Tema: Migração: esperança ou desespero?
Explicação do tema
A migração tem suas raízes na história fundiária do país, que desde os primórdios privilