Prédica: I Coríntios 15.19-28
Autor: Walter Altmann
Data Litúrgica: Domingo de Páscoa
Proclamar Libertação – Volume: I
Tema: Páscoa
I – PARA A REFLEXÃO MOTIVADORA
Em caso de necessidade, poder-se-ia – formulando exageradamente – imaginar um Novo Testamento que contivesse tão-somente a história e a mensagem pascoais, mas jamais um tal que não os contivesse (Karl Barth, KD l l l/2, 531).
A ressurreição é tão certa quanto Deus é Deus. Se Deus é apenas uma concepção que o homem forma para si, a fim de possuir desse modo um conceito de ordem para a existência do mundo ou um garantizador para a lei moral ou então um juiz sobre bem e mal ou ainda um consolo para sua tribulação – se Deus e apenas isso, então de fato não necessitamos de ressurreição alguma. (Hans Joachim Iwand, Luthers Theologie, p. 203)
Qual e o ministério (do Cristo ressurreto e exaltado)? Está sentado lá em cima numa cadeira dourada, mandando os anjos tocar (música) e apresentar-se diante dele, ou é ocioso? Não… Ele efetua duas coisas, a saber, levou cativo o cativeiro, e ainda não deixou de fazer isso, mantendo (-o) cativo sem cessar; isso é a primeira coisa. E a outra: concedeu dons aos homens, concedendo-os ainda sem cessar até a consumação do mundo e distribuindo-os entre os seus cristãos… (Lutero, Prédica em WA 23,705,6-13).
Da glória de Deus o homem só se torna participante, quando sempre de novo deixa para trás de si o que já é e o que encontra como estado do seu mundo. Não através da fuga ao mundo, mas através de ativa transformação do mundo, que é a expressão do amor divino, do poder de seu futuro sobre o presente através de sua transformação em direção à glória de Deus (Wolfhart Pannenberg, Grundfragen systematischer Theologie, p. 398).
II – CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA E A MENSAGEM EVANGÉLICA
Quando o pastor adentra a igreja numa data eclesiástica festiva, encontra-a repleta de gente. Na Páscoa haverá menos gente do que dois dias antes, na Sexta-feira da Paixão; mas ainda serão mais do que nos domingos comuns. Muitos rostos, o pastor não se recorda de jamais havê-los visto. Mas ele não se surpreende. Já o esperava. A experiência de anos anteriores não lhe permitiu se equivocar. Armou-se intimamente para a grande chance que lhe e proporcionada ou então para o inevitável dia de árduo trabalho (frustrando o convívio com sua família). Mas afinal, o que fazer desse culto de Páscoa, mais um numa sequência de todos os anos?
O que traz ao culto aquelas fisionomias desconhecidas e o que aumenta nesses dias a expectativa dos participantes costumeiros? Por certo, podemos mencionar o peso da tradição, a reminiscência do passado, da infância. Isso esta certo; mas ainda não identifica o coração que mantém vivas e atuantes a tradição e a reminiscência- Trata-se, a meu ver, da força da religião como compensação pela árdua vida. Festeja-se algo misterioso: na Páscoa a ressurreição de Cristo, que não se compreende bem, esta bastante distante, mas da um certo alívio igualmente inexplicável, também misterioso. Nesse contexto, a Santa Ceia ou mesmo a confirmação, se praticadas nesse dia, servem para intensificar essa sensação.
Está claro que a Páscoa e mais algumas datas esporádicas (Sexta-feira da Paixão, Finados, Natal, etc.) já são muito pouco para preencher as lacunas de religiosidade abertas com a crescente agitação da vida urbana, relações de trabalho esgotantes, mecanização acompanhada de paralelo aviltamento do ser humano nas regiões rurais, falta de perspectiva de ascensão profissional e social, insegurança econômica (endividamento, compromissos de prestações), bloqueio das possibilidades de participação na vida pública, exposição a propaganda comercial desenfreada e psicologicamente programada, incapacidade de educação dos filhos no novo contexto com seu simultâneo desequilíbrio familiar. Eu dizia que as datas de praxes litúrgicas tradicionalmente oferecidas já não conseguem compensar a aceleradamente crescente pressão e opressão que pesa sobre nosso homem. Consequentemente não conseguem satisfazer sua progressiva necessidade religiosa.
Daí porque já começamos a sentir o esvaziamento de nossos cultos nessas datas. A frequência já não é a mesma de há anos atrás. E neste ano possivelmente serão menos do que no ano passado.
O que aconteceu? Para cada vez mais gente a quantidade de mistério que a nossa igreja proporciona fica em desproporção as exigências traumatizantes que o restante da vida impõe. Procuram então outras práticas, cheias de mistério, que satisfaçam sua crescente necessidade religiosa compensatória. Tal pratica pode ter aparência bem secular. Natal e Páscoa, por exemplo, vão sendo progressivamente, transformados em festas rituais familiares e sociais. Nem por isso são menos religiosas no sentido que estamos empregando aqui, mas esvaziam as igrejas.
Para me tornar mais claro, exemplifico com a loteria esportiva. O relacionamento de nosso homem com ela e nitidamente de intensa religiosidade. A loteria esportiva acompanha, por assim dizer, toda a vida do apostador. Desde o momento em que consultou os palpites dos especialistas no jornal ou no rádio (variante secular do horóspoco!), passando pelo momento de marcar o cartão (com aquele palpite particular e místico da zebra, que lhe possibilitará a fortuna!), alcançando a hora da revelação histórica, em que se acompanha a mágica dos golos que sofre ou marca qualquer time ignoto em algum confim deste Brasil, encerrando o ciclo com a verificação de quantos acertadores houve (quanto menos acertadores maior a emoção!, para de imediato começar tudo da frente outra vez. E não é difícil divisar na contagem de pontos (fiz onze pontos!) a compensação pelos treze pontos que se perdem continuamente na vida. – É sabido também que o consumo de drogas é uma forma de recolhimento e criação de um mundo novo compensatório para o mundo real experimentado como agressivo.
Ou então o homem procura outras religiões, cujo espectro vai desde as práticas orientais de meditação (recolhimento a um mundo interior) ate a umbanda (com seu êxtase desenfreado), passando pelo pentecostalismo (batismo do Espírito Santo, glossolalia) e o espiritismo (comunicação com os espíritos de falecidos). Sempre ha a criação de uma outra realidade a compensar as frustrações da vida. Em face disso, o catolicismo ainda tem maiores reservas sacramentais do que a igreja evangélica e pode recorrer à veneração de santos e outras práticas populares. A igreja evangélica, porém, e extremamente pobre em recursos dessas espécies. Vantagem ou desvantagem? O que fazer?
É certo que devemos procurar novas formas de convivência comunitária, em que nossos membros realmente se sintam aceitos e livres para participação ativa, em que podem exteriorizar seus afetos e descarregar suas atribulações. Seria errado, porém, querer competir com todas as correntes religiosas existentes, aumentando a oferta de mistério e reclusão em mais alguma variante luterana. Cultos e liturgias com efeitos emotivos calculados, técnicas de movimentação entusiástica de massas devem ser renunciadas de antemão. Não só porque inevitavelmente perderíamos a competição… Mas antes de tudo porque a postura religiosa que, esta por trás de todos esses movimentos, com sua negação do mundo e procura de compensações, é radicalmente anti-evangélica, contrastando com o Deus que amou o mundo, com Jesus Cristo se identificou com o pecador e com o Espírito Santo que não liberta da vida, mas para a vida.
A alternativa que nos cabe e empenharmo-nos incessantemente pela localização da fonte da esperança em meio à desesperança, transformando a frustração em perseverança e a resignação em impulso de renovação. Trata-se de viver o Cristo ressurreto na realidade alienante, remindo o tempo. É preciso encontrar o amor em meio ao ódio e contra ele; a justiça em meio à injustiça e contra ela; a liberdade em meio a opressão e contra ela; a dignidade em meio à tortura e contra ela; a vida em meio à morte e contra ela. Quem transmitir e receber dentro da velha realidade essa nova realidade vitoriosa, esse conhece o ressurreto, crê nele. Aí ocorre para nós hoje Páscoa (sem suprimir Sexta-feira da Paixão).
A prédica do domingo de Páscoa atingirá seu objetivo, se conseguir evocar essa nova realidade estabelecida com a ressurreição de Cristo. A anti-bíblica dissociação entre profano e sagrado precisa ser superada. Os participantes do culto procuram a fuga e uma compensação do mundo diário – fica subentendido que nem todos se enquadram aí – não podem ser fortalecidos na resignação e no acomodamento frustrante. Pelo contrário, devem ser remetidos de volta ao mundo (o que de qualquer modo e inevitável),mas sabendo que este é um mundo amado por Deus, pelo qual Cristo morreu e ressuscitou; para cuja redenção o Espírito nos envia. Assim se será fortalecido para viver permanentemente a esperança e a certeza da .vitoria de Cristo.
(É, evidente, por fim, que esta não será uma prédica do pastor para a comunidade, mas será um ouvir da Palavra de Deus por parte do pastor junto com a comunidade. Ninguém está pronto. Pois também o trabalho do pastor, inclusive sua prédica de Páscoa, pode ser fuga e resignação, que precisam ser vencidas pela ressurreição, para se tornar libertadora e transformadora.)
III – Uma paráfrase: CRISTO LIBERTA E COMPROMETE; A LUTA PERDURA, A VITÓRIA É CERTA
A. Contexto
Implicitamente já estivemos falando de nosso texto. A l Coríntios culmina com o capitulo 15. A ressurreição de Cristo como fonte de nossa esperança e pugna é o tema da carta. A cruz de Cristo é sua base, enunciada no capítulo l (18-25). Da cruz a ressurreição, assim transcorre essa carta. Contudo, não como um relato distanciado de um acontecimento surpreendente e miraculoso, mas sim como a determinação de Deus para a vida da comunidade de Corinto. E para a nossa vida. Nós, comunidade de Cristo morto e ressurreto, nos dias de hoje, somos marcados, tomados e jogados em movimento por essa dupla realidade: a morte e a ressurreição. Andamos sempre da cruz para a páscoa.
É inerente a fé no ressurreto o impulso para frente. Sempre que queremos dissolver essa realidade dupla, autonomamente, caímos na morte. Os coríntios não negavam doutrinariamente a ressurreição, como pode parecer. Pelo contrário, afirmavam que já tinham a ressurreição pronta, acabada, em seu entusiasmo, na exaltação, na força do Espírito. Paulo inverte a direção, quebrando a exaltação com sua teologia da cruz. Pois com a postura de exaltação espiritual deixa-se de reconhecer o lugar próprio na ordem (v. 23), desconsideram-se os inimigos, potestades, poderes e morte (v. 24 e 26). E quem os desconsidera, quem se arroga já ter chegado ao alvo, continua preso a este mundo que só conhece e admite a glória, o êxito, o sucesso.
De outro lado, porém, Paulo tampouco advoga para o crente uma posição de espectador na luta de Cristo contra os poderes. Isso seria resignar diante da injustiça,do pecado, dos poderes e da morte. Justamente no capítulo 15, em que aborda a ressurreição de Cristo e a nossa ressurreição pela ação de Deus, Paulo não deixa de mencionar seu intenso trabalho (v. 10), sua exposição a perigos (v. 30), sua luta com feras (v. 32). Dia após dia morro! Essa é sua experiência atual da ressurreição de Cristo (v. 31).
B. Perícope
Se a nossa esperança se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes dos homens (v. 19). Por quê? Não porque devêssemos olhar para um outro mundo, fugindo a este, mas porque os fatos do presente vistos sem Deus, sem a ação vitoriosa do Cristo ressurreto em andamento, sempre parecem contradizer a esperança cristã. A mera aparência, o simples momento sempre nos ensina simplesmente que a ganância triunfa, os maus prosperam, o poder corrompe e esmaga, a injustiça oprime, o dinheiro escraviza, a morte triunfa.
Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem (v. 20). A ressurreição de Cristo não ocorreu fora ao tempo e do mundo, mas dentro deles. De modo que agora o ressuscitado está presente, embora oculto na cruz, ainda confrontado com as forças que lhe resistem tenazmente.
Por isso a esperança do cristão está depositada , como diz Lutero no Catecismo Maior, numa promessa divina contra a aparência. O presente está marcado por ambas as realidades: a da morte e a da ressurreição (v. 21 e 22). Não se trata simplesmente de uma simultaneidade subjetiva para o crente como indivíduo, mas uma duplicidade que caracteriza toda a realidade. Cristo luta contra todos os poderes e inimigos supra-individuais (v. 24 e 25). E assim como o indivíduo e envolvido por tais poderes, também é envolvido pela realidade da ressurreição de Cristo, as primícias.
Paulo não descreve simplesmente uma visão apocalíptica, um drama final para após o tempo, mas ele qualifica o espaço de tempo entre a ressurreição de Cristo e o fim (v. 24). O fim virá após a destruição dos inimigos, que ocorre no nosso ínterim. Neste nosso espaço de tempo Cristo reina e luta contra os poderes, para depois entregar o reinado a Deus (24 a 28).
O nosso tempo é, pois, caracterizado por sua localização entre a ressurreição de Cristo e o fim em que Deus será tudo em tudo (v. 28, tradução divergente de Almeida). Essa caracterização escatológica da a comunidade cristã a perseverança. Nutre-se ela simultaneamente do futuro e do passado. O futuro será a manifestação plena da vitória, mas só a esperança no futuro não seria impulso suficiente para envolver no combate da vitória. O reino de Deus ainda seria uma possibilidade aberta, dependente de nossos esforços. Mas com igual razão fracassaria também pela nossa resignação e desistência. Por isso para a fé a certeza do futuro se baseia num acontecimento do passado, ocorrido: a ressurreição de Cristo.
Paulo não desvia do presente (para o futuro, para o além), nem confirma o presente (pelo entusiasmo), mas fortalece para um caminho. Não se retira para a esfera privada, mas vive e proclama o envolvimento. Nosso caminho é um engajamento esperançoso junto aos que não conseguem ter esperança, porque não sabem da vitória sobre os poderes inimigos. A esperança onde não há esperança, o caminho onde parece só haver barreiras, a perseverança onde tudo parece frustração – isso é para nós a ressurreição de Cr i s to.
O último inimigo a ser destruído é a morte (v. 26). Também foi o primeiro, na ressurreição de Cristo. Sim, a morte é quem sempre de novo nos ameaça, por detrás de todas as misérias e injustiças, de todo pecado e egoísmo. Contra a morte é que contraditoriamente queremos nos precaver quando compactuamos com as potestades e poderes que são em verdade os instrumentos da morte. De nosso medo diante da morte todo establishment toma seu poder (Walter Hartmann, PTh 57, 1968, p. 295). Por causa desse inimigo é preciso que também o crente olhe para o futuro (o fim no reino de Deus) e para o passado (Páscoa), para confessar com o Salmo 8.6: Deus todas as coisas terá sujeitado debaixo dos pés de Cristo, porque todas as coisas lhe sujeitou(v. 27, fazendo uso de duas modalidades de tradução do perfeito hebraico).
IV – Uma atualização possível: VIVEMOS OU MORREMOS CONFORME NOSSA ESPERANÇA
A. A esperança é a última que morre
Esse ditado de nossa língua nos diz duas coisas:
1. Não podemos viver sem esperanças.
Quando perdemos a esperança, ficamos desesperados. Sob essa ameaça, aferramo-nos a nossa esperança enquanto dá. A esperança é a última que morre nos serve de luta e resistência. Quando a esperança se frustra, nosso empenho fracassa, substituímos a esperança perdida por outra esperança. Essa nova esperança será então a última que morre. É um processo doloroso, mas inevitável para continuar vivendo. (Um suicida, por exemplo, não conseguiu efetuar tal substituição: morre com sua esperança.)
Exemplo: O jovem que sonha com uma moça como sua namorada. Não sendo correspondido em sua esperança, resta-lhe a frustração, que precisa ser elaborada, até que uma outra moça lhe evoque uma nova esperança de vida. Ou então: A elaboração de um projeto político. A esperança evocada e frustrada pela ação de forças maiores antagônicas. A esperança será abandonada (acomodamento) ou reelaborada (mudança de tática, revisão de prazos, autocrítica) .
2. Nossas esperanças de fato morrem, nem que sejam por último.
Assim tudo quanto fazemos é de antemão ambíguo: já está marcado tanto pela esperança quanto pela frustração. (Exemplo: Toda a medicina em seu empenho pela vida é uma luta constante com uma esperança já sempre marcada pela morte inevitável; como modelo mais claro cite-se um caso de câncer incurável). E quando chega a hora da morte da esperança, entregam-se os pontos e assume-se a postura de acomodação e resignação que os demais experimentam como falsidade e traição, mas que o próprio experimenta como rendição numa guerra pessoal perdida.
Exemplo: O jovem crítico e abnegado que se torna um profissional acomodado e interesseiro. Ou: O estudante de teologia crítico que se torna um pastor ditatorial ou rotineiro. Não são só interesses próprios e egoísmo que motivaram tal mudança; são também esperanças mortas que aí se expressam.
3. Há situações de desesperança que violentam a dignidade do homem. (Vide tudo quanto foi dito na parte II.)
Estabelecem-se poderes e sistemas que não dão margem a participação e criatividade do homem, vendo-se este forçado as compensações religiosas pelas esperanças frustradas. Aí se vê que o tema esperança – desesperança não afeta simplesmente indivíduos e circunstâncias particulares de sua vida, mas coletividades inteiras, todo um povo (por exemplo, sob uma ditadura) ou até mesmo a humanidade (por exemplo, a ameaça provinda dos problemas ecológicos).
B. Nossa esperança não morre jamais
Dessa esperança nos fala o apostolo Paulo.
1. Não precisamos viver sem esperança.
Aqui se inserem as reflexões sobre o nosso momento como ínterim entre a ressurreição de Cristo e o fim no Reino de Deus (parte III B). Toda frustração foi absorvida pela morte desse um: Jesus Cristo. Não há profundidade de desespero que não estivesse nele, que não pudesse ser lançada sobre ele, acarretando libertação. Ha aqui a substituição de todas as nossas esperanças que morrem (por dependerem de nós) por uma esperança de que participamos ativamente, mas esta decidida por quem já é e será vitorioso. Conseqüentemente nossas frustrações são transformadas. As causas para elas continuam: nossos fracassos, rejeições que experimentamos, poderes que nos são adversos. No entanto, todos eles já não levam à frustração desesperada, mas são restringidos à tribulação com sentido (Rm 5.3).
2. A esperança certa leva à perseverança.
Aqui se inserem as reflexões sobre o nosso momento como caminho entre a Páscoa e o fim (parte III B). Cristo é já agora senhor do mundo. Ainda é contestado. Por isso é tempo de luta, em que Cristo não admite espectadores: Quem não é por mim, é contra mim (Mt 12.30). Justamente porque os crentes participam da luta é que lhes advêm tribulações. Mas participando da luta também se lhes torna claro que estão participando da vitória. A aparência do fracasso se desfaz para a fé que divisa o triunfo. Assim a tribulação produz a perseverança (Rm 5.3), enquanto que a frustração leva ao desespero.
3. As situações de desesperança são rompidas.
Aqui se inserem as reflexões sobre o nosso momento como engajamento. A consequência para o crente e a comunidade cristã não é comamos e bebamos (v. 32), mas assumir o bom combate da justiça, piedade, fé, amor, constância, mansidão (l Tm 6.11s), não conformar-se com este século mas vencer o mal com o bem (Rm 12.2 e 21). Colocar-se do lado do pobre (Evangelho de Lucas), chorar com os que choram (Rm 12.15), servir os pequeninos (Mt 25). Isto é, ser como aqueles para os quais valem as bem-aventuranças: humildes, pobres, sofredores, misericordiosos, perseguidos… (Mt 5). Assumindo a desesperança dos oprimidos, brota a esperança vitoriosa e libertadora. Aí se rompem as cadeias, aí os poderes são vencidos, aí a luz brilha nas trevas.
Proclamar Libertação 1
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia