Palavr@ção on-line 17
PAZ
Expediente
PALAVRAÇÃO é uma publicação da IECLB – Secretaria de Formação
Postagem: Portal Luteranos – Junho de 2014
Colaboração: Secretaria de Ação Comunitária e Conselho Nacional da Juventude Evangélica CONAJE
Elaboradora: Pa. Daiane Mariléia Baade
Equipe de revisão: P. Jaime Jung, Diac. Simone Engel Voigt e Prof. Katilene Willms Labes
Revisão Ortográfica: Martha Regina Maas
Projeto Gráfico: Artur Sanfelice Nunes
Coordenação: P. Antonio Carlos Oliveira
Contato: secretariageral@ieclb.org.br
PALAVR@ÇÃO é um material destinado às pessoas que orientam os trabalhos com grupos de jovens na IECLB. Cada estudo possui duas partes: uma teórica (PALAVRA) e outra prática (AÇÃO). Dessa forma, a reflexão sobre um assunto importante vem conectada a sugestões de atividades práticas para a juventude.
Palavra
Oferece uma reflexão a respeito do tema proposto. Dessa maneira, você terá acesso a um subsídio de auxílio para a preparação de estudos sobre determinada temática.
Ação
Apresenta sugestões de dinâmicas e atividades para o estudo. Você pode adaptá-las e complementá-las para melhor atender à realidade e às necessidades do grupo de jovens.
PALAVRA: Cadê a paz?
Diz a letra do hino: Paz, paz de Cristo. Paz, paz que vem do amor lhe desejo irmão! (Hinos do Povo de Deus, nº 368). Parece simples desejar e viver a paz como irmãos e irmãs, não é? Mas então, por que, ao olharmos para a nossa sociedade e para o mundo a nossa volta, não conseguimos ver a paz acontecendo? Talvez, justamente, porque falta esse amor fraternal.
Ao acompanharmos as notícias do Brasil e do mundo, deparamo-nos a cada dia com guerras, conflitos e brigas motivados por poder, por dinheiro, por vingança. Isso sem contar os crimes e a violência urbana: muitas pessoas acabam morrendo, vítimas de assaltos, “acerto de contas” e até mesmo em consequência da violência doméstica.
Em contrapartida, existe um mundo sedento por paz, cansado da injustiça e da violência. Sabemos de inúmeras manifestações em busca de paz: passeatas, paradas, protestos e grupos organizados que pedem por uma Cultura de Paz. Nós, como Igreja, também falamos muito sobre paz em nossas atividades comunitárias. É um assunto presente no nosso dia a dia, nos grupos e nas celebrações. Em especial, neste ano de 2014, o lema bíblico do Tema do Ano “Vidas em Comunhão” nos diz: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor, porque na sua paz vós tereis paz” (Jeremias 29.7). Paz pode significar também ter segurança nas ruas, em casa e em todo lugar, tranquilidade para ir e vir de qualquer lugar, em qualquer horário, sem nada temer.
A paz de Cristo!
“Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou; não lhes dou a paz como o mundo a dá. Não fiquem aflitos, nem tenham medo” (João 14.27). Em nossa busca pela paz é preciso saber que a paz a que Jesus se refere não é simplesmente a ausência de conflitos ou mesmo uma trégua, mas uma profunda conversão ao sentimento de amor ao próximo (cf. 1 João 4.7-21). A paz da qual Jesus nos fala é uma paz plena de justiça, plena de amor e plena de cuidado para com as outras pessoas, independentemente de quem são. Mesmo aquelas pessoas que se opõem a nós e que se tornam nossas adversárias ou inimigas merecem de nós um sentimento de amor e de paz (cf. Mateus 5.43-48).
A paz de Cristo não pode ser confundida simplesmente com um estado de ausência de guerras e conflitos entre nações ou grupos rivais. Mesmo um ambiente aparentemente pacífico pode esconder, dentro de si, terríveis situações de injustiça, autoritarismo e violência. Isso já se observa na época de Jesus e das primeiras comunidades cristãs, quando o Império Romano queria impor sua supremacia aos povos conquistados e a paz em seus territórios através da opressão e da morte de qualquer pessoa que se opusesse à Roma.
Diferente disso, a paz que Jesus nos apresenta assume como um de seus aspectos primordiais a confiança absoluta no cuidado de Deus com cada um e cada uma de nós, como ensina o Salmo 4.8: “em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro”. Paz em hebraico se lê shalom e o seu significado é estar completo, estar bem em todos os sentidos e equivale à paz em seu mais profundo significado: paz com Deus e, em consequência, conosco e com os semelhantes. É, na verdade, um estado de espírito que faz com que essa paz seja refletida em tudo que está a nossa volta.
