Prédica: João 12.20-26
Autor: João Artur Müller da Silva
Data Litúrgica: Domingo Laetare
Data da Pregação: 17/03/1985
Proclamar Libertação – Volume X
l — Uma palavra inicial
Jesus é o Mestre de todos porque nos ensina uma comunicação simples, compreensível e repleta de vida. Ela usa figuras, exemplos e fatos da vida para transmitir a mensagem do Reino, a mensagem da renovação, a mensagem que escandaliza, fura o esquema e traz libertação. Em Jo 12.20-26 a mensagem de Jesus vem dentro de um grão de trigo. Quanta simplicidade! Quanta sabedoria!
Um grupo de jovens encontrou neste texto, a motivação para uma canção:
GRÃO
Se o grão não morrer
debaixo da terra
não virá a espiga
Em alegrar a mesa
Se o grão resistir
ao vento e à chuva
não terá o vinho
Em o vigor da uva
Se o grão não morrer
Em na mó do moinho
o corpo estará
cada vez mais sozinho
Se o grão se entregar
à força do pão
convívio haverá
Em na ressurreição.
(Armindo Trevisan e Flávio lrala)
Esta canção pode ser encontrada no disco Revivendo Grupo Viva a Vida e Gente de Casa.
II – O texto
V. 20: Havia, pois, alguns gregos entre o povo que tinham subido para adorar, na festa;
V. 21: Eles se aproximaram de Felipe, que era de Betsaida, da Galiléia, e lhe pediram: Senhor, queremos ver Jesus.
V. 22: Felipe foi dizer a André, e os dois foram falar com Jesus.
V. 23: Jesus lhes respondeu: Chegou a hora de ser glorificado o Filho do Homem.
V. 24: Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, que cai na terra, não morrer, ele permanece só; se, porém, morrer, produz muito fruto.
V. 25: Quem ama sua vida, perde-a; e quem odeia sua vida neste mundo, conserva-la-á para a vida eterna.
V. 26: Quem quiser me servir, siga-me, e onde estou, aí também estará o meu servo. Quem me servir, o Pai o honrará.
A tradução desta perícope baseou-se no texto grego. Procurei, no entanto, apresentar uma tradução fluente que possa também servir para a leitura no culto. As indicações do aparato crítico foram verificadas, mas não apresentam alterações significativas que mereciam nossa discussão.
III — Sobre a perícope
João 12.20-26 está inserida na primeira parte deste evangelho, que compreende os capítulos 2 a 12. Neles transparece a intenção do evangelista: apontar para a revelação da glória de Jesus perante o mundo. O interesse dos gregos por Jesus, portanto, não é uma citação acidental, mas tem em vista testemunhar Jesus para todos. A perícope aparece após o relato sobre a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, por ocasião da celebração da Páscoa. Como sabemos, este fato é um dos significativos acontecimentos na trajetória da paixão de Jesus. O encontro de Jesus com os gregos é, por assim dizer, a última oportunidade de Jesus em falar, anunciar, convidar para o seu discipulado. Os restantes momentos de sua vida ele os dedica à convivência com seus discípulos. Nestes momentos ele transmite suas últimas recomendações, lava os pés dos discípulos, come com eles a última ceia, faz oração e se dirige com eles para o Jardim de Getsêmani. A partir daí, então, os fatos se precipitam. Jesus é preso, interrogado, condenado, crucificado. Após três dias, quando tudo parece normal, e as pessoas começam a se acostumar com a ideia de que Jesus de fato morreu, acontece a ressurreição. Primeiramente Jesus apareceu a Maria Madalena, depois aparece aos discípulos dizendo: Paz seja convosco (20.19). Posteriormente, ele aparece uma segunda vez quando Tomé queria ver, como em nosso texto, se era de fato Jesus. Mais tarde, Jesus aparece mais uma vez, no mar de Tiberíades. Todas estas aparições do Cristo Ressurreto são um testemunho a favor do Deus que ama este mundo ao ponto de sacrificar seu próprio filho, para nos dar seu Reino.
