Prédica: Mateus 15.21-28
Leituras: Salmo 67 e Romanos 11.13-15, 29-32
Autor: Roberto Zwetsch
Data Litúrgica: 13º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 18/08/2002
Proclamar Libertação – Volume: XXVII
Tema:
1. Uma boa surpresa
Uma mulher pagã vence Jesus, e ele louva sua fé!
Foi uma experiência muito interessante procurar material que servisse de subsídio para a elaboração deste auxílio homilético. Uma boa surpresa foi verificar que esse texto faz parte de uma das tradições de mulheres mais centrais no Evangelho de Mateus.
A história da interpretação de Mt 15.21-28 apresenta divergências notáveis. Comentários do Primeiro Mundo, por exemplo, analisam os vv. 26 e 27 sob a “perspectiva de fartura, de riqueza e de supérfluos”, como escreveu a teóloga Pa. Ivoni R. Reimer (1997, p. 160). Uma análise mais acurada do texto mostra que aqui encontramos uma mulher que clama e argumenta a partir de sua experiência cotidiana, reelaborando a imagem usada por Jesus, a partir do pão que as crianças comem e dos farelinhos que sobram e são avidamente abocanhados pelos cachorros. Para Richter, essa mulher radicaliza a experiência da pobreza, porque deve conhecê-la muito bem. Nada é dito, portanto, sobre fartura.
Ao aproximar-nos do texto e preparar-nos para o seu anúncio na prédica, é importante assumirmos a perspectiva da vida cotidiana das suas personagens. Acredito que essa chave de leitura se tornará frutífera no desenrolar do estudo e poderá abrir-nos boas idéias de como proclamar sua mensagem libertadora!
Esse texto já foi trabalhado anteriormente em Proclamar Libertação: no v. X (p. 445-452) pela Pa. Louraini Christmann e no v. 21 (p. 218-222) pelo P. Kjell Nordstokke. Vale a pena dar uma olhada. Na revista Estudos Teológicos, 1989, nº 1 (p. 41-44), o prof. Friedrich E. Dobberahn escreveu uma meditação interessante, tomando como exemplo da cananéia uma mulher da periferia de São Paulo chamada Carolina. Ele afirma algo contundente: “Pode-se ler esta história da mulher cananéia quantas vezes se quiser, mas sempre fica o protesto diante do fato de que Jesus transporta a injusta e classista sociedade mundana para o Reino de Deus” (p. 43). Dobberahn conclui que a fé da mulher é mais forte e convence Jesus da misericórdia de Deus! E continua: “Esta fé bíblica em Deus, na absoluta majestade do amor, no bem, na remissão de todas as separações é mais forte e incompatível com uma humilhante aceitação de favelas celestiais ou celestiais direitos caninos … Ela, a Carolina, a mulher cananéia, deve abrir as portas dos barracões para Jesus e revelar a Ele o semblante espoliado que as crianças de Deus carregam consigo!” (43s). Termina dizendo que esta mulher espoliada falou “com autoridade a Deus e Ele ouviu o grito”.
Por aí já se vê a força polêmica desse texto. Ele apresenta um grande desafio às pregadoras e pregadores do Evangelho. Não podemos diminuir o impacto que esse encontro provavelmente causou no próprio Jesus. Temos de ser gratos às tradições do evangelista Mateus e do evangelista Marcos (texto paralelo em 7.24-30), que preservaram essa história e assim nos permitem – uma vez mais – descobrir na humanidade de Jesus, a sua divina abertura para o clamor das pessoas aflitas.
No intuito de contextualizar essa perícope no evangelho, caberia ainda traçar rapidamente algumas linhas gerais da teologia de Mateus. Mas como a colega Pa. Marga J. Ströher oferece valiosas informações gerais em seu auxílio homilético, remeto a leitora ou leitor a seu texto (cf. p. 222ss.).
2. Jesus, os discípulos e a mulher cananéia
Jesus e seus discípulos se retiraram para as regiões de Tiro e Sidom. Ele parece querer se distanciar das controvérsias havidas com escribas e fariseus (15.1-20). Precisava tomar fôlego, reavaliar sua missão. Uma retirada estratégica vinha na hora certa. Principalmente porque a oposição daqueles que questionavam as práticas dos seus discípulos era forte e o obrigara a responder com firmeza diante da multidão: “Deixai-os; são cegos, guias de cegos” (15.14). Enquanto aqueles questionavam Jesus acerca da pureza/impureza dos discípulos, Jesus, por sua vez, responde que a verdadeira impureza é aquela que vem de dentro, do coração. Esta sim é que contamina a pessoa! No caminho dessa retirada, Jesus acabou tendo um encontro que o marcou profundamente.
Tiro e Sidom fazem parte da Fenícia, que pentencia à Síria, na faixa costeira do Mar Mediterrâneo, uma região que ficava entre a Galiléia e o mar. Norberto Garin informa que Tiro se situava a uns 65 km a noroeste de Cafarnaum, junto ao mar, enquanto Sidom, a uns 40 km de Tiro, na direção do nordeste e a 100 km de Cafarnaum. Eram cidades-estado independentes e rivais, e cada uma tinha o seu próprio soberano, seus deuses e sua moeda. Mas Sidom acabou submetida ao domínio de Tiro.
As duas cidades impunham sua soberania aos camponeses, e estes sofriam sob o peso dos impostos. Para abastecer as cidades, até fome chegavam a passar. Quando o texto fala que Jesus foi para os lados de Tiro e Sidom, podemos supor que ele e seu grupo tenham procurado a área rural, onde pensavam que poderiam passar mais despercebidos. Isto não aconteceu. Mesmo nesses lugares mais distantes a fama de Jesus já havia chegado, antes mesmo dele passar por ali (Hoefelmann, p. 59). O encontro inoportuno com aquela mulher cananéia não estava nos planos do grupo. Isso talvez explique as reações tanto dos discípulos quanto de Jesus em relação ao clamor da mulher. Mas ela não se deu por vencida. Insistiu como uma guerreira até ser atendida. E a resolução do impasse é deveras surpreendente!
O texto diz que a mulher era cananéia. É uma mulher de origem não-judaica, como a cananéia Raabe (Js 6.17; 22s) ou o centurião romano de Cafarnaum (Mt 8.5-13). Tanto ele como ela são mencionados segundo sua origem étnica e não pelo nome. Mas une-os o mesmo clamor: ambos pedem pela cura de seus dependentes. A mulher roga por sua filha. O centurião por um de seus servos, na verdade um jovem rapaz. Ambos demonstram um grande apreço pelo mestre da Galiléia e uma esperança sem igual no seu poder de curar doentes. Nesse caso, as pessoas enfermas lhes são muito queridas.
As palavras da mulher – “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” – são as mesmas utilizadas pelos dois homens cegos em Mt 9.27. Todos são movidos pela fé judaica, mesmo não pertencendo ao povo de Israel. O título Filho de Davi nos dá conta de que este Jesus é visto como o Messias, o Libertador de Israel, há muito tempo esperado. É o enviado por Deus, que curava e libertava pessoas de poderes escravizadores. Ele poderia ajudar a salvar a filhinha doente, assim deve ter pensado aquela pobre mulher.
Jesus reage de forma totalmente inesperada, enigmática, desconcertante, ofensiva até. A mulher clamava, gritava, de tal forma que a pretendida retirada de Jesus não mais se sustentou. Richter intui que o verbo grego pode nos fazer entender que esse clamor já é uma forma de proclamação. Com seus gritos ela acaba anunciando que o Messias está na região.
Jesus se cala. Não responde nada. Silêncio de Deus. Esta primeira reação é tão constrangedora, que até mesmo os seus discípulos não agüentam e pedem: “Despede-a, pois vem clamando atrás de nós” (v. 23). Richter vê aqui um sinal de que a mulher estava começando a se tornar impertinente ao seguir tão de perto o grupo de Jesus. Concorrência feminina num grupo de homens?, pergunta ela.
Vem então a segunda reação de Jesus. Ríspida. Demarcatória. Ortodoxa, poder-se-ia dizer: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (v. 24). É duro ouvir essas palavras, mas ao menos é uma resposta. Melhor assim do que o silêncio da não-resposta. Aqui no texto de Mateus, diferente do que em Marcos, não se fala de uma interpretação tipo “primeiro para Israel e depois para os gentios”. Mateus enfatiza que Jesus veio para os perdidos de Israel. E ponto. A perspectiva universal da vinda de Jesus vem mais tarde. Aqui impera a exclusividade. O Messias veio exclusivamente para salvar Israel, e nele as ovelhas perdidas. Isto é assim, ao menos até Jesus defrontar-se com uma mulher que ousou questioná-lo nos seus próprios termos.
No desespero, ela se ajoelha para adorá-lo e grita: “Senhor, socorre-me” (v. 25). É pedido dramático, como um último recurso. Jesus não tem mais como recuar. Ainda assim, ele responde na mesma linha do argumento anterior, negando ajuda concreta: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos” (v. 26).
Pão, crianças e cachorrinhos. São imagens do cotidiano de pessoas pobres. A comida é pouca, dá somente para o gasto. Primeiro é preciso saciar a fome das crianças. Se houver sobra, então os cachorrinhos poderão comer das migalhas. Mas não é bom inverter as prioridades. Richter descobre nessa cena um forte argumento para dizer que aqui temos uma realidade de pobreza. Onde não há fartura, a prioridade são as crianças. Jesus, portanto, está correto na sua sentença. É somente na resposta que a mulher formulou para convencer Jesus que percebemos a intensidade da sua luta e a profundidade da sua experiência. Ela concorda com Jesus. “Sim, Senhor …”. Também ela sabe como as crianças são importantes. Aliás, a sua luta agora é para salvar a sua filha. Justamente por causa da menina, ela não desiste. Do fundo da sua experiência sofrida de mulher, quem sabe sozinha, ela contra-argumenta: “Porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (v. 27). Quem lhe deu tamanha força de observação para dobrar o mestre naquela hora? Só posso entender que esta é a ação do Espírito Santo de Deus. É assim que ele age. Quando tudo parece perdido, ele ilumina a realidade e surge uma luzinha onde tudo parecia definitivo e sem solução. Os cachorrinhos também comem, mesmo que sejam farelos. Teologia feminista feita de migalhas que caem no chão. Teologia cristã que é capaz de realçar a misericórdia de Deus a partir de pequenos restos, de coisas insignificantes de um cotidiano sofrido e sem alternativas à vista, mesmo diante de Deus. Nessa hora acontece a fé.
Quando a mulher aceitou a palavra aparentemente cheia de preconceitos dita por Jesus, pois cachorro eram os não-judeus, os pagãos, os gentios, os de fora do povo de Deus, ela começa a desarmar o argumento de Jesus. Ela aceita que não é judia, portanto não tem direitos a reclamar. Mas desde a sua impotência, desde a sua exterioridade e exclusão, ela clama, ouve, pensa e contra-argumenta. Nesse texto, encontramos toda uma filosofia que brota da vida vivida nas margens, nos lugares de exclusão, nos ambientes não-piedosos. Há que se dar ouvido a essa gente pobre, sem eira nem beira. Jesus finalmente se depara com a fé da mulher e se convence. Ute Seibert-Cuadra informa que esse texto é a única controvérsia em que uma pessoa “vence” Jesus. E essa pessoa é uma mulher pagã! (p. 74).
“Ó mulher, grande é a tua fé!” (v. 28). Com estas palavras Jesus mostra que reconhece a iniciativa, a justiça e a perseverança daquela mulher. A mulher torna-se portadora de uma fé exemplar. Grande é a sua fé, afirma Jesus. Essa fé contrasta com a timidez e pequena fé tanto dos discípulos (8.26; 16.8) quanto de Pedro (14.31). A fé demonstrada por essa mulher é a fé que agrada a Jesus. Por isso, ele pode dizer, em seguida: “Faça-se contigo como queres”. E mais, a fé verdadeira aqui salva a outra pessoa! Não é fé preocupada única e exclusivamente consigo mesma. É fé em prol da libertação de uma criança. Será que poderíamos falar de fé vicária? Eis uma característica da fé cristã! Jesus elogia justamente essa fé. “E desde aquele momento sua filha ficou sã.”
3. Meditando a partir da fé popular
Vivemos num tempo em que se usa e abusa da fé popular. Num país tão rico em miséria, abandono, descaso, sofrimento, a pregação que promete cura e solução dos problemas mais básicos da vida é bem-vinda, encontra adeptos e progride sem cessar. A situação das pessoas é tão degradante em muitos casos, que nem temos o direito de criticá-las quando se sentem amparadas por essas promessas e experiências religiosas.
Um pequeno brilho do Evangelho certamente se faz presente nessas ocasiões. Mas o Evangelho é mais do que palmas, curas e aleluias. Esse texto é muito importante justamente porque nos leva a desmistificar uma pregação utilitarista da fé bíblica. Aqui não temos solução fácil para o desespero de uma mãe que vê a filhinha definhar sem que encontre ajuda ou socorro.
No seu desespero, a mulher ouve acerca de Jesus e vai ao seu encontro. E o que encontra? Silêncio, má vontade, rejeição do grupo, olhares cheios de preconceito e reprovação. E o que ela faz? Simplesmente não desiste. Se esse homem é de Deus, vai ter que me ouvir. E clama, corre atrás, ajoelha-se, grita por socorro. Não consegue muita coisa. Depois de muito clamar, Jesus acaba lhe dando uma resposta. Não é muito, aliás, é decepcionante, mas pelo menos é o início de um diálogo tenso, duro, como luta de espadas. Do jeito como começou, não se sabe onde vai dar essa conversa.
Mas as palavras vão mostrando como pensa cada qual a partir de sua posição e de suas convicções. As palavras desnudam os interlocutores. Quando verdadeiros, eles se espelham nas palavras. É o que temos aqui. Jesus reafirma sua missão como exclusiva do e para o seu povo Israel. Mas a mulher não-judia questiona tanta exclusividade. Por que não podem os cachorrinhos ao menos comer um pouco do que sobra, dos restos que caem da mesa dos donos? Os de fora, os sem-direito à mesa, os estranhos também desejam partilhar do pouco que sobra da refeição principal. Nessa resposta e no seu desdobramento nas palavras de Jesus encontramos um momento alto da universalidade do Evangelho. Também os de fora, os sem-direito, os estranhos podem desfrutar da misericórdia de Deus. E Jesus descobriu isso no encontro com essa mulher. No encontro com o centurião romano (Mt 8.10), ele já se surpreendera com a grandiosidade da fé de um não-judeu. Agora foi a vez da mulher cananéia. E neste caso, foi um encontro tenso, bem diferente daquele outro. Uma mulher desafia a palavra do mestre, e este reconhece a estreiteza de sua visão. Grande é a tua fé, ó mulher!
É triste quando certas teologias ou práticas religiosas procuram reduzir a fé a certos esquemas, respostas prontas, modelos fechados, apelos programados e autoconvincentes. Por algum tempo, isso funciona. Mas vem a hora em que a verdade da vida aperta. Então, os esquemas caem, as respostas prontas desviam do alvo e os modelos fechados se rompem. Nessa hora, precisamos testar verdadeiramente a fé que professamos. A mulher cananéia enfrentou Jesus e encontrou silêncio e exclusão. Foi necessário clamar, implorar, perseverar até de joelhos, argumentar firme para convencê-lo a dar-lhe ouvidos. Só assim ela finalmente encontrou graça e compaixão. E convém acrescentar logo: não para si, mas em benefício de sua filhinha doente.
Às vezes, precisaríamos aprender a gritar com Deus. Não, porém, como aqueles que buscam vantagens para si. Gritar com Deus para que as crianças sejam curadas, para que os pequeninos tenham pão, para que as pessoas idosas sofram menos e tenham uma velhice digna, para que os oprimidos sejam libertos e a justiça se realize. A fé que agrada a Jesus é fé solidária! Jamais fé egoísta, tipo eu e Deus e ponto final. No seguimento de Jesus, só cabe a fé que une ao sofredor, à sofredora. Só encontra lugar e elogio a fé que comparte o amor e a misericórdia no serviço de amor e compaixão. No final, descobrimos que a fé cristã, no seu sentido mais profundo, é ela mesma diaconal. A fé é serviço de amor. Essa fé agrada a Deus. Esta fé nos cabe despertar no meio do povo de Deus. A Pa. Ivoni R. Reimer conclui suas observações dizendo que a história dessa mulher pagã precisa ser resgatada em nossas práticas pastorais e teológicas, porque ela é mãe da fé. E ela o é porque sobre sua esperança é possível construir uma Igreja solidária! Eu concordo com ela. Está na hora de valorizarmos as muitas cananéias que encontramos em comunidades e vilas, para com elas aprender a vivenciar a fé que atua pelo amor (Gl 5. 6). Essa é a marca da evangelização que acontece nas margens, nas bordas, nos lugares mais incomuns para se falar da fé cristã. Isso pode acontecer num pequeno grupo, numa rua de vila, numa fila do posto de saúde, no ônibus de linha, no intervalo de um grande encontro, numa sala de espera, na sacristia da igreja ou mesmo no meio de um culto comunitário. Não importa. O que vale é que a fé aconteça, que ela nos torne solidários e nos faça descobrir a grandeza do amor e da misericórdia de Deus. E nos ajude a lutar para que esse amor se realize neste mundo em prol daqueles a quem Deus ama.
Salmo 67: é um salmo de louvor e ação de graças. Ele chama a comunidade a render graças pela bondade de Deus, pois ele julga as nações com eqüidade. Por isso, o salmista roga para que se conheça o caminho de Deus em toda a terra. Tal conhecimento será motivo de grande alegria para todas as gentes, povos, nações. Sob essa ótica, a terra inteira e seus frutos são sinais da bênção divina. O salmo convida-nos a rogar por essas bênçãos, pois dessa forma até os confins da terra irão temer ao Deus Criador. Podemos inferir que mesmo povos não-cristãos participam desse grande e universal louvor.
Romanos 11.13-15, 29-32: estes versículos do cap. 11 de Romanos são muito conhecidos. Neles Paulo está tentando explicar um mistério, qual seja, a rejeição de Israel em prol da salvação dos gentios, dos pagãos, e como fica a promessa de Deus feita a Israel desde Abraão. Paulo afirma que as promessas de Deus são irrevogáveis. Mas como entender a desobediência dos judeus, a sua rejeição de Jesus? Sua resposta é um critério para que não julguemos ninguém quanto à salvação. Deus encerrou todas as pessoas na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todas elas. No final das contas, judeus e gentios, toda a humanidade encontra-se sob a misericórdia e o amor de Deus. E essa sabedoria é sobremodo grandiosa, como continua a doxologia que segue logo adiante. Assim como vimos na história do encontro de Jesus com a mulher cananéia, da mesma forma com Jesus Cristo entrou uma nova percepção de Deus no mundo, o Deus da misericórdia maior. A fé que brota dessa experiência radicalmente nova move montanhas de casuísmos, preconceitos e liberta para uma nova vida, em graça e solidariedade.
4. Subsídios litúrgicos
O texto da pregação é muito apropriado para uma encenação. Em algumas comunidades existem grupos de teatro que poderiam ser motivados a trabalhar esse texto e produzir uma encenação. Ela teria a vantagem de tornar bem presente o conteúdo do que vai ser anunciado neste culto. Importante seria aconselhar o grupo a ser muito fiel à cena bíblica. Ela, por si mesma, tem uma força de comunicação considerável. Imagino que 2 a 3 minutos são suficientes para essa encenação. Ela deve ser bem ensaiada para que toda a comunidade entenda o seu enredo.
Hinos: Sugiro do Hinos do Povo de Deus os números 189, 203, 209, 99. Do cancioneiro O Povo Canta, os números 158, 128, 102, 90.
Confissão de pecados: Diante de ti, ó Deus de misericórdia, nós nos achegamos como uma parte do teu povo disperso por este mundo. Confessamos que não temos paciência com os estranhos nem nos mostramos acolhedores e solidários. Perdoa-nos os nossos muitos pecados, a nossa falta de amor. Ajuda-nos a começar de novo, a caminhar na tua justiça e segundo a tua muita misericórdia. Nós te rogamos em nome de Jesus Cristo, teu Filho e nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo. Amém
Oração de coleta: Ó Deus de amor, estamos reunidos por causa do teu chamado. Agradecemos por nossa vida, por esta comunidade, pelo teu evangelho e por nos convocares para sermos tuas testemunhas. Ajuda-nos a compreender a mensagem deste dia e a colocá-la em prática junto com nossas irmãs e irmãos. Anima esta tua comunidade para acolher com alegria as pessoas estranhas e a praticar a solidariedade que salva e cura as pessoas aflitas. Por Jesus Cristo, teu Filho e nosso Salvador, na unidade do Espírito Santo. Amém
Bibliografia
COMBLIN, José. As linhas básicas do Evangelho segundo Mateus. Estudos Bíblicos, Petrópolis, São Bernardo do Campo, São Leopoldo: n. 26, p. 9-18, 1990.
DOBBERAHN. Friedrich E. Na pele como cola : A história da mulher cananéia. Estudos Teológicos, São Leopoldo : v. 29, n. 1, p. 41-44, 1989.
GARIN, Norberto da C. A mulher cananéia. Mateus 15.21-28. Palavra Partilhada, São Leopoldo, v. 14, n. 3, p. 18-20, 1995.
HOEFELMANN, Verner. Superando fronteiras : o encontro de Jesus com a mulher siro-fenícia (Mc 7.24-30). Estudos Bíblicos. Petrópolis, São Leopoldo, n. 41, p. 58-64, 1994.
REIMER, Ivoni Richter. “Não temais … Ide ver… e anunciai!” : mulheres no Evangelho de Mateus. RIBLA. Petrópolis, São Leopoldo, n. 27, p. 149-166, 1997.
___________________. O pão na crise – alimentando a resistência criativa. Estudos Bíblicos. Petrópolis, São Leopoldo, n. 42, p. 71-77, 1994.
SEIBERT-CUADRA, Ute. A mulher nos evangelhos sinóticos. RIBLA. Petrópolis, São Leopoldo, n. 15, p. 68-84, 1993.
Proclamar Libertação 27
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia