Proclamar Libertação – Volume 33
Prédica: Marcos 4.35-41
Leituras: Jó 38.1-11; 2 Coríntios 6.1-13
Autor: Marlei Adam Arcari
Data Litúrgica: 3º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 21/06/2009
1. Introdução
Os três textos bíblicos chamam a atenção para dois temas: a grandeza de Deus e a falta de fé dos seres humanos.
Jó 38.1-11 mostra que Deus fala a Jó “do meio de um redemoinho”. Deus rompe o silêncio que até então havia guardado e do qual Jó havia se queixado com frequência. Surpreendentemente, as palavras do Senhor não fazem referência aos sofrimentos de Jó, mas são uma afirmação da grandeza de Deus, de seu poder e de sua sabedoria insondável.
Em 2 Coríntios 6.1-13, o apóstolo Paulo enumera ocasiões em que deu provas de paciência e fortaleza em seu trabalho apostólico. Em uma série de contrastes, Paulo destaca as condições em que levou a cabo seu trabalho; em um grupo de paradoxos, indica que as realidades profundas não são como as aparências.
O texto do Evangelho de Marcos (4.35-41) relata o poder de Jesus. Esse nos ensina que é possível vencer as dificuldades, mas é preciso ter fé e fazer alguma coisa. É preciso orar e agir sem esperar. O temporal é agora; deve ser enfrentado e vencido agora.
2. Exegese
2.1 – Fonte
De acordo com a teoria das fontes, Marcos é a fonte dos outros evangelhos sinóticos. É o mais antigo deles. Sendo assim, é possível afirmar que Lucas e Mateus usaram Marcos como base para escrever seus evangelhos.
Marcos, por sua vez, é considerado uma fonte primária, que não utilizou escritos anteriores, mas somente o que viu e ouviu (tradição oral) em sua caminhada com o apóstolo Pedro. Também a linguagem de Marcos e seu estilo demonstram sua autoria, pois ele escreve num estilo simples.
2.2 – Observações exegéticas acerca dos versículos da perícope
V. 35 – “Naquele dia”: isso indica o mesmo dia em que as parábolas anteriores do reino foram proferidas. “Passemos para a outra margem”: Jesus frequentemente cruzava para o lado oposto do lago, porque aquela região não era muito populosa. Ali quase não o conheciam, o que lhe dava a oportunidade de escapar das multidões de ouvintes da populosa margem ocidental.
V. 36 – Esse versículo fala da travessia de vários barcos, e não apenas de um, bem como da despedida das multidões, que tinham acabado de ser instruídas por meio de parábolas. Talvez Marcos desejasse dizer-nos que se tornara difícil para Jesus escapar das multidões, mesmo quando atravessava o lago, pois outros tinham aprendido a seguir Jesus. Ou então, conforme alguns sugerem, Jesus reunira grande número de discípulos por essa época. A esses era permitido segui-lo, o que significa que, pelo menos em algumas ocasiões, foram incluídos no círculo mais íntimo. Talvez alguns dos setenta estivessem entre eles.
V. 37 – Esse versículo relata que as pessoas que estavam no barco corriam grande perigo devido à sua falta de fé, pois o barco estava enchendo de água.
V. 38 – Os temporais eram súbitos e violentos no lago da Galiléia, devido às condições atmosféricas e à configuração geográfica. Na vida diária, eles também podem ocorrer com prontidão devastadora. Jesus é a rocha em uma terra cansada. O maligno cria tais temporais, e sem a proteção de Deus todos nós estaríamos perdidos, tanto física como espiritualmente.
Jesus dormia. Estava cansado do trabalho do dia. Era um ser humano. Os discípulos ficaram indignados com Jesus, porque ele dormia tranquilamente enquanto todos estavam morrendo de medo. Acordam Jesus com um grito de desespero: “Mestre, não te importa que pereçamos?”. Esse é um grito de medo, de irritação, talvez até de raiva.
