Proclamar Libertação – Volume 33
Prédica: Marcos 9.38-50
Leituras: Números 11.4-6, 10-16, 24-29; Tiago 5.13-20
Autor: Ângela Zitzke
Data Litúrgica: 17º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 27/09/2009
1. Introdução
Vive-se num contexto em que muitas igrejas usam o nome de Jesus para mostrar sua autoridade cristã. Mas se questiona: De onde vem essa autoridade? Quais são nossas diferenças? O que nos une? O texto de Marcos deixa muito claro que pessoas fora do círculo restrito de discípulos também podem usar o nome de Jesus para operar milagres. O texto de Números afirma que não só os líderes “oficiais” são usados por Deus para profetizar. O Espírito do Senhor escolhe repousar sobre quem lhe apraz. Para muitos, é difícil olhar para as outras denominações com respeito, pois são diferentes de nós. Em Marcos, Jesus acaba com as diferenças e afirma que todos somos iguais enquanto praticarmos o bem para o próximo, não por mérito, mas através do amor espontâneo. Em Tiago, a salvação do condenado, a prática da oração, a gratidão pela alegria, a fé inabalável diante dos problemas são o que nos une enquanto crentes em Cristo.
Enfim, pergunta-se: Quem é condenado? Quem é salvo? O que fazer para saber se Deus é quem opera através das pessoas que usam seu divino nome? O texto de Marcos responde: os condenados são aqueles que levam pessoas ingênuas, pela prática da fé, aos caminhos da perdição, isto é, usam o nome de Deus em benefício próprio, agem com desonestidade e maldade. Segundo Números, o povo murmurador, ingrato e que coloca seus problemas acima da confiança na terra prometida é um povo que suscita a ira divina, mas, ainda assim, permanece agraciado por misericórdia divina. Ele jamais será desamparado, mesmo tendo que aprender a transformar sua murmuração em gratidão por fé. O texto de Tiago afirma que serão salvos aqueles que ajudarem o pecador a sair de seu caminho errado, trazendo esperança e fé através da prática da verdade. Essa verdade está na sinceridade da fé, na experiência do amor e na construção de um mundo cheio de esperança.
2. Exegese
2.1 – Números 11
V. 4-6 – O termo “populacho” (‘asapsup) só aparece nesse versículo do Antigo Testamento. Refere-se a pessoas que foram coletadas no meio do caminho (como escravos de outras raças, aventureiros e gente descontente com sua situação no Egito), uma verdadeira multidão mista, que dá início à murmuração. Mas os israelitas também estavam descontentes com a alimentação e as condições da viagem. Tanto que sua fé passa a “balançar” por causa da dieta pobre no deserto frente ao que estavam acostumados a comer no Egito. Mesmo em dificuldades, não conseguiam mais levar em conta quão terrível era a escravidão que os assolava. Sua “alma” estava “seca”, isto é, sua força de vida estava em desequilíbrio, uma sensação realista de quem peregrina pelo árido deserto.
V. 10-16 – O choro do povo, seu descontentamento, suas emoções humanas estavam “à flor da pele”. Os israelitas sentiam que o preço da liberdade estava se tornando muito desvantajoso. O povo passa a reclamar, e Moisés desanima diante de tarefa tão pesada. O Deus irado aparece nessa passagem como aquele Deus santo que não é conivente com o pecado e a maldade do povo. Essa insatisfação, ingratidão e tamanha falta de fé são características humanas, naturais de ser sentidas. Mas estão em desacordo com suas santas qualidades. Deus apieda-se de seu povo e intervém de forma divina, trazendo luz à situação. Não mata Moisés para acabar com seu sofrimento (como ele mesmo havia clamado), mas antes o ajuda a continuar liderando. Escolhe 70 anciãos superintendentes para ajudá-lo nessa pesada tarefa. Seu papel de liderança não foi tirado ou abruptamente “abortado”. Deus, na verdade, ajuda Moisés a delegar responsabilidades através de uma estrutura de sublíderes (poupando-o de muitos deveres) bem hierarquizada.
