena unidade dentro do texto da prédica, retratando o início da ação pública de Jesus como anunciador do reino
de Deus.
v. 14: O versículo marca o início da atuação de Jesus no anúncio do evangelho. Informa-se primeiro a prisão de João Batista, depois a ida de Jesus para a Galileia e, por fim, o anúncio do “Evangelho” (ARA e Pastoral) ou a Boa Notícia (NTLH e Jerusalém). Kunz (2014) chama a atenção para as demarcações claras feitas pelo evangelista. É destacada a prisão de João Batista, que não aparecerá cena e entra Jesus.
v. 15: O versículo apresenta a fala de Jesus, conteúdo da sua pregação. Anuncia a proximidade do reino de Deus e a necessidade de arrependimento e confiança no evangelho. A versão Pastoral destoa das outras três ao empregar o termo conversão ao invés de arrependimento. Contudo, o sentido do termo grego permite essa interpretação, pois expressa mudança de pensamento. Conforme Kunz (2014), as duas expressões no indicativo “está cumprido” e “está próximo” fazem referência à esperança messiânica de libertação de Israel de seus opressores. Do mesmo modo, os imperativos “arrependei-vos” e “crede” apontam para a realidade de que nesse tempo que se cumpre (kairos), há respostas que são exigidas das pessoas que ouvem o evangelho anunciado por Cristo. De qualquer modo, não há espaço para passividade.
Dos versículos 16 a 20, temos a vocação dos primeiros discípulos. O texto tem os seus paralelos em Mateus 4.18-22 e Lucas 5.1-11. A versão de Marcos é bastante sintética.
v. 16: Neste versículo se apresenta a cena em que ocorre a vocação dos primeiros discípulos. Jesus caminha às margens do mar da Galileia e convoca alguns pescadores para acompanhá-lo como discípulos. Os dois primeiros a serem chamados são Simão e André. De certo modo, a escolha parece aleatória, pois anuncia-se que Jesus simplesmente caminhava à beira do mar e, ao ver os dois irmãos, dirige-se a eles.
v. 17: Fala de Jesus que chama ao seguimento e promete que os discípulos deixarão de ser pescadores de peixes para se tornar pescadores de “gente” (NTLH) ou “homens” (ARA, Jerusalém e Pastoral). Kunz (2014) acentua a autoridade presente nas palavras de Jesus e a clara diferença em relação aos discursos dos rabinos. O chamado não implica imediatamente o discipulado. Esse é promessa e condição futura a ser construída. As pessoas tornam-se discípulas de Cristo à medida que convivem com ele. A existência cristã é caminho e não ponto de chegada. Os verbos no futuro parecem indicar nessa direção. Ao mesmo tempo, a antiga vocação não é abandonada, mas serve de referência para a nova, na qual deverão pescar pessoas (Kunz, 2014).
v. 18: Ao pedido de Jesus, Simão e André deixam as suas vidas de pescadores e seguem o mestre. As decisões dessas duas pessoas de simplesmente seguirem a Cristo, deixando o restante para trás, são envoltas de uma “naturalidade misteriosa” (Kunz, 2014). Mostra-se a força da boa notícia do evangelho, que pode transformar vidas de modo absolutamente radical, surpreendente e misteriosa. Ao mesmo tempo, essa ação é espontânea e livre de coações. Vê-se aqui a concretização do “crer” do v. 15.
v. 19: Aqui são apresentados os dois próximos a serem chamados, Tiago e João, filhos de Zebedeu. A única diferença entre as versões está na ordem doselementos, especialmente em NTLH, de modo a tornar o texto mais fluente ao leitor contemporâneo.
v. 20: Tiago e João, após o chamado de Jesus, deixam família e conhecidos para seguir a Cristo, a exemplo de Simão e André. A brevidade e simplicidade do texto de Marcos podem talvez dar a entender que o evangelista não tenha dado o devido crédito à importância do momento. Por outro lado, podem também indicar que o seguimento de Cristo, ou mais precisamente o encontro com Cristo produz uma mudança completa na vida das pessoas. Nesse encontro não sobra espaçopara dúvidas ou estabelecimento de outras prioridades. Quem encontra Cristoface a face não resiste ao seu chamado, mas larga o que está fazendo e o segue.
3. Meditação
Os irmãos Simão e André estavam pescando. Um pouco mais à frente, os irmãos Tiago e João consertavam suas redes de pesca. Quatro pescadores. Possivelmente, a rotina de suas vidas era esta, passar horas no mar da Galileia buscando o sustento de suas famílias. Era para ser mais um dia como todos os outros: verificar as redes, consertá-las, jogá-las ao mar, puxá-las na esperança de estarem carregadas de peixes e voltar para casa após mais um dia de trabalho. Eles não imaginavam que suas vidas iriam mudar radicalmente.
Jesus se aproxima deles e faz um convite: Venham, e eu lhes farei pescadores de gente. Convite estranho. Pescadores de gente? O que se passara na
cabeça dos pecadores? Estranheza, dúvida, incerteza… Não se sabe exatamente o que eles pensaram, mas o texto diz que no mesmo instante deixaram tudo o que estavam fazendo e seguiram Jesus. Não deram nenhuma desculpa nem pediram que voltasse outra hora. O convite de Jesus lhes exigiu uma rápida resposta e eles não titubearam. Aceitaram o convite e assumiram o compromisso de serem pescadores de gente.
De alguma forma, o encontro com Jesus mexeu com aqueles pescadores. O evangelho provoca mudança de vida. Eles não eram mais os mesmos. Sentiam que não era mais possível apenas jogar as redes para “pescar peixes”. Aqueles pescadores foram convidados a continuar “pescando pessoas”. Eles já haviam sido pescados por Jesus e agora deveriam pescar outras pessoas através da “rede” do evangelho.
Quantas pessoas continuam sendo chamadas por Jesus. Infelizmente, nem todas aceitam de prontidão o convite. Ouvem o evangelho, mas esse não provoca mudança nas suas vidas. Pelo contrário, querem continuar vivendo da mesma forma, sem mudar suas prioridades. Quantas continuam dando desculpas e inventando argumentos para não aceitar o convite. Quantas pessoas se acham tão cheias de preocupações para vir a um culto, para ouvir Jesus, para participar de alguma atividade na paróquia, para aceitar um convite do pastor ou da pastora. “Temos tantas outras preocupações, não é verdade? Ainda ter que se preocupar com a igreja?” Ouvem o chamado, mas não querem assumir nenhum compromisso. Por isso, em tantos lugares, é tão difícil conseguir pessoas que aceitem o convite para se tornar lideranças na igreja. A procura por presbíteros, orientadoras do culto infantil e líderes na juventude, por exemplo, é cada vez mais difícil.
O encontro com Jesus provoca mudança. Ao ouvir o evangelho, somos convidados a reavaliar nossas prioridades e assumir o compromisso com o reino de Deus. Jesus espera uma resposta nossa. Ele olha para nós, assim como olhou para os pescadores, e diz: “Eu quero a companhia de vocês! Venham pescar comigo”. Ao ouvir esse chamado, somos convidados a segurar a rede de pesca junto com Jesus e ir ao encontro de pessoas que ainda precisam ser pescadas.
Ao longa da nossa caminhada cristã, somos convidados a demonstrar e viver o nosso compromisso com Deus. Ao sermos convidados por ele, não podemos ficar parados apenas olhando para Jesus. Ele quer que mudemos nossas prioridades e o sigamos. Para seguir Jesus é necessário largar as antigas redes, abandonar antigas convicções e ir em busca de uma nova vida.
4. Imagens para a prédica
Ilustração: Os pescadores sem peixes
Era uma associação de pescadores. Esses viviam no meio de rios e lagos, cheios de peixes famintos. Eles se reuniam regularmente para discutir sobre o chamado para pescar, a abundância de peixe e a emoção de pegar peixes. Ficavam muito animados com o assunto da pescaria, pois amavam isso.
Alguém sugeriu que o grupo precisava de uma filosofia de pesca. Assim, cuidadosamente, definiram e redefiniram a pesca e o propósito da pescaria. Desenvolveram estratégias e táticas. De repente, perceberam que haviam começado de trás para frente – haviam se interessado pela pescaria do ponto de vista do pescador, e não do ponto de vista do peixe. Como o peixe vê o mundo? Como vê o pescador? O que o peixe pensa? Ele pensa? O que e quando o peixe come? Era importante entender essas coisas. Por isso iniciaram estudos e pesquisas. Participaram de conferências sobre pescaria. Muitos viajaram a lugares longínquos para estudar diferentes tipos de peixes, com diferentes hábitos. Alguns obtiveram Ph.D. em piscicultura.
Contudo, ninguém havia ido pescar. Formou-se, então, um comitê para enviar pescadores. Havia muito mais lugares propícios para pescar do que pescadores. Por isso o comitê precisava determinar prioridades. A lista de prioridades foi colocada em quadros de avisos em todos os salões da associação. Mas, como antes, ninguém estava pescando ainda. Foi feita uma pesquisa para saber o porquê. A maioria não respondeu ao questionário, mas entre os que responderam, descobriu-se que alguns se sentiam chamados para estudar a pesca, outros para fornecer equipamentos de pesca e outros, ainda, para encorajar os pescadores. E, com tantas reuniões, conferências e seminários, simplesmente não tiveram tempo para pescar.
Jacó era novato na associação de pescadores. Depois de uma reunião muito animada, ele foi pescar. Fez algumas tentativas, pegou o jeito e conseguiu pegar um lindo peixe! Na reunião seguinte, ele contou sua história e foi elogiado pelo sucesso. Acabou sendo convidado para falar em todos os núcleos da associação e contar como havia sido a sua pescaria. Assim, com tantos compromissos e por ter sido eleito para a diretoria da associação, Jacó nunca mais teve tempo para pescar. No entanto, não demorou muito e ele começou a se sentir intranquilo e vazio. Teve saudades da pesca propriamente dita, de sentir o puxão no anzol. Assim, decidiu deixar a diretoria da associação, bem como os demais compromissos com os núcleos, e convidou um amigo para ir pescar com ele. Os dois foram sozinhos e, simplesmente, pegaram peixes.
Os membros da associação de pescadores eram muitos e os peixes eram abundantes. Mas os pescadores continuavam sendo muito poucos. A grande
maioria era pescador sem peixes! Uma pena!
(Adaptado – Fonte: Ultimato)
Essa ilustração pode ser usada para destacar que, muitas vezes, lideranças de comunidades passam muito tempo discutindo assuntos burocráticos e administrativos e esquecem o objetivo principal de ser comunidade: pescar gente!
5.Subsídios litúrgicos
Sugestões de hinos: HPD 2: 448 (Pedro, Pedro, Pedro), 413 (Senhor, se tu me chamas), 329 (Como foi o teu encontro lá no lago).
Sugere-se passar o vídeo da música “A Barca”, composta em 1979 pelo padre espanhol e compositor Cesáreo Gabaraín (1936-1991), cujo título original é
“Pescador de hombres” (https://www.youtube.com/watch?v=frC_VQ5gl5A>).
A música pode servir para complementar a mensagem.
Refrão: Senhor, tu me olhaste nos olhos, a sorrir, pronunciaste meu nome, lá na praia, eu larguei o meu barco, junto a ti buscarei outro mar.
Bibliografia
KUNZ, Claiton André. Todos somos chamados. In: HOEFELMANN, Verner. Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal, 2014. v. 39, p. 75-80.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).