V. 39 – Jesus levanta-se com tranquilidade, repreende o vento que estava agitando as águas, dizendo: “Acalma-te, emudece!”. O vento aquietou-se, e fez-se grande bonança. A palavra dita por Jesus produziu uma calmaria instantânea. Sua voz ainda pode ser ouvida por aqueles que escutam. Nenhuma força até hoje pode perturbar ou causar destruição quando a alma dá ouvidos à sua voz e lhe obedece. Em sua voz está a substância da intervenção divina na vida humana, e todos nós precisamos muito dessa intervenção. A maior lição que há aqui é que Cristo pode salvar a alma das tempestades repentinas da vida.
V. 40 – O evangelista mostra que Jesus queria que os discípulos entendessem mais do que entendiam. Aqui a palavra “tímidos” significa covarde/medroso. O evangelista fala do temor covarde que levou os discípulos a entrar em pânico sob a pressão, o que mostra que ainda não haviam aprendido o suficiente sobre Jesus. Esse critica a falta de fé dos discípulos. Ainda assim, o milagre acontece. O mar agitado e o vento de tempestade são acalmados. Esse texto nos ajuda na seguinte reflexão: duvidar não facilita as coisas, antes atrapalha.
V. 41 – Antes, os discípulos estavam tomados de um temor covarde; mas agora foram tomados de grande temor por causa do que tinham acabado de ver. Um tipo de medo substituiu outros, embora de melhor espécie certamente. Os discípulos ainda estavam no processo de conhecer Jesus. Por isso eles ficaram surpresos e novamente entraram em dúvida em relação a ele: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?”. Pouco a pouco, os discípulos se dão conta de que Jesus não é qualquer pessoa que eles estão seguindo, mas é alguém com autoridade sobre o natural e o sobrenatural.
3. Meditação
O texto do Evangelho de Marcos (4.35-41) mostra que Jesus não realiza apenas um milagre na natureza, mas sobretudo é um libertador do medo. Esse milagre acontece fundamentado na fé e tem como objetivo despertar a fé dos discípulos.
Jesus sempre defendera seus seguidores contra os ataques dos doutores da lei e fariseus, explicando-lhes as parábolas. No texto em estudo, Jesus queixa-se da ausência de fé dos discípulos. Pois os discípulos, em vez de reagir com fé, reagem com muito medo.
Com a pergunta final – “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” – Marcos pretende dizer várias coisas. Em primeiro lugar, dar continuidade à descoberta de “quem é Jesus”. Como resposta a isso, mostrar que ele tem poder e é o senhor da história, a quem os elementos hostis e caóticos obedecem. Marcos também deseja sublinhar a humildade necessária para seguir esse portador de boas notícias.
A fé cresce quando permanecemos em Jesus. Permanecendo em Jesus, reconhecemos o “ser” e a “autoridade” de Jesus. Com essa fé podemos superar as tormentas da vida, tais como: medos, mortes, doenças, perdas, preocupações, acontecimentos que se acumulam na vida da gente e ameaçam nos derrubar. A própria vida desenvolve a fé em Jesus. “A fé não é obtida a partir de nossas próprias forças. A fé é dom de Deus. A fé não é coisa pequena. Lutero nos diz na explicação do primeiro mandamento: ‘Devemos temer e amar a Deus sobre todas as coisas’. Jesus nunca nos prometeu que nada nos ameaçaria, mas que segui-lo significa tomar sobre nós a nossa cruz. É necessário estar preparado para morrer com ele e confiar em seu poder criador” (Proclamar Libertação, v. 22, p. 187).
Deus sempre caminhou e continua a caminhar conosco. Deus quer estar próximo de nós em todas as situações, mas muitas vezes somos ingratos e por qualquer coisa ou problema nos colocamos contra Deus. Logo dizemos: Deus nos abandonou, ou até mesmo: Deus não existe. Revoltamo-nos contra Deus, assim como os discípulos se revoltaram contra Jesus, porque durante a tempestade ele dormia tranquilamente. Manter a calma ajuda-nos a resolver os problemas mais facilmente.
Jesus critica os discípulos por seu medo desproporcional, como se os poderes do mar pudessem destruí-los contra a providência e a vontade de Deus. Ainda assim, o milagre acontece. O mar agitado e o vento de tempestade são acalmados. “A palavra dita por Jesus produziu calmaria instantânea. Sua voz ainda pode ser ouvida por aqueles que escutam. Nenhuma força, até hoje, pode perturbar ou causar destruição quando a alma dá ouvidos à sua voz e lhe obedece. Em sua voz está a substância da intervenção divina na vida humana, e todos nós precisamos muito dessa intervenção. A maior lição que aqui há é que Cristo pode salvar a alma das tempestades repentinas da vida” (O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, CHAMPLIN, v. 1, p. 693).
Os discípulos e Jesus enfrentam a grande tempestade. Quantas vezes nós, na vida pessoal ou comunitária, enfrentamos grandes tempestades? Diante das tempestades que a vida nos faz passar, ficamos com medo ou resistimos com confiança e coragem? Como sentimos a presença de Jesus, que acalma a tempestade?
Todos nós enfrentamos dificuldades e, para enfrentá-las e solucioná-las, não devemos ter medo, mas sim fé e esperança de que tudo vai dar certo. É hora de olhar para Deus e buscar sua presença em oração para buscar forças, paz, fé e esperança. E assim sentir o amor e a mão de Deus envolver-nos em nosso dia-a-dia.
4. Imagens para a prédica
* Convido a olhar para as diversas tempestades que ocorrem em nossa vida pessoal, comunitária e social nos dias de hoje.
* Fazer uma reflexão sobre como nós, seres humanos, enfrentamos as tempestades e/ou os conflitos dentro da família e dentro da comunidade.
* Usar sons de uma tempestade, vento forte.
* Para a prédica tornar-se mais viva, sugiro a seguinte história:
Um olhar para o alto
Um jovem que trabalhava em um navio tinha, certo dia, a tarefa de subir no mastro da embarcação. O vento estava forte. O navio, em alto-mar, era sacudido fortemente pelas ondas e pelo vento. E lá estava o jovem agarrado ao mastro do navio. Ele olhava para baixo e via como a força das ondas e do vento tornava a viagem perigosa. Lá do alto do mastro, ele sentiu medo e ficou meio tonto diante da situação. Corria o perigo de desmaiar, caindo assim do alto do mastro para dentro das águas perigosas do mar. O capitão do navio reconheceu o perigo em que o jovem se encontrava. Então gritou para ele: “Jovem, não olhe para baixo, olhe para cima”.
O jovem desviou seu olhar apavorado das ondas do mar, que eram tão ameaçadoras. Olhou para o alto e, assim, pôde cumprir a tarefa para qual subira ali. Esse olhar para o alto salvou sua vida. (Um olhar para o vale / Organização de Osvino Toillier. São Leopoldo: Sinodal / Rádio União FM,
1999. V. 2)
5. Subsídios litúrgicos
Liturgia para a Ceia
Oração do ofertório
Deus criador, bendito sejas por essas dádivas que teu amor nos concede. Com elas ofertamos a nós mesmos para servir ao cuidado e à salvação de tudo o que criaste. Por Jesus Cristo, nosso Senhor, que também instituiu a Ceia como alimento que nos une para enfrentar com fé e esperança as dificuldades que a vida nos oferece.
Diálogo
L: O Senhor esteja com vocês.
C: E também com você.
L: Vamos levantar nossas vozes e também nossos corações a Deus.
C: Sim, vamos levantá-los a Deus com todo o entusiasmo.
L: Agradeçamos ao Senhor por sua misericórdia.
C: É justo e necessário agradecer-lhe.
Ação de graças
É justo e necessário que, em todos os tempos e lugares, te rendamos graças, Senhor. Por tua Palavra criaste todas as coisas e as declaraste boas. Tu fizeste o ser humano à tua própria imagem para compartilhar tua vida e refletir tua glória. No devido tempo, tu vieste a nós em Jesus, teu Filho. Em Jesus tu nos libertaste do medo das tempestades que a vida nos oferece e nos ensinaste a lutar com esperança e fé.
Comunidade (canta):
/: Santo, Santo, Santo, Santo, Santo, Santo é nosso Deus.
Senhor de toda terra, Santo, Santo é nosso Deus. :/
Anamnese
L: Louvado sejas, Senhor da terra e dos céus, pela constante e permanente fidelidade que nos demonstraste, quando vieste a nós em teu Filho. Louvado sejas, Pai bondoso, porque pela vida, paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus, tu nos asseguraste que a fé e a esperança permaneçam para sempre e assim nos ensinaste a manter a calma para resolver os problemas mais facilmente.
C: Anunciamos, Senhor, a tua morte e proclamamos a tua ressurreição.
Narrativa da instituição
L: Na noite em que Jesus foi traído, ele, o nosso Senhor Jesus Cristo, tomou o pão, rendeu graças, partiu-o e o deu a seus discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim”.
C: Louvado sejas para sempre!
L: Depois de cear, ele, o nosso Senhor Jesus Cristo, tomou também o cálice, rendeu graças e o deu a seus discípulos, dizendo: “Bebei dele todos, porque este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vós, para a remissão dos pecados. Fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de mim”.
C: Louvado sejas para sempre!
Epiclese
L: Derrama sobre nós o teu Espírito Santo, para que, partilhando do corpo e do sangue de Cristo nesta ceia, recebamos esperança e fé para superar as tormentas que a vida nos oferece e para permanecer firmes em Jesus Cristo.
C (canta):
/: Vem, Espírito Santo, vem e atende o nosso chamado,
Nos ensina a ser teu povo na esperança libertado. :/
Mementos
Lembra-te, ó Deus, de todas as pessoas que já nos antecederam e reúne-nos todos em teu reino, junto à mesa do banquete que nos tens prometido.
Doxologia
C: A ti, Trino Deus, rendemos toda honra e toda glória, hoje e sempre. Amém!
Pai-Nosso
L: Oremos agora, de mãos dadas, com as palavras que o próprio Jesus ensinou:
C: Pai nosso que… Amém!
Gesto da paz
L: Deus nos criou para viver a paz. Jesus Cristo disse: Deixo-vos a paz! O Espírito de Deus nos dá esperança e fé para nos manter calmos diante das tempestades que a vida oferece, permitindo-nos a paz que só Deus sabe dar. Cumprimentemo-nos com um aperto de mão ou um abraço, desejando a paz do Senhor uns aos outros.
Fração
L: O cálice da bênção que abençoamos é a comunhão do sangue de Cristo; o pão que repartimos é a comunhão do sangue de Cristo.
C (canta):
Nós, embora muitos, somos um só corpo.
L: Vinde, pois tudo está preparado.
Cordeiro de Deus
C (canta):
Cordeiro de Deus, que tiras o pecado do mundo, tem piedade de nós (2x). Cordeiro de Deus, que tiras o pecado do mundo, dá-nos a paz.
Oração pós-comunhão
L: Agradecemos-te, nosso Deus, porque nos restauraste através da comunhão do corpo e do sangue de teu Filho. Concede, em tua bondade, que esta ceia nos fortaleça na fé em ti, na esperança de permanecermos em ti, mesmo diante das tempestades que a vida nos oferece. Isso te pedimos por Jesus Cristo, nosso Senhor.
C: Amém!
Bibliografia
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. V. 1. São Paulo: Agnos, 2002.
KÜMMEL, Werner G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982.
MOLZ, Claudio. Proclamar Libertação, v. XXII. São Leopoldo: Sinodal, p. 182-187.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).