V. 24-29 – Através da manifestação do Senhor, pousando simbolicamente como uma nuvem (vinda de Moisés sobre o arraial), o ministério e a autoridade dos anciãos foram publicamente autenticados. A presença de Deus envolve-os, e todos passam a profetizar (semelhantemente ao pentecostes de Atos 2, sem a manifestação do dom de línguas, mas com profecias e muita exaltação espiritual). Naquele momento, os anciãos profetizaram, mas não se tornaram profetas. Quem foi “tocado de forma informal” pelo espírito de Deus foram Eldade (Deus é amigo) e Medade (Deus é amor). Josué aparece como objetor nesse episódio, por temer que tais manifestações ameaçassem a liderança de Moisés. Parecia que não eram autorizados, contudo agiam em nome de Deus. Talvez Josué também tivesse vontade de profetizar e não podia, pois Deus escolhe quem lhe apraz. No entanto, Deus estava agindo através deles também, por mais estranho que isso parecesse. Os verdadeiros líderes não competem entre si; antes compartilham seus poderes e papéis de autoridade para dar legalidade um ao outro.
2.2 – Tiago 5
V. 13 – Tudo o que se faz pode conectar com Deus, tanto na tristeza, através de intercessão, como na alegria, através de cantos de louvor.
V. 14 – Os enfermos eram levados aos presbíteros e anciãos da igreja primitiva para que fossem curados através da imposição de mãos. Os líderes espirituais estavam capacitados, pelo poder de Deus, a gerar curas materiais. O óleo tinha função curativa nas culturas judaica e pagã, mas o nome de Jesus trazia a autoridade sobre o ato, rememorando seus feitos e invocando seu poder.
V. 15 – A ação de fé pode curar o enfermo, pois sua doença começa primeiro no espírito/alma, passa pelos sentimentos até chegar ao corpo. A vontade humana deve estar em sintonia com o agir divino.
V. 16 – A cura agora é comparada à busca por reconciliação e perdão entre os membros da comunidade. A oração do ser que é justificado diariamente por Deus chega diante dele e gera comunhão entre os cristãos.
V. 17 – Esse versículo exalta o poder da oração, feita por um homem pecador que confiava em Deus. A oração pode modificar as condições terrenas e climáticas por graça divina.
V. 18 – O trecho de 1 Reis 17.42 deixa essa afirmação implícita. Tais narrativas são freqüentes no Antigo Testamento, onde o impossível e o inesperado podem acontecer.
V. 19 – Desviar-se da verdade é transgredir a lei, não levar em consideração o código moral que guia a vida cristã. Deixar de fazer o bem e cair no erro de valorizar o que é mal leva à morte.
V. 20 – Já a conversão do erro e o desvio da morte são conseqüências da oferta graciosa de salvação em Cristo Jesus, que através de sua cruz ensinou a humanidade a amar de forma incondicional. O seguimento do bem e a prática do amor através da fé são exaltados por Tiago, em sua carta, e por Jesus, através de seu testemunho personificado nos evangelhos.
3 Meditação sobre Marcos 9.38-50
V. 38 – Na Palestina do primeiro século, era comum a prática de exorcismo através de nomes que tinham poder, como Abraão, Moisés ou Salomão. Quando os discípulos vêem alguém alheio a seu grupo usar o nome do Mestre, ficam perturbados, talvez até enciumados. Mas como ele não tinha a permissão pessoal de Jesus, os discípulos o proíbem. Muitas pessoas também hoje expulsam demônios em nome de Jesus. Quem não tem amigos de outras denominações ou até mesmo já viu pela TV algum líder ministerial citar o nome de Jesus em oração para os mais diversos fins? Eis a questão: devemos, como os discípulos, arrogar-nos o direito de proibi-los só porque não seguem a mesma linha teológica, a mesma denominação, a mesma comunidade do que nós? Não pretendo entrar na questão do exorcismo em si ou no poder da palavra “Jesus” como nome de autoridade, usado para rituais de libertação. Entrementes, o ponto central que para nós edifica é perceber o que fazemos ou falamos de pessoas que são diferentes de nós. Vejamos o que Jesus respondeu.
