Martim Lutero nasceu a 10 de novembro de 1483 na cidade de Eisleben (Turíngia), sendo o primogênito do casal Hans Luther e Margarete Ziegler Luther. Foi batizado no dia seguinte com o nome do Santo do dia.
“Meu pai, em sua juventude, era um pobre mineiro; mamãe trazia toda a lenha para casa nas costas, sacrificando-se para nos poder educar. Sujeitaram-se a uma vida extremamente penosa. Meu avô e meu bisavô eram bons agricultores.”
No verão de 1484 a família mudou-se para Mansfeld onde, aos poucos, com árduo trabalho, melhorava seu nível de vida. Em 1497, Lutero foi matriculado na escola dum mosteiro em Magdeburgo e, no ano seguinte, continuou seus estudos na escola paroquial São Jorge, em Eisenach, onde viviam vários parentes seus. Custeava seu estudo em grande parte como integrante do coro, que cantava diante das casas da cidade, recebendo gorjetas e alimentos. Teve caridosa acolhida na aristocrática casa da Sra. Ursula Cotta. Em 1501 tornou-se estudante da Faculdade de Direito de Erfurt.
“Com zelo e penoso trabalho meus pais fizeram com que eu pudesse estudar e mantiveram-me no colégio com todo amor e fidelidade.”
Em 2 de julho de 1505, após convalescer de grave doença, retornando de casa para Erfurt, e estando perto da aldeia de Stotternheim, foi surpreendido por um temporal medonho. Um amigo, ao seu lado, foi morto por um raio. Foi nesta aflição que prometeu:
“ ‘Ajuda-me, Santa Ana, e me tornarei monge!’ – Mais tarde me arrependi este voto e muitos queriam dissuadir-me. Contudo, perseverei em meu propósito e convidei os dois melhores amigos para a despedida e para que, no dia seguinte, me levassem ao convento. Quando quiseram reter-me, disse-lhes: ‘Hoje me vedes pela última vez’. Então, com lágrimas no rosto, me acompanharam. Também meu pai muito se irou com minha promessa, mas fiquei firme em minha decisão. Nunca cogitei de abandonar o convento. Havia morrido completamente para o mundo.”
Assim, a 17 de julho de 1505, Martim Lutero ingressou no Convento dos Agostinianos Mendicantes, em Erfurt. Ordem das mais severas.
“É verdade, eu era um monge devoto e cumpri tão rigorosamente minha Ordem que posso dizer: Se é que um monge jamais entrou no céu por obras do monacato, também eu queria ter entrado. Tal fato testemunharão todos meus colegas que me conheceram. Pois, se tivesse continuado, ter-me-ia sacrificado até a morte com vigílias, orações, leituras e outro trabalho.”
Tendo sido ordenado sacerdote a 27 de fevereiro de 1507, Lutero celebrou sua primeira missa a 2 de maio do mesmo ano, aato para o qual seu pai compareceu com um cortejo de 20 convidados, reconciliando-se com o filho.
“Bem quis eu ser monge santo e zeloso, e com grande devoção preparei-me par a primeira missa e a oração. Mas, por mais devoto que eu fosse, me dirigia ao altar com dúvidas, duvidando me afastava, entravado pela ilusão de que não poderíamos orar nem seríamos ouvidos se não fôssemos absolutamente puros e sem pecado, como os santos do céu.”
Lutero teve um bom conselheiro e cura d’almas no vigário geral da Ordem dos Agostinianos, Johann von Staupitz. Foi ele quem indicou Lutero para professor de Filosofia na universidade de Wittenberg, em 1508.
“Se o Dr. Staupitz, ou antes, Deus, por intermédio do Dr. Staupitz, não me tivesse ajudado a sair ileso das tentações, eu me teria afogado nelas e me encontraria no fundo do inferno. “
Na Universidade de Wittenberg, Lutero continuou ao mesmo tempo o estudo da Teologia. Graduou-se Doutor em Teologia a 19 de outubro de 1512 e passou a dar preleções sobre exegese bíblica, quando proferiu o seguinte voto:
“Profiro publicamente um caro voto pela Sagrada Escritura e prometo, para a vida toda, estudá-la e pregar sua mensagem, e defender a fé cristã contra todos os hereges, por discussão e escritos. Que Deus me ajude.”
Em 1510-1511 Lutero teve a grata oportunidade de realizar uma viagem a roma, incumbido por sua Ordem. Na Cidade Santa ficou completamente desiludido em suas altas expectativas, voltando a Wittenberg profundamente revoltado pela vida duvidosa e os escândalos encontrados no Vaticano.
