Prédica: Mateus 21.1-9
Autor: Lair Hessel
Data Litúrgica: 1º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 02/12/1984
Proclamar Libertação – Volume X
I — O contexto
Ao concluir a sua atividade na Galiléia, Jesus segue com os seus discípulos para a Judéia e decide, diante da proximidade da festa da Páscoa, subir com eles a Jerusalém, a cidade santa (Mt 19.1,17). Ao aproximar-se da cidade, Jesus é reconhecido e saudado festivamente pelo povo como o Messias esperado (21.1-9). Vendo as homenagens que lhe são prestadas pela multidão, os habitantes de Jerusalém ficam alvoroçados e perguntam: Quem é ele? (21.10). A multidão responde: É o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia (21.11).
Entrando na cidade, Jesus dirige-se imediatamente ao templo. Lá ele intervém com seriedade e autoridade profética: expulsa os vendedores e cambistas e reúne ao seu redor os verdadeiros representantes da sua comunidade messiânica: os cegos, os coxos, as crianças. Os principais sacerdotes do templo, ao tomarem conhecimento destes fatos, reagem com indignação e revolta. Sentem-se diretamente atingidos por estas atitudes de Jesus. Discutem com ele. E chegam à conclusão: este homem precisa ser preso e eliminado (21.46; 26.4). O que de fato acaba acontecendo.
Mt 21.1-9 marca, pois, dentro da estrutura do Evangelho de Mateus, o início do relato da paixão de Cristo. O Reio, cuja chegada é aqui celebrada com tanto entusiasmo e alegria, não é outro do que o Crucificado. A aclamação festiva que o povo lhe dirige diante das portas de Jerusalém se transformará, em poucas horas, num grito de ódio e revolta: Crucifica-o! O Advento de Cristo, portanto, não pode ser divorciado da sua cruz.
II – O texto
V. 1: Tudo começa quando Jesus se aproxima de Jerusalém. Jerusalém: a capital, a cidade santa, o centro político, cultural e religioso, onde se concentram os líderes do povo. A cidade que se prepara para a sua grande festa: a Páscoa.
Vv. 2-3: Ao se aproximar de Jerusalém, Jesus incumbe dois de seus discípulos com uma tarefa: ir até a vila (Betfagé) e buscar-lhe um animal de montaria. Jesus decidiu entrar na cidade de uma forma especial: não a pé, como de costume, mas montado num animal — tal como o profeta Zacarias o predissera.
Numa comparação para com o relato do Evangelho de Marcos (Mc 11.1-11), notam-se aqui algumas diferenças que precisam ser esclarecidas:
a) Ao descrever a tarefa dada por Jesus aos dois discípulos, Mt, em clara alusão a Zc 9.9, fala de dois animais: uma jumenta e um jumentinho. Mc (e assim também Lc e Jo) mencionam somente um jumentinho, no qual ainda ninguém montou (Mc 11.2). Mt, ao que parece, não atentou corretamente para o texto original hebraico de Zc 9.9 onde, embora pareça haver indicação de dois animais, na realidade fala-se apenas de um. Zc 9.9 é mais um caso de paralelismo hebraico (parallelismus membrorum): usam-se duas frases paralelas para descrever uma só coisa (cf. SI 2.1-5; 33.10-12; Is 47.1). Quer dizer: o e entre jumento e jumentinho (veja o v. 5 no texto grego!) só se encontra na Septuaginta, a tradução grega do AT usada por Mt — não no texto hebraico (e também não no texto de Almeida)!
Mt não observou este detalhe. Em consequência, tomou o texto da Septuaginta tão literalmente que, agora, nos vv. 5 e 7 (veja o texto grego!), tem-se a impressão de que Jesus está montando os dois jumentos ao mesmo tempo! Mt não se importou com isso. Para ele, o que importava mesmo, é que a passagem de Zc 9.9 e, com ela, as expectativas messiânicas do AT, se cumprissem na pessoa de Jesus de Nazaré. Por isso ele também é o único dos evangelistas sinóticos que, explicitamente, interpreta os acontecimentos aqui narrados como cumprimento da profecia (vv. 4 e 5).
b) Uma segunda diferença: Conforme Mc, Jesus promete mandar de volta o jumento após tê-lo usado (Mc 11.3). Isto Mt deixa de lado. Para ele, Jesus não precisa prometer nada. Mt quer mostrar, de uma forma bem mais enfática do que Mc, que tudo está a serviço, à disposição do rei que vem entrando em Jerusalém. Ele manda os seus discípulos buscar os animais — e, pronto! Não precisa prometer que os trará de volta. E o dono dos animais, assim que souber que o Senhor precisa deles (v. 3), imediatamente os colocará à sua disposição, sem questionar e sem se opor. É por isso que Mt também omite Mc 11 A-6a, onde se narra como tudo. o que Jesus predissera se cumpriu maravilhosamente. Em lugar disso, Mt pode concluir laconicamente com os vv. 6 e 7a: os discípulos obedecem e a ordem de Jesus é cumprida. Só podia ser assim. É o Senhor quem está mandando. Portanto: na absoluta obediência dos discípulos (v. 6) e no pronto atendimento do proprietário dos animais (v. 3) revela-se o caráter senhorial da ordem de Jesus.
V. 4: Frase típica no Evangelho de Mateus (cf. 1.22; 2.15,17, 23; 4.14). Mt, muito mais acentuadamente do que os outros evangelistas, constantemente faz referência aos textos do AT com o intuito de demonstrar que este Jesus de Nazaré é o Messias esperado e que nele as previsões dos profetas foram plenamente realizadas.
Também aqui isto mais uma vez transparece claramente. À introdução característica do v. 4 (Isto aconteceu, para se cumprir…) segue a citação de um texto profético no v. 5. Quer dizer: A entrada de Jesus em Jerusalém é interpretada por Mt como cumprimento da profecia e das expectativas messiânicas vétero-testamentárias. O que o profeta previu, isto agora está se realizando.
V. 5: O v. 5 é uma combinação de dois textos do AT: Is 62. 11 e Zc 9.9. Em vez do Alegra-te muito, ó filha de Sião (Zc 9.9a), Mt introduz a citação com a passagem de Is 62.11: Dizei à filha de Sião. O anúncio dirige-se a Jerusalém. Com a chegada de Jesus, Jerusalém é, pois, colocada diretamente diante da decisão se quer ou não quer reconhecer este Jesus como o Messias esperado.
Importante é a caracterização deste rei que vem chegando: ele é um rei manso, humilde (PRAYS). Para esta característica o profeta Zacarias já havia apontado. Mas Mt parece reforçá-la, na medida em que omite, na citação de Zc 9.9, os dois outros adjetivos dados ao rei pelo profeta: justo e vitorioso. Em Mt, todo o acento está colocado no PRAYS.
Ele é um rei humilde. E isto significa:ele é um rei pobre, sem posses, sem bens, sem reputação; não tem onde reclinar a cabeça (Mt 8.20). Não conhece o poder, a força, a fama, a honra e a glória que os reis deste mundo tanto procuram e também recebem. A tudo isto soube renunciar.
Assim, ao entrar em Jerusalém, a capital, não vem montado num cavalo de raça, como se esperaria de um rei; não vem acompanhado de um exército imbatível, nem tem à sua disposição ministros e guarda-costas. Vem montado num simples animal de carga, um jumento qualquer. Vem cercado pelo povo simples da Galiléia, o OCHLOS, povo sem nome, sem expressão, que lhe estende as suas roupas suadas da peregrinação para por cima delas passar. E vejam bem: o jumento nem dele não é! É um animal emprestado! De fato: este rei é diferente. É um rei humilde.
E tem mais: exatamente por ser humilde, este rei tem olhos que estão voltados para aqueles que nunca são vistos, que nunca têm vez, que sempre são esquecidos. Por isso ele dá acolhida aos pobres, aos doentes e aos pecadores. Chama a si os cansados e sobrecarregados. Não para dominar sobre eles e impor-lhes um fardo mais pesado ainda, mas para ofertar-lhes alívio e descanso. Realmente, ele é manso e humilde de coração (Mt 11.29).
Na mansidão deste rei reside a grande diferença entre ele e os demais reis deste mundo. Por isso também o seu reino terá características próprias, inigualáveis. Ele mesmo as revelou ao longo de sua vida: é o reino do amor, do perdão e da paz (SHALOM). Zc 9.10 o expressa da seguinte forma: ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos (de batalha) de Jerusalém. Também o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz aos povos; o seu domínio se estenderá de um oceano ao outro, e do Eufrates até os confins da terra”.
V. 8: Como que formando um tapete sobre o qual o seu rei deverá passar, o povo espalha pela estrada as suas vestes e os ramos cortados das árvores, homenageando o seu rei e preparando-lhe a sua entrada em Jerusalém. É importante notar que esta homenagem ocorre diante das portas de Jerusalém. Os que lhe prestam a homenagem e se alegram com a sua vinda não são os habitantes da cidade. Para estes, a vinda de Jesus só traz indignação (v. 15) e revolta (v. 46). Quem o recebe tão festivamente assim são pessoas que conhecem Jesus (cf. vv. 11 e 46b) e que já experimentaram a novidade de suas palavras e do seu agir. Daí o seu entusiasmo. Trata-se, ao que tudo indica, de peregrinos galileus que subiram a Jerusalém para lá festejarem a Páscoa.
V. 9: Muito mais importante ainda, é atentar para as palavras com as quais Jesus é saudado pela multidão. Trata-se do SI 118. 25s, salmo este, que teve uma importância singular para a comunidade primitiva na sua compreensão do verdadeiro sentido da vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré e que, justamente por isso, é citado em várias passagens do NT (cf. Mt 21.42; 23.39; Mc 12. 10-11; At 4.11;1 Pe 2.7)., Embora o HOSANA do SI 118. 25 seja, a rigor, um grito de socorro, de súplica (HOSANA = ajuda, por favor), aqui, em Mt 21.9, ele se apresenta muito mais como um grito de júbilo, de aclamação festiva (Salve!).
O hosana é dirigido a Jesus, que aqui recebe o título de Filho de Davi — um detalhe exclusivo do relato de Mt. O título Filho de Davi tem, para Mt, uma importância singular: Jesus não só o recebe quando se trata da sua descendência (Mt 1.1), mas fundamentalmente quando se trata da sua misericórdia que se derrama sobre aqueles quo clamam por compaixão e pedem por sua ajuda concreta: são os cegos (Mt 9.27; 12.23), a mulher cananéia (20.30) o povo humilde (21.9 — Hosana!) e as crianças maravilhadas com as suas curas (!) no templo (21.14-15) que o chamam de Filho de Davi. Quer dizer: Filho de Davi é um título que aponta para a proximidade e o agir misericordioso de Jesus em relação aos desprezados, doentes e gentios. Através dele Jesus é reconhecido e aclamado diretamente como o Messias, o rei da graça prometido. A ele estão dirigidas as esperanças do povo. Pois é o representante de Deus: vem em nome do Senhor (v. 9).
Ill —Para meditar
Quem é este? — Com esta pergunta reagem os habitantes de Jerusalém à entrada festiva de Jesus na cidade. É tarefa inalienável de toda pregação cristã dar resposta a esta pergunta. Especialmente quando se está em época de Advento. Advento significa chegada. A comunidade reunida celebra a chegada de alguém. Quem é ele? Para quem vem ele? Como vem ele? Como recebê-lo?
Mt, no seu relato, procura responder estas perguntas, apoiando-se num texto do AT. Vimos, na exegese, que Mt é o único dos sinóticos que cita esta passagem do AT. Ela está no centro do seu testemunho. Assim, também na nossa pregação neste Primeiro Domingo de Advento, ela poderá assumir o lugar central. É neste sentido que destaco, a seguir, cada uma das palavras que compõem a referida passagem bíblica para, a partir delas, meditar sobre o Advento de Cristo.
1. Dizei à filha de Sião
A passagem bíblica inicia com um imperativo: Dizei!. É uma palavra que vem de fora e que nos lança o desafio de sermos porta-vozes de uma determinada mensagem. É este imperativo que dá sentido e que fundamenta a nossa pregação, também neste Primeiro Domingo de Advento. Não pregamos a partir de nós mesmos. Pregar não é uma decisão nossa. Alguém outro nos incumbe com esta tarefa e nos mostra o que e a quem falar.
Neste sentido, precisamos dizer: Advento só é o Advento de Cristo quando uma determinada mensagem é dita, é proclamada. Aliás, é precisamente nisto que reside a grandiosidade do Advento de Cristo: não precisamos ficar calados. Podemos falar. Temos o que falar. E se nós não o fizermos, as pedras o farão (Lc 19.40).
2. Dizei à filha de Sião
Isto é: dizei a Jerusalém, à cidade santa, que se acha ocupada com os preparativos da sua maior festa. Dizei ao seu povo — este povo que Deus mesmo escolheu, que ele mesmo libertou da escravidão do Egito, conduzindo-o pelo deserto à terra prometida. Dizei a este povo com o qual Deus firmou uma aliança. Ao qual Deus deu cuidado, proteção e guarida. Dizei a este povo que, ao longo de sua conturbada história, sentiu de perto a mão poderosa de Deus, mas que por tantas e tantas vezes quebrou a aliança, transgrediu os mandamentos, não correspondeu à misericórdia de Deus. Dizei a esta cidade que não deu ouvidos aos profetas de Deus e os apedrejou. Dizei a este povo que hoje corre atrás de Jesus, que celebra festivamente a sua vinda, estendendo-lhe vestes e ramos e cantando-lhe hosanas, mas que, amanhã, ergue os punhos cerrados e grita: Crucifica-o! Crucifica-o! Dizei, apesar de tudo isso!
Não valem estas mesmas colocações também para a nossa comunidade (e o pregador é membro dela!) à qual falaremos neste Primeiro Domingo de Advento? É claro que valem. Pois a nossa comunidade, comprada peio sangue do Cordeiro, faz parte do novo povo de Deus, é a nova filha de Sião.
Ela conhece e fundamenta a sua existência na história de Jesus de Nazaré. Sabe que em Jesus Cristo a graça de Deus se manifestou de forma plena e definitiva. Sabe que ali Deus se entregou nas mãos dos seus próprios inimigos, unicamente para nos arrancar do lamaçal de nossa miséria, culpa e pecado. Justamente por isso, a nossa comunidade, muito mais intensivamente e de uma forma bem mais abrangente do que o povo de Jerusalém daquela época, sabe falar do amor e da misericórdia de Deus. Este amor e esta misericórdia aos quais ela sempre de novo tem acesso pela pregação do Evangelho e pela celebração dos sacramentos.
Mas como é difícil também a ela corresponder na vida do dia-a-dia a este amor de Deus! Constantemente ela fraqueja na sua fé e no seu amor. Esquece-se de Deus e esquece-se do próximo. Constrói um grande ginásio de esportes, mas não consegue construir uma pequena casa de madeira para um membro que sobrevive na barranca do rio. Rejeita os seus pregadores quando estes lhe tocam nas suas feridas. Sim, também ela sabe cantar hosanas ao Filho de Davi (os seus belos hinos de Advento não são um exemplo disso?) para logo em seguida desprezá-lo e crucificá-lo.
Mas, mesmo assim — e, apesar disto! — ela continua sendo, pela graça de Deus (I), a filha de Sião. Isto o Advento de Cristo sempre de novo nos revela. Deus continua si falar com ela e lhe transmite, pela boca dos seus pregadores, uma mensagem. O que diz esta mensagem?
3. Eis aí: o teu rei vem a ti
Todos sabemos que o Advento marca o início do período mais agitado do ano. São pessoas, vozes, luzes coloridas e propagandas que, por todos os lados, querem chamar a nossa atenção para os finos presentes, os bons preços, as super-ofertas do fim de ano. Nas ruas e nas calçadas as pessoas se atropelam, tentando recuperar em poucos dias o que ao longo do ano deixaram de realizar. É época de provas nos colégios, formaturas nas faculdades, balanços nas firmas, assembleias nas comunidades. Somos absorvidos intensamente. Nossos olhos vêem tantas coisas…
Mas: vêem eles o mais importante desta época? Enxergam eles aquilo que de fato deveria nos interessar e nos envolver totalmente: a chegada de Deus em Cristo? Não estarão os nossos olhos ofuscados por tanta luz e brilho falso que nos rodeia na época do Advento?
Daí o alerta do nosso texto. Ele vale também para nós: Eis aí! Olha! Percebe! Observa! Abre bem os olhos! Não te deixas desviar pelo que é secundário! Algo mais importante está acontecendo!
4. O teu rei vem a ti
Entretanto, é bom que se diga logo de saída: não basta ficar de olhos arregalados. Por nós mesmos não podemos e também não queremos reconhecer Jesus como o nosso rei. Não podemos, pois ele vem a nós de uma forma totalmente inesperada: vem absconditamen-te, na figura de um pobre carpinteiro galileu, sentando num burrico mendigado. Vem oculto sob pobreza, sofrimento, cruz e morte. De que forma a nossa razão poderia perceber que aqui se trata da chegada de um rei? Por outro lado, nós, por nós mesmos, nem queremos. reconhecer Jesus como nosso rei. Nós fazemos questão de sermos os nossos próprios senhores. Não queremos estar sujeitos a ninguém.
Enxergar neste Jesus pobre e sofredor o nosso rei, isto, portanto, só pode ocorrer pelo poder do Espírito Santo. É preciso que o Espírito Santo abra os nossos olhos, iluminando-os com os seus dons e provocando em nós aquele milagre que denominamos de fé. É esta a fé que sabe dar ao rei toda honra e louvor e que se evidencia praticamente na obediência à regra áurea de conduta do seu reino: o amor ao próximo sem limites.
5. O teu rei vem para ti
Ele vem. E isto significa: não somos nós que vamos ao seu encontro. Não somos nós que tomamos a iniciativa. Não somos nós que damos o primeiro passo. A iniciativa é dele! Ele vem ao nosso encontro! Ele vem nos procurar! Ele vem para junto de nós! — Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros (Jo 15.16). Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Ef 2.8).
Por que vem ele? O motivo da sua vinda reside nele mesmo. No seu amor. Não são os nossos preparativos — ou a falta de preparativos —, não são as nossas coroas de Advento, os nossos belos hinos, a nossa igreja tão bem ornamentada neste Primeiro Domingo de Advento que efetuam a sua vinda. Ele vem, apesar de tudo isto. Vem por livre graça e impulsionado unicamente por seu amor.
Para que vem ele? Ele vem para ti, comunidade cristã reunida neste Primeiro Domingo de Advento. Ele feria, sem dúvida alguma, inúmeros motivos para se esquecer de ti, para te ignorar e passar de largo. Mas a grandiosidade deste seu Advento é que justamente agora, mais do que em outras épocas do ano, podemos anunciar: Ele vem para ti, apesar de todas as tuas falhas, fraquezas e omissões. Tu podes contar com ele!
6. Ele vem manso, montado num jumento, num jumentinho, cria de animal de carga.
Já na exegese do nosso texto procurei caracterizar a mansidão deste rei. Vimos que ela não só aponta para a sua pobreza, para a falta de brilho e de pompa da sua chegada, mas também para o seu coração: ele é manso e humilde de coração (Mt 11.29). Por isso quer estar próximo daqueles que nada têm a lhe oferecer, que estão de mãos vazias à sua frente, que são mendigos e chegaram ao fim de suas possibilidades. Com a sua chegada, os pobres, os doentes, os presos e os pecadores devem sentir que existe um coração que bate por eles. Justamente estes que menos motivos têm para alegrias e esperanças — estes são os mais bem-aventurados e felizes com a sua chegada.
Ora, não é de outro modo que também neste Advento de 1984 o Rei Jesus quer vir ao nosso encontro. Quer vir em humildade, fraqueza e fragilidade, sem espalhafato e sem pompa. Através de quê? Através da sua palavra, anunciada pela boca de seus mensageiros falhos e pecadores; através da celebração do Batismo e da Santa Ceia, dos quais por inúmeras vezes participamos por puro costume, sem o devido preparo e com nenhuma meditação posterior; através do diálogo franco e sincero entre irmãos na mesma fé.
E ao fazer assim, quer estar próximo, de uma forma toda especial, dos cansados e sobrecarregados, proporcionando-lhes alívio e descanso (Mt 11.28-30). Estarão estas pessoas presentes no nosso culto de Advento? Não foram elas esquecidas ao longo do ano? Não ficaram elas para trás? Onde estarão elas? — Que saibamos procurá-las e testemunhai; a elas, através do nosso amor, a chegada do rei humilde. Que a nossa alegria pela vinda graciosa de Deus em Cristo se transforme em alegria também para eles. Este é o desafio do Advento de Cristo!
IV — Bibliografia
– GRUNDMANN, Walter. Das Evangelium nach Matthäus. In: Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament. v. 1. ed Berlin 1968.
– RUPPRECH, Walter. Meditação sobre Mateus 21. 1-9 In: Neue Calwer Predighthilfen. v. A. Stuttgart, 1978.
– SCHWEIZER Eduard Das Evangelium nach Mattäus. In: Das Neue Testament Deutsch. v. 2. Gottingen, 1973.
– WEISER, Artur. Das Buch der zwolf Kleinen Propheten. In: Das Alte Testament Deutsch. v. 24. Göttingen, 1967.