V. 39 – Quem usa o nome de Jesus respeita-o, assim como os demônios, que, ao saírem da pessoa, da mesma forma obedecem e reconhecem sua autoridade. Quem usa esse nome passa a reverenciá-lo. O nome de Jesus é citado sempre no final das orações. Entrementes, para nosso contexto luterano, a autoridade do Senhor Jesus Cristo é mais comumente presenciada na prática da Santa Ceia. O mesmo poder e a mesma autoridade são invocados naquele momento para que abençoe o pão e o fruto da videira, conceda perdão, reconciliação e gere nova vida para a comunidade que comunga. Depois de tomar a ceia, presenciar o Cristo vivo, que se entrega através de todas as células degustativas e táteis, é muito difícil ver alguém saindo da igreja e falar mal do nome Jesus. Infelizmente, o que acontece é ver alguém falando de suas insatisfações e frustrações pessoais, criticando a política, reclamando do que vai ter que fazer na semana, dos problemas do dia-a-dia, mas não difamando a fé e falando mal do Jesus que os alimenta e pode transformá-los numa nova pessoa.
V. 40 – O amor a quem é “por nós” é muito desafiador, pois fala do convívio intenso com pessoas que conhecemos muito bem, tanto seus lados positivos como negativos. Mesmo com semelhanças comuns, existem atritos. O amor a quem é “contra nós” é desafiador da mesma forma. Dispor-se a amar quem é declaradamente diferente é muito mais difícil. Esse amor alcança o cristão e fá-lo experimentar o que é o respeito por outros cristãos de diferentes denominações, por cristãos de sua própria comunidade, por cristãos que habitam seu lar e também por aqueles que sequer são cristãos, mas que também fazem parte de seu dia-a-dia. Jesus tenta desafiar seus discípulos a vincular-se a pessoas diferentes através do reconhecimento da autoridade de seu nome e do amor que os une. O desafio da fé é deixar-se transformar por esse nome que está acima de todo outro nome. O amor respeita aquele que é diferente, tanto abertamente como nas pequenas coisas da vida. O ensino de Jesus perpassa denominação, alcança o cristão e fá-lo, pelo menos, respeitar aquele que convive com ele.
V. 41 – Nesse versículo, Jesus fala da prática do bem, das coisas simples da vida sendo dadas de forma gratuita e bem-intencionada. Jesus afirma que até mesmo as pessoas mais alheias, que sequer são conhecedoras do nome dele, mas que se compadecem e se solidarizam com aqueles que o seguem, serão recompensadas. Fazer o bem está acima de denominação ou partidarismo religioso. Fazer o bem ao necessitado é graça universal. Ser ajudado no momento da dificuldade, até para as necessidades mais biológicas, é tão valorizado por Jesus quanto ter a honra de ser chamado de seu discípulo. O galardão pode ter conotação escatológica, semelhante a uma recompensa. Mas o bem que se faz ao próximo não deve ser feito na expectativa de receber algo em troca (isso pode ser comparado à compra de indulgências na Idade Média). O bem deve ser feito por puro amor e generosidade, assim como a salvação. Essa é dada por Deus a partir da graça e não por méritos ou contabilizada pelo número de boas ações. Essa generosidade, salientada por Jesus, jamais deve ser esquecida na relação com o outro, o alheio, o diferente.
V. 42 – A prática do mal é abordada por Jesus nesse versículo. Sua reprovação está clara. Se a prática do bem, até para o serviço mais elementar, é elogiada, imagine o que é a prática do mal para algo tão sério como o desvio de uma vida de sua caminhada de fé. A fé é considerada o combustível da alma. É da fé que provém o contato do crente com Deus. Através dela sentimos seu amor, somos capacitados a amar e a fazer o bem da mesma forma. A própria salvação é recebida pela fé. Portanto desviar-se da fé é considerado mortal para Jesus, um verdadeiro suicídio, exemplificado através do afogamento (o mesmo que pular de uma ponte, por exemplo). Após fazer uma cura ou um milagre, Jesus sempre enfatizou para as pessoas que a “tua fé te salvou” (Mt 9.22; Mc 5.34, 10.52; Lc 7.50, 17.19, 18.42). Através da fé os milagres acontecem. Sem fé, a vida perde o vínculo com o bem mais precioso deixado por Jesus: a possibilidade de contato pessoal com Deus.
V. 43 e 44 – Nesses versículos, Jesus não está mais falando de pessoas ou grupos diferentes. Agora Jesus está falando a seus próprios seguidores. O fato de tropeçar pode ser interpretado como deixar-se levar pelo pecado, maldade, agressão, erro, falha, enfim tudo o que não está em harmonia com Deus e com o que é divino. Uma caminhada de espiritualidade e fé pede conexão com o que é santo e abençoado. É claro que Deus entende a condição humana, sua dualidade e seu pecar. O Deus irado pune justamente, pois não quer mais ver seus filhos na maldade. O Deus pedagogo coloca castigos para seus filhos “desobedientes”, justamente porque os ama. Assim, fazer o mal é humano, pecar é humano, mas não está em conivência com a santidade de Deus. Através da entrega de Jesus por amor, a humanidade agora pode ser perdoada por todos os pecados que comete. Basta haver arrependimento e fé. A fé e o amor, que vinculam o ser humano com Deus, fazem o trabalho de santificação e elevação que Jesus propõe nesse versículo. Jesus já fez o que era impossível ao ser humano. Agora o ser humano vive por graça e pode, da mesma forma, grato e agraciado, simultaneamente justo e pecador, continuar sua trajetória. Está agraciado pelo amor entregue de Cristo, que o contagia, liberta, purifica de todo pecado e incentiva a viver sua vida como um novo Adão, um “pequeno Cristo” para o próximo.
V. 45, 46 e 47 – Sofrer perdas não nos parece agradável. Sofrer uma perda por amor a Cristo é mais difícil ainda, pois o retorno não é imediato, não “afaga o ego”, nem traz retorno financeiro. Reconhecer a importância e o valor de uma caminhada espiritual é um exercício constante de desapego a um pedacinho de nós. Essas más características são parte de nós; são como um pé, um braço ou um olho, partes ainda tidas como importantes para nós, mas que não nos levam a lugar nenhum se não forem usadas para o bem. A boca que só fala mal dos outros deve aprender a calar. O olho que só repara defeitos deve aprender a perceber “os lírios do campo” também. Tudo em nós o que é usado para o mal desvincula-nos do novo Adão e permite, mais uma vez, que o velho se manifeste. Mas esse deve ser mantido sempre “bem afogado”, sob a ameaça de sermos lançados para o mesmo lugar que invocamos quando agimos de forma maldosa com o próximo e conosco mesmos.
V. 48 – O “fogo” e o “verme” aparecem em sentido figurado nas palavras de Jesus. Mas são mencionados por ter grande poder de persuasão. Para ter um efeito mais dramático ainda, escribas posteriores puseram essa declaração após os versículos 43 e 45 (os mais antigos manuscritos omitem a declaração naqueles lugares). Estão em conformidade com algumas descrições do inferno, tão bem desenvolvidas durante a Idade Média para assustar os fiéis. Essas, por sua vez, têm base bíblica em 1 Enoque e 2 Esdras. Os judeus também sabiam ser convincentes em seus apocalipses judaicos. Segundo a lógica desses versículos, o erro cometido deve ser pago. O inferno é tido como um lugar punitivo. Sua função é restaurar os seres que, em vida, ainda não conseguiram atentar para o que é bom e belo. Segundo suas palavras, o aspecto disciplinador experimentado em morte parece ser bem mais forte do que o experimentado em vida. Geena era um local fora dos portões da cidade, onde o lixo era queimado, onde recém-nascidos eram abandonados por alguma deformação e onde corpos de “indignos” eram lançados para apodrecer. Era comum haver fogo consumindo os gases em decomposição. Geena era tido como o lugar da rejeição, onde o que era “imundo” se decompunha, mais ou menos como um grande lixão, que ficava afastado da cidade, mas muito mais carregado de simbologia.
V. 49 – A finalidade do sal é a purificação. Quando há uma infecção na garganta e se gargareja com sal grosso, essa desaparece mais rapidamente. O fogo é usado para limpar o metal, o ouro e qualquer mineral que tenha impurezas em sua composição. Através de seu calor o fogo separa as diferentes matérias (as impurezas do líquido precioso). Os sacrifícios eram salgados com sal pelos sacerdotes israelitas para estar limpos e higienizados ao ser queimados no altar. Assim “subiam até Deus” e “aplacavam sua ira” contra a humanidade. Cristo, através de sua entrega por amor, liberta a humanidade de sua maldade, ofertando um novo modelo de vida através da fé.