Ainda como professor de Teologia, Lutero era atormentado por dúvidas quanto à faculdade humana de tornar-se justo perante Deus mediante as boas obras (leia-se o hino “Cristãos, alegres jubilai”). Mas, em 1513, dedicado ao estudo bíblico em sua cela no Convento Negro dos Agostinianos, onde morava, reconheceu de repente o infinito alcance da verdade do Evangelho:
“‘Concluímos pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei’(Romanos 3.28). Agora eu considerava a escritura Sagrada de maenira diferente, e tornei-me alegre, como que renascido, sim, como se tivesse entrado pelos portais abertos do próprio paraíso. “
Por isso, pôde Lutero escrever numa carta, em 1516:
“Estuda o Cristo, a saber, o crucificado. Aprende a lhe cantar louvores, desesperando em ti próprio e dizendo: Tu, Senhor Jesus, és minha justiça, mas eu sou teu pecado. Levste sobre ti o que era meu e deste a mim o que é teu.”
Desenvolvia intensa atividade em Wittenberg.
“Preciso praticamente de dois escreventes e passo grande parte do dia escrevendo cartas. Sou pregador do Convento, sou consultado durante as refeições, querem que eu pregue diariamente na igreja do paço. Sou diretor de estudo, vigário de minha Ordem, isto é, onze vezes prior. Faço preleções sobre Paulo e junto matéria para preleções sobre os Salmos.”
Chegou o ano de 1517. Vejamos como Lutero narra os fatos decisivos que levaram à Reforma:
“Aconteceu no ano quando se escrevia 17, que um monge pregador de nome Tetzel, um grande berrador, carregava por aí as indulgências, gritando, e vendia graça a dinheiro, tão caro ou tão barato quanto podia. Naquele tempo eu era pregador aqui no mosteiro e jovem doutor, imbuído de ardente amor pela Escritura Sagrada. Observando que muita gente de Wittenberg corria atrás das indulgências, comecei a pregar, cautelosamente, que se poderia fazer algo melhor e de maior certeza do que adquirir indulgência. Então escrevi uma carta com teses ao Bispo de Magdeburgo, para que mandasse parar o Tetzel e o impedisse de pregar coisa tão inconveniente para que não resultasse em escâncalo. Mas não tive resposta. Portanto, minhas teses contra os abusos de Tetzel foram postas a público e em apenas 14 dias percorreram a Alemanha toda.”
A 31 de outubro de 1517 Lutero afixou 95 Teses à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg. Vejamos algumas teses:
“1. Quando o nosso Senhor e Mestre jesus Cristo disse: ‘Arrependei-vos!’ ele quis que toda a vida dos crentes fosse um só arrependimento.
27. Pregam futilidades humanas quantos afirmam que, tão logo a moeda tinir na caixa, a alma se eleva do purgatório.
32. Serão eternamente condenados juntamente com seus mestres, aqueles que julgam obter certeza da salvação mediante cartas de indulgência.
36. Todo e qualquer cristão verdadeiramente compungido tem pelno perdão da pena e da culpa, o qual lhe pertence mesmo sem carta de indulgência.
50. Deve-se ensinar os cristãos que, se o Papa tivesse conhecimento das extorsões dos pregadores de indulgência, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
94. Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu cabeça, Cristo, através de padecimento, morte e einferno.
95. E assim esperem mais entrar no reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados mediante consolações infundadas.
A 7 de agosto de 1518 o Papa Leão X intimou Lutero em vão a responder processo em Roma dentro de 60 dias. Por fim, foi feito um interrogatório pelo Cardeal Caetano, em Augsburgo, a 12 de outubro de 1518.
“Permaneço firme. Seja feita a vontade do Senhor. Também em Augsburgo, mesmo no meio de seus inimigos, reina Cristo. Viva Cristo, morra Martinho.”
Em 14 de outubro, após infrutíferas discussões com o cardeal, Lutero deixou Augsburgo, antes que o pudessem prender.
“O cardeal não é um pensador lúcido e, por isso, tão impróprio para tratar deste assunto como o asno para tocar harpa. Sobre mim ele disse em Augsburgo:’Este irmão tem osolhos muito para dentro e, por isso, a cabeça cheia de fantasias.’ “
De 4 a 14 de julho de 1519 realizou-se uma disputa teológica entre Martim Lutero e Dr. João Eck, em Leipzig, onde Lutero chegou a declarar:
“Entre os escritos de Huss ( um pré- reformador queimado como herege pela igreja de Roma) há alguns perfeitamente cristãos e evangélicos. – A nenhum crente cristão pode-se impor algo além das Escrituras. – Também um Concílio pode errar.”
