Tema: ESTRATÉGIAS PARA A MISSÃO URBANA
Estudos do livro de Neemias
INTRODUÇÃO
Os estudos do Livro de Neemias tem a finalidade de colocar diante de nós alguns passos para enfrentar novas fronteiras missionárias a partir da comunidade. A mensagem que Neemias nos apresenta poderíamos chamar de uma estratégia para transformar a nossa cidade a partir dos arruinados urbanos.
Neste livro a palavra de Deus nos ensina a importância do conhecimento da realidade onde se pretende trabalhar, da oração e a compaixão com o povo que sofre, a rede de apoio para implantar um projeto capaz de mudar a cidade, alguns passos concretos de como organizar os colaboradores para que cada um faça a sua parte na obra, como lidar com os inimigos de dentro e de fora da comunidade e, finalmente, como restaurar os fundamentos da palavra de Deus que permitem uma celebração de uma espiritualidade comprometida com a os padrões da justiça de Deus.
Quero animá-lo a estudar o livro de Neemias pois nele encontram-se os passos para um planejamento urbano e sua execução de acordo com o padrão de vida que Deus quer para seu povo e para a cidade.
Para mim tem sido um grande auxílio, neste estudo, o livro de Robert C. Linthicum – CIDADE DE DEUS, CIDADE DE SATANÁS – Uma Teologia Bíblica da Igreja nos Centros Urbanos – lançado pela Missão Editora de Belo Horizonte, 1ª Edição de 1993, 388 páginas. Várias idéias aqui apresentados procedem deste livro.
Para quem desejar um estudo mais exegético recomendo o recente trabalho do P.Ms. Rudi Tünnermann – AS REFORMAS DE NEEMIAS- Ed. Sinodal/Paulus, São Leopoldo, 1ª Edição 2001, 210 páginas.
Estudo nº 1 – COMO CHEGAR AO CORAÇÃO DA CIDADE EM RUÍNAS?
ORAÇÃO E COMPAIXÃO
Neemias capítulos 1 e 2.
A oração e a compaixão de Neemias foram a chave para compreender e a motivar o povo arruinado. Neemias, ao obter informações sobre a situação da cidade arruinada e da dor de sua comunidade, caiu num quebrantamento que durou vários dias O que terá passado em sua mente e seu coração? Como ele imaginava ser a alma de um povo arruinado?
Um povo que vive numa cidade arrasada vive uma completa desilusão. Estão desiludidos com a política cujo corrupção os levou a desgraça. Estão desiludidos com sua religião por que seus líderes se aliaram ao poder corrupto e corruptor dos poderosos. Estão decepcionados com o poder judiciário que não teve coragem e pulso para lutar pelos direitos e pela justiça. Por todo lado onde olham há sinais de violência, dor, luto, amargura, lágrimas, perdas de vidas inocentes, culpa, insegurança, desânimo, fome e carência… É difícil novamente confiar em alguém e sonhar pois por todo lado há inimigos semeando prepotência e humilhações( Ne 1.10).
Neemias sabe que não tem poder nem capacidade para superar esta situação.
Só a misericórdia do Senhor pode mudar o espírito de um povo arruinado. Somente o Espírito do Senhor pode criar um novo alento que lhes permite sonhar com uma saída.
Neemias sabia que a oração move montanhas de problemas. Ela é a chave que abre as portas para a missão. Ele carregava o seu povo no coração e na oração, noite e dia.
Um série de circunstâncias o arrancaram da comunhão de sua comunidade de fé e o fizeram copeiro do rei na cidade de Susã, capital do Império Persa.
Um fato marcante que desencadeou o projeto de missão foi a visita de um irmão e alguns parentes de Jerusalém que lhe contaram da desgraça dos moradores da cidade (v.2). O coração de Neemias transbordava de saudade. E quando estes lhe contaram que sua comunidade vivia em completa ruína (v.3), Neemias caiu em quebrantamento e oração ( v.4). Ele assumiu a dor e a desgraça de seu povo e de sua cidade. Nesta profunda angústia clama ao Senhor com lágrimas e jejuns ao longo de vários dias.
A oração foi chave que abriu as portas para a missão de Deus em Jerusalém.
Vale lembrar que a prática da intercessão pela cidade é testemunhada ao longo da Bíblia. Abraão quando descobre os planos de Deus para Sodoma intercede longamente pela cidade diante do Senhor ( Gn 18.16-33). Jeremias exorta a comunidade dos deportados para que orem pela paz da cidade (Jr 29.6). Jesus lamenta e ora sobre Jerusalém afirmando: “Jerusalém, Jerusalém! Que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes” ( Mt 22.37).
A obra missionária começa com a oração. Se você ora por alguém ou por uma cidade, você compartilha suas dores e esperanças, e no seu coração vão crescendo vínculos de amor e compaixão. Sem estes vínculos não há missão. Neemias orou por cerca de três meses( do mês quisleu ( = novembro/dezembro)Ne 1.1 até o mês nisã (=março/abril)Ne 2.1) antes de revelar e colocar em prática a missão de Deus para Jerusalém.
1.1. A missão nasce no coração de Deus. Orar é buscar auscultar o coração de Deus. O que Neemias orou?
Na oração de Neemias (Ne 1.5 a 11) encontramos alguns passos importantes
1. Neemias clama pela misericórdia do Senhor. Deus é fiel e misericordioso (v.5), portanto, toda boa obra vem a nós como presente da graça de Deus. Deus é e será o Senhor de toda missão. Neemias deseja apenas se colocar nas mãos de Deus a serviço de sua missão.
2. A confissão de pecados. Neemias não acusa o governo nem os líderes de seu povo pela desgraça que estão vivendo. Ele vê que toda desgraça é fruto do pecado. Por isso ora: “Confesso os pecados que nós, israelitas, temos cometido contra ti” (v.6-7). Certamente o povo deportado de Jerusalém e os restantes sofreram muito sob a mão do governo da Assíria, mas o povo de Deus também se desviou dos caminhos do Senhor e não deu ouvidos às palavras de Deus proclamadas pelos profetas.
3. Neemias ora confiado nas promessas de Deus(v.8-9). Ele sabe que Deus é fiel às promessas de sua Palavra e vai tratar o seu povo com misericórdia. Esta certeza lhe dá a confiança para lançar-se de coração nos braços do Senhor.
4. Neemias recorda o Deus na aliança. Ele lembra o que o Senhor já fez pelo seu povo no passado (v.10-11). Deus mesmo tem um compromisso com o povo que leva o seu nome. Ele sabe que o Senhor também sofre com a desgraça que seus filhos sofrem. O povo de Deus foi liberto pela mão poderosa do Senhor da escravidão do Egito para viver em liberdade e não para novamente ser escravos de seus pecados. Na certeza de que Deus é fiel à sua aliança, Neemias, tem certeza de que Deus vai ouvir e responder sua oração e por causa de misericórdia d Senhor ele vai ser bem sucedido na obra.
1.2. Coragem para encarar a cidade em ruínas. Confiado no amor primeiro de Deus Neemias põe mãos à obra.
Não basta chorar pela dor dos irmãos e a desgraça da cidade nem criticar os que nada fazem. Neemias precisa fazer algo. Este segundo passo é muito arriscado. O seu coração está cheio da compaixão pela cidade arruinada e seu povo ao ponto de não mais poder esconder sua tristeza diante do rei: “Por que o seu rosto parece tão triste se você não está doente? Essa tristeza só pode ser do coração.” (Ne 2.2). Não há como esconder aquilo que move o seu coração.
“Com muito medo eu disse ao rei.”.( v 2b). Neemias tem orado a Deus por meses, clamando por misericórdia e benevolência (Ne 1.11) . Agora ele toma coragem e coloca a si mesmo como primeira resposta à sua oração. Ele confia no poder de Deus e conta sua aflição e seu plano ao rei.
“Como não estaria triste o meu rosto, se a cidade em que estão sepultados os meus pais está em ruínas, e as suas portas foram destruídas pelo fogo?(v.3).
O rei pergunta pelo seu plano (v4). E novamente Neemias ora e coloca seu plano diante do rei e da rainha. Eles concordam e lhe concedem autorização para ir a sua cidade Jerusalém (V.5-6).
Ao chegar às ruínas da cidade de Jerusalém, Neemias saiu à noite com alguns homens para verificar o tamanho das ruínas da cidade. Ele examinou os pontos vulneráveis e fez um inventário de tudo que precisa ser reconstruído. Tudo isso ele fez em silêncio antes de manifestar seu plano.
Ele nos mostra que o conhecimento preciso da realidade e o estado de espírito dos moradores são pré-requisitos para o projeto missionário. Só depois de um criterioso estudo da realidade e das condições operacionais é que ele revela o seu plano de ação.
1.3. A rede de apoio e a construção da motivação.
A visão está clara e o projeto está elaborado e conta com a autorização para ser implantado. A realidade foi analisada detalhadamente. Agora vem um outro passo importante:
Quem podem ser os aliados? De onde vem os recursos para a obra?
Neemias estabeleceu uma rede de apoio. A rede de apoio é composta por pessoas que podem abrir ou facilitar os caminhos para a concretização do projeto. Além da concordância do rei e da rainha, Neemias levou cartas que lhe deram acesso a recursos e apoio dos governadores das províncias vizinhas(v.7), da guarda da floresta do rei (v.8), ganhou uma escolta do exército e de um grupo da cavalheiros(v.9).
Mas os contatos não pararam aí. Ao chegar a cidade de Jerusalém ele procurou os líderes e autoridades da cidade (v.16) se inteirou detalhadamente da situação humana e material da cidade. Só depois de conhecer bem de perto as necessidades e as condições para enfrentá-las, Neemias, abriu o seu coração para os líderes do povo, mostrando-lhes como a boa mão do Senhor estava com ele ( v18).
Assim ele motivou as lideranças do povo de tal modo que abraçaram o plano como sendo o seu próprio plano. A confiança gerou a motivação e a motivação os levou a colocar mãos à obra: “Disseram: disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as suas mãos para a boa obra” (v.18).
Resumindo: Neemias ouviu falar da desgraça em que vivia sua comunidade de fé, tomado de compaixão orou ao Senhor e este lhe abriu os caminhos para enfrentar o seu rei, alcançar o apoio de governadores e lideres de seu povo. O seu testemunho produziu a motivação que levou o povo a colocar mãos à obra.
1.4. AS LIÇÕES DA PALAVRA PARA NOSSA VIDA
( Para meditar e compartilhar em grupo)
PRIMEIRO: O que faz você chorar pela sua cidade ou comunidade? Qual a dor e sofrimento da cidade que você carrega no coração? Quais as necessidades que levam a orar dia e noite pela sua cidade? Quais a ruínas que precisam de reconstrução?
Se nada faz você chorar e sofrer pela dor de outras pessoas, sua comunidade ou cidade, então você não está preparado para a obra da missão. Pois só estão aptos para assumir o seu papel na missão de Deus pessoas que tem um coração quebrantado e cheio de compaixão pela dor do pobre ou do oprimido.
SEGUNDO: Você tem a coragem de se colocar como a primeira resposta à sua oração?
A missão começou com o próprio Neemias. Ele não era sacerdote nem profeta, nem pastor ou mestre. Era um leigo que trabalhava como copeiro do rei. (O copeiro tinha uma função importante. Ele selecionava e levava as bebidas ao rei e à rainha. Tinha assim um contato direto e até particular com o rei e a rainha).
Mas ele entendeu a aflição de seus irmãos e levou a sério a dor deles. Ele estava disposto a arriscar tudo por amor à sua comunidade. Consagrou sua inteligência e criatividade ao Senhor e o Senhor lhe abriu as portas.
Qual a sua disposição para fazer algo no voluntariado por alguém que sofre ou por minha cidade? Quem são as pessoas de minhas relações de amizade que possuem recursos ou habilidades para ajudar num projeto?
TERCEIRO: Neemias nos ensina que quando a gente leva a sério a dor dos outros a gente pode descobrir sua vocação missionária. Pois, o caminho da dor pode levar ao coração de Deus, porque a missão de Deus sempre tem a ver com uma dor específica.
A vocação missionária não precisa ser algo extraordinário. Ela começa com o amor sincero e a vontade de promover o bem ou aliviar a dor de uma pessoas ou grupo. Onde a nossa comunidade poderia se envolver?
QUARTO: Neemias estabelece uma rede de apoios que abriram as portas para a missão. Quais, ao seu ver, são portas abertas que existem em sua cidade para promover a vida digna e abundante? Quais são os possíveis aliados – movimentos, instituições e organismos em sua cidade que somam forças pela transformação de sua cidade? Quais são as brechas na Lei Orgânica do município que permitem o engajamento da comunidade para transformar a cidade?
QUINTO: O que esta sendo feito para motivar pessoas para se envolverem na promoção do bem e da paz de sua cidade? Qual o projeto de missão de sua Comunidade para a cidade? Lembre que a compaixão de Deus é do tamanho da cidade.
Conclusão: Se a sua comunidade ainda não está envolvido num projeto mais amplo pela cidade, orem em casa e pensam, inspirando-se no exemplo de Neemias.
Estudo nº 2 -A ORGANIZAÇÃO E A SUPERAÇÃO DOS CONFLITOS
Como organizar o povo de modo que todas assumam sua parte. O trato com inimigos de fora e da própria casa.
Neemias Capítulos 3 a 6
2.1 Introdução
No estudo anterior vimos como Neemias foi instrumentalizado pelo Espírito do Senhor para criar uma motivação no coração de um povo arruinado.
Com quebrantamento de coração, ele orou ao Senhor e este lhe abriu as portas para chegar à cidade de Jerusalém. Antes de começar a colocar em prática o projeto missionário da reconstrução da cidade ele organizou uma rede de apoios que providenciou os recursos materiais e as condições políticas para realizar a obra e tratou de conquistar o povo de sua cidade na certeza de que esta era a obra a ser realizada. Só então o trabalho começou.
No presente estudo vamos examinar quais foram os passos que ele seguiu para colocar em andamento o projeto que Deus revelou a ele, como fez a distribuição das responsabilidades e dos serviços numa arrancada definitiva para a mudança.
Vamos olhar também como ele lidou com os inimigos. Quais foram os inimigos de fora, quais as suas armas e como foram vencidos? Quais foram os inimigos da obra de Deus que estavam no meio do próprio povo? Quais foram as estratégias de Neemias para vencê-los?
2.2. A Organização da Comunidade
A pesquisa realizada por Neemias levou-o a um profundo conhecimento da realidade. Ele reuniu os líderes do povo sacerdotes, os nobres e os magistrados (Ne 2.16-18).
“Então eu lhes disse: Vejam a situação terrível em que estamos: Jerusalém está em ruínas, e suas portas foram destruídas pelo fogo. Venham e vamos reconstruir os muros de Jerusalém, para que não fiquemos mais nestas situação humilhante. Também lhe contei como Deus tinha sido bondoso comigo e o que o rei me tinha dito. Eles responderam; Sim, vamos começar a reconstrução. E se encheram de coragem para a realização deste bom projeto”.
Notamos aqui dois elementos importantes alcançados sob a liderança de Neemias.
Primeiro ele colocou diante do povo o que todos sentiam: sua situação humilhante e vulnerável porque os muros estavam caídos e os portões queimados. Ele teve a coragem de dizer o que todos sentiam.
Segundo: Ele conseguiu colocar a coisa de tal maneira que todos viram como sendo sua a responsabilidade pela mudança desta situação. “Sim, Nós vamos colocar mãos à obra”. Os líderes e o povo assumiram a obra num mutirão.
Neemias lhes assegurou que não trabalhariam sozinhos, mas que a “bondosa mão do Senhor estava com eles”. Também o rei apoiou a obra e colocou a disposição os recursos necessários para realizá-la. Portanto, Deus e o rei fizeram a sua parte disponibilizando apoio e recursos. O restante era com o povo.
Linthicum afirma que Neemias estava obedecendo a lei maior da capacitação da comunidade: “As pessoas mais capacitadas para tratar com os problemas são as pessoas afetadas pelos mesmos.
As pessoas que estão excluídas de uma participação plena na vida social, econômica ou política de sua cidade ou comunidade podem ser capacitadas a participar somente quando passam a agir coletivamente.”
Neemias, com o apoio do rei, a graça de Deus, os recursos materiais não entrou na cidade com os trabalhadores contratados para realizar a obra. Pelo contrário, ele motivou a liderança e o povo para assumir em conjunto o desafio da reconstrução da cidade.
O povo entendeu que a obra era sua. Ele se tornou sujeito da ação de reconstruir a cidade. A partir daí puderam dar o próximo passo: distribuir as tarefas de cada grupo.
O capítulo três mostra como aconteceu a organização do trabalho.
Cada núcleo tinha sua parte na obra e todos estavam motivados e desafiados para darem conta de sua parte, desde a maior autoridade até o cidadão mais simples do povo. Esta organização do plano de ação certamente custou muitas reuniões, discussão e oração.
Em nenhum lugar é dito que este foi o plano de Neemias. Ele foi quem estudou bem de perto a situação e motivou o povo a por mãos à obra. Mas foi o povo de Jerusalém que assumiu numa ação conjunta.
Esta experiência fez nascer neles um novo sentimento de comunidade. Isto se mostra na maneira como se dispõe a enfrentar os inimigos de fora.
2.3 –Como lidar com os inimigos e os conflitos. Os inimigos de fora. Onde Deus põe a mão o diabo se sente acuado.
Quando os empobrecidos e desprezados se organizaram e assumiram seu papel na cidade surgiram conflitos. Os poderosos sentiram-se ameaçados em seu poder de dominação. Por isso maquinaram estratégias paras impedir a realização da obra.
Primeiramente os governadores vizinhos e seus cumparsas sentem-se irritados quando ouviram a notícia da reconstrução da cidade ( Ne 2.10). Depois sua raiva aumenta e a reação é de fúria, ridicularizações e humilhações (Ne 4.1s) adiante planejam um ataque para destruir o que fora construído ( Ne 4.7-8).
Por que Sembalate, Tobias e os arábios se sentiram furiosos com a obra dos judeus? Por que eles eram os donos do comércio da região e exploravam a mão de obra dos judeus para seu enriquecimento. A organização dos pobres e arruinados de Jerusalém representava um possível prejuízo para os poderosos da região. Deste conflito o povo de Deus não pode e não deve fugir. A construção da paz da cidade implica necessariamente na derrota dos inimigos. A justiça de Deus é o único fundamento da paz social.
As armas do povo de Deus foram a fé, oração e unidade no propósito de alcançar condições dignas para viver como filhos de Deus. Esta foi a base suficiente para achar um meio de resistir aos inimigos. “Nós oramos ao Senhor e colocamos guardas dia e noite para nos proteger” (v.9).
Neemias não apenas organizou o povo para a obra mas também os ajudou para defenderem-se dos inimigos. O papel do líder foi encorajar o seu povo, orientá-lo e animá-lo com a palavra de Deus: “ Não tenham medo deles. Lembrem-se que o Senhor é grande e temível, e lutem por seus irmãos, por seus filhos e por suas filhas e por suas mulheres e por suas casas” ( v.14).
Os trabalhadores passaram por um período muito difícil quando a metade ficava de guarda e outra metade trabalhava( Ne 4.15 a 23). Mas o Senhor foi misericordioso com eles e lhes concedeu a vitória.
Os inimigos na própria casa.
Como o espírito do opressor habita a cabeça do oprimido (Ne 5.1-13).O povo de Deus teve que enfrentar mais outro tipo de inimigo: os da própria casa.
Entre os próprios irmãos judeus havia alguns com espírito de avareza que subjugavam os da família de Deus extorquindo-lhes o dinheiro e até reduzindo-os à escravidão ( Ne 5.1-5). Quem eram estes inimigos no meio do povo?
Foram os seus líderes maiores: os nobres e o magistrados ( v.7). Neemias levantou contra eles um grande ajuntamento popular ( v.7).
A melhor maneira de controlar o espírito opressor é levar seu pleito para apreciação da comunidade. É na assembléia que devem ser tratadas as grandes questões.
Neemias os censurou os maus líderes diante do povo reunido e encarregou os sacerdotes para que sob juramento restaurassem a prática da justiça (v.8-12). À luz da palavra de Deus foi restaurada de uma nova cultura política que trocou o espírito opressor pela solidariedade. Assim foi feito os opressores do povo restituíram o que tinham tomado dos mais pobres.
Neemias como líder e mais tarde governador deu ao povo um exemplo de como se vive uma vida justa e simples em partilha e hospitalidade ( Ne 5.14-19). Ele não tirou proveito pessoal do povo em função de seu cargo. Seu objetivo era sincero: lutar para o bem comum de seu povo e de sua cidade. Lamentavelmente os líderes da época de Neemias não tinham esta consciência, e a exemplo dos povos vizinhos, trataram de oprimir os seus irmãos.
A liderança de Neemias confrontou e desmascarou publicamente a pretensão avarenta dos líderes e os colocou sob o controle da comunidade. Desta maneira o projeto de Deus para Jerusalém prosperou e os inimigos da própria casa foram vencidos.
Conclusão: Na obra de Deus sempre haverá inimigos externos e internos. Não há como fugir deste conflito. O que importa é aprender como devem ser enfrentados. Quais as armas apropriados. Quais os controles para uma permanente vigilância.
Neemias traz um exemplo maravilhoso. Ele ajudou o povo para se organizar, deu-lhes o fundamento da palavra de Deus e colocou nas suas mãos o melhor meio para exercer o controle: a comunidade.
Para meditar: Haverá mudança na vida dos pobres não quando a igreja fizer projetos para eles, mas quando os pobres forem motivados a serem parceiros na construção de sua cidadania e do bem-estar.
Notamos que o sonho que Deus colocou no coração de Neemias era do tamanho da cidade de Jerusalém. Todas as suas ações visavam o bem estar de toda a cidade. A missão urbana precisa levar a sério a cidade toda, pois a comunidade de fé não é uma ilha em meio a cidade. A paz da cidade é a nossa paz, a violência da cidade coloca a nós todos na insegurança e medo, a miséria da cidade ofende e desafia nossa dignidade e senso de justiça.
A sua comunidade tem ou participa de algum projeto voltado para o bem-estar de toda cidade? Quem lidera este projeto?
O plano de Ação Missionária da IECLB(PAMI) afirma que “A comunidade é alvo e instrumento da missão”.
A sua comunidade está sendo organizada para a missão?
Veja o exemplo de Neemias no estudo acima. Ela descobriu as lideranças do povo e cada núcleo recebeu uma tarefa na reconstrução do muro da cidade. A prática foi resultado do planejamento. A sua comunidade tem um planejamento estratégico?
Quem são as pessoas que poderiam a ajudar para ampliar a visão de missão através da comunidade?
Como está a organização da comunidade para a missão? Para quais serviços (ministérios) há preparação de lideranças?
Todas as comunidades tem o seu presbitério. Este geralmente tem muito a fazer para reunir os recursos que carregam o pastoreio regular da comunidade ou paróquia.
Algumas comunidades criaram outros ministérios tais como: a solidariedade com os pobres; a oração pelos enfermos; a intercessão e apoio às famílias enlutadas; a pastoral da família; o treinamento de missionários, evangelistas e visitadores, etc. O objetivo da diversificação dos serviços é promover o engajamento de cada cristão na ação missionária afim de alcançar o maior número de pessoas possível. Todo trabalho novo encontra dificuldades.
Neemias encontrou obstáculos na obra do Senhor. Como vimos acima.
E a sua comunidade, quais são os obstáculos ou inimigos externos que impedem a mobilização missionária?
Quais são os inimigos internos ou fatores que impedem o desabrochar missionário de sua comunidade?
Estudo nº 3 – A CIDADANIA MOLDADA PELA PALAVRA DE DEUS.
UMA ESPIRITUALIADE INTEGRAL
Neemias Capítulos 8 a 10
3.1.Introdução.
A reconstrução dos muros da cidade resultou numa nova visão comunitária: “todo povo juntou-se como se fosse um só homem” (Ne 8.1).
Agora o povo de Deus já possui um censo de auto estima. Já sentem que a cidade é sua. No lugar das ruínas existem casas habitáveis, no lugar dos entulhos vão florescendo os jardins. No lugar da desolação brotou a esperança. A desilusão deu lugar aos sonhos. Possuem o mínimo de segurança e estão cheios de planos para fazer de Jerusalém a cidade de seu coração. Neemias sabe o risco da falsa segurança, por isso toma as providências para colocar as bases espirituais. Não basta ao povo experimentar o milagre da libertação e o bem-estar, só a Palavra de Deus é a ancora para a edificação de um projeto duradouro e abençoado de cidade.
Sob a liderança de Neemias o povo empobrezido e humilhado realizou uma obra grandiosa: reconstruíram as muralhas de Jerusalém. A obra material foi bem sucedida, agora é hora de reconstruir a alma do povo. Pois, uma nova cidade só será possível se houver uma nova cultura. Uma cultura moldado pelo padrão de Deus. O centro desta culto é a restauração do culto ao Deus verdadeiro. Isto só é possível se houver estudo da Lei de Deus.
O sonho de Deus sonhado por Neemias para Jerusalém tinha ainda um outro desdobramento: a centralidade da lei de Deus e o culto .
2.1 A restauração da vida espiritual.
“Rogo-lhes, pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação de sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” ( Rm 12.1-2).
A misericórdia de Deus transforma corações e mentes. O culto é amar a Deus de coração e mente como afirma o primeiro grande mandamento.
A restauração do templo.
O povo de Deus é um povo que celebra sua gratidão pelos os grandes feitos do Senhor. Para que este culto alcance a dignidade desejada foi realizada uma intensa campanha de doações para a restauração do templo ( Ne 7.70-73). Todos colaboraram nesta obra cada um de acordo com a sua prosperidade e o templo foi restaurado. Nem todas as casas estavam reconstruídas mas a restauração da casa do Senhor foi prioridade.
Mas um templo bonito não é suficiente. O centro do templo é o culto e o centro do culto é a proclamação da Lei de Deus.
A centralidade da palavra.
Esdras, o sacerdote trouxe o livro da lei e em grande solenidade diante de todo povo ele leu a Lei de Deus na praça da cidade. A palavra do Senhor foi lida e explicada para que cada pessoa entendesse o que fora lido: “ Leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido”( Ne 8.8).
Com muita emoção, oração, louvor, reverência o povo celebrou culto a Deus num clima de festa que durou sete dias. Mas em todos os dias foi lido a Lei de Deus ( Ne 8.18).