V. 50 – Jesus ressalta o poder curativo do sal, seu poder purificador, bem como seu poder de transformar realidades. O sal precisa estar no cristão, enquanto poder que restaura e cura. Esse poder não vem dele mesmo, mas de Deus e manifesta-se através da fé. Suas atitudes são mudadas e seus atos regenerados, mudando e regenerando, da mesma forma, o mundo em que vive. O cristão vive em constante mudança, abrindo mão de partes de sua vida e de seu corpo que não mais edificam seu caminhar. Por mais que ele tenha prazer na maldade, essa o consumirá. O sal regenerador de Deus o purificará, e esse sal estará ativo em sua vida, regenerando o mundo através da fé, uma dádiva graciosa concedida por Cristo.
4. Imagens para a prédica
A mensagem de Marcos, descrita acima, foi transmitida em um estudo bíblico na Comunidade Bom Pastor do bairro Rondônia em Novo Hamburgo (RS). Estavam presentes o P. Airton Zitzke, bem como o tesoureiro da Comunidade, Vanderlei Schneider, a orientadora de Ensino Confirmatório, Marlova Schneider, o estudante de teologia e coordenador do Grupo de Jovens da Comunidade (JE Mirim), Dionata Rodrigues de Oliveira, e eu. O texto, depois de exposto, foi debatido entre o grupo, e cada integrante expressou suas idéias a respeito. Fico muito grata pela permissão de todos em poder descrever, nesta parte do trabalho, as idéias desenvolvidas por cada um. Creio que suas manifestações foram deveras edificantes por ter uma perspectiva mais comunitária.
Por isso transcrevo-as abaixo.
Marlova observa que a perícope de Marcos inicia com a pessoa como um todo, fazendo o mal (v. 42). Depois passa para as partes, como a mão (v. 43), o pé (v. 45) e um dos olhos (v. 47). A mão é muito importante, pois sem ela não se trabalha e assim não se consegue o sustento. O pé ajuda na locomoção, já a falta de um dos olhos é o que incomoda menos. Quanto às partes do corpo a serem “arrancadas” como mandamento de Jesus, Vanderlei faz menção a uma frase de Santo Agostinho, do livro de Lindolfo Weingärtner intitulado “Flores do Jardim de Agostinho”, que reza o seguinte: “É melhor mancar no caminho do que caminhar com vigor fora do caminho”.
Após uma breve discussão sobre o que seriam o “fogo” e os “vermes” (v. 44, 46, 48), o P. Airton ressalta que aqueles que estão muito apegados ao corpo não conseguem se desprender dele, nem depois da morte (ilustração simbólica). Pelo fato de não se ter vinculado a uma vida de fé, com esperança na irrupção do reino de Deus, o aspecto material em suas vidas permaneceu forte demais. Portanto conclui-se que não é possível ir para o céu sem o desprendimento deste mundo. Viver no inferno é viver sem esperança, sem perspectivas do reino futuro. Marlova encerra o tema com uma brilhante descoberta: os vermes e o fogo precisam sempre de um combustível, precisam da carne para decompor (vermes), bem como da madeira e do oxigênio para vigorar (fogo). Portanto o que seria o alimento dos vermes e o sustento do fogo? O grupo conclui que seria a maldade humana. Até o mal não ter sido consumido por completo, será sempre combustível para o fogo e para os vermes. Vanderlei observa que a passagem sobre vermes no Antigo Testamento encontra-se em Isaías 66.24.
Dionata ressalta o significado de um gesto tão pequeno como dar água ao próximo em nome de Jesus. O grupo faz menção a Mateus 10.42 e conclui que a água, para o contexto da Palestina, é muito preciosa (mais cara do que o petróleo). Portanto ofertar água é ofertar vida para um lugar onde nada cresce, nasce e desenvolve-se sem ela. A bondade de dar água é comparada à bondade de Cristo, independente de quem a praticar. Desse modo, devemos ser mais brandos com quem está fora de nosso meio. Podemos julgar menos e abençoar mais quem é diferente de nós, tanto nas pequenas como nas grandes diferenças. Afinal de contas, o amor “faz bem sem olhar a quem”. Apenas ama, entrega-se incondicionalmente. Esse é o gesto característico de um cristão e que bom se for visto e praticado em outros credos, denominações e religiões também.
5. Subsídios litúrgicos
Oração do dia:
Agradecemos-te, Senhor, pois assim como tu te manifestas de diferentes formas a cada um de nós, fazendo-te vivo e presente em nossas realidades de vida, tu também estás presente nos contextos que nos são mais alheios. Sequer podemos imaginar a grandeza de tua manifestação. Sabemos que, assim como cuidas de nós, tens cuidado de nossos irmãos bem como de quem nos é distante. Agradecemos-te por tamanha incondicionalidade de amor. Ensina-nos a viver da mesma maneira, mostrando ao mundo, dessa forma, a eficácia da reconciliação cristã. Amém.
Oração de intercessão:
Pedimos-te, Senhor, por tua igreja. Dá que seja sempre amorosa, vinculada ao bem, praticando os teus ensinamentos e guiando o mundo através da entrega pela fé. Abençoa teus obreiros e obreiras, líderes que se abrem para o anúncio de tua palavra e denúncia das relações vinculadas com a maldade e o pecado humano. Pedimos-te também pelo estado e seus governantes, que tu estejas à frente dessa luta por igualdade. Capacita os líderes deste mundo a ser mais compadecidos, coerentes com sua fé, suscitalhes o amor no coração e a bondade pelo oprimido que sofre. Ajuda a humanidade a aliviar cargas, olhando mais uns para os outros e menos para seu próprio bem-estar material. Abençoa também esta comunidade. Dá que saiamos daqui dispostos a olhar com amor e consideração para quem é diferente de nós. Agradecemos-te pela diversidade e pedimos-te: Ensina-nos a lidar com ela. Não permita que haja brigas familiares por causa de intrigas, nem que países continuem fazendo guerra por causa de divergência de idéias. Ajuda-nos a ser mais amorosos e entregar-nos uns pelos outros com a mesma abnegação que Jesus teve ao se entregar por amor. Dá que amemos da mesma forma como tu amas o mundo. Concede que aprendamos a cuidar uns dos outros e de todo o planeta, assim como tu o sustentas em amor. Amém.
Oração eucarística:
Prefácio – Sim, é digno, justo e do nosso dever que em todos os tempos e lugares rendamos graças a ti, Deus eterno e todo-poderoso, por Jesus Cristo, nosso Senhor, que se entregou por amor, de forma incondicional, para que nós também pudéssemos, agora perdoados e justificados, amar quem é diferente de nós e praticar o bem, movidos pela fé. Deixaste claro que o amor e a fé devem reger as comunidades que se identificam com o teu nome. Por isso, com toda a tua igreja e os coros celestiais, louvamos e adoramos teu glorioso nome, que é santo, santo, santo. Amém.
Anamnese – Damos-te graças, bondoso Deus, pela dádiva maior, teu Filho Jesus Cristo, que através de seu jeito de viver, pregar e agir ensinou-nos a te servir naqueles que nos são mais alheios, com respeito, carinho e consideração. Ainda que por essa opção foi condenado, morto e sepultado. Mas ressuscitou e contigo vive e reina na glória.
C – Ele veio nos salvar.
Epiclese – Envia, ó Pai, o Espírito de vida e de amor, de glória e de poder, o mesmo que nos ajuda a agradecer pelos bons momentos, bem como clamar em oração quando passamos pelos desertos da vida. Abençoa-nos com o amor reconciliador, para que, partilhando o pão da vida e o cálice da salvação, nos tornemos, em Cristo, um só corpo que anuncia a esperança para este mundo tão amado por Deus.
Bibliografia
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. V. 1. São Paulo: Candeia, 2000. p. 641-5.
. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. Guaratinguetá: A Voz Bíblica, [19—]. V. 1. p. 740-3.
. . v. 6. p. 79-85.
DISCUSSÃO em um encontro para estudo bíblico no dia 11.06.2008 (das 20h às 21h30min), realizada na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana Bom Pastor (IECLB), no bairro Rondônia, em Novo Hamburgo, RS.
WEINGÄRTNER, Lindolfo. Flores do Jardim de Agostinho. Curitiba: Encontro, 2005. p. 46.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).