Credencial de Jesus: credencial de seus seguidores
Proclamar Libertação – Volume 41
Prédica: Mateus 21.33-46
Leituras: Isaías 5.1-7 e Filipenses 3.4b-14
Autoria: Jilton Moraes
Data Litúrgica: 18º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 08/10/2017
1. Introdução
A abordagem de Jesus nessa parábola é a vinha plantada pelo proprietário das terras, construída com todo o esmero e alugada a arrendatários desonestos, traidores e cruéis. O texto de leitura de Isaías 5.1-7 trata de assunto semelhante: vinhas bem plantadas, mas que não produziam boas uvas. Jesus usa a figura veterotestamentária, mas o final da parábola aponta para a exaltação do Filho: morto pelos arrendatários da vinha, ele se transforma na pedra angular. Só através dele temos acesso ao reino de Deus.
No outro texto de leitura – Filipenses 3.4b-14 –, o apóstolo fala de sua realização de haver largado tudo por amor a Cristo: títulos, lembranças e vantagens perderam sentido diante da alegria de conhecer Jesus e prosseguir nesse conhecimento.
A meditação foi elaborada partindo do contexto anterior, quando a autoridade de Jesus foi questionada. Quais as credenciais que o Mestre podia exibir? Quem o havia autorizado a agir daquele modo? É a partir desse contexto que nasce o foco sermônico: a aceitação da credencial de Jesus credencia-nos a viver para o louvor de sua glória.
Minha oração é que os desafios de nossa perícope principal e dos textos paralelos possam impactar todos quantos os proclamem, capacitando-nos a alcançar os nossos ouvintes.
2. Exegese
A tradução utilizada é da NVI (Nova Versão Internacional), lançando mão, paralelamente, das versões King James, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, Bíblia de Jerusalém.
V. 33 – Ouçam outra parábola: havia um proprietário de terras que plantou uma vinha. Colocou uma cerca ao redor dela, cavou um tanque para prensar as uvas e construiu uma torre. Depois arrendou a vinha a alguns lavradores e foi fazer uma viagem.
O reino de Deus é comparado a uma vinha dotada de todos os detalhes necessários para uma administração e aproveitamento lucrativos. Ouçam outra parábola: essa parábola é a segunda de uma série de três, contadas aos sacerdotes e chefes dos líderes religiosos para responder ao questionamento feito por eles a Jesus, questionando a autoridade dele (Mt 21.23). Depois de contar a história dos dois filhos, Jesus introduz a segunda narrativa: Havia um proprietário de terras que plantou uma vinha. A mensagem é alegórica: apresenta Israel como a vinha. É a mesma figura utilizada por Isaías em 5.1-7. Colocou uma cerca ao redor dela, cavou um tanque para prensar as uvas e construiu uma torre. Tudo necessário para dar o melhor à sua vinha foi providenciado pelo proprietário benfeitor. Depois arrendou a vinha a alguns lavradores e foi fazer uma viagem; (BKJ; NTLH): e foi viajar; (BJ): partiu para o estrangeiro; (ARA, MT): ausentou-se do país; (BI): partiu para outra terra. O sentido no original é: foi para fora da região.
V. 34-36 – Aproximando-se a época da colheita, enviou seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe pertenciam. Os lavradores agarraram seus servos; a um espancaram, a outro mataram e apedrejaram o terceiro. Então enviou-lhes outros servos em maior número, e os lavradores os trataram da mesma forma.
Os servos eram os profetas, e os lavradores, os líderes religiosos de Israel; Jesus utilizou essa figura para lembrar o sofrimento dos profetas que falaram em nome do Senhor, proclamando a verdade divina e o dia do julgamento, e foram rejeitados por eles.
V. 37-39 – Por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: ‘A meu filho respeitarão’. Mas quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo e tomar a sua herança’. Assim eles o agarraram, lançaram-no para fora da vinha e o mataram.
Autoridade é o assunto dessa parábola. “É uma história de rebelião contra a autoridade e suas consequências” […] Ao rejeitar e matar os servos e o filho, os lavradores maus rejeitaram a autoridade do senhor que os enviara […] “Ao matar os profetas e o filho, eles estavam desafiando a autoridade de Deus e teriam que responder diante dele” (STAGG, p. 253). Lançaram-no para fora da vinha e o mataram. João afirmou (12.20): “o lugar em que Jesus foi crucificado ficava próximo da cidade”. O escritor de Hebreus (13.12) declara: “Jesus também sofreu fora das portas da cidade para santificar o povo por meio de seu próprio sangue”. Tasker declarou: “Ele é o Messias, agindo com autoridade divina e destinado a, em obediência à vontade divina, ser morto fora da vinha de Israel” (p. 162).
V. 40 – Portanto, quando vier o dono da vinha, o que fará àqueles lavradores? Uma indagação lógica que levaria os líderes religiosos a proferir a sentença deles mesmos. A resposta veio em um quadro apresentando um senhor irado pronto a fazer justiça (v. 41). Responderam eles: Matará de modo horrível esses perversos e arrendará a vinha a outros lavradores, que lhe deem a sua parte no tempo da colheita. Na afirmação deles estava a declaração da própria sentença que os aguardava.
V. 42-44 – Vocês nunca leram isto nas Escrituras? ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. Portanto eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino. Aquele que cair sobre esta pedra será despedaçado, e aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.
“A parábola é da maior importância pela luz que lança sobre a compreensão que Jesus tinha de sua pessoa e sobre a certeza que ele tinha quanto ao destino que o esperava nas mãos de Israel” (TASKER, p. 162). A mesma figura da pedra foi utilizada pelo salmista (118.22): A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular. Aos sacerdotes e aos líderes religiosos Pedro e João não apenas mencionaram a mesma figura, mas lançaram mão de uma aplicação direta (At 4.11): Este Jesus é ‘a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular’. Aquele que seria desprezado pelos israelitas fora escolhido por Deus para ser a pedra principal do edifício que ele construía: os edificadores rejeitaram-no, mas o Senhor da edificação o elegeu.
V. 45-46 – Quando os chefes dos sacerdotes e os fariseus ouviram as parábolas de Jesus, compreenderam que ele falava a respeito deles. E procuravam um meio de prendê-lo; mas tinham medo das multidões, pois elas o consideravam profeta.
A clareza da mensagem de Jesus deixou-os mais rebeldes. Eles não imaginavam o curso que o Deus de Israel daria à história: “Jesus, embora destinado a ser rejeitado pelos homens, viria a ser a principal pedra angular de um novo edifício em que Deus seria adorado em espírito e em verdade. Posto de um lado em sua crucificação, retornaria para assumir o seu legítimo lugar depois da ressurreição” (TASKER, p. 163).
3. Meditação
Lições e desafios da credencial de Jesus
Quando viajo de metrô, mostro minha cédula de identidade. É a prova de que minha idade garante gratuidade. Somos sempre solicitados a provar quem somos. Essa parábola vem de uma situação assim (21.23). Jesus entra no templo, e os líderes religiosos aproximam-se e protestam sua autoridade: Com que autoridade você faz o que faz? Quem o credenciou? Jesus responde com outra pergunta e deixa-os sem resposta. Apesar de afirmar que também não lhes responderia, Jesus conta três parábolas que falam de sua identidade. A aceitação da credencial de Jesus credencia-nos a viver para o louvor de sua glória.
Ouçam outra parábola (v. 33). Era a segunda narrativa de Jesus para ensinar aos líderes religiosos. Qual a sua credencial para fazer o que você faz? Quem o credenciou?
A credencial de Jesus é expedida pelo Deus que nos dá oportunidades.
• Uma história simples (v. 33): um homem constrói e equipa sua vinha com tudo o que é necessário; ele a aluga a plantadores e tanto neles confia, que se afasta.
• O significado: os judeus faziam parte da história. Eram a vinha de Deus; tiveram sua oportunidade, mas não a aproveitaram. João 1.11-12: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornar filhos de Deus”.
• A lição: não é a nacionalidade que garante o ser filho do Eterno, mas o nascer de novo (Jo 1.13): “os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus”.
• A credencial de Jesus é autenticada pelo Deus a quem prestamos contas.
• O próximo episódio (v. 34-36): Chega o tempo da prestação de contas, mas os inquilinos se rebelam: espancam e matam os servos do dono da vinha.
• O sentido: Os servos são os profetas que, em nome do Senhor, pregaram o dia do julgamento, mas foram rejeitados, maltratados e mortos. Os lavradores são os líderes religiosos de Israel.
• Um lembrete: A prestação de contas é realidade intransferível (Rm 14.12): “Cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus”. O que temos feito? Estamos sendo súditos fiéis?
A credencial de Jesus é validada por ser ele o Filho de Deus.
• O filho amado que foi rejeitado (v. 37-39): Por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Ao ver o filho, os lavradores disseram: Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e tomar a sua herança. Eles o lançaram para fora da vinha e o mataram.
• O pai não mandou seu filho para morrer, mas para receber o fruto da vinha; o crime dos lavradores foi motivado pela rebeldia que os fez rejeitar e assassinar o filho.
• Jesus, o Filho de Deus, “estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (Jo 1.2-3).
A credencial de Jesus é comprovada em seu poder de dar acesso ao Reino.
• Um Deus perdoador (v.40-41): ‘Quando vier o dono da vinha, o que fará àqueles lavradores?’ Eles respondem: ‘Matará de modo horrível esses perversos e arrendará a vinha a outros lavradores, que lhe deem a sua parte no tempo da colheita’.
• Os aparentemente indignos não são excluídos. A próxima parábola conta o banquete de casamento. Nela abrem-se as portas do Reino. Pela fé, o acesso é irrestrito: não mais alguns poucos convidados, pela condição da nacionalidade, mas todos os que estão prontos a aceitar o convite do Senhor: “Vão às esquinas e convidem todos aqueles que vocês encontrarem” (22.9). A história do pródigo (Lc 15) prova essa realidade: Não é quem se julga digno que participa da festa, todavia quem, reconhecendo-se indigno, arrepende-se e volta ao Pai. Jesus é o único acesso ao Reino (Jo 14.6): “Eu sou o caminho… ninguém vem ao Pai a não ser por mim”.
A credencial de Jesus é reconhecida porque ele é o marco maior do Reino.
• Rejeitado pelos homens, exaltado pelo Pai (v. 42-44). Jesus lhes disse: Vocês nunca leram isto nas Escrituras? ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós’. Portanto eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino. Aquele que cair sobre esta pedra será despeda- çado, e aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.
• Ele humilhou-se, mas o Pai o exaltou (Fp 2.7-9): “Sendo Deus não se apegou à ideia de ser igual ao Pai; esvaziou-se a si mesmo; tornou-se servo, foi obediente até a morte; morreu na cruz. Deus o exaltou a mais alta posição e lhe deu o nome acima de todo nome”.
• Somente por Jesus participamos do reino de Deus (Fp 2.10-11): “Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para a glória do Deus Pai”.
A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós. A credencial de Jesus desafia-nos a um melhor aproveitamento das oportunidades, a lembrar-nos da prestação de contas, a manter comunhão com o Filho de Deus e a propagar que só nele, o marco maior do Reino, há acesso a Deus.
4. Imagens para a prédica
Beverly Shea foi o músico mais conhecido na equipe de Billy Graham. Quando era jovem, começou a afastar-se de Deus. Um dia, a mãe dele encontrou uma tocante poesia sobre Jesus. Lembrou-se do filho e colocou-a junto ao piano dele. A mensagem falou tanto ao jovem, que ele resolveu reaproximar-se de Deus. Transformou aquela letra em uma música que se tornou um hino conhecido em muitos países:
Jesus é melhor, sim, que ouro e bens; Jesus é melhor do que tudo que tens.
Melhor que riquezas e posições, melhor, muito mais, do que milhões.
Pode ser um rei com poder nas mãos, mas do mal, escravo, sim;
Mil vezes prefiro o meu Jesus e servi-lo até o fim.
(Jilton e Ester MORAES. Viver com Deus é uma bênção)
Quando Eurico Nelson foi comprar a passagem para vir ao Brasil como missionário, solicitou o desconto que era dado aos pastores. Ele disse ao agente da companhia de navegação que ainda não era pastor, mas que estava vindo ao Brasil como missionário. O agente perguntou: “Que prova o senhor me fornece de que está dizendo a verdade?” Nelson respondeu sem hesitar: “Olhe no meu rosto”. E foi o bastante; comprou a passagem com o desconto para pastores e missionários.
O momento atual está marcado pela falta de compromisso: precisamos vi- ver os valores do Reino. Não basta ser cristão, precisamos estar com Jesus e aproximar-nos mais e mais dele (Jose dos Reis Pereira. O apóstolo da Amazônia).
5. Subsídios litúrgicos
Litania: Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornar filhos de Deus.
HPD 109, 1ª estrofe: Da Igreja é fundamento Jesus, o Salvador; em seu poder descansa, é forte em seu amor. Porquanto permanece, a Igreja existirá: com vida renovada, jamais perecerá.
Mas o que para mim era lucro passei a considerar como perda por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas.
HPD 109, 2ª estrofe: A pedra preciosa que Deus predestinou sustenta pedras vivas que a graça trabalhou. E, quando o monumento se erguer em plena luz, a glória do edifício será do Rei Jesus!
Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro.
Hino 109, 3ª estrofe: Senhor, que este edifício, erguido por amor e para a tua glória, redunde em teu louvor: e que almas redimidas, aqui em comunhão, se tornem templo santo de tua habitação.
Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.
(Jo 1.10-12; Fp 3.7-8a; 1.21; Jo 1.14).
Bibliografia
STAGG, Frank. In: ALLEN, Clifton J. (editor geral). Comentário Bíblico Broadman, v. 8. Rio de Janeiro: JUERP, 1982.
TASKER, R.V.G. Mateus: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1980.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).