Tema e lema 2003:
subsídios e estímulos
Nosso mundo tem salvação
Lema: Deus enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 21.4)
1 – Observações preliminares
1.1 – A formulação do Tema da IECLB 2003 é uma adaptação do tema que a Federação Luterana Mundial colocou para sua X Assembléia Geral, a ser realizada em Winnipeg – Canadá, nos dias 21-31 de julho de 2003 – For the healing of the world. Este mundo, no novo século e novo milênio, está profundamente abalado, doente e ameaçado. Carece de justiça e paz, de amor e comunhão. Não apenas desde a tragédia do dia 11 de setembro de 2001, mas por causa de toda uma realidade marginalizadora, excludente e desnorteada que naquele acontecimento se condensou.
A reunião dos pastores sinodais, com o intuito de somar, achou por bem sugerir ao Conselho da Igreja que a IECLB adotasse o mesmo tema, adaptando-o ao nosso contexto. Não é possível traduzi-lo literalmente. “Para a cura do mundo” já seria um encurtamento do original. Pois healing significa ‘cura’ no sentido amplo, ou seja, social, emocional, físico, espiritual, ambiental, enfim integral. Pensou-se que o termo “salvação” refleteria melhor este sentido amplo e integral.
Em termos de comunicação e marketing parece mais indicado formular o tema em forma de frase – curta mas afirmativa, convidativa e animadora, ao invés de apenas a parte final de uma frase. Foi com esse objetivo, fazendo uso da liberdade e criatividade, que se adaptou a tradução do tema da FLM, dizendo Nosso mundo tem salvação! Esta afirmativa é evangelho, boa nova, indicativo que convida, constrange e motiva para a ação. O imperativo, portanto, está implícito. Desse modo se estabelece também uma ligação ao tema da IECLB 2002 – Mãos à obra!
1.2 – O lema bíblico – Deus enxugará dos olhos toda lágrima – tem a função de motivar, fundamentar e direcionar o tema. Representa, por assim dizer, o indicativo do qual decorre o imperativo. Este, aliás, está implícito em ambos. O lema é extraído de Ap 21.4, da grande visão sobre a nova Jerusalém que Deus mesmo criará no final dos tempos. Nela não mais haverá morte e luto, nem pranto e dor. Haverá perfeita comunhão de Deus com seu povo. Do trono de Deus e do Cordeiro sai o rio da água cristalina que irriga a terra deserta. Lá estará a árvore da vida (alude a Gn 2.17), dando fruto a cada mês (Ap 22.1s.). Não mais haverá noite temível, porque Deus mesmo será a luz da cidade, luz que ninguém e nada consegue apagar (Ap 21.23).
Essa visão nasceu na prisão, por volta do ano 100 d.C. Servia aos cristãos da segunda geração como alento, ânimo e fonte de resistência contra as forças da perseguição romana. Ao longo da história da igreja, principalmente em situações de extremo sofrimento, como epidemias, fome e guerra, essa visão tem demonstrado sua força reanimadora e libertadora.
1.3 – Desse modo, o tema e o lema, antes de mais nada, objetivam animar o desanimado, erguer o caído, consolar e dar esperança ao desesperado. Querem irmanar e integrar na grande família de Deus toda e qualquer pessoa e comunidade isolada e esquecida, colocando-a a caminho.
Com esse objetivo enfocaremos alguns aspectos sobre a realidade em que vivemos. Num passo seguinte, procuraremos iluminá-la a partir do evangelho, a fim de vislumbrar possíveis passos com vistas à colocação de sinais de cura ampla.
2 – Flashes sobre a realidade
Vamos resistir à tentação de enumerar logo os aspectos preocupantes e negativos. Pois isso nos impediria de enxergar avanços e melhorias. Esses são como florzinhas na beira da estrada pedregosa. Vale o esforço de enfocar alguns por menores que sejam.
• Desde 1997 o número de membros da IECLB de 704.754 cresceu até fins de 2001 para 715.085. E nos últimos dois anos o PAMI contribuiu para a criação de 54 novos campos de trabalho.
• O encontro bilateral entre pastores sinodais da IECLB e bispos da CNBB reforçou a firme vontade de intensificar o diálogo e a cooperação ecumênicos, sem se deixar desmotivar pelo documento antiecumênico Dominus Iesus.
• O diálogo interluterano da IECLB com a Igreja Evangélica Luterana do Brasil – IELB está sugerindo a possibilidade de hospitalidade eucarística em casos especiais, sob a observância dos devidos cuidados pastorais.
• Segundo o jornal Zero Hora de 13/09/2002, p. 6, “o índice de analfabetismo de crianças de 10 a 14 anos caiu pela metade desde 1996”. A escolarização está em tendência crescente. “De 1996 a 2001, a proporção de meninos de sete a 14 anos fora da escola caiu de 9,3% para 3,7% e a de meninas de 8,2% para 3,3%”. A escandalosa situação de mulheres terem remuneração menor do que homens pelo mesmo serviço está lentamente melhorando. Em 1996 “o rendimento representava 61,6% do recebido pelos homens e chegou a subir para 69,9% em 2001”.
• A inflação está sob controle há alguns anos.
Mencionamos esses fatos não com o intuito de acomodar mas com o objetivo de animar a continuação e intensificação da luta por vida que Deus quer para sua criação tão ameaçada e sofrida. Justamente nesse sentido agora também é necessário enfocar alguns aspectos de carência, doença e morte geradas por injustiça e o desamor. Importa ver as lágrimas, ouvir os clamores e perceber os gemidos por libertação.
2.1 – Alguns exemplos de clamores, gemidos e lágrimas
• Quando de manhã, pelas 07:00h, desembarco do ônibus para caminhar duas quadras até meu escritório, no centro da metrópole, vejo algumas pessoas ainda dormindo em cima de papelão na calçada ou recém levantando.
• Outras estão armando sua barraca de venda de frutas ou mercadorias de camelô. Uma pessoa está revirando os sacos de lixo, a fim de encontrar objetos aproveitáveis para a venda ou mesmo restos de comida.
• Meia hora depois abre a garagem e encosta uma senhora com seu automóvel importado, de marca Mercedes A 150. Reside em bairro arborizado, numa casa cercada com grades. Acima delas há uma cerca elétrificada e no pátio dois cães de guarda treinados.
• Os jornais de domingo e segunda-feira transbordam de notícias sobre acidentes de trânsito e assaltos. A vida parece ter cada vez menos valor.
• O relato de uma pessoa que não quer ser identificada, publicado na coluna de Paulo Santana, no jornal Zero Hora de 13/09/2002, p. 59, expressa medo e pavor por causa da insegurança: “Pois te digo, Sant’Ana, que essa gente é uma máfia. Moro em Viamão, perto do lago. Ali sempre passa o guardinha apitando à noite. Os moradores são procurados pelo administrador dos vigilantes e, com certeza, a residência que não concordar em pagar a mensalidade será escolhida para ser assaltada. Isso é cobra mandada. Um vizinho que não pagava já foi assaltado, junto com sua esposa e filhinha. Teve que ficar deitado no chão e o belo guardinha olhando de longe! Que é isso, meu Deus?”
• Assim todo mundo apavorado perguntou e lamentou no dia 11 de setembro de 2001, quando terroristas derrubaram as duas torres do World Trade Center e parte do Pentágono nos Estados Unidos, símbolos de todo um sistema neoliberal que impera no mundo.
• Mais preocupante ainda é o fato de que muitos não se preocupam em decodificar os atos de violência e terrorismo e defendem a idéia de que devem ser combatidos com repressálias de polícia bem equipada ou forças armadas. Assim procuram sufocar os gritos por emprego, saúde, terra para morar, plantar, colher e viver.
2.2 – Toda a criação geme e chora
• O desmatamento inescrupuloso em grande escala favorece a fabricação de móveis de madeira de lei nos países ricos, enquanto continua se agravando o desequilíbrio ecológico.
• O uso indiscriminado de agrotóxicos e a emissão irresponsável dos mais diversos tipos de gases envenenam o ar, a chuva e o solo. Destróem a camada de ozônio, filtro protetor para todo ser vivo contra os raios ultravioletas. Estão aumentando a olhos vistos os mais diferentes tipos de câncer.
• Os porões de combustível de navios são “lavados” em alto mar. No litoral do Rio Grande do Sul aparecem freqüentemente pinguins mortos ou imobilizados por óleos, graxa ou petróleo.
• As nações, preocupadas com o resgate do equilíbrio ecológico, na reunião de cúpula no Rio em 1992, exigiram medidas urgentes tanto para despoluir as águas, o ar e o solo de nosso planeta quanto para economizar as fontes energéticas não-renováveis. Já naquela ocasião se manifestaram indisposição e falta de vontade política, principalmente por parte de países mais ricos, para acatar as medidas com vistas à preservação da vida em nosso planeta.
• Agora, em setembro p.p., na reunião Rio + 10 em Johannesburgo, teve que se constatar que poucas daquelas reivindicações foram atendidas. Desse modo, os gemidos de toda criação, se ainda não silenciaram de vez, continuam a aumentar.
• A violência anda solta não apenas nas ruas, mas também entre os povos que não aprendem com a lição de que violência gera mais violência. Após a reunião do Rio travou-se a guerra do golfo para garantir o acesso às grandes jazidas de petróleo. Hoje, após o encontro Rio +10 os Estados Unidos alegam a necessidade de fazer nova guerra contra o Iraque em nome da defesa da democracia e da proteção contra a produção de armas químicas e nucleares.
2.3 – Algumas das causas
O individualismo e egoísmo, características da natureza humana não redimida, são agravados no mundo da pós-modernidade. Há uma crise generalizada de autoridades, valores éticos comprometedores e mesmo de valores absolutos. A outra pessoa interessa somente à medida que serve a meus próprios interesses.
Essa visão pós-moderna tomou forma concreta no sistema neoliberal da globalização. O Grupo dos 8 parece existir somente para garantir e aumentar os seus próprios privilégios. Coloca os tantos outros países, chamados “países em desenvolvimento”, numa situação de dependência, impedindo ou, no mínimo, dificultando que se unam entre si. Basta lembrar a dificuldade do Mercosul deslanchar e se defender contra as pressões dos países norteamericanos que tentam impor-lhes a Aliança do Livre Mercado das Américas – ALCA.
No mundo globalizado as diferenças culturais e religiosas tendem a ser niveladas ou mesmo ignoradas em função de uma monocultura que assume caráter religioso. Essas tendências globalizantes contribuem para o desarraigamento, isolamento e alienação do ser humano individualmente e, ao mesmo tempo, agrava a marginalização e exclusão de grupos e povos.
As reações a tais violências, mais ou menos camufladas, variam entre acomodação, resignação, perda de sentido e identidade, por um lado, e desesperada resistência, lançando mão de meios violentos como assalto e terrorismo.
Dessa maneira criam-se novos “inimigos” a serem combatidos em nome de ideais supostamente religiosos, culturais, democráticos. “Que é isso, meu Deus?” dá para lamentar. Aparentemente estamos envolvidos num verdadeiro círculo vicioso.
Contudo, não precisamos desesperar. Há esperança! Dela falaremos agora.
3 – O trino Deus vem, vê, ouve, cura e salva
O lema bíblico de Ap 21.4 já nos lembrou do fato de que o sofrimento não passa despercebido diante do trino Deus. Ele o vê, ouve o clamor e percebe o gemido. Ele liberta, cura e salva no sentido mais amplo. Eis alguns aspectos de sua ação libertadora.
3.1 – Ele veio para salvar
Desde a aliança que Deus fez com Noé (Gn 8. 21s. e 9.1-19) há esperança para este mundo que é de Deus. Não que as pessoas tivessem melhorado, pois “é mau o desígnio do homem (= ser humano) desde a sua mocidade” (Gn 8.21), mas única e exclusivamente por Deus mesmo se ter comprometido em preservar as condições de vida (8.22) e não mais permitir que a terra seja destruída por dilúvio (9.11). Como sinal visível desta sua aliança colocou o arco-iris, que há de lembrar o próprio Deus de sua fidelidade.
Contudo, é verdade que Jesus fala do fim do mundo (p. ex. Mc 13 e paralelos). O próprio Apocalipse fala do fim deste mundo. A intenção é anunciar juízo sobre os poderes promotores de injustiça e morte (Ap 18). Ao mesmo tempo, aponta para os novos céus e a nova terra, nos quais habitará justiça que Deu mesmo há de criar em definitivo e em plenitude (p. ex. 2 Pe 3.13; Ap 21 e 22). Essa perspectiva tem dado, como já frisamos, consolo para os que sofrem, força para resistir e agüentar.
Entre os primeiros testemunhos de Gênesis e os últimos de Apocalipse, cuja redação abarca um período de aproximadamente 1000 anos, temos inúmeros exemplos da vinda salvífica de Deus. Um dos mais abrangentes e marcantes é a história do Êxodo. Ele é protótipo da libertação da Babilônia e da vinda de Jesus. Identificamos apenas alguns aspectos que caracterizam a obra salvífica:
Deus viu o sofrimento de seu povo escravizado e explorado. Ouviu seu clamor por libertação (Êx 3.7). Deus age através de Moisés, encarnando na realidade humana. Utiliza-se de recursos humanos e naturais para proceder a libertação. Sua ação é juízo para os escravizadores e graça para os escravizados. Esta graça é imerecida. Isso é evidenciado pelo sacrifício pascal na noite do êxodo, na passagem pelo mar e pelo deserto bem como pela tomada da terra. Deus é quem liberta, alimenta, sustenta e concede terra para morar, plantar, colher e viver. Dá os mandamentos para assegurar o convívio das pessoas com Deus e entre si e para não recair em escravidão.
Assim sendo, a libertação abarca dimensões espirituais, físicas, materiais, sociais e políticas, tem caráter integral. É um protótipo da salvação.
Contudo, não é definitiva! A realidade de desobediência, de injustiça, doença e morte ainda existe. Por isso, houve novas desgraças causadas pela idolatria que levou a novos cativeiros como o da Assíria e da Babilônia. Mas também ali Deus se manifestou como libertador, utilizando-se de circunstâncias políticas e de pessoas, mesmo pagãs como Ciro. Através de profetas como Neemias reanimou o povo a organizar-se na reconstrução da cidade e do templo destruídos.
Também esta libertação foi provisória, pois o povo novamente se afastou dos preceitos de Deus e caiu em desgraça e infortúnio. Deus não viu outra maneira do que vir mesmo em Jesus de Nazaré. Em sua vinda e vida transpareceram sinais concretos da nova vida em comunhão com Deus e as pessoas. Ficou experimentável o Deus que acolhe, justifica e salva a quem não merece nem pode pagar. Na morte e ressurreição de Jesus se revelou o Deus que se doa e sacrifica até a última conseqüência. Na ressurreição de Jesus acontece o juízo sobre o poder da morte. Na ascensão Jesus toma posse de seu poder, prepara-nos lugar e intercede por nós. Quando, no final dos tempos, voltar em majestade e glória, eliminará em definitivo o poder da morte com todas as suas manifestações (1 Co 15.26) e ressuscitará, com novo corpo imortal, para a vida eterna todos que nele tinham crido.
3.2 – Ele cria a nova comunhão
Então o veremos de face a face e o louvaremos sem fim. Deus será tudo em todos (1 Co 15.28). Então estaremos “em casa” (Jo 14.2) daquele que nos amou, ama e amará eternamente como boa mãe e bom pai, que nos criou e recriou. Ele terá enxugado de nossos olhos a última lágrima. Não mais haverá necessidade alguma nem motivo algum para novamente chorar. Pois não mais haverá lembrança das coisas passadas.
“Edificarão casas e, e nelas habitarão;
plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. …
Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a calamidade. …
O lobo e o cordeiro pastarão juntos ...” (Is 65.21, 23, 25).
Toda pessoa terá o seu pão de cada dia. Lugar para morar, trabalhar, estudar e viver. Sente-se útil e valorizada pelo que é e faz em favor do outro. Concede lugar e vez ao outro e assume seu papel devido no meio-ambiente. Haverá comunhão perfeita com Deus, uns com os outros e harmonia em toda a criação. Eterna alegria e gratidão servirão de motivo para o louvor e a adoração a Deus.
3.3 – Ele terá a última palavra
Desde Pentecostes o Espírito Santo nos concede a firme convicção de que Cristo terá a última palavra. Através da fé ele nos une em comunidade e igreja. Nela nos mantém e faz viver até o fim bem-aventurado. Liberta-nos para lhe servir com nosso tempo, nossos dons, talentos, bens e nosso dinheiro. Nela nos mantém até o fim bem-aventurado. Estamos a caminho entre Pentecostes e sua segunda vinda. Somos norteados pelo alvo que ilumina nosso caminho por mais escuro que às vezes possa ser. O poeta Jochen Klepper descreve este mistério no hino “A noite está findando”:
“As trevas já se rendem. Eis o que aconteceu:
Os laços que vos prendem o próprio Deus rompeu!
De abismos insondáveis, de desespero e dor,
de angústias incontáveis remiu-vos o Senhor.
Ainda há de tocar-vos da noite a escuridão.
Mas tendes, a guiar-vos, a estrela do perdão.
Por ela iluminados, as trevas enfrentais,
seguindo, confiados, o brilho que avistais.” (HPD 3.3 e 4)
4 – O trino Deus coloca sinais em meio a seu povo e através dele
Ao longo desta caminhada do novo povo universal de Deus o Espírito Santo faz surgir sinais concretos desta nova vida. É caracterizada pela comunhão com Deus, a de uns com os outros em solidariedade e partilha e a das pessoas em harmonia com toda a criação. Ele faz surgir sinais que são motivados e originados pelo alvo e para ele apontam. São tão somente sinais. Não devem ser confundidos com o sinalizado. Ainda não são aquela vida eterna, mas para ela transcendem. Deus os faz surgir em nosso meio, dentro da igreja e fora dela. Usa para tanto pessoas e outros recursos naturais. Envolve a nós, pessoas cristãs e não-cristãs, órgãos governamentais e não-governamentais, conforme já explicado no objetivo geral do PAMI, p. 1.
4.1 – Liberta da acomodação no estado de coisas
O Espírito Santo faz com que não nos deixemos conformar com o estado de coisas. Muito antes, por causa das manifestações da bondosa misericórdia de Deus, já reveladas e ainda por serem reveladas, nos livra de todas as forças de acomodação, inércia e resignação. A esperança não nos deixa ficar desesperados nem cruzar os braços para esperar que as coisas aconteçam naquele dia no futuro. Do mesmo modo nos conscientiza do fato de que não somos nós que devemos ou podemos criar, com as próprias mãos, os novos céus e a nova terra nos quais habita justiça. Guarda-nos, assim, de resignação fatalista, de acomodação bem como de manipulação e tirania. Concede-nos a consciência de sermos instrumentos em suas mãos para que ele, já hoje, faça surgir sinais daquela nova vida.
4.2 – Transforma a vida do dia-a-dia em culto a Deus
Por meio de sua palavra, seus sacramentos e da comunhão ele nos serve para que lhe sirvamos com toda nossa vida. Vivemos com olhar erguido em sua direção e partilhamos, de maneira solidária, com as pessoas que nos cercam e o ambiente em que vivemos. Desse modo, nosso dia-a-dia com seu trabalho, estudo e lazer é dedicado a ele, torna-se serviço a ele, é responsabilizado diante dele, torna-se resposta grata ao serviço que ele nos prestou, presta e ainda vai prestar. Reunidos no culto, aceitamos o serviço de Deus em nosso favor para que a nossa vida do dia-a-dia se torne um culto agradável a Deus (cf. Rm 12.1 e 2).
4.3 – Cria sinais de libertação, cura e salvação
Assim o Espírito Santo nos faz viver do amor de Deus – para que amemos uns aos outros. A título de exemplificação vejamos como esse amor pode tomar forma concreta.
Já que Deus …
• nos acolhe, acolhamos o que é excluído e marginalizado;
• nos certifica de seu perdão, perdoemos uns aos outros – não só duas nem só sete vezes, mas sempre quando necessário;
• nos justifica por graça mediante a fé, ensaiemos gratuidade socorrendo ao necessitado, principalmente aquele que não tem como retribuir ou pagar;
• se doa a nós de maneira incondicional, pratiquemos a partilha solidária com comunidades carentes em formação ou com outro desafio de parceria missionária, seja em nível nacional ou no exterior;
• nos faz perceber que ele tem mil maneiras de salvar e que dignifica toda pessoa de boa vontade como instrumento seu, valorizemos todo trabalho honesto em escola, profissão e política;
• nos conscientiza de que o nosso reconhecer da verdade é apenas em parte (cf. 1 Co 13.9), saibamos ser humildes e abertos para posturas diferentes de fé, na própria igreja, em outras igrejas e religiões não-cristãs. Valorizemos a própria identidade confessional sem absolutizá-la. Muito antes, estejamos abertos para entender outros e cultivar com eles um diálogo eclesiástico, ecumênico ou interreligioso;
• nos faz perceber que o amor é a força mais convicente e transformadora, empenhemo-nos por desarmamento, rejeitando todo e qualquer tipo de violência e terrorismo. Por isso refutemos a ideologia da assim chamada “guerra justa” ou inevitável para alcançar determinado objetivo por mais nobre que seja.
5 – Estímulos para o trabalho com o cartaz
O cartaz se presta a ser colocado em lugar visível no centro comunitário, no templo, na sala de grupo. Convém iniciar as atividades do ano com um primeiro estudo sobre o cartaz. Ele pode ser distribuído também em forma de calendário de bolso.
Após a acolhida e a integração do grupo, seguem breves informações sobre a finalidade de um tema e lema de ano, a ser estudado em toda a IECLB, ao longo do ano. Lembra-se que, dessa maneira, se estabelece um forte elo de ligação entre as comunidades de norte a sul e de leste a oeste. Experimentamos um forte elemento de identificação como grande família.
1ª fase: Formar círculos de grupos de 6 – 10 pessoas, colocando no meio um ou melhor três cartazes; ou três pessoas, do jeito como estão sentadas no banco, com calendário de bolso na mão, compartilham brevemente sobre: O que me chama atenção? O que não estou entendendo?
2ª fase: Recolher impressões e dúvidas, fixando-as em quadro ou papel pardo na parede. Valorizar e aproveitar as manifestações. Sistematizar e aprofundar.
3ª fase: Novo trabalho de grupo sobre: a) Onde percebemos lágrimas em nossa comunidade e cidade/ vila, nosso sínodo e nossa IECLB e quais são as suas possíveis causas? b) Como podemos ajudar a secar essas lágrimas? Anotem ou desenhem as respostas em papel pardo ou apresentem uma breve encenação.
4ª fase: Grupos apresentam suas conclusões, fixando-as na parede ou apresentando a encenação. Valorizar, sistematizar e estabelecer duas ou no máximo três prioridades, a serem abraçadas durante um período pré-estabelecido.
6 – Materiais alusivos ao tema e lema
• cartaz sobre o tema e o lema da IECLB 2003. Ele poderá ser enviado também via correio eletrônico;
• outdoor sobre o cartaz a ser colocado em eventos de massa, na entrada do pátio da igreja, na entrada da cidade junto à placa indicativa de local e horário de culto;
• calendário de bolso com mini-reprodução do cartaz;
• adesivo;
• caderno de estudos a ser elaborado em mutirão;
Huberto Kirchheim
Pastor Presidente
Porto Alegre, em 26 de setembro de 2002