O Homem — Um Entusiasta? A atualidade do tema Lutero e os entusiastas
Joachim Fischer
Como Lutero vê o homem? A partir da nossa tradição estamos acostumados a responder: Ele vê o homem como pecador, por natureza inclinado a fazer o mal, incapaz de reconhecer a Deus como seu Senhor, por isso também incapaz de realmente confiar e crer em Deus, como diz o 2o. artigo da Confissão de Augsburgo, a confissão de fé básica dos luteranos (1). O próprio Lutero descreveu seu cativeiro como pecador num de seus hinos da seguinte maneira:
Fui prisioneiro de Satã,
a noite me envolvia
A minha vida, triste e vã,
nas trevas se esvaia
Abismo horrível me tragou,
o mal de mim se apoderou,
fui preso no pecado (2).
Do mesmo abismo que separa o pecador de Deus, fala também Leonardo Boff em sua ¨Teologia do Cativeiro e da Libertação¨ (3) afirmando: ¨O mal consiste em estar separado de Deus, em não ser Deus, em ser criatura, em viver, portanto, a ausência de Deus.¨
O homem, porém, não está totalmente sem esperança. Há para ele, dentro de seu cativeiro, a perspectiva da libertação. O pecador não apenas precisa da justificação pela fé. Não apenas anseia pela justificação. Também é capaz de ser justificado por Deus, ou melhor, conforme Lutero: Deus é capaz de justificá-lo, rompendo o cativeiro em que se encontra. Lutero apontou a esse poder libertador de Deus num outro de seus hinos:
Se mil pecados em nós há,
em Deus há mais piedade,
e sua mão ajudará
em trevas, dor, maldade.
Só Ele é nosso bom pastor
que salvará, por seu amor,
seu povo dos pecados. (4)
Quem encontrar esse Deus, quem aceitar Cristo, pela fé, como seu Senhor e Salvador, vive então como pecador justificado (simul iustus et peccator). Libertado pela fé, vive para seu próximo pelo amor (5).
Em sua teologia Lutero elaborou esta imagem do homem com todos os detalhes. Sempre de novo destacou os aspectos que tentei resumir em poucas palavras. Em determinadas situações, porém, abordou a antropologia sob um outro aspecto. É um aspecto pouco pesquisado sistematicamente e pouco conhecido, mas não menos importante do que a imagem do pecador justificado. Lutero, nos assim chamados Artigos de Esmalcada, que redigiu em fins de 1536 e no início de 1537 e que pertencem aos escritos confessionais luteranos, afirmou: ¨O entusiasmo está anichado em Adão e seus filhos desde o princípio até o fim do mundo. E-lhes implantado e inoculado como veneno pelo antigo dragão, e é a origem, a torça e o poder de toda heresia.¨(6) O homem, portanto, que perde o contato com Deus, é por natureza um entusiasta, isto é, uma pessoa que passa por cima da realidade e por cima dos seus próximos.
A partir desse aspecto da antropologia de Lutero estabelece-se imediatamente a relação com a realidade brasileira. Pois o entusiasmo faz parte também da história e da situação atual do Brasil. Onde e como? Para responder a pergunta, começo com uma ressalva. Neste contexto não pretendo identificar os entusiastas com os pentecostais, como se poderia imaginar. Já o próprio Lutero falou conscientemente dos entusiastas, quando apontou para o perigo de uma atitude que em última análise destrói a vida do homem. Não falou dos espiritualistas. Provavelmente até teria sido muito difícil para ele delimitar-se de maneira clara e convincente contra os espiritualistas (ou ¨pentecostais¨) de sua época. Pois ele mesmo, principalmente no início de sua atividade pública, foi um espiritualista (7) que pôde afirmar, por exemplo, o seguinte: ¨Os cristãos autênticos não precisam nem do poder nem do direito secular…, porque têm em seu coração o Espírito Santo que os orienta e ,faz com que não façam mal a ninguém, amem a todos, estejam dispostos a sofrer injustiça e até a morte com alegria, seja de quem for¨ (8). Num outro lugar Lutero manifestou sua convicção de que os cristãos não precisam de uma ordem para seu culto e sua adoração externa, pois ¨têm seu culto e sua adoração a Deus no Espírito… Assim como um cristão como tal não precisa nem do batismo nem da palavra nem do sacramento (da Santa Ceia), porque já tem tudo.¨ (9) Naturalmente essas manifestações não representam todo o pensamento de Lutero. Sobretudo devemo-nos lembrar que para Lutero o cristão nesta vida não chega à perfeição. Está a caminho da perfeição. No caminho ele é um discípulo da palavra de Deus e do Espírito Santo. Lutero mesmo confessa, num dos prefácios ao Catecismo Maior, que nem de longe pensa ¨já saber tudo¨. Ao contrário: ¨Eu também sou doutor e pregador, … erudito e experimentado… Não obstante, faço como uma criança a que se ensina o Catecismo: de manhã, e quando quer que tenha tempo, leio e profiro, palavra por palavra, o Pai-Nosso, os Dez Mandamentos, o Credo, alguns Salmos, etc. Tenho de continuar diariamente a ler e estudar e ainda assim não me saio como quisera e devo permanecer criança e aluno do Catecismo¨(10). Mas a aprendizagem do catecismo não é um fim em si. No exercício diário do catecismo, no ¨ler, recitar e meditar¨, ¨o Espírito Santo está presente¨, e concede luz e devoção sempre nova e mais abundante de tal forma, que a coisa de dia em dia melhora em sabor e é recebida com apreço cada vez maior (11). Lidero vê o cristão como chamado, iluminado, santificado e conservado pelo Espírito Santo na verdadeira fé, juntamente com toda a cristandade na terra, como reza sua explicação do 39 artigo do Credo Apostólico (12). Neste sentido podemos falar do espiritualismo ou da espiritualidade de Lutero. Portanto, suas palavras contra o entusiasmo não se dirigem contra os espiritualistas ou pentecostais nem de sua, nem de nossa época.
Voltamos à nossa pergunta. Se não podemos identificar o entusiasmo com o pentecostalismo, em que lugar, então, encontramos esse fenômeno na realidade brasileira? Quem me abriu os olhos para essa dimensão do passado e do presente do Brasil, foi Eduardo Hoornaert com seu livro ¨Formação do Catolicismo Brasileiro 1550 — 1800¨ (13). Esse historiador católico distingue três ou quatro ¨catolicismos¨ ou sincretismos católicos que se formaram ao longo da história do Brasil Colonial, a saber, os ¨catolicismos¨ guerreiro, patriarcal, mineiro e popular. Um representante do catolicismo guerreiro ou catolicismo dos conquistadores portugueses foi, no século XVII, o jesuíta Antônio Vieira. A ele Hoornaert atribui uma ¨visão messiânica e entusiasta¨ da história, do mundo e da missão da própria Igreja (14). O entusiasmo sem dúvida alguma foi um dos motivos mais fortes para as viagens dos conquistadores. Também ajudou os conquistadores a suportarem os enormes sacrifícios decorrentes de seus empreendimentos. Por outro lado, porém, conforme Hoornaert, o entusiasmo ¨não possibilitava nenhum diálogo com a religião vivida pelo povo e com as aspirações populares de libertação¨. Neste sentido o entusiasmo não foi apenas a ¨grande tragédia da igreja no Brasil dos séculos 16 a 18¨. Continua também sendo tal tragédia ¨até hoje¨ (15). Ainda faltam estudos mais detalhados sobre esse assunto. O próprio Hoornaert observa numa nota de rodapé que ¨seria interessante pesquisar a influência do entusiasmo sobre a igreja no Brasil¨, como já foi pesquisado sua influência sobre protestantismo dos séculos XVII e XVIII (16). Mas dá pelo menos uma pista no que diz respeito à persistência do entusiasmo do catolicismo guerreiro hoje em dia. Conforme esta concepção, o entusiasmo é, ao lado do medo, um elemento muito importante para manter a sociedade. Textualmente Hoornaert diz: ¨Em primeiro lugar é preciso entusiasmar. O povo precisa ‘vibrar’. O que importa não é tanto o símbolo que suscita a animação popular. Este símbolo pode ser religioso no sentido clássico: triunfos eucarísticos. procissões. festas, sermões; ou no sentido atualmente em vigor: competições desportivas, futebol… Importante mesmo é o entusiasmo das massas que opera como derivativo dos verdadeiros problemas da vida humana… Esta captação do entusiasmo popular constitui uma das formas atuais de abuso de poder que o cristão não pode aceitar.¨(17)
Eis o entusiasmo e sua função na realidade brasileira. Por isso, a meu ver, vale a pena ocupar-se com o tema Lutero e os entusiastas. Mais ainda: é altamente necessário para compreendermos melhor o que é o entusiasmo e para encontrarmos um posicionamento evangélico frente aquilo e em meio aquilo que Hoornaert caracteriza como uma tragédia. Não quero afirmar com isso que em Lutero possamos encontrar todas as respostas às perguntas que o entusiasmo levanta. O fato de nós nos chamarmos de Luteranos — contra a vontade do reformador. como ouvimos — não nos dispensa -de esforços teológicos próprios. Também não resolveremos o problema do entusiasmo simplesmente justificando ou combatendo Lutero em seu posicionamento frente aos entusiastas de sua época Mas acho que da luta de Lutero com os entusiastas podemos aprender algo para nossa própria compreensão do Evangelho E como na Europa já há estudos sobre Lutero e Tomás de Aquino dialogando (18), um assunto certamente muito importante para as igrejas e os cristãos e teólogos de lá, o presente estudo talvez possa contribuir para abrir um diálogo entre Lutero e Antônio Vieira, um assunto muito importante para nós.
Vou começar com algumas observações históricas sobre a situação em que o problema do entusiasmo exigiu um posicionamento de Lutero. Como é do conhecimento de todos. a Reforma Evangélica do século XVI foi um movimento muito amplo, com fortes bases populares. Depois de uma primeira fase, de evolução bastante espontânea e não dirigida, começaram a delinear-se mais claramente. dentro do movimento da reforma, diversas correntes. Ao lado de Lutero surgiram outros lideres importantes. com características próprias, como Ulrico Zwinglio, o reformador da Igreja na Suíça alemã, e João Calvino, o reformador da Igreja em Genebra. A partir da atividade desses: três homens formaram-se Igrejas luteranas, zwinglianas e calvinistas. Na maioria dos casos foram Igrejas oficiais, isto é, oficialmente reconhecidas em seu respectivo território ou país. Em meados do século XVI, o zwinglianismo e o calvinismo uniram-se na Suíça. Desde aquela época, quando se fala da Reforma do século XVI no continente europeu, pensa-se logo em seus dois ramos principais, a saber, o luteranismo e o calvinismo.
Mas a Reforma foi mais ampla ainda. Houve correntes e grupos que nunca chegaram a ser oficialmente reconhecidos num território ou país. Ao contrário, quase sempre tinham que viver marginalizados, combatidos e oprimidos tanto por católico-romanos como por evangélicos ¨oficiais¨ (luteranos, zwinglianos e calvinistas). Não poucos tiveram sua cidadania cassada, foram banidos ou até executados como elementos que, como se acreditava, tentaram subverter a ordem política e social existente. Com poucas exceções não se lhes concedeu anistia, nem sequer anistia restrita. Neste assunto a Igreja Católica Romana tomou a posição mais inflexível. Zwinglio e, mais tarde, Calvino também foram bastante duros. Lutero foi o mais moderado entre os grandes líderes, mas igualmente não pensou em reconhecimento ou tolerância em relação àqueles grupos não-oficiais da Reforma.
Lutero conheceu tais grupos primeiramente entre os adeptos de duas pessoas que, em certo sentido, podem ser consideradas como seus companheiros. Foram eles seu colega André Karlstadt, da Universidade de Wittenberg, e Tomás Müntzer, que recomendara como pastor aos dirigentes de uma cidade da Saxônia. Chamou-os de entusiastas ou, em alemão, de ¨Schwärmer¨. Esta palavra designa originalmente as abelhas de um enxame que abandonam sua colmeia para procurar outro lugar. Como se sabe, o comportamento das abelhas nessa fase difere bastante do comportamento de abelhas que procuram mel. Geralmente ficam juntas, passam em vôo rasante, estão muito irritadas e sempre dispostas a atacar. Parece que Lutero foi o primeiro que usou esta imagem para caracterizar o comportamento religioso de certas pessoas ou grupos, como Karlstadt e Müntzer e seus respectivos adeptos. São, para ele, pessoas com espírito irrequieto e agressivo, pessoas com consciên-cias e pensamentos confusos que confundem a consciência e o pensamento dos outros (19). Aplicou a palavra com seu conteúdo negativo a outros grupos e outras pessoas. A rigor, Schwärmer” ou entusiastas foram para ele todos aqueles que não aceitam nem pregam o Evangelho puro. Por isso aparecem em sua lista de entusiastas pessoas e grupos tão diferentes como o papa, os católicos em geral e Zwínglio, além de Karlstadt e Müntzer (20).
Devido à grande autoridade de Lutero, os luteranos transmitiram sua sentença negativa sobre os entusiastas de geração em geração, assim como conservaram também sua delimitação clara contra a Igreja Católica Romaria. A Confissão de Augsburgo, nossa confissão básica, rejeita e condena em vários lugares expressamente pelo menos um dos grupos que Lutero caracterizou como entusiastas, a saber, os anabatistas (21). Também essa definição confessional contribui para impedir um estudo mais imparcial dos entusiastas. Esses simplesmente foram considerados como inimigos do Evangelho de Cristo que distorceram a Boa Nova da graça e misericórdia de Deus. Pois os entusiastas foram vistos durante muito tempo com os olhos de Lutero e da primeira geração da Reforma, com os olhos daqueles que tinham que lutar com aquelas correntes e que, engajados na luta, muitas vezes se esqueceram de que os entusiastas eventualmente poderiam ser ainda seus irmãos — não no que diz respeito ao seu entusiasmo, mas sim, em outros sentidos. É verdade o que afirma Otto Weber: diante dos assim chamados ¨Schwärmer¨ ou entusiastas, os pais da Reforma, não agiram como irmãos, e sim, como juízes: isso certamente implica em culpa (22). Já há algum tempo, também o luteranismo abriu-se para um estudo mais justo e imparcial dos entusiastas, um estudo que se iniciara fora do. luteranismo. Reconhece-se que a caracterização daqueles grupos da Reforma como Schwärmer ou entusiastas é pouco feliz, insuficiente e imprecisa (23). Na tentativa de fazer jus a esses grupos procurou-se uma outra palavra para designar todos os adeptos da Reforma Evangélica do século XVI no continente europeu que não eram nem luteranos, nem zwinglianos, nem calvinistas. Assim sugeriu-se o nome “Reforma radical¨ (24). Os adeptos ¨radicais¨ da Reforma teriam lutado por mudanças e transformações ¨radicais¨, isto é, realmente profundas, não apenas por reformas tão moderadas como as propostas pelos reformadores clássicos. O elemento mais radical e característica principal de toda .a Reforma radical teria sido a concepção de uma Igreja (ou Igrejas) por princípio separada do Estado (25). Mas o conceito não é tão bom como parece. Por um lado, um teólogo radical como Tomás Müntzer apelou inicialmente às autoridades civis para realizar seus planos de um Reino de Deus nesta terra: a espada (o poder secular) é o meio para aniquilar ateus, conforme Romanos 13; isso é o que devem fazer ¨nossos caros pais, os príncipes… que confessam Cristo juntamente conosco¨ (26); portanto, nem sempre os radicais queriam realmente separar igreja e Estado. Por outro lado também Lutero foi radical, sob determinados aspectos. Foi o mais radical de todos em sua crítica à Igreja institucionalizada de sua época e um dos mais radicais no que se refere ao trabalho teológico (27).
Uma outra proposta é denominar todos os adeptos da Reforma que não seguiram os caminhos de Lutero, Zwinglio Calvino, respectivamente, de ¨ala esquerda da Reforma¨ (28). Dentro da ala esquerda distinguem-se várias correntes, a saber, os batistas (ou anabatistas), os espiritualistas, os ¨Schwärmer¨ ou entusiastas propriamente ditos e os antitrinitários. A imagem foi tirada da vida política, na qual como esquerdistas geralmente são considerados aqueles que estão mais dispostos a romper com a tradição, com o status quo para conseguir uma renovação ou mudança. Mas a sugestão não foi muito bem aceita. Também é interessante observar que as pessoas e os grupos que aqui são caracterizados como esquerda, para Lutero mesmo foram a ala direita, porque na esquerda ele viu os católicos (29), como disse uma vez, por exemplo, numa de suas ¨Conversas à Mesa¨: “O diabo não quer que caminhemos no caminho do meio: em todos os lugares ele nos desvia do caminho certo, à esquerda pelo epicurismo. à direita pelo entusiasmo e gênio extremamente piedoso” (30). Assim a simples evolução histórica transforma quase automaticamente direitistas em esquerdistas e vice-versa. Por isso também a expressão aia esquerda não é a mais adequada neste contexto,
Concluídas assim as observações históricas sobre o posicionamento de Lutero frente ao problema do entusiasmo passo a abordar a natureza desse fenômeno. Para Lutero, a meu ver, o entusiasmo é uma possibilidade de viver, de pensar, de se comportar e de agir, que existe em todos os tempos e para todas as pessoas. É uma tentação e um perigo permanente para a pessoa humana individualmente e para a sociedade bem como para a igreja. Sim, a qualquer momento podemos tornar-nos entusiastas, Por quê? Em última análise, porque o entusiasta está presente em nós, talvez dormindo, mas capaz de ser acordado a qualquer momento por poderes destrutivos que se querem apoderar de nós.
Como se manifesta o entusiasmo? Em geral como distorção da vida, distorção esta cuja consequência última é a destruição da vida. Para descrever as manifestações do entusiasmo mais detalhadamente, basear-me-ei naquilo que podemos deduzir da polêmica entre Lutero e os entusiastas de sua época e naquilo que sabemos sobre a influência do entusiasmo sobre a história do Brasil.
1. Lutero iniciou sua atividade pública propondo a reforma da igreja, a restauração da verdadeira Igreja. da Igreja do Evangelho Sua pregação e seus escritos, portanto, visaram ações concretas. Em Wittenberg, seu colega Karlstadt começou a agir, quando Lutero estava ausente, escondido no castelo Wartburg para não ser atingido peio banimento que o imperador decretara. Lutero concordou com a convicção de Karlstadt de que reformas práticas eram necessárias. Também concordou, em tese. com o conteúdo das reformas realizadas por Karlstadt. Mas discordou do entusiasmo de Karlstadt na fundamentação teológica das reformas e no procedimento quanto à renovação da Igreja. Karlstadt viu o cristão muito mais do que Lutero como uma pessoa que vive sob a lei: a fé tem que trazer frutos visíveis; a pregação tem que levar rapidamente a reformas concretas. Não tinha paciência: ¨A liberdade (evangélica) não pode ficar por muito tempo sem sua própria obra.¨ (31) Mas rejeitou o uso da violência para chegar a uma Igreja renovada. Distanciou-se expressamente de um outro radicai que estava bastante fascinado pela violência, Tomás Müntzer. Até admoestou Müntzer a desistir do uso da violência para confiar unicamente em Deus (32). Neste ponto Karlstadt não foi entusiasta. Não foi justo que Lutero não enxergou essa diferença, qualificando ambos, indistintamente, como entusiastas. A crítica de Lutero procede, no entanto, num outro ponto. Karlstadt afirmou que um número bastante grande de leis do Antigo Testamento vale também para os cristãos. Mas não tinha critérios teológicos claros para explicar que leis e por que elas valem para os cristãos. (33) Nisso manifestou-se o entusiasmo de Karlstadt. Chego, pois, à conclusão de que o entusiasmo se manifesta como incerteza teológica e na forma de afirmações teológicas arbitrárias, isto é, não suficientemente fundamentadas.
2. Outra diferença entre Lutero e Karlstadt referiu-se à atitude a ser tomada, na renovação da Igreja, em relação aos irmãos fracos que ainda não chegaram à madureza da fé do reformador. Já disse que Karlstadt era impaciente em suas reformas. Seu motivo era teológico. Quando se trata da vontade de Deus e de seu cumprimento, a consideração dos fracos na fé pode significar traição ao Evangelho. Certamente seu princípio foi bom: ¨Em assuntos que dizem respeito a Deus, vocês não devem tomar em consideração o que a grande massa fala ou como eia se posiciona; devem respeitar unicamente a palavra de Deus, pois a grande massa pode errar e fazer com que se erre¨ (34). Mas também dá o seguinte conselho: ¨Deveríamos tirar dos fracos tais coisas prejudiciais e arrancá-las de suas mãos, não nos incomodando se eles choram, gritam ou amaldiçoam por causa disso. Chegará o tempo em que nos agradecerão os que agora nos amaldiçoam e nos anatematizam. Aquele que quebra sua vontade com força, demonstraria aos bobos o melhor e autêntico amor fraternal. Quero comprovar-te isso através de uma comparação… Se observo que uma criança pequena. que ainda não sabe falar, segura em sua mão uma faca pontiaguda e afiada, querendo ficar com eia — eu demonstraria a essa criança amor fraternal se eu a deixasse ficar com a faca prejudicial e com sua vontade, de modo que se poderia ferir ou matar? Ou eu lhe demonstraria meu amor fraternal, quebrando sua vontade e tirando-lhe a faca? Deves admitir que fazes uma obra cristã paternal ou fraternal tirando da criança o que a prejudica.” (35) Isso é entusiasmo? Neste caso o entusiasmo manifesta-se como a atitude e disposição de, na certeza de ter reconhecido a verdade do Evangelho e a vontade de Deus, passar por cima do próximo, de obrigá-lo a aceitar o que, conforme minha convicção, é para o seu bem, mas que ele ainda não pode enxergar como algo bom. Isso significaria que na vida da fé uma minoria poderia dominar a maioria. A meu ver Lutero criticou com razão essa manifestação do entusiasmo. Na comunidade cristã não há lugar para agir precipitado que passa por cima do próximo. A orientação que Lutero dá, é a seguinte: ¨Deixa tua boca ser uma boca do Espírito de Cristo… Promove e ajuda a promover o santo Evangelho; ensina, fala, escreve e prega que leis humanas não são nada. Impede que alguém se torne padre, monge, freira. Aconselha aqueles que são padres, monges e freiras, que deixem de sê-lo. Não dá mais dinheiro para bulas, velas, sinos, imagens e templos. Diz que uma vida cristã consiste em fé e amor. Vamos fazer isso ainda durante dois anos e verás onde ficarão papa, bispos, cardeais, padres, monges, freiras, sinos, torres, missas, vigílias, batinas, barretes, tonsuras, regras, estatutos e todo o torvelinho e bicharia do regime papal… Que acontecerá se tal boca de Cristo debulhar com seu Espírito ainda por dois anos?¨ (36) A citação deixa transparecer claramente tanto o espiritualismo como a paciência de Lutero.