Com tais assertivas, tão verdadeiras, Lutero se colocou fora da Igreja do Papa, que condenara João Huss e ensinava serem infalíveis as decisões dos Concílios.
A 3 de outubro de 1520 foi entregue à Universidade em Wittenberg a bula de excomunhão da Igreja se não revogasse seus pontos de vista dentro de 60 dias. Seus livros deveriam ser queimados. Em 10 de dezembro de 1520 Lutero queimou a bula junto à porta de Wittenberg, em público, juntamente com o Direito Canônico e outros documentos romanos.
“Por teres destruído a verdade de Deus, o Senhor hoje destrua a ti nesta fogueira.”
Em 1520 vieram a lume as primeiras importantes obras da Reforma: 1) “Do Cativeiro Babilônico da Igreja”; 2) “Da Liberdade Cristã”; 3) “A Sua Majestade Imperial e à Nobreza Cristã na Alemanha, Sobre a Renovação da Vida Cristã” ; 4) “Sermão sobre as Boas Obras”.
“O cristão é um livre senhor de todas as coisas e não submisso a ninguém – pela fé. O cristão é um servidor de todas as coisas e submisso a todos – pelo amor.
As boas obras não fazem um bom cristão, mas um bom cristão faz boas obras.”
A 6 de março de 1521, Lutero foi intimado a comparecer perante a Dieta Imperial em Worms, sendo-lhe assegurado salvo-conduto.
“Ainda que houvesse em Worms tantos demonios como há telhas sobre as casas, contudo lá entrarei.”
Estando perante a Dieta e o próprio Imperador Carlos V, justificando sua causa, Lutero declarou ao final:
“Não posso nem quero retratar-me a menos que seja convencido de erro à base de palavra bíblica ou por outros argumentos claros da razão; porque não é aconselhável agir contra a consciência. Aqui estou; de outra maneira não posso. Que Deus me ajude! Amém.”
A seguir, Lutero foi proscrito pelo Imperador. Qualquer que o encontrasse no país, poderia matá-lo. Os fiéis cavaleiros do príncipe eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio, simpatizante de Lutero, tramaram um assalto na floresta perto de Eisenach, sendo Lutero levado a salvo parao Wartburgo, a 4 de maio de 1521. Ali, em dezembro do mesmo ano, Lutero iniciou a tradução da Bíblia para o alemão à base dos originais hebraico e grego. Em setembro de 1522 foi publicado o Novo Testamento.
“Deve-se perguntar à mãe no lar, às crianças na rua, ao homem simples na feira e observar-lhes a boca para ver sua linguagem e então traduzir.”
Em 1524 foram publicados 24 hinos escritos por Lutero, bem como o livro dos Salmos em alemão.
A 13 de junho de 1525 Lutero, tendo 42 anos, casou-se com Catarina von Bora, de 26 anos, ex-freira que, em 1523, com 8 colegas, abandonara o Convento dos Cistercienses e vivia na casa do burgomestre de Wittenberg. Foi oficiante da cerimônia João Bugenhagen, pároco de Wittenberg, sendo testemunhas Justo Jonas, prepósito da igrejado Castelo e Lucas Cranach, burgomestre de Wittenberg. O casamento foi festejado em público no dia 27 de junho, ato ao qual compareceram também os pais de Lutero. Na ocasião, o príncipe-eleitor Frederico, o Sábio, doou aos cônjuges o Convento dos Agostinianos com dependências.
“É algo maravilhoso a aliança e a comunhão entre homem e mulher. Catarina, tens um marido caridoso, que te ama, és rainha. Guarda tal atitude para com teu esposo que este, retornando ao lar, fique alegre ao ver a cumieira da casa.”
Em 1526 nasceu-lhes o primogênito, Hans; depois Elisabeth (1527), Madalena (1529), Martinho (1531), Paulo (1533) e Margarete (1534).
“Pela graça de Deus fui abençoado com um matrimônio extremamente feliz… Meus Deus, o matrimônio não é algo natural ou corporal, mas é uma dádiva divina, proporcionando a vida mais doce, sim, a vida mais casta, melhor que o celibato… Havendo estas três coisas no matrimônio: fé, filhos e sacramento, então é sumamente feliz.
As criancinhas não se preocupam; Deus lhes concede a graça de preferir comer cerejas do que contar dinheiro e dar maior valor a uma boa maçã do que a uma flamante moeda de ouro. Não perguntam pelo preço do cereal, pois confiam em seu coração que terão o que comer. Vivem na fé sem empecilho e nisso são mais eruditas do que nós, tolos; crêem na Palavra da maneira mais ingênua sem discutir ou duvidar.”
O ano de 1527 trouxe a Lutero muito sofrimento em corpo e alma, acompanhado de dúvidas quanto a sua missão. Nesta época compôs o mais conhecido hino da Reforma:
“Deus é castelo forte e bom…
A minha força nada faz…
Se inúmeros demônios vem…
O Verbo eterno vencerá…”
Enquanto em Augsburgo, em 1530, se realizava outra Dieta para julgar a questão evangélica, Lutero, excomungado e proscrito, não pôde lá comparecer. A causa da Reforma foi defendida por seu auxiliar e amigo Filipe Melanchton. Foi ele quem redigiu e entregou na Dieta, a Confissão de Ausgburgo, endossada por Lutero. Ele próprio, enquanto isso, permaneceu no Forte Coburgo, onde escreveu na parede em versículo do Salmo 118, muito estimado por ele:
“Não morrerei; antes viverei, e contarei as obras do Senhor.”
Fato dos mais importantes para a consolidação da Reforma também foi a publicação da Bíblia inteira em língua alemã, em 1534.
“Agora tendes a Bíblia em alemão; agora quero terminar de trabalhar, pois tendes o que deveis ter. Contudo cuidai de usá-la devidamente depois de minha morte. Não a percais, lêde-a com zelo e sob temor de Deus e oração. Pois se ela fica florescendo e é usada corretamente, tudo está bem e se desenvolve de maneira feliz.”
Grande luto envolveu o lar de Lutero em 1542 quando, na idade de 13 anos, faleceu sua filha Leninha.
“Amo-a tanto; mas, querido Deus, se for de tua vontade, de bom grado quero sabê-la junto de ti. Querida esposa pensa só para onde ela vai. Querida Leninha, haverás de ressuscitar e brilhar como uma estrela, sim, como o sol.”
Os últimos três anos de sua vida esavam repletos de trabalho, pressentimentos de morte e cuidados pelo destino do Evangelho e de sua pátria. Em fins de janeiro de 1546 acompanhado por três filhos e seu amigo Justo Jonas, Lutero viajou para Eisleben a fim de conciliar os nobres de Mansfeld num conflito sobre a cidade de Neustadt. Os debates estenderam-se até 17 de fevereiro. Lutero pregava aos domingos, em sua cidade natal, na Igreja de Santo André. Disse em sua última prédica 4 dias antes de morrer sobre Mateus 11.25-30.
“Isto e muito mais haveria de dizer sobre este Evangelho; mas estou por demais debilitado. Que isto baste.”
Martim Lutero faleceu na madrugada de 18 de fevereiro de 1546, em Eisleben. Foi esta sua última oração:
“Meu amado Pai celestial, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de toda consolação, agradeço-te po me teres revelado teu amado Filho Jesus Cristo, no qual tenho fé, o qual foi por mim pregado e testemunhado, ao qual amei e rendi louvores. Rogo-te, meu Senhor Jesus Cristo, toma sob teus cuidados minha pobre alma. Oh! Pai celestial, se bem que devo deixar este corpo e ser arrebatado desta vida, sei com certeza que eternamente poderei ficar contigo e ninguém poderá arrebatar-me de tuas mãos. Amém.
Perguntou-lhe Justo Jonas: Reverendo pai, quereis perseverar em Jesus Cristo e na doutrina como a pregaste? Lutero respondeu claramente: “Sim”. Adormeceu 15 minutos depois com um profundo suspiro. Trasladado para Wittenberg, Martim Lutero foi sepultado a 22 de fevereiro de 1546 ao lado do púlpito onde tantas vezes pregara, na Igreja do Castelo, em cujas portas havia fixado suas teses, dando início à Reforma.
“Os corpos dos cristãos descansam na sepultura e dormem até que venha Cristo e bata no túmulo dizendo: Acorda, levanta, Martim Lutero, e vem cá pra fora! Haveremos de ressuscitar em um momento, como dum sono suave, e agradável para viver com Cristo, o Senhor, em eterna alegria.”
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