Para a Igreja Evangélica a palavra de Deus é o centro da vida da comunidade. Desde pequeno as crianças devem ser ensinadas na palavra de Deus.
Assim a expressa Paulo na sua carta a Timóteo: “Porque desde criança você conhece as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. ( 2 Tm 315-17).
O culto e as festas – Por uma espiritualidade integral.
Além do culto foram restabelecidas as festas ordenadas por Moisés ( Ne 8.13-18). A festa das tendas durava sete dias e encerrava no oitava dia com assembléia solene do povo.
O projeto de Deus para a cidade culminou na criação de um povo que edificou a sua vida sobre o fundamento da palavra de Deus. Somente assim o projeto urbano chegou à sua plenitude. A miséria social, a fome, a insegurança foram dramas que muito mal fizeram ao povo de Deus mas o maior flagelo de um povo é a falta da experiência da misericórdia do Senhor.
Mas, maior de todas as misérias é não conhecer a Deus como Senhor da vida e da história. Esta miséria é geradora de muitos males. Um projeto de missão urbana que se limite a promover apenas o bem-estar social, econômico ou político e não atenta para a transformação espiritual não leva a missão de Deus ao seu verdadeiro objetivo.
As festas na vida do povo de Deus tinham uma função de promover a comunhão entre as diversas tribos e restaurar a verdadeira doutrina. Por isso a leitura do Livro da Lei ocupa um lugar central nas festas.
O culto e a partilha ou solidariedade fazem parte da espiritualidade integral restaurada por Neemias.
O projeto iniciou com Neemias, que clamou pela misericórdia de Deus e culminou em culto de gratidão, confissão de pecados e consagração de toda boa obra realizada. O processo de urbanização da cidade continuou(Ne 13).
DE NEEMIAS PARA OS NOSSOS DIAS
Para dialogar e compartilhar.
O Plano de Ação Missionária da IECLB(PAMI) afirma: “A cruz de Cristo é o ponto de partida e de chegada da comunidade missionária” (p.6).
O que está sendo feito em sua comunidade para que a Palavra de Deus seja estudada em todos os grupos e se torne o centro que determina a vida da comunidade? De que maneira a sua cidade está sendo influênciada pela palavra de Deus?
Para nossa Igreja o sacerdócio geral dos crentes é muitas vezes lembrado. Neemias exerceu o seu sacerdócio. Ele não era sacerdote, mas a partir de sua profissão e com os meios que teve fez o palavra de Deus conhecida pelo seu testemunho.
A sua comunidade realiza festas? Qual a finalidade? Não podemos sustentar a obra de Deus copiando festas mundanas com bebedeiras e jogatinas. O espírito da festa do povo de Deus tem outro padrão. Como restaurar um espírito de celebração que ajuda a comunhão, a partilha e o ensino da Bíblia para todas as gerações ?
Como está sendo tratada a sustentação da obra de Deus em sua comunidade? Qual o valor dado a contribuição proporcional? A Bíblia ensina que a salvação traz como resultado a partilha. Neemias exortou exploradores do povo de Deus para que se arrependessem da usura e repartissem em vez de tirar do povo já empobrecido. E assim fizeram.
Zaqueu devolveu o que tinha cobrado com usura e restituiu aos que tinha roubado(Lc 19.10). A salvação levou à prática da justiça. Isto ocorre também em sua comunidade?
Conclusão: No livro de Neemias encontramos algumas estratégias para missão, tanto na cidade como em outra realidade. Importante é ressaltar que o missão nasce no coração de Deus. Ela é alcançada por aquela pessoa ou comunidade sensível ao sofrimento dos outros. A oração é a chave que abre as portas. A partir daí há passos gerais a serem seguidos. Claro está, no entanto, que a todo projeto missionário requer a motivação da comunidade.
Enfim, Neemias nos ensina que a missão é obra da misericórdia de Deus e leva ao louvor de seu nome. Ele nos amou primeiro, portanto: Mãos à obra!