Também não devemos esquecer que o reformador de Wittenberg sempre distingue lei e Evangelho. Ele não proclama princípios e age conforme princípios que valem indistintamente em todos os lugares e para todas as pessoas. Justamente a distinção entre lei e Evangelho permite-lhe ver as pessoas com suas respectivas particularidades e dentro de sua respectiva situação. Desta maneira ele lida com pessoas diferentes de maneira diferente. um procedimento aparentemente inimaginável para os entusiastas. Basicamente Lutero conhece duas maneiras de promover o Evangelho. ¨Se quiseres promover o Evangelho de maneira cristã, tens que te conscientizai-quem é a pessoa com que falas… Por um lado há alguns obstinados que não querem ouvir. Além disso, ainda seduzem e envenenam outrem com seu focinho mentiroso… Com tais pessoas não deves ter a ver nada, e sim. deves comportar-te como diz a palavra de Cristo em Mateus 7 (v. 6): ‘Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés. e os cães, voltando-se, vos dilacerem Deixai-os ser cães e porcos. É um caso perdido… Mas se vires que tais mentirosos inoculam também outras pessoas com suas mentiras, e seu veneno. deves chocá-los a lutar contra eles com consciência tranquila… Não deves fazer isso por causa deles mesmos, pois não ouvem nada, e sim, por causa daqueles que são envenenados por eles… Por outro lado há alguns que antes não ouviram mais o Evangelho, mas poderiam aprendê-lo, se lhes fosse ensinado. Ou eles são tão fracos que têm dificuldade de compreendê-lo. Não se deve tomar tais pessoas de surpresa nem assaltá-las, e sim, deve-se instruí-las de maneira cordial e suave, explicando-lhes causas e motivos. Se não o compreenderem logo, deve-se ter paciência com elas durante algum tempo. (37) Os entusiastas em Wittenberg e em outros lugares queriam evangelizar seus contemporâneos à força. Mas para Lutero a única arma da evangelização, se podemos usar neste contexto a palavra arma, é a palavra: Quero pregar, falar, escrever. Mas não quero obrigar ninguém nem levar ninguém à força. Pois a fé quer ser aceita voluntariamente, sem obrigação e sem pressão ¨(38)
3. Justamente na questão da atitude em relação ao próximo, principalmente o irmão fraco, vejo semelhanças entre o entusiasmo do século XVI na Europa e o entusiasmo de um Antônio Vieira no século XVII no Brasil. Também neste último caso o entusiasmo impediu um diálogo autêntico entre conquistadores e missionários por um lado e o povo, o próximo por outro lado, como já observei. Também o entusiasmo dos conquistadores, ao qual Vieira dava expressão, passava por cima do próximo não o respeitando em sua situação diferente. Os conceitos básicos da concepção entusiasta da história e do mundo em Vieira à primeira vista parecem fazer parte de uma visão bem evangélica ou até libertadora. Conforme a análise de Hoornaert fala-se do Reino de Deus que está sendo estabelecido na América por obra da providência divina. Fala-se da liberdade dos índios e da redenção dos africanos e, finalmente, da salvação de todos, porque participam da conquista ativa ou passivamente(39). Mas uma pesquisa um pouco mais profunda mostra que esses conceitos se enquadram num entusiasmo que, como diz Hoornaert textualmente, ¨passa por cima de todas as contradições, todas as tragédias humanas…, todas as manifestações de egoísmo por parte da coroa portuguesa¨(40). A grande obra da evangelização justifica, para Vieira, o uso da força, do poder secular, talvez até da violência pura — e a consequente violação do próximo na pessoa do índio. ¨Nas outras terras¨, disse Vieira, ¨uns são ministros do evangelho e outros não: nas conquistas de Portugal todos são ministros do evangelho. Explica essa afirmação da seguinte maneira: Não são só apóstolos os missionários senão também os soldados e capitães: porque todos vão buscar gentios e trazê-los ao lume da fé e ao grêmio da igreja.¨(41) De maneira semelhante o mesmo entusiasmo permitiu, através da distinção entre corpo e alma, justificar a escravidão dos africanos. Seu corpo tinha que ser escravizado, para que sua alma pudesse ser salva. Ouçamos mais uma vez Vieira: ¨Já me persuado sem dúvida que o cativeiro da primeira transmigração (da África para o Brasil) é ordenado por sua misericórdia para a liberdade da segunda (no céu).¨(42) Assim o entusiasmo religioso contribuiu para estabelecer ¨uma sociedade não-fraternal¨ em que se passa por cima do outro, porque não se aceita nem se reconhece o outro como tal(43). Naturalmente Lutero não se manifestou diretamente sobre a evangelização do Brasil nem sobre a visão entusiasta de Vieira. Acho, no entanto, que se pôde perceber como certos aspectos do entusiasmo de Vieira se assemelham a certos aspectos do entusiasmo de Karlstadt. Por isso as críticas de Lutero contra Karlstadt em certo sentido valem também para o entusiasmo na história do Brasil. Podem servir como contribuição ou como ponto de partida para uma interpretação crítica da história da Igreja no Brasil. Neste sentido a mensagem de Lutar° para o Brasil pode ser resumida da seguinte maneira: O próprio Evangelho exige que na evangelização não se passe por cima do próximo. Exige que o próximo seja respeitado e considerado em sua alteridade e não em primeiro lugar como ¨objeto¨ do meu agir. O próximo merece nossa paciência. Sobretudo. No entanto, devem-lhe a palavra da verdade e da vida.
4. Deixo conscientemente de lado o problema do uso da violência física na criação de algo que é uma nova Igreja e uma nova sociedade ao mesmo tempo. Essa questão torna-se urgente principalmente guando se estuda Tomás Müntzer, a revolta dos camponeses e Lutero. Enquadrar-se-iam aqui o princípio de que ¨um ateu não tem direito à vida¨, defendido por Muntzer(44), as manifestações deste teólogo e pregador sobre a necessidade de ¨estrangular¨ os inimigos ¨sem qualquer piedade¨(45) e contra a ¨misericórdia amerdeada¨(46) bem como a explosão incontrolada de Lutero de que teria sido necessário abrir aos camponeses os ouvidos com granadas de modo que as cabeças saltassem ao ar(47).
Brevemente, porém, quero abordar ainda mais uma consequência do entusiasmo e sua raiz teológica. Uma consequência, a meu ver inevitável, do entusiasmo foi e é a concepção elitista de Igreja. Os próprios entusiastas sentem-se como uma elite, como pessoas especialmente eleitas por Deus e incumbidas com a tarefa de construir seu Reino, o Reino de Deus, aqui na terra. Sentem-se com exclusividade como ¨membros de Cristo¨ autênticos (Tomás Müntzer). Porque têm o Espírito Santo(48). Em alguns casos afirmam ter a tarefa de polemizar sem cessar e de suportar as lutas decorrentes disso(49). Müntzer, por exemplo, estava convicto, a partir de um determinado período de sua vida, de ser o servo dos eleitos de Deus (50), seu líder, capaz de distingui-los e separa-los dos ateus, e o profeta que tem que denunciar o ateísmo e que tem que anunciar o juízo e, finalmente, a ¨realização do domínio de Deus pelo domínio dos eleitos¨(51). Até há indícios de que na consciência profética de um ou outro entusiasta transpareceu o desejo de perecer na perseguição(52).
Que a convicção da eleição divina realmente é uma característica do entusiasmo em geral, é comprovado pelo fato de que encontramos a mesma convicção na visão entusiasta de Antônio Vieira, que era a visão dos conquistadores. Conforme Vieira ¨povo português é o povo eleito por Deus para estabelecer o seu reino neste mundo.¨ (53) Em última análise, Deus mesmo fundou o reino de Portugal: ¨Todos os reis são de Deus. mas os outros reis são de Deus feitos pelos homens: o rei de Portugal é de Deus e feito por Deus e por isso mais propriamente seu.¨ Devido à eleição, cace membro do povo eleito tem uma vocação especial: ¨Os outros homens por instituição divina têm só obrigação de ser católicos: o português tem obrigação de ser católico e de ser apostólico. Os outros cristãos têm obrigação de crer a fé: o português tem a obrigação de a crer e mais de a propagar.¨ Por isso Portugal é o ¨seminário¨ da fé, e ¨os portugueses são ‘anjos de Deus enviados aos gentios que o esperam’¨. Fica bem claro como o entusiasmo leva à distinção entre o grupo a que o próprio entusiasta pertence, e os outros. Atribui-se aos membros do próprio grupo ou até somente aos seus líderes terem reconhecido a verdade e a vontade de Deus muito melhor do que os outros ou serem os únicos que realmente conhecem a verdade e a vontade de Deus. No caso da conquista portuguesa sabe-se suficientemente que consequências tal entusiasmo e tal distinção tiveram para os índios e os africanos.
Voltemos a Lutero. Ele admite que há profetas chamados imediatamente por Deus, sem qualquer intervenção humana. Mas tais vocações são exceções, não a regra. como afirmam os entusiastas(54). As vezes ele mesmo se apresenta aos seus conterrâneos como seu profeta(55). Mas acontece raras vezes. A meu ver Lutero não tinha a consciência de um profeta que caracteriza o entusiasta. Geralmente entendeu-se como evangelista, isto é, como pregador da palavra de Deus, como mensageiro do Evangelho que naturalmente também tem que despertar as consciências das pessoas e adverti-las dos prejuízos e perigos que nesta vida ameaçam corpo e alma (56). Como evangelista de fato não mediu esforços para dirigir aos seus ouvintes e leitores também palavras duras de juízo. Mas rejeitou expressamente a distinção e separação entre cristãos chamados autênticos e cristãos chamados moderados ou tradicionais. Quando publicou sua proposta para a reestruturação do culto como culto evangélico, pensou por um momento na possibilidade de reunir os cristãos confessantes separadamente. A reunião que corresponde à verdadeira ordem evangélica, não deveria acontecer tão publicamente na praça no meio do povo, e sim, aqueles que querem ser cristãos de maneira autêntica e confessar o Evangelho com a mão e com a boca. deveriam inscrever-se nominalmente numa lista e reunir-se separadamente numa casa para orar, ler. batizar. receber o sacramento (da Santa Ceia) e fazer outras obras cristãs a para praticar também a disciplina eclesiástica, inclusive a excomunhão(57). Mas tais cultos e reuniões somente seriam realizados ao lado de dois outros tipos de culto, os cultos pedagógicos para a juventude e os cultos missionários-evangelísticos para o povo inteiro; portanto, não haveria separação e exclusividade. Além disso Lutero achou que ainda não teria chegado o tempo para introduzir tal prática. ¨Pois ainda não tenho as pessoas e a gente apta para isso. Também não vejo muitos que querem isso.¨(57a) Por isso desistiu de sua ideia no mesmo momento em que ela surgira. Não quer forçar a madureza dos cristãos. Isso levaria ao separatismo. Em outros lugares talvez houvesse pessoas com as quais se pudesse fazer isso. Mas na Alemanha, não. ¨Pois nós alemães somos um povo selvagem, rude, furioso com o qual não é fácil fazer alguma coisa, se não o exigir uma situação de extrema necessidade.¨(58) Talvez possamos dizer que os entusiastas foram e são heterocríticos, isto é, críticos em primeiro lugar em relação aos outros. Lutero, porém, foi também bastante autocritico. Por isso não se viu em condições de andar no caminho dos entusiastas, o caminho das rupturas, motins e separatismos.
Resumindo: os entusiastas querem uma Igreja fechada contra os de fora. Querem ficar entre si. Querem contato somente com os da própria linha. Muito significativa é a afirmação de Karlstadt: ¨Se não devo lançar a pérola ante os porcos (Mateus 7. 6), segue necessariamente que não devo considerar como meu próximo qualquer anima que tem pele humana e aparência de uma pessoa humana, e sim. (devo considerá-lo) como um porco. ao qual não devo fazer as obras boas que o próximo merece.¨ E orienta seus adeptos quanto ao seu comportamento: ¨Àqueles que não têm a doutrina de Cristo. não devemos dizer nenhuma palavra cordial, nem devemos cumprimentá-los, nem hospedá-los em nossa casa.¨(59) Para Lutero, se me permitirem usar a linguagem dele e da época dele, os homens não se dividem em porcos e não-porcos. Se queremos falar de porcos, deveríamos dizer que todos são porcos. Em outras palavras: se nos lembrarmos das consequências da tese de que nem todos que têm pele humana são nossos próximos, consequências estas manifestas na época da Reforma, na conquista da América Latina, nos campos de concentração de Hitler, no Arquipélago Gulag, etc., não podemos deixar de admitir que a crítica de Lutero ao entusiasmo procedeu e procede até hoje.
A Igreja dos entusiastas, conforme o exposto, é uma Igreja de voluntários que se filiam a ela conscientemente a partir de uma decisão. É uma Igreja de confessos, de cristãos ativos que se consideram a si mesmos como autênticos e que se mantêm afastados dos outros. Consequentemente, praticam em geral o batismo de pessoas conscientes e responsáveis, isto é, de adultos, ou mais precisamente, de pessoas que lá compreendem as coisas e que já se podem manifestar(60). Na prática, a Igreja de confessos foi estruturada pelos entusiastas de três maneiras diferentes.
a) Müntzer e os batistas da cidade de Münster, na Westfália, dez anos mais tarde, queriam eliminar os ateus. Sobreviveriam somente os cristãos autênticos. Assim ter-se-ia a Igreja dos confessos, que seria idêntica com a sociedade e o mundo. Não entro em detalhes desta concepção.
b) Karlstadt organiza a Igreja ou comunidade como comunhão no Espírito, separada e afastada do mundo, como comunidade que não tem nada a ver com o mundo que, consequentemente, também não assume responsabilidade ou co-responsabilidade social, política, econômica, etc. Toma uma atitude meramente passiva em relação ao mundo. Não age; sofre as coisas. Não podemos negar a seriedade desta vida comunitária. Mas podemos questionar seu princípio de não resistir ao mal. O que acontece com o mundo, se os cristãos não assumem cargos públicos? Ainda podemos imaginar um mundo e gostaríamos, talvez, de viver num mundo em que não se portam armas, não se participa na guerra, não se pagam nem se recebem juros, não se têm servos. não se entra nos tribunais com processos. não se jura(61). Mas parece que tal mundo somente é possível como mundo alternativo ao mundo ¨grande¨. O preço a ser pago é alto. É a retirada do mundo dos outros, o corte de relações com os que não considero como meus próximos, A posição de Lutero é outra. Encontramo-la de forma resumida no artigo XVI da Confissão de Augsburgo: ¨Da ordem política e do governo civil se ensina., que cristãos podem, sem pecado, ocupar o cargo de autoridade, de príncipe e de juiz, proferir sentença e julgar segundo as leis imperais…, punir malfeitores…, combater, comprar e vender. fazer juramentos requeridos, possuir propriedade, casar. etc… Pois o Evangelho.., ensina.., que cada qual, de acordo com sua vocação, mostre, em tais ordenações (governo civil, autoridades ou ordem matrimonial), amor cristão e obrar verdadeiramente boas¨(62). Segundo Lutero, pois, os cristãos não pretendem eliminar os que não concordam com eles nem se retiram de qualquer contato com eles. Livres pela fé, assumem sua responsabilidade dentro de seu mundo e pelo seu mundo, usando para isso sua razão (63).
c) Outros entusiastas, finalmente, tomam uma atitude que pode ser considerada como radicalização da atitude de Karlstadt. Estão convictos de serem eleitos por Deus. Mas experimentaram nas Igrejas existentes tantas decepções e frustrações que chegam à seguinte conclusão: é impossível reunir os eleitos de Deus, os verdadeiros cristãos, numa comunidade ou Igreja organizada. Os eleitos de Deus estão unidos espiritualmente numa Igreja invisível. Na vida prática cada um destes eleitos tem que andar o seu caminho. Eventualmente encontrará, de vez em quando, outro eleito. Então alegrar-se-á, mas não estabelecerá relações permanentes, porque isso contradiria a verdadeira natureza da fé. É o individualismo religioso cristão radical, sem quaisquer consequências práticas e sem sensibilidade para a responsabilidade social. Um e outro distanciou-se de Müntzer e dos camponeses revoltados com palavras peio menos tão duras quanto as de Lutero. Em certo sentido são arrogantes. (64) Fica claro que esse individualismo extremo não significa nada para a prática da igreja e da sociedade. O pensamento comunitário de Lutero, no entanto, realmente ajuda os cristãos a viverem na Igreja e na sociedade..
5. Finalmente, chego à questão da raiz do entusiasmo. Tomo como ponto de partida o que Lutero disse sobre o sacerdócio geral de todos os crentes. Lutero, derrubando a distinção qualitativa católica entre sacerdotes e leigos, proclamou que graças ao batismo todos os cristãos são sacerdotes(65). Isso quer dizer que todos têm acesso direto a Deus em Jesus Cristo. Ninguém precisa de intermediários entre ele e Deus. Por assim dizer, a fé abre a porta do céu. Cada um tem sua fé própria, uma fé responsável e insubstituível. ¨Todos nós¨, disse Lutero numa prédica de 1522, ¨temos que enfrentar a morte, e ninguém morrerá em lugar do outro, e sim, cada um lutará em pessoa para si com a morte. É verdade que poderíamos gritar-lhe nos ouvidos. Mas cada um tem que estar preparado em pessoa no momento de sua morte. Não estarei contigo, nem tu estarás comigo. Nisso cada um tem que saber bem, ele mesmo, os elementos principais que dizem respeito a um cristão…¨(66). Os entusiastas relacionaram essa fé pessoal, própria e insubstituível com a dádiva do Espírito Santo. Afirmam que cada cristão recebe o Espírito Santo pessoal e diretamente de Deus, sem intermediários, sejam eles pessoas ou outros meios, como p palavra da pregação, os sacramentos, etc. Ter o Espirito Santo é a prova de que alguém pertence a Cristo. ¨Cada eleito¨, diz Müntzer, ¨tem que ter sete vezes o Espírito Santo… Quem não sentir em si mesmo o Espírito de Cristo, sim, quem não o tiver com toda a certeza, não é um membro de Cristo.¨(67) O caminho para a fé é difícil e amargo; passa pela cruz como experiência própria de cada um(68). Sob a cruz, o mundo torna-se tedioso para o homem. Abre-se e limpa-se o ¨abismo da alma¨. Assim o homem torna-se sensível para Deus, capaz de receber a fé como ¨a coragem e a força para o impossível¨(69). A ¨chegada¨ da fé numa pessoa é sua unção com o Espírito Santo, o nascimento do Filho de Deus nela. A possibilidade da certeza de tal chegada existe para todos indistintamente, inclusive para o analfabeto. Em outras palavras: pode-se crer também sem conhecer a Bíblia: ¨Se alguém durante toda a sua vida não tiver ouvido nem visto a Bíblia, poderia ter para si, apesar disso, uma verdadeira fé cristã através do ensino (doutrina) justo do Espírito, como todos aqueles que sem quaisquer livros escreveram a Sagrada Escritura¨, afirma Müntzer (70). Também no presente o Espírito Santo não fala apenas na Sagrada Escritura; manifesta-se também diretamente, em revelações, visões, etc., embora se deva contar com a possibilidade de revelações não autênticas. ¨Se o homem não ouviu a clara palavra de Deus em sua alma, tem que ter visões.¨(71) Os entusiastas, recorrendo desta maneira ao Espírito Santo, querem que o definitivo, o perfeito, o último (o Reino de Deus) se concretize já agora, aqui nesta terra.
Lutero também sabia, como podemos ler no Catecismo Menor ¨que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé.¨(72) Sobretudo o jovem Lutero até podia falar da dádiva imediata do Espírito Santo: ¨Ninguém pode entender corretamente a Deus ou a palavra de Deus, se não o tiver recebido sem meios, diretamente do Espírito Santo. Mas ninguém pode tê-lo do Espírito Santo, se não o experimentar, provar e sentir. Em tal experiência o próprio Espírito Santo é o professor em sua própria escola: fora dela não se ensina nada, senão palavras-fantasmas e palavreado.¨(73) Mas isso não é a linha principal de seu pensamento. Estava bem consciente dos perigos do imediatismo espiritual. Quem garante que aquele professor realmente é o Espírito de cima e não o espírito de baixo? Pode-se afirmar ter o Espírito Santo, enquanto na verdade se manifesta apenas o espírito do próprio homem, talvez, seu subconsciente, seu arbítrio ou seu egoísmo. Para Lutara a fé serve essencialmente para esta vida nesta terra. Por isso Deus o Espírito Santo usa coisas desta vida desta terra. Não tem medo delas. Ao contrário, valoriza-as, porque no meio destas coisas levamos nossa vida. Junta-se, quando e onde quiser. à palavra escrita da Sagrada Escritura, à palavra pregada do Evangelho, e, juntamente com a palavra, à água do batismo , ao pão e ao vinho da Santa Ceia para lidar conosco: ¨Deus a ninguém dá o seu Espírito ou a graça, a não ser por intermédio da palavra exterior precedente… Por isso devemos e temos que perseverar nisso que Deus não quer tratar com nós homens de outra maneira senão mediante a sua palavra externa e pelos sacramentos¨(74). Lutem insiste nisso para não entregar o Evangelho à arbitrariedade subjetiva do homem. Pois as consequências seriam aquelas que tentei mostrar nos primeiros quatro pontos.
Chego ao fim. Apresentei o combate de Lutero contra o entusiasmo. Mas as pessoas que ele qualificou de entusiastas, não defenderam exclusivamente pensamentos e concepções entusiastas. Seu cristianismo apresentou também aspectos não entusiastas, aspectos positivos em que não foram combatidos por Lutero. Entusiastas posteriores promoveram sobretudo três pensamentos ou atitudes muito importantes para o mundo moderno, a saber, a ideia da tolerância em questões de fé, a ideia dos direitos humanos como princípio constitucional e o princípio constitucional da separação de Estado e igreja(75). Lutero estava inclinado a não enxergar o lado não-entusiasta dos seus adversários. Muitas vezes foi injusto para com eles. Por isso pode ser questionado, bem como pode ser questionado o luteranismo posterior. Mas não somente isso. A partir de várias das figuras que Lutero combateu como entusiastas, pode ser questionada a igreja de todos os tempos: viu ela a miséria e as necessidades dos homens em toda a sua extensão? Pensou ela real e sinceramente nas consequências políticas e sociais do Evangelho?(76) São perguntas dirigidas também a nos.
Mas como um todo o verdadeiro entusiasmo não está em condições de mostrar à cristandade um caminho viável. Incerteza teológica, afirmações teológicas arbitrárias, não suficientemente fundamentadas, passar por cima dos irmãos fracos, estruturas não fraternais, a divisão visível da humanidade em fiéis e ateus conforme nossos critérios, uma Igreja de elite não ajudam para construir o futuro, porque não estão de acordo com o Evangelho. Tudo isso, no entanto, existe no homem desde a queda de Adão: ¨O entusiasmo está dentro de Adão e de seus filhos desde o início até a consumação do mundo.¨ (77) Lutero sabia isso. Pessoalmente acho que ele até sabia que o entusiasmo também estava dentro dele, pois era um filho de Adão. A violência de sua luta contra os assim chamados entusiastas explica-se em boa parte pelo fato de ele não ter lutado apenas contra um Karlstadt, contra um Müntzer e contra outros, e sim, também contra o entusiasta em seu próprio peito. Nesse sentido estava certo ¨como cristão e como teólogo¨(78). A partir de sua teologia também temos a dizer uma palavra a respeito do entusiasmo na história da igreja no Brasil. Em última análise, no entanto, cada um de nós, conforme a concepção de Lutero, tem dentro de si um entusiasta. Todos nós somos filhos e filhas de Adão. O homem — um entusiasta? Temos que responder que sim. Temos que admitir com Paulo: ¨Sei que em mim… não habita bem nenhum.¨ (Romanos 7, 18) Mas com a mesma certeza podemos dizer que há uma resposta à pergunta: ¨Quem me livrará do corpo deste entusiasmo?¨ (Romanos 7, 24) O homem — um entusiasta? Temos, que responder também que não. Pois ¨agora já nenhuma condenação ha para os que estão em Cristo Jesus.¨ (Romanos 8,1)
Notas
(1) livro de Concórdia. As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. (São Leopoldo/Porto Alegre 1980), pág. 29.
(2) Hinário da igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, (São Leopoldo 1973). hino 251. 2ª. estrofe.
(3) Lisboa, Multinova, 1976, pág. 126.
(4) Hinário da 1ECLB (v. anot 2), hino 143, 5ª.estrofe.
(5) Martim Lutero, Da Liberdade Cristã, (São Leopoldo, 1979), 3ª.ed., pág. 48.
(6) Livro de Concórdia, pág. 336s.
(7) Sobre o espiritualismo de Lutero cf. Karl Gerhard Steck Luther und die Schwärmer, Theologische Studien, ed. por Karl Barth, 44, (Zollikon-Zürich, 1955), pág. 10-21.
(8) Da Autoridade Secular, A Obediência que lhe é Devida (1523). trad. por Martin N. Dreher, São Leopoldo, Sinodal, 1979, pág. 18. No texto acima apresento uma tradução própria minha, porque a tradução de M. Dreher ainda não saíra do prelo, quando elaborei meu estudo. O original alemão do texto citado encontra-se em: D. Martin Luthers Werke (Obras Completas de D. Martim Lutero)… Weimarer Ausgabe (= WA, edição publicada na cidade alemã de Weimar, na Turíngia, hoje pertencente à República Democrática Alemã), vol. 11, pág. 249, linha 36 — pág. 250. linha 4 (citações da edição de Weimar geralmente têm a seguinte forma, por exemplo em nosso caso: WA 11, 249,36 — 250, 4 ).
(9) Missa Alemã. 1526 (WA 19, 73, 10-17).
(10) Livro de Concórdia, pág.288.
(11) Catecismo Maior, prefácio de 1530, em: Livro de Concórdia, pág. 388.
(12) Catecismo Menor, em: Livro de Concórdia, pág. 371s,
(13) Ensaio de interpretação a partir dos oprimidos. Centro de Investigação e Divulgação, Publicações CID, História da Igreja/ 1, (Petrópolis, 1974)
(14) op. cit., pág. 36.
(15) loc. cit.
(16) op. cit. pág. 35 anot. 2.
(17) op. cit., pág. 56.
(18) Stephanus Pfürtner. Luther und Thomas im Gespräch. Unser Heil zwischen Gewissheit und Gefährdung. Thomas im Gespräch. 5. (Heidelberg. 1961) — Otto Herrnann Pesch. Theologie der Rechtfertigung bei Martin Luther und Thomas von Aquin. Versuch eines systematisch-theologischen Dialogs, Walberberger Studien der Albertus-Magnus-Akademie. série Teologica, 4. (Mainz. 1967).
19) Karl Gerhard Steck (v. anat. 7), pág. 6 com anot. 3, onde se refere a um estudo de Wilhelm Maurer sobre “Luther und die Schwärmer
(20) Bernhard Lohse. Luther und der Radikalismus em: Lutherjahrbuch. Organ der internationalen Lutherforschung, ed. por Helmar Junghans, 44 (1977} (Göttingen). pág. 10.
(21) v. os artigos 5 (sobre o ministério da pregação), 9 (sobre o batismo). 16 (sobre o governo civil) e 17 (sobre a segunda vinda de Cristo)
(22) Citado por Karl Gerhard Steck (v. anot. 7), pág. 6 anat. 2_
(23) Karl Gerhard Steck (v. anot. 7), pág. 6 com anot. 3.
(24) Assim o historiador eclesiástico norte-americano George H. Williams (Bernhard Lohse, Luther und der Radikalismus [ v. anot. 20] , pág. 8s).
(25) Bernhard Lohse, op. cit. pág. 9 com anot. 5: Eric W. Gritsch. Luther und die Schwärmer: Verworfene Anfechtung? Zum 50. Todesjahr Karl Holls. Em: Luther. Zeitschrift der Luther-Gesellschaft 47 (1976), (Göttingen), pág. 109 s.
(26) Thomas Müntzer, Politische Schriften, com comentário ed. por Karl Hinrichs. Hallische Monographien. ed. por Otto Eissfeldt. 17, (Halle/Saale, 1950), pág. 26. 521-525.
(27) Bernhard Lohse. Luther und der Radikalismus (v. anat. 20). pág. 9.
(28) Heinold Fast (ed.). Der linke Flügel der Reformation, Glaubenszeugnisse der Täufer, Spiritualisten. Schwärmer und Antitrinitarier Klassiker des Protestantismus, ed. por Christel Matthias Schröder. 4. Sammlung Dieterich. 269. (Bremen. 1962).
(29) Erwin Mülhaupt, Der Begriff Linker Flügel der Reformation von Luther her gesehen. Em Luther. Zeitschrift der Luther-Gesellschaft 48 (1977). (Göttingen ), pág. 76-80.
(30) D. Martin Luthers Werke (Obras Completas de D. Martim Lutero), Weimarer Ausgabe (= WA. edição de Weimar). Tischreden (Série Conversas à Mesa” = TR). vol. 4, pág. 485. 6-8 e pág. 486. 39-42.
(31) Citado por Bernhard Lohse, Luther und der Radikalismus (v, anot. 20), pág. 14.
(32) op. cit. pág. 15.
(33) op. cit. pág. 14
(34) Em: Fast (v. anot 28). pág. 252 e 254.
(35) Em: Fast (v. anot. 28). pág. 263 s. (citado por Bernhard Lohse. Luther und der Radikalismus [v anot. 20]. pág 161
(36) Leal Admoestação a Todos os Cristãos para que Evitem Distúrbios e Motins. 1522 (WA 8. 628 31 s 683 34 — 684. 6: 685. 12 s.)
(37) op. cit. 685, 17 — 686, 3.
(38) Prédicas de Invocavit (proferidas por Lutero em Wittenberg a partir do domingo Invocavit, 9 de março de 1522, até 16 de março) (WA 10/III. 18. 28-30; prédica de 10 de março).
(39) Eduardo Hoornaert. Formação do Catolicismo Brasileiro 1550 — 1800 (v. anot. 13), pág. 34.
(40) op. cit. pág. 36.
(41) Citado no op. cit. pág. 35.
(42) Citado no op. cit. pág. 35
(43) Eduardo Hoornaert — Riolando Azzi — Klaus van der Grijp Benno Brod, História da Igreja no Brasil, Ensaio de interpretação a partir do povo, Primeira Época, História Geral da Igreja na América Latina. 2, Petrópolis, Vozes. 1977, pág. 248 s. e 144 s. (sobre a redução do outro ao mesmo).
(44) Thomas Müntzer. Politische Schriften (v. anot. 26), pág. 24, 470 e 27, 563 s.
(45) op. cit. pág. 26, 532.
(46) Citado em Erwin Mülhaupt, Martin Luther oder Thomas Müntzer — wer ist der rechte Prophet? Em: Luther, Zeitschrift der Luther — Gesellschaft 45 (1974), (Göttingen), pág. 62.
(47) Uma Missiva sobre o Livrinho Duro Contra os Camponeses, 1525 (WA 18. 386).
48) Müntzer, por exemplo, afirmou: Cada eleito tem que ter sete vezes o Espírito Santo… Quem não sentir em si mesmo o Espírito de Cristo, sim, quem não o tiver com toda a certeza, não é um membro de Cristo.” E: Tu (Cristo) dá-lo (o Espírito Santo) a todos que correm ao teu encontro, conforme a medida de sua fé. E quem não tiver para dar testemunho ao seu próprio espírito de maneira certa, não pertence a ti, ó Cristo.” (Citado por Karl Holl. Luther und die Schwärmer. em: Gesammelte Aufsätze zur Kirchengeschichte. 1: Luther, (Tübingen. 1968. 75 ed. pág. 426, anot 1).
(49) Erwin Mülhaupt, Martin Luther oder Thomas Müntzer (v. anot. 46). pág. 60. Müntzer disse de si mesmo: Creio que estou separado (segregatum =segregado. eleito. destinado)para outras lutas no mundo ainda.” (Citado por Mülhaupt, op. cit., pág. 61)
(50) Em latim: servus electorum dei (Erwin Mülhaupt, op. cit., pág. 61)
(51) Erwin Mülhaupt, op. cit., pág. 65 e Bernhard Lohse, Luther und Müntzer, em: Luther, Zeitschrift der Luther-Gesellschaft 45 (1974). (Göttingen), pág. 31.
(52) Müntzer numa carta de 15 de junho de 1521: deves saber, meu caríssimo irmão, que não tenho outra saudade senão a de ser perseguido (citado por Erwin Mülhaupt, op. cit., Nig. 64).
(53) Eduardo Hoornaert. Formação do Catolicismo Brasileiro 1.550 – 1800 (v. anot. 13), pág. 34. As citações que seguem no texto acima encontram-se na pág. 35 do livro de Hoornaert.
(54) Erwin Mülhaupt, Martin Luther oder Thomas Müntzer (v. anot 46). pág. 68.
(55) Isso aconteceu, como parece, somente a partir de 1530, por exemplo em Uma prédica sobre a necessidade de enviar as crianças à escola, de 1530: Bem, queridos alemães… vocês ouviram seu profeta’ (VIA 307/I, 588, 1 a) Advertência aos seus queridos alemães, de 1531: como sou o profeta dos alemães (pois de agora em diante eu mesmo tenho que atribuir-me a mim mesmo tal nome arrogante)… (WA 30/111, 290, 28 s.)
(56) Erwin Mülhaupt. Martin Luther oder Thomas Müntzer (v. anat. 46). pág. 70 s.
(57) Missa Alemã, 1526 (WA 19, 75. 3-10).
(57a) op. cit. 75. 20 s.
(58) op. cit. 75, 28-30.
(59) Citado por Karl Holl, Luther und die Schwärmer (v. anot. 48). pág 458.
(60) Sob esta condição Müntzer pratica também o batismo de crianças. (Karl Holl, op. cit. pág. 452 com anot 2).
(61) Karl Holl, op. cit. pág. 458.
(62) Livro de Concórdia, pág. 35.
(63) ”A área secular é… para ele (Lutero) um campo com razão de ser próprio, mas não regido por leis totalmente fora do domínio de Deus. Nesse campo o cristão e o não-cristão têm que atuar conforme seu entendimento e conforme sua decisão responsável.” (Bernhard Lohse, Luther und Müntzer ( v. anot. 51 F, pág. 16). Justamente quanto à compreensão da razão e de sua função no mundo Lohse fala do radicalismo de Lutero: a razão é competente para a organização da vida terrestre. Desta maneira Lutero iniciou uma evolução realmente transformadora (Luther und der Radikalismus (v. anot_ 20 1, pág. 24).
(64) Karl Holl, Luther und die Schwärmer (v. anot. 48), pág. 459 s.
(65) À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca do Melhoramento da Cristandade, 1520 (WA 6,407 13 s. 17-19. 22 s).
(66) Prédicas de Invocavit (v. anot 38), WA 10/111, 1, 7 – Z 2; prédica de 9 de março.
(67) v. acima anot. 48.
(68) Karl Holl, Luther und die Schwärmer (v. anot 48), pág. 426-428.
(69) op. cit. 428 s.
(70) op. cit. 431 com anot. 4.
(71) op. cit. 432 s com anot. 1 na pág, 433.
(72) Catecismo Menor em: Livro de Concórdia, pág. 371s.
(73) Magnificat, 1521 (WA 7, 546, 24-29). A edição portuguesa do Magnificat (Martinho Lutero, o Magnificat, trad. do francês por Attilio Cancian, Petrópolis, 1968) transmita o sentido do original, mas em geral a tradução é relativamente livre.
(74 Artigos de Esmalcalde em Livro de Concórdia ( v. anot. 1). 336. 3-4 337, 10-11
(75) Karl Holl. Luther und die Schwärmer (v. anot. ) pág. 423.
(76) Bernhard Lohse, Luther und Müntzer (v. a not. 51), pág. 32.
(77) v. acima anot. 6.
(78) Bernhard Lohse, Luther und Müntzer (v. anot. 511, pág. 32.
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