O encontro dos gregos com Jesus não termina no versículo 26 de nossa perícope. A leitura dos versículos seguintes nos atestam que mais pessoas se achegaram a Jesus, e para as quais, ele continuou falando sobre a fé no Filho do Homem. Somente no v. 36, lemos: Jesus disse estas coisas e, retirando-se, ocultou-se deles.
A metáfora da semente, do grão, é comum na tradição sinótica. Em outros momentos, nos deparamos com a mesma metáfora nos ditos cie Jesus. Também no Antigo Testamento aparece esta figura do grão, da semente.
Nossa perícope pode ser dividida em quatro partes:
1) Introdução: 20-22
2) Fruto da morte de Jesus: 23
3) Imitação dos discípulos: 24-25
4) Serviço e glorificação: 26
Esta divisão não precisa obrigatoriamente orientar a prédica, pois esta perícope apresenta muitos temas. Caberá, ao pregador, após a leitura destes subsídios, considerando sua comunidade, orientar a elaboração da prédica dentro do tema desejado. Os principais temas que emanam desta perícope são: relação da cruz com ressurreição; teologia da cruz; cristologia e soteriologia; fé e saber (conhecer) e teologia do discipulado.
João 12.20-26 está previsto como texto de pregação para o domingo Laetare: Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos (Fp 4.4). O tema deste domingo está relacionado com a alegria no Senhor que é poderoso, e garante a ressurreição. Este tema deverá perpassar a prédica também.
IV — Sobre os versículos
Para uma melhor compreensão do conteúdo da perícope, sugiro uma repassada por todos os versículos.
V. 20: O estilo de iniciar a perícope: Havia… é semelhante ao início da perícope que narra o encontro de Nicodemos, um dos fariseus, com Jesus (3.1-2). Há, pois, aqui um paralelismo entre os dois textos. Quem são os gregos? Por que estão indo para Jerusalém? Para alguns comentaristas, estes gregos são judeus vivendo na diáspora do mundo grego. Ou ainda, são não-judeus, gentios, que abraçaram o monoteísmo de Israel. Poderiam ser também gregos de nascimento, ou orientais de língua grega. Em todos os casos, o importante a resguardar é o seguinte: os gregos eram pessoas de origem pagã, simpatizantes da religião judaica e que certamente ouviram falar de Jesus. A sua vinda antecipa o anúncio do Evangelho aos pagãos e acentua a destinação universal da mensagem de Jesus (ver 7.35)” (cf. Niccacci/ Battaglia, p. 190).
V. 21: Entre os doze discípulos, apenas estes dois, Felipe e André, têm nomes gregos. Possivelmente, Felipe e André, conforme alguns comentaristas foram posteriormente enviados para evangelizar entre os gregos. Levanta-se também a hipótese de Felipe ser conhecido pelos gregos, e por isso, eles sentiam-se mais à vontade para conversarem com ele sobre seu propósito. Provavelmente os gregos procediam de Decápolis, perto de Betsaida, cidade de Felipe. O que pretendem os gregos? Eles querem conversar em particular com Jesus. A palavra ver traz consigo a ambiguidade joanina: eles querem vero homem dos bonitos discursos, das curas milagrosas, dos milagres jamais realizados, e acabarão vendo a revelação de Jesus como Filho de Deus, obediente até morte. Martin Bogdahm, comentarista, assim interpreta o desejo dos gregos: O mundo pergunta por Jesus e precisa de Jesus — este motivo aparece em todo o Evangelho de João.
V. 22: Felipe é cauteloso e procura compartilhar com André o pedido dos gregos. Quem sabe, Felipe achava que Jesus não desejasse falar com gentios. Juntos, Felipe e André, vão até Jesus e comunicam o desejo dos gregos.
V. 23: O evangelista João não nos diz se Jesus concordou em receber os gregos. Mas, apenas reproduz o discurso de Jesus. O pronome lhes pode muito bem se referir aos discípulos, como também aos gregos. No entanto, lendo os versículos adiante, podemos deduzir que Jesus falou para os gregos e para outras pessoas que foram se achegando a ele. Basta atentar para os versículos 29, 34 e 36.
A primeira afirmação da resposta de Jesus é o conteúdo da perícope. A hora de Jesus chegou. Ele o sabe. Aparentemente este início de conversa não tem nada a ver com o desejo dos gregos. E mais ainda, certamente não era este o início de conversa que os gregos estavam esperando. No entanto, este início de discurso está dentro de uma linha programática elaborada pelo evangelista. Em 2.4 lemos: Ainda não é chegada a minha hora. Toda a trajetória de Jesus vai desembocar no momento decisivo da sua vida: a morte na cruz. Ele terá de passar por esta hora para ser glorificado pelo Pai. E isto conforme a vontade de Deus. A glorificação de Jesus é obra de Deus, e portanto, não depende de sua vanglória. A glorificação de Jesus é mais um sinal do amor de Deus para com a humanidade. E ele o faz, porque Jesus renuncia em obediência a sua vontade. Observa-se que nos versículos 32 e 34 é usada a palavra levantar — exaltar. A diferença é que glorificação tem um sentido mais vasto que exaltação, uma vez que compreende não só a morte, mas também a ressurreição e ascensão (cf. Niccacci/Battaglia, p. 191).
Nesta primeira afirmação de Jesus temos o tema de seu discurso: morte e ressurreição. E para explicar seu discurso, Jesus fala do grão de trigo.
V. 24: A expressão Em verdade, em verdade… é bastante conhecida nos discursos de Jesus. É seu estilo. A metáfora da semente, do grão aparece em outras passagens: Mt 13.31-32; Mc 4.26-29. O apóstolo Paulo também usa esta mesma figura em 1 Co 15.36-37. O tema do discurso de Jesus é produzir fruto. A solidão do grão, em qualquer canto ou silo, ou ensacado e empilhado, não interessa para Deus. Não serve para a causa do reino. O grão só é útil quando produz frutos. A expressão cai na terra está em oposição ao que podemos ler no v. 32: E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Isto quer dizer que Jesus precisa cair' ou melhor, morrer para, então, poder reunir em torno de si todos os que nele crêem. O morrer é requisito para o sucesso de sua obra de salvação do mundo. Como se ve, en esta comparación Jesús se refiere a su muerte más, como condición para el éxito de su obra redentora, que como requisito previo de su glorificación personal (Wikenhauser, p. 351).
Assim como o grão de trigo precisa cair na terra, morrer, para então produzir fruto, assim a morte de Cristo se transformará em fonte de vida. A partir da ressureição de Cristo, espera-se que os discípulos também produzam frutos (cf. 4.36; 15.2). Estar em Cristo é tema também do apóstolo Paulo: se alguém está em Cristo, é nova criatura (2 Co 5.17).
Como o grão precisa renunciar a sua vida em favor de uma espiga/outros grão, assim também Cristo renuncia na cruz em favor da nossa ressurreição. Renúncia é condição, pois, do discipulado de Cristo.
V. 25: O tema deste versículo também encontramos em Mt 16.25: quem quiser salvar a sua vida, perde-la-á; e quem a perder por minha causa, acha-la-á. Também em Mt 10.39: Aquele que salva sua vida, perde-la-á; e aquele que perder sua vida por minha causa, encontra-la-á. Aqui, como nas passagens citadas, se expressa o radicalismo de Jesus. Ser discípulo de Jesus é contar com a morte, com a renúncia, com o esvaziar-se, com doação em favor dos outros. Vida e morte terrena, salvação e perdição eterna são postos por Jesus numa relação tal que subverte todos os cálculos humanos (cf. Niccaci/ Bataglia, p. 191). A partir disso dá para compreender a irritação dos fariseus e escribas. Pois, a verdadeira religião que Jesus anuncia não possibilita piedade interesseira, não possibilita garantir para si um futuro melhor pelas boas obras. Mas sim, ele convida para um discipulado sob a cruz, livre da preocupação por garantias, livre para agir em amor. Pela sua morte na cruz Jesus se torna um instrumento de amor.
Quem ama a sua vida é aquele que não está disposto a sacrificar sua vida terrena. É aquele que gira sempre em torno de si. É aquele cujo Ego, ocupa o centro da vida. Este, afirma Jesus, no final das contas, vai ficar sem nada, perderá sua vida. Quem odeia sua vida é aquele que não ama a sua, que está disposto a entregá-la, a doá-la, a reparti-la. É aquele que tem Cristo no centro de sua vida, como razão e fundamento de toda a sua existência. Este, afirma Jesus, con-seguirá a vida eterna. Dessa maneira Jesus desinstala todos aqueles seus seguidores acomodados, iludidos em sua falsa religiosidade. Esta palavra de Jesus é valorizada pelo seu próprio exemplo.
V. 26: Seguir a Jesus é a condição para todo aquele que quiser servi-lo. Não dá para escapar do discipulado. Ou seja: fora do discipulado não há como servir ao Mestre. Sabemos dos Evangelhos Sinóticos todas as preocupações que Jesus teve em preparar seus discípulos. E agora, novamente, Jesus ensina às pessoas, aos gregos que vieram vê-lo, que servi-lo significa odiar sua vida neste mundo (v. 25), produzir muito fruto (v. 24) e estar disposto a dar sua vida por ele (Jo 13.36-37). Da mesma forma como Cristo, o servo também será honrado pelo Pai. Esta promessa ele a faz aos seus discípulos. Assim também aparece na palavra à Igreja em Esmirna: Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida (Ap 2.10). Discipulado implica em fidelidade.
Aqui também transparece o tema da grande comunhão escatológica: todos junto ao Pai. Também em sua oração, em Jo 17, Jesus manifesta este seu desejo: Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo (v. 24).
Se para os incrédulos é impossível participar desta comunhão, agora é possibilitada aos servos. O próprio Cristo possibilita ao servo experimentar o aperitivo desta comunhão: Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt 28.20); onde estiverem reunidos dois ou três em meu nome, ali estou no meio deles (Mt 18.20).
V — Meditação
Os trigais, e mesmo a espiga de trigo, são bonitos por natureza. O amarelo ouro dos trigais reúne a riqueza contida em cada grão, em cada espiga. Esta bela imagem, Jesus Cristo escolhe para envolucrar sua missão em obediência ao Pai. Os trigais evocam não só beleza, mas também ares de romantismo. Ah! Como é bela uma vida comparada ao grão de trigo! Esta como tantas outras manifestações românticas de uma vida de fé ingênua e infantil não percebem a profundidade, o significado real desta figura que Jesus utiliza para comunicar que a salvação do mundo precisa passar pela morte. E quando surge a palavra morte, então toda a beleza do quadro anterior desaparece, ao menos para alguns.
Certamente os gregos que estavam chegando em Jerusalém, queriam ver a Jesus, assim como alguém que quer apenas ver um trigal ao pôr do sol. Ou seja, querem ver superficialmente aquele homem conhecido pelos seus belos discursos, suas curas e milagres que deixaram as pessoas maravilhadas. Este desejo de ver a Jesus tem dentro de si apenas a intenção de ver, e quem sabe, apalpar, aquele que está atraindo multidões. Neste sentido, muitos filmes da atualidade, têm mostrado Jesus como o super-herói, capaz de atrair a simpatia de milhões de pessoas. Nesta imagem, é claro, muitos nele se engraçam e por ele se interessam. Deveríamos perguntar ao nosso redor: como tu vês Jesus? Quem sabe esta pergunta poderia ajudar-nos a compreender a comodidade, a falta de compromisso e o descaso de muita gente em nossas comunidades.
Certamente nas respostas apareceria uma variedade muito grande de conceitos sobre Jesus. Mas, tenho certeza que em bem poucas respostas apareceria a imagem do Cristo-sofredor. Nem mesmo do Cristo-grão de trigo. Acontece que o Cristo sofredor não entra no esquema de pensamento das pessoas. As imagens românticas, as imagens bonitas do Cristo-bom pastor, luz do mundo, são preferidas às imagens onde o Cristo aparece como servo sofredor. Deveríamos nos perguntar: Por que esta preferência das pessoas? E quem sabe, de nós mesmos?
Lembro-me de uma reunião onde algumas pessoas foram colocadas diante de uma pintura que retratava o Cristo sofredor, com braços esticados, coroa de espinhos, gotas de sangue. Este quadro era uma sugestão para o cartaz do tema da lECLB para 1983: Eu Sou o Senhor teu Deus — temer e amar a Deus, e confiar nele acima de todas as coisas. As pessoas analisaram o quadro, e recordo-me que uma delas disse ao grupo: Esta imagem é muito feia. Assim não sofreu Cristo. Para mim, naquele momento, estava claro, que o sofrimento de Jesus era aceito, mas sublimado, romantizado. O quadro foi rejeitado.
A figura do grão de trigo em nossa perícope, corre este mesmo perigo. Ou seja, preferimos ficar com os trigais, sem nos interessar pelo como do surgimento dos trigais. Os trigais estão aí porque passaram pela morte do grão lançado ao chão. O pão está aí porque o grão se deixou amassar pela mó do moinho. O vinho está aí porque a baga se deixou esmagar, pisotear. A salvação, a ressurreição, a vida eterna estão garantidas porque Cristo sofreu e morreu. Não podemos perder de vista o sofrimento pelo qual Cristo passou. Contentar-se apenas com a salvação, alegrar-se com a ressurreição, desprezando o aspecto da morte, é bagatelizar toda a vida de Cristo em favor da humanidade. A cruz é marca registrada de Jesus. Não dá para segui-lo sem a cruz.
Por isso, o discurso de Jesus no encontro com os gregos certamente os decepcionou. Pois, ele reivindica para todos aqueles que querem servi-lo que morram para produzir frutos. Não era esta a mensagem que agrada as pessoas de hoje. E a nós também. Pois, se comparados ao grão de trigo, percebemos que nossa realidade nos 'mostra um quadro muito diferente daquele que Jesus descreveu com suas palavras. Ao invés de vidas caídas ao chão dispostas a morrer para produzir frutos, nos deparamos com vidas armazenadas, guardadas para si mesmas. Ao invés de vidas caídas ao chão, encontramos sempre mais vidas concentrando em si poder, fama, dinheiro, prestígio. Ao invés de vidas caídas ao chão, encontramos vidas preocupadas em garantir suas vidas com armas poderosas, com sistemas políticos corruptos, com um comércio explorador e desonesto. Também cristãos precisam, como Cristo, sofrer e morrer. Não podem segurar a vida, não podem impedir a morte. Mas, aqui, no seu entender, reside o problema do discipulado. Alguém disse: Ele era um cristão com um cristianismo para uso próprio. Ele tinha cristianismo, mas não era discípulo de Jesus.
Para o domingo Laetare, a mensagem desta perícope parece não combinar. No entanto, detendo-nos um pouco mais na questão do discipulado, podemos perceber a alegria que emana da promessa de Jesus a seus servos: Quem me servir, o Pai o honrará. Esta promessa não nos livra do morrer em favor, do renunciar, do esvaziar-se em favor do outro, do Cristo. Mas, nos dá a alegria de termos um Senhor que nos garante a vida, a verdadeira vida, que passa pela morte. Esta alegria cristã é bem diferente da alegria do mundo que se satisfaz com a vida armazenada, guardada para si, garantida pelo poder e pelo dinheiro. Esta alegria é breve. Mas, a alegria que brota da fidelidade a Jesus, é duradoura e portadora de uma esperança fundamentada em Jesus Cristo.
VI — Rumo à prédica
Para o pregador do domingo Laetare, a prédica poderia abordar um dos temas que se encontra nesta perícope. Sugiro dar uma olhada novamente no título III, acima, no parágrafo que fala sobre os diversos temas. A caminhada e as características da comunidade deverão ser levadas em conta na escolha do tema e consequente elaboração da prédica.
Seguindo na linha da meditação, consigo desmembrar uma prédica conforme os seguintes passos:
1) Reunir algumas imagens de Jesus Cristo e mostrar para comunidade. Descrevê-las rapidamente: Bom Pastor, Jesus abençoando as crianças, fonte água viva, luz do mundo (pôr do sol). Sugestão de leitura: v. Grijp, K. Imagens de Jesus Cristo no protestantismo conservador. In: Quem é Cristo no Brasil? S. Paulo, 1974.
2) Trazer a pergunta: como tu vês Jesus? Relatar algumas respostas ou até dialogar com a comunidade a respeito.
3) Ler o texto de Jo 12.20-26.
4) Jesus — o grão de trigo.
5) Cristãos — o grão de trigo. Por que tanto acomodamento? Por que tanto descaso com a causa do Reino? Por que as pessoas não querem se comprometer com Deus? Buscar para todas perguntas exemplos fora e dentro da comunidade, no distrito, na IECLB.
6) Encerramento:
Convite para servir a Jesus hoje, no local onde estamos. Anunciar a promessa de Jesus.
VI —Subsídios litúrgicos
1. Confissão dos pecados: Senhor, nosso Pai! Como teus filhos nos achegamos a ti para confessar: nossa fidelidade à tua vontade é frágil, facilmente desistimos e trilhamos nossos próprios caminhos: nosso compromisso contigo é só da boca para fora, e às vezes até silenciamos; nosso agir no dia-a-dia reflete bem pouco a renúncia, o repartir, o compartilhar que nos pedes. Senhor, nosso Pai, reunidos estamos como irmãos para pedir o teu perdâfo que nos renova, que nos anima, que nos coloca no caminho da obediência. Tem misericórdia de nós, Senhor. Tem piedade de nós. Senhor.
2. Oração de coleta: Todo poderoso e eterno Deus! Com alegria nos reunimos para render-te louvor, confessar nossos pecados, ouvir o teu Evangelho, o experimentar a comunhão com os irmãos. Fica conosco e abençoa nosso entendimento, para que a tua palavra possa ser aceita, compreendida e venha a produzir na vida os frutos da tua vontade. Em nome de Jesus Cristo, te pedimos. Amém.
3. Assuntos para oração final: Invocação; referência à alegria deste domingo; pensamentos centrais extraídos da prédica; desafios e estímulos para a vivência do discipulado sob a cruz; intercessão em favor da Igreja toda; em favor das comunidades, em favor daqueles que estão sofrendo por causa da fé; em lavor dos professores, dos pais das autoridades, em favor das crianças, dos jovens. Glorificação.
VIII – Bibliografia
– BORGDAHN, M. Meditação sobre João 12.20-26. In: Neue Calwer Predigthilfen. v. 1A. Stuttgart, 1978.
– DIENST, K. et SCHULZ, R. Meditação sobre João 12.20-26. In: Predigtstudien zur Perikopenreihe l. v. 1, t. 1 Stuttgart e Berlim, 1978.
– DODD, C. H A interpretação do Quarto Evangelho. São Paulo, 1977.
– KONINGS, J. Encontro com o Quarto Evangelho. Petrópolis 1975
– NICCACCI, A. et BATTAGLIA, O. Comentários ao Evangelho de São João, Petrópolis, 1981.
– WIKENHAUSER, A. El evangelho segun San Juan. Barcelona, 1978.