Proclamar Libertação – Volume 32
Prédica: Mateus 9.9-13, 18-26
Leituras: Oséias 5.15-6.6; Romanos 4.13-25
Autor: Ana Isa dos Reis
Data Litúrgica: 4º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 08/06/2008
1. Introdução
O presente conjunto de textos está dentro do chamado Tempo Comum, que se estende do fim do ciclo pascal (terminado no domingo de Pentecostes) até o início do Advento, somando 28 a 30 semanas. Esse tempo após Pentecostes, diz James White, “sinaliza o longo ínterim da igreja da nova aliança até a vinda de Cristo em glória”. Os textos bíblicos lembram a continuação das obras salvíficas de Deus e chamam as pessoas a ser seguidoras de Jesus Cristo por meio de suas palavras e ações.
Os três textos chamam a atenção para a prática correta da vontade de Deus. O simples cumprimento da lei não implica “fazer” a vontade de Deus. A ortopráxis é uma chamada para que as pessoas se relacionem com Deus em fé e serviço, em que as ações sejam realizadas por amor a Deus e ao próximo que sofre. A fé em Deus que Abraão demonstrou (Rm 4.13-25) é que lhe foi imputada por justiça, e essa fê-lo deixar tudo o que tinha e seguir o chamado de Deus. O texto do profeta Oséias (Os 5.15-6.6) lembra que as pessoas ofereciam a Deus os sacrifícios como uma forma rigorosa de cumprir a lei, mas que estava dissociada da vida cotidiana e da fé que leva ao serviço solidário. No Evangelho de Mateus, Jesus radicaliza a lei, chamando as pessoas para viver essa radicalidade no serviço e no amor a Deus e ao próximo. A misericórdia é o tema que perpassa esses textos. Ela não é algo abstrato. Quer fazer-se concreta no dia-a-dia pessoal, comunitário e religioso.
2. Exegese
2.1 – Fonte
O texto de Mateus 9.9-13,18-26 tem como fonte o Evangelho de Marcos.
2.2 – Estrutura do Evangelho de Mateus e da perícope
* Mt 1.1-4.11 – narrativas iniciais e preparação
* Mt 4.12-18.35 – a atuação de Jesus na Galiléia
Os dez milagres: os sinais do reino: 8.1-9.38
9.9 – A chamada de Mateus
9.10-13 – Jesus e a comensalidade com os pecadores criticada pelos fariseus
9.18-26 – poder de Jesus para curar enfermidades e levantar os mortos
* Mt 19.1-20.34 – a caminho de Jerusalém
* Mt 21.1-25.46 – a atuação de Jesus em Jerusalém
* Mt 26.1-28.20 – paixão, morte e ressurreição de Jesus
2.3 – Observações exegéticas acerca dos versículos da perícope
V. 9 – Chamado de Mateus, que em Marcos é denominado Levi (Mc 2.14). O texto fala que Mateus é um homem que trabalhava na coletoria de impostos. Havia naquela época tributos diretos e indiretos. A cobrança dos impostos na Palestina era feita pelo sistema de arrendamento. O Império Romano e os governos locais terceirizavam essa atividade, arrendando-a por um ou mais anos a pessoas que pagassem antecipadamente o valor mais alto pelo conjunto de tributos e taxas que seriam cobrados em determinada região ou cidade. Assim, esses arrendatários – cujo termo grego é architelônai – são pessoas ricas, que firmavam contratos arriscados e que tentavam tirar, durante o período da coleta, além do capital investido, também o seu lucro, usando, muitas vezes, artimanhas e trapaças. Porém os coletores de impostos, mencionados pelos evangelhos, cujo termo grego é telônai, são pessoas comuns, contratadas pelos empresários para o serviço de frente nas coletorias. Eram pessoas assalariadas, sentadas nos postos fiscais, que muitas vezes não conseguiam nenhum outro emprego e que, por toda rejeição e instabilidade, podiam facilmente ser corrompidas. Por tudo isso, o coletor de impostos constava na lista das profissões desprezadas, juntamente com cuidadores de porcos, curtidores de couro, vendedores de alho, barqueiros, carreteiros, servidores de mesa, serventes, enfim todos trabalhos mal remunerados, executados por pessoas pobres. O cobrador de impostos Mateus certamente já tinha ouvido falar de Jesus e de seus milagres, posto que morava na mesma cidade. Quem sabe, Mateus até já havia pensado em seguir Jesus.
V. 10 – O versículo menciona uma janta que acontece em uma casa. Marcos menciona que a casa era de Levi; Mateus omite o nome do dono da casa. Não vejo a questão da propriedade da casa como a mais importante. No entanto, seja de quem for essa casa, é uma casa que recebeu Jesus e seus discípulos, além de muitos publicanos e pecadores. Esses pecadores (amartoloi) eram mais um grupo de pessoas marcado especialmente pela desqualificação religiosa, manchados, na avaliação dos entendidos da lei divina, pelo pecado. Essas pessoas pecadoras eram praticantes de infrações notórias da lei e que, muitas vezes, se dedicavam a profissões desonestas e ligadas a trapaças. O texto diz que Jesus, seus discípulos, publicanos e pecadores estavam à mesa. No grego, a palavra é hanakeiménou, que quer dizer reclinar-se, costume dos antigos de reclinar-se sobre uma espécie de divã durante as refeições.
V. 11 – Os fariseus são um dos principais grupos religiosos dos judeus. Eles seguiam rigorosamente a lei de Moisés, as tradições e os costumes dos antepassados. Esse grupo seguia tão à risca a lei, que fazia clara distinção entre justos e pecadores. Os fariseus já haviam entrado em confronto com Jesus em outros momentos. Aqui, vendo Jesus comer com publicanos e pecadores, eles questionam os discípulos, perguntando por que Jesus afronta a lei, juntando-se para comer com pessoas consideradas indignas.
V. 12 – Quem responde à pergunta dos fariseus é o próprio Jesus. Ele usou um provérbio bem conhecido da época; ninguém deixaria de entender seu sentido. Os sãos seriam as pessoas justas ou, como dizem alguns intérpretes, aquelas que se consideram justas, como os fariseus. E os doentes seriam as pessoas publicanas e pecadoras, que, na definição bíblica, abrangem a raça humana inteira. O médico vai ao encontro das pessoas doentes, que o acolhem porque precisam dele. Jesus considera-se um médico que vai ao encontro das pessoas e também as acolhe.
V. 13 – A frase “ide, porém, e aprendei o que significa” era bastante usada pelos rabinos quando queriam frisar algum preceito seu. No caso, Jesus lembra-os do texto do profeta Oséias, que chama a atenção para que a vontade de Deus seja feita e não apenas um ritual. Deus quer que as pessoas tenham atos misericordiosos e confiem nele e não em cerimônias religiosas desprovidas de sentido e que nada têm a ver com a prática misericordiosa diária.
V. 18 – O chefe da sinagoga é um oficial da sinagoga. Mateus não menciona o nome; Marcos diz que era Jairo. Parece que o autor de Mateus já declarava a filha do chefe como morta e por isso omite alguns detalhes, como o anúncio da morte dessa jovem, que aparece nas passagens paralelas. Marcos menciona que a menina tinha 12 anos, dado também omitido por Mateus.
V. 19 e 20 – Jesus tinha o poder de curar a distância, o que fez algumas vezes, mas geralmente acompanhava as pessoas que o convidavam para sua casa ou lugar onde estava a pessoa que precisava de ajuda, mostrando compaixão e interesse por seus problemas. No caminho até a casa do chefe da sinagoga, Jesus realiza uma outra cura. Uma mulher sofria 12 anos com um tipo de hemorragia. A doença era considerada consequência do pecado, maldição e castigo de Deus. Por isso carregar o fardo da doença era a forma de saldar a dívida contraída junto a Deus por alguma culpa. Essa mulher, que sofria com hemorragia, além de estar empobrecida (como fala Marcos), carregava o fardo da impureza permanente. Segundo a lei de Levíticos 15.19-31, ela não só era considerada impura, como também contaminadora de todas as pessoas com as quais entrasse em contato. Devido à vergonha e ao medo, ela se aproximou por trás de Jesus, tocando apenas na orla de sua veste, sem querer ser notada. Ela sabia que, se fosse descoberta nessas condições, tocando um homem, seria considerada uma criminosa porque tornaria aquele homem impuro. Seu gesto discreto implica claramente o risco.
V. 21 e 22 – O versículo 21 ilustra a fé da mulher e a reputação de Jesus. Certamente ela tinha ouvido falar de Jesus e de seus milagres. A fé dessa mulher em Jesus era tamanha, que acreditava que apenas tocá-lo seria o suficiente para sua cura. Mais surpresa ela ficou com a reação de Jesus, coisa que ela não esperava, pois nem sequer queria ser notada. Jesus manifestou publicamente a aceitação do gesto dessa mulher, o reconhecimento da luta, a legitimação da causa dessa mulher. Jesus aceitou o toque que o tornou impuro e dividiu com a mulher o fardo da impureza que há tanto tempo ela sofrera. Jesus chama-a de “filha”, devolvendo a ela a cidadania do povo de Deus, que lhe havia sido tirada pela “constituição” desse povo. Jesus também lhe deseja a paz, voto que quer dizer bem-estar, saúde, felicidade, o shalom. Essa mulher curada voltará para o meio da família e da sociedade como alguém que tem fé, alguém que foi alcançado pelo amor de Deus através do agir compassivo de Jesus.
V. 23 e 24 – Continuando o caminho, Jesus chega à casa do chefe da sinagoga. Os lamentos pela morte da menina já haviam começado. É provável que, no caso da menina da perícope, Jesus tenha encontrado um grupo que incluía cantores voluntários e assalariados, carpideiras comuns que tinham a função de chorar pela pessoa morta e alguns vizinhos curiosos. Jesus sempre foi solidário com as pessoas sofredoras, mas nunca concordou com ostentação. Por isso ordenou que todas aquelas pessoas se retirassem. Essas pessoas riram de Jesus por causa da afirmação de que a menina estava dormindo. No grego, o verbo está na forma intensiva, para mostrar o desprezo e a zombaria que aquelas pessoas demonstraram por Jesus. Eram lamentadores profissionais, que tinham visto muitos casos de morte e conheciam bem seus indícios, e a jovem certamente os apresentava. A questão se a jovem estava realmente morta ou não é bastante discutida entre os exegetas. Alguns acham que a jovem estava em um estado de coma; outros, que ela realmente estava morta e que Jesus usou a expressão “mas dorme” para indicar que, naquele caso, a morte não tinha maiores consequências do que o sono, pois a jovem logo despertaria para a vida.
V. 25 e 26 – Jesus toma a menina pela mão. Isso significa que ele tocou um cadáver e, consequentemente, tornou-se impuro conforme a lei judaica. Ao tocá-la, Jesus transmite vida e resgata a menina como criatura digna, criada à imagem e semelhança de Deus. E a menina reage, levantando-se. A perícope termina falando que a fama de Jesus foi espalhada por todo o lugar.
3. Meditação
Sentar junto à mesa e comer é um dos atos mais básicos para iniciar e manter relações humanas. A comunhão de mesa pode ser entendida como comunhão de vida. Ali, pessoas compartilham comida e bebida, mas também sonhos, alegrias e tristezas, perdão e fraternidade. A comensalidade cria simpatia, responsabilidade e reciprocidade entre as pessoas. Jesus exercita a comensalidade, a comunhão de vida, com pessoas que, segundo as leis religiosas e sociais, feriam os princípios elementares e morais de uma sociedade considerada sadia. Jesus senta-se à mesa com pequenos agricultores endividados, trabalhadores rurais sem terra, diaristas desocupados, trabalhadores desempregados, escravos fugitivos, doentes, coletores de impostos, portadores de deficiências, adúlteros, prostitutas, agiotas, vendedores de alho, cuidadores de porcos, pastores de ovelhas que invadiam terras alheias. Ao sentar-se justamente com as pessoas excluídas, Jesus rompe o círculo de marginalidade e reintegra-as ao convívio diário. Jesus não nega a condição de pecadoras das pessoas com quem compartilha a mesa. Quanto mais pecadoras, tanto mais essas pessoas precisam de Deus e de sua ajuda. Jesus, como médico, acolhe as pessoas, oferece a proximidade fraterna e conciliadora em nome de Deus.
As refeições comunitárias de Jesus, nas quais acontecia a partilha de bens materiais e espirituais com as pessoas pobres e desprezadas, apontam para uma inversão dos valores vigentes na sociedade. Toda vez que acontecia uma refeição, uma comensalidade, havia uma denúncia contra um sistema que expõe tantas pessoas à fome e à marginalidade e um anúncio de uma nova forma de viver e conviver a partir dos princípios do reino de Deus.
A solidariedade de Jesus com as pessoas excluídas também o levou a olhar para as pessoas doentes e sofredoras. Jesus foi tão radical, a ponto de assumir o estado de impureza das pessoas doentes e mortas, tocando-as e deixando-se tocar. Ao curar, Jesus denuncia o total descaso e abandono a que as pessoas doentes estavam expostas. Essa prática de Jesus levou as primeiras comunidades cristãs a investir na área da saúde. As pessoas curadas puderam experimentar a inclusão na sociedade e uma mudança de valores em sua vida a partir do momento em que passaram a crer em Jesus, passando a segui-lo e servi-lo.
Nas mesas da atualidade, onde nós, como obreiras e obreiros, nos reclinamos para comer? Quantas vezes, para assegurar nosso emprego e, quem sabe, até nosso prestígio, assentamo-nos na roda dos sãos, daqueles que não precisam de médico? E como comunidade, quantas vezes não enxotamos aqueles que consideramos impuros, indignos, doentes e pecadores do meio da gente? A postura radical de Jesus deixa-nos, muitas vezes, incomodados porque ele se deixa encontrar e vai ao encontro dos frágeis e excluídos. Não se limita a prestar um auxílio (assistencialismo), mas age compaixão das pessoas, seja partilhando com elas a mesa, o toque, a impureza, a cura, o reviver, o perdão.
Hoje, quando nos sentamos à mesa e praticamos a comensalidade, não podemos esquecer que há muitas pessoas que não têm comida, que estão à margem de uma sociedade que cria excluídos e se mantém através deles. A comensalidade e as curas praticadas por Jesus tinham em seu horizonte a tarefa profética de denunciar os abusos e anunciar o reino de Deus, chamando pessoas a exercitar sua responsabilidade cristã de ser sal e luz do mundo. Essa responsabilidade deve ser assumida desde o dia de nosso Batismo.
Como pessoas batizadas, seguidoras de Jesus Cristo, somos chamados a ser discípulos que exercitam entre si e com as pessoas excluídas a aceitação mútua, a dignidade, a partilha, a comunhão, a terapia, o restabelecimento do corpo, enfim a misericórdia.
No culto, a Ceia do Senhor é um dos momentos de prática da misericórdia. Todas as pessoas são convidadas a participar – sadias e doentes, cegas, surdas, coxas, pobres, pecadoras. A graça de Deus envolve todas, toca todas e convida, através da fé, a experimentar nova vida, em serviço e amor. Dessa Ceia surgem outras ceias no espaço da casa, onde acontecem o partilhar do pão, a inclusão, a cura, o toque terapêutico, o consolo e a aceitação mútuos, o respeito e a misericórdia.
4. Imagens para a prédica
Convido para olhar os movimentos desse texto. Há um caminhar que vai ao encontro, que ousa ficar junto, que se deixa encontrar, que segue a caminho, que novamente se deixa encontrar e promove o chamado ao seguimento.
Atentemos: Jesus caminha ao encontro de Mateus, senta-se para comer junto com pessoas excluídas, deixa-se encontrar pelo pai da menina que morreu, segue junto em solidariedade, deixa-se encontrar pela mulher que sofria com hemorragia e chama ao seguimento.
A partir desses movimentos, tendo em vista o exercício da misericórdia, uma imagem para a prédica pode ser a de um caminhar com os braços abertos.
O caminhar denota o ato de Jesus de ir ao encontro das pessoas e também de deixar-se encontrar. No encontro com as pessoas, a postura de Jesus foi a de ter os braços abertos para acolher as pessoas excluídas e sofredoras.
Adaptei a estória dos carinhos quentes para a seguinte versão:
A estória da caminhada de braços abertos
Era uma vez, há muito tempo, uma comunidade em que as pessoas eram muito felizes.
Naquela comunidade, havia a prática de que, quando nascia uma criança, todas as pessoas iam ao encontro dela e de sua família e a abraçavam. Todas as pessoas recebiam essa caminhada de braços abertos, fossem elas pobres ou ricas, de uma ou de outra parte da comunidade. Receber a visita e ir ao encontro fazia as pessoas sentirem-se aconchegadas, cheias de carinho. A prática da caminhada de braços abertos não acontecia só quando uma criança nascia. Acontecia sempre, como uma prática de misericórdia entre as pessoas. Ao se encontrarem, as pessoas paravam para conversar, para comer juntas, para pedir ajuda e para a receber.
As pessoas viviam caminhando ao encontro umas das outras com os braços sempre abertos para acolher sem constrangimento. E isso era feito de graça. Por isso todos eram felizes e cheios de carinhos na maior parte do tempo.
Um dia, uma bruxa má ficou braba, porque as pessoas, sendo felizes, não compravam as poções e os unguentos que ela vendia. Por ser muito esperta, a bruxa inventou um plano malvado. Certa manhã, ela chegou à casa de uma família e cochichou:
– Olhe, veja essa gente toda caminhando de braços abertos ao encontro umas das outras. Se continuar assim, ninguém mais vai ter sola debaixo dos pés e nem braços fortes.
– Quer dizer, então, que os pés se desgastam e os braços se enfraquecem quando a gente vai ao encontro e se abraça assim? – perguntou uma das pessoas da família.
E a bruxa respondeu:
– Pode-se até perder os pés e caírem os braços, ainda mais quando se abraçam pessoas de má fama, doentes e pecadoras.
Dizendo isso, a bruxa foi embora, montada na vassoura, gargalhando muito.
A família ficou preocupada e começou a reparar em cada vez que as pessoas se encontravam e se abraçavam, pois temia ficar sem os pés e os braços. Então, essa família começou a queixar-se às outras famílias e a dizer o que a bruxa havia dito e que era melhor se prevenir. Aos poucos, as pessoas perceberam e passaram a não mais ir ao encontro umas das outras com os braços abertos, pois entenderam que era perigoso. Todos ficaram cada vez mais mesquinhos.
As pessoas do lugar começaram a sentir-se menos acarinhadas e incluídas, e algumas chegaram a morrer pela falta de encontros de braços abertos.
A situação ficou muito grave até que uma pessoa especial chegou ao lugar. Ela nunca tinha ouvido falar na bruxa e não se preocupava em perder os pés e os braços. Ela simplesmente ia ao encontro das pessoas com seus braços abertos, mesmo quando não era pedida sua presença. As pessoas do lugar desaprovavam sua atitude, porque essa pessoa dava às crianças a ideia de que elas poderiam continuar indo ao encontro e deixando-se encontrar, abraçando todas as pessoas sem problemas, porque nada iria acontecer a seus pés e a seus braços.
As crianças gostavam muito da Pessoa Especial, porque se sentiam bem em sua presença e passaram a caminhar até ela, a ficar junto dela e a abraçá-la muito. Fazendo assim, também se encontravam e se abraçavam, sem fazer distinção, acolhendo e incluindo todos na mesma mesa em que comiam juntas e sonhavam juntas.
Os adultos ficaram muito preocupados e decidiram impor uma lei para proteger as crianças. A lei dizia que era crime caminhar e ficar junto com as pessoas sem uma licença e que era crime abraçar pessoas consideradas impuras, doentes, pecadoras.
A Pessoa Especial, no entanto, continuou caminhando ao encontro das pessoas, deixando-se encontrar, abraçando todas as pessoas e chamando-as a exercitar a misericórdia. Essa Pessoa Especial tem um nome: Jesus.
5. Subsídios litúrgicos
Recepção: uma equipe deve estar à porta, recebendo as pessoas que chegam para a celebração.
Confissão de pecados
Misericordioso Deus, chegamos à tua presença em humildade, confessando-te que somos pessoas pecadoras. Em nosso agir diário, temos sido como fariseus que esquecem que o cumprimento de tua vontade acontece através de gestos misericordiosos com nosso próximo. Confessamos que temos excluído pessoas porque elas não se enquadram dentro dos padrões que uma sociedade podre criou. Confessamos que não vamos ao encontro de nossos irmãos e irmãs, tampouco nos deixamos encontrar por eles. Fechamo-nos em nós mesmos e esquecemos nossa responsabilidade como pessoas batizadas: a de ser sal, luz, fermento e justiça. Ó Deus, há ainda tantos pecados que pesam em nós como comunidade. Tantas vezes fechamos nossas portas aos marginalizados que essa sociedade faz, esquecemos da comensalidade praticada por Jesus, de suas curas, de seu toque em pessoas consideradas impuras. Até essas ações de Jesus, muitas vezes, tentamos encobrir. Por tudo isso, Deus de amor e misericórdia, pedimos teu perdão.
Anúncio da graça
“Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos seres humanos as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação.” A esse Deus misericordioso rendamos graças cantando:
C – Louvemos todos juntos o nome do Senhor.
Oração do dia
Misericordioso Deus, tu que sempre te deixaste encontrar pelo teu povo e vieste até nós em Jesus Cristo, nós te pedimos por tua presença em nossa vida para que nossas ações sejam misericordiosas, que buscam a presença do irmão e da irmã. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, que contigo e com o Espírito Santo vive e reina hoje e sempre. Amém.
Oração geral da igreja
L – Pelas bênçãos recebidas diariamente:
C – Graças, Senhor.
L – Pela presença de Deus em nossa vida:
C – Graças, Senhor.
L – Pela dádiva e unidade da fé:
C – Graças, Senhor.
L – Por todas as pessoas que servem solidariamente:
C – Graças, Senhor.
L – Por todas as formas de inclusão social e religiosa:
C– Graças, Senhor.
L – Para que as nossas ações se orientem na misericórdia divina:
C – Ajuda-nos, Senhor.
L – Para que exercitemos nossa responsabilidade batismal:
C – Ajuda-nos, Senhor.
L – Para que incluamos integralmente nosso próximo na vida social e religiosa:
C – Ajuda-nos, Senhor.
L – Para que denunciemos toda forma de exclusão e anunciemos o reino de Deus:
C – Ajuda-nos, Senhor.
L – Por mesas cheias de gente, partilhando pão, curas e sonhos:
C – Compromete-nos, Senhor.
L – Para que nosso mundo, nosso país e nossa sociedade ouçam o evangelho de Jesus Cristo:
C – Compromete-nos, Senhor.
L – Por tudo isso, nós oramos. Em nome de Jesus Cristo.
C – Amém.
Oração eucarística
Graças te damos, ó Deus eterno, por sempre teres estado junto com teu povo e teres vindo até nós em Jesus Cristo. Damos-te graças, misericordioso Deus, pela dádiva maior, que é teu Filho Jesus Cristo, o qual se tornou um de nós e viveu como ser humano. Através de seu jeito de viver, pregar e agir, nós aprendemos a te servir naqueles que são os mais desprezados e prejudicados da sociedade. Jesus zelou por reintegrar as pessoas excluídas ao convívio social e religioso. Por suas ações misericordiosas, Jesus foi condenado, morto e sepultado. Mas ele ressuscitou e vive contigo e com o Espírito Santo. Celebramos a Ceia conforme a ordem do próprio Jesus. Muitas foram as vezes em que Jesus se reuniu com seus discípulos e outras pessoas para cear. Mas, na última vez que jantou com sua comunidade de discípulos, na noite em que foi traído, Jesus tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim”. De modo semelhante, depois de haver ceado, tomou também o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de mim”. Envia, Senhor, teu Espírito Santo, o Espírito de nosso Senhor e de sua ressurreição, para que, partilhando o pão da vida e o cálice da salvação, nos tornemos, em Cristo, um só corpo, que cumpre tua vontade através de gestos misericordiosos. Lembra-te de todas as pessoas que já nos antecederam e reúne-nos todos em teu reino, junto à mesa do banquete que nos tens prometido. Louvamos-te, trino Deus, cantando:
C – Por Cristo, com Cristo e em Cristo, sejam a ti, Pai Todo-Poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre. Amém, amém, amém.
Sugestão de hinos
HPD Vol. 2 – 401 (Salvação); HPD Vol. 2 – 318 (Vem, Espírito de Deus); OPC 248 (Convite ao compromisso); OPC 124 (Neste pão da terra prometida); OPC 80 (Arde a voz em meu peito); OPC 60 (Migrante).
Bibliografia
GAEDE NETO, Rodolfo. A diaconia de Jesus: uma contribuição para a fundamentação teológica da diaconia na América Latina. São Leopoldo: Sinodal/CEBI; São Paulo: Paulus Editora, 2001.
CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Milenium, 1986.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).