De acordo com o reformador Martim Lutero, a paz que aqui vivenciamos é só uma antecipação da paz que está presente no Reino de Deus em sua plenitude. Isso nos remete a pensar que a Paz de Jesus aqui vivenciada não nos isenta das dores e conflitos deste mundo (cf. João 16.33), mas nos capacita para enfrentar e vencer as dificuldades que venham a fazer parte da nossa existência. Paz para a pessoa cristã é estar envolvida com o Reino de Deus, com o projeto de vida, justiça e amor que Deus tem para o mundo e que revelou em Jesus Cristo.
Passando a palavra
Felizes as pessoas que promovem a paz, pois serão chamadas filhas de Deus (cf. Mateus 5.9). Confiando nessas palavras de Jesus, enfrentemos as adversidades com a certeza de que Deus nos ampara e ajuda. Nosso compromisso e nossa responsabilidade estão em testemunhar a Paz de Cristo em palavras e ações. Busquemos, pois, promover a paz. Não a paz alienada e egoísta que prevê só o nosso benefício e a nossa tranquilidade, mas a paz que Jesus nos revelou com sua vida, morte e ressureição. Uma paz engajada com justiça, a paz que ama e que defende a vida de todas as pessoas no mundo inteiro. Shalom!
Bibliografia
– BUTIGAN, Ken. Da Violência a Integridade. São Leopoldo: Sinodal, 2003.
– DINÂMICAS para o Ensino Religioso. Maria Dirlane Witt, Edson Ponick (Coords.). São Leopoldo, Ed. Sinodal, 2008.
– DUMAIS, M. O Sermão da Montanha: Mateus 5-7. Cadernos bíblicos 73. São Paulo: Paulus, 1998.
– HEIMANN, Leopoldo (org.). Lutero, o Educador. Fórum ULBRA de teologia v.2. Ed ULBRA.
– Revista Mundo Jovem on-line. Acesso: Maio de 2014, http://www.mundojovem.com.br/dinamicas/paz/a-paz-vale-a-pena
SAIBA MAIS
Dica de música:
– Aqui também é o Céu – Padre Zezinho
– Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré
– Que país é esse? – Legião Urbana
– O último julgamento – Léo Canhoto e Robertinho
Dica de filme:
Gandhi – Ano 1982; Gênero: Drama biográfico; Direção: Richard Attenborough; Elenco: Ben Kingsley, Candice Bergen, Edward Fox; Classificação: 12 anos; Nacionalidade: Índia e Reino Unido; Duração: 188 minutos. O filme conta a história de Mohandas Karamchand Gandhi, o líder do movimento de independência da Índia que empregava métodos não-violentos de luta.
Dica de site:
– Serviço de Paz: O SERPAZ é uma Organização Não Governamental (ONG) sem fins lucrativos que se empenha em promover ações em favor da paz e da justiça. Entre seus trabalhos destaca-se o Projeto de Alternativas à Violência, realizado em comunidades e escolas. Acesse: http://www.serpaz.org.br ou http://serpaz.blogspot.com.br
AÇÃO: Vivendo a paz
Leitura Bíblica: Mateus 5.43-48
Essa ordem parece mesmo complicada para cumprir. Você não acha? Se, muitas vezes, já é difícil demonstrar amor pelas pessoas que são nossas amigas, imagine amar aquelas pessoas que consideramos nossas inimigas. Quem já sofreu algum tipo de bullying na escola ou foi vítima de alguma agressão sabe que fazer as pazes não é algo simples. Por vezes, lidar com os sentimentos que decorrem desse tipo de situações nos custa muitas horas de rancor e tristeza. Nesse sentido, a palavra de Jesus pode nos ajudar a nos libertar da prisão do ódio. Amar as pessoas inimigas não significa relativizar suas atitudes, como se não tivessem cometido algo que consideramos ofensivo ou que nos machucou, mas significa sermos capazes de tomar uma atitude pacífica em relação ao problema, buscando o bem comum, a justiça e a paz para todas as pessoas envolvidas. Talvez seja difícil mesmo, mas Jesus nos motiva a dar o primeiro passo em favor da reconciliação.
Impulsos para a meditação:
1. Você tem inimizade com alguma pessoa? Como vocês se tratam normalmente?
2. De que forma você poderia demonstrar para essa pessoa a paz que Cristo nos ensinou?
Comentário: Na vida, nos deparamos com muitos conflitos. Resolvê-los de forma pacífica, usando o perdão e a justiça é um exercício diário. Procure se lembrar de uma situação difícil, em sua vida ou na de uma pessoa conhecida, que foi resolvida pelo diálogo, pela negociação, enfim, por métodos pacíficos: como a situação começou? Por que começou, quais fatos a desencadearam? Como poderia ser evitada? Como foi resolvida pacificamente? Quem saiu ganhando? O que se aprendeu com essa situação? Pensem nisso sempre que tiverem o impulso de resolver conflitos utilizando outros métodos que não o da paz!
Dinâmica: Gestos para paz
Objetivo: refletir sobre gestos agressivos e pacíficos que podemos demonstrar com nossas mãos.
Material necessário: venda para os olhos em número suficiente para metade do grupo.
Sequência:
– Formar dois grupos. As pessoas de um grupo ficam de olhos vendados. Todas ficam em pé e dispostas em duas linhas paralelas, uma de frente para a outra. Peça para que as duplas se ajudem na colocação das vendas.
– Feito isso, diga que, durante a dinâmica, a turma precisa ficar em silêncio sem dizer nenhuma palavra e prestar bastante atenção no que está sendo feito.
– Ao seu sinal, peça para que as pessoas que estão com os olhos abertos repitam o gesto que você fizer (conforme lista abaixo). As pessoas que estão com os olhos vendados apalpam a mão da outra pessoa, a sua frente, e devem procurar identificar e interagir com os gestos.
Observação: Peça ao grupo que tenha cuidado ao fazer os movimentos para não machucar ninguém.
1º gesto: Punho fechado com todos os dedos contraídos.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o transformem.
2º gesto: O gesto de positivo ou de OK, com o polegar levantado.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o retribuam.
3º gesto: A mão em gesto de ataque, como se fosse agarrar com violência.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o transformem.
4º gesto: A mão aberta e estendida em gesto de saudação.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o retribuam.
– Neste momento, peça às pessoas que invertam os papéis. As pessoas que estavam de olhos vendados passam a venda para aquelas que estavam de olhos abertos e a dinâmica prossegue da mesma forma.
5º gesto: O dedo indicador em riste, fazendo um gesto de acusação.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o transformem.
6º gesto: Os dois dedos (indicador e médio) levantados, fazendo o gesto de paz e amor.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o retribuam.
7º gesto: Mão espalmada como num gesto de quem vai dar um tapa.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o transformem.
8º gesto: A mão com a palma para cima e semi-encurvada, fazendo um gesto de acolhimento.
Peça para as pessoas vendadas que identifiquem qual é o gesto e o retribuam.
Reflexão:
Peça que as vendas sejam retiradas e que a turma se sente em um círculo. Convide o grupo para falar um pouco sobre a experiência que tiveram. Você pode demonstrar novamente os gestos que foram feitos e fazer algumas perguntas do tipo:
– Quando vocês estavam com os olhos vendados, vocês conseguiram identificar rapidamente os gestos que estavam sendo feitos pela outra pessoa? Que sentimentos eles despertaram em vocês?
– Como vocês se sentiram quando a outra pessoa interagiu transformando ou retribuindo o seu gesto? O que podemos aprender com essa atitude?
Comentário: Se julgar apropriado, você pode trazer algo do que foi apresentado na parte teórica (Palavra) deste estudo refletindo com a turma sobre a importância de termos atitudes de paz para com as outras pessoas.
Hino: Paz, paz de Cristo (Hinos do Povo de Deus, nº 368).
Convide a turma para cantar esse hino e desejar a paz de um jeito diferente e inusitado. Para isso, cada pessoa deve pensar num gesto com o qual possa demonstrar um sentimento de paz e que envolva também a participação das outras pessoas – como é no caso do tradicional aperto de mãos. O gesto da paz diferente pode ser, por exemplo: as duas mãos colocadas em forma de um coração; os braços entrelaçados; alguns passinhos de dança; um carinho no rosto da outra pessoa, etc.
ATIVIDADE COMPLEMENTAR: Orando pela paz
Converse com o ministro ou a ministra de sua comunidade sobre a possibilidade da juventude colaborar na liturgia do culto. Isso pode acontecer na parte musical, nas leituras bíblicas e ainda numa oração de intercessão voltada para o tema da “paz”. Incluam nessa oração, pedidos pelo fim de guerras e conflitos, se possível procurem nominá-los. Caso vocês tenham conhecimento, mencionem outras formas de violência que tenham atingido pessoas da cidade ou da comunidade recentemente, como por exemplo: crimes, acidentes de trânsito, injustiça, preconceito e vítimas da violência doméstica. Pode haver também um breve momento para a comunidade se manifestar livremente e depois se encerra com a oração do Pai Nosso.
Sobre a Autora
Daiane Mariléia Baade é pastora da IECLB e trabalha na Paróquia de Gaúcha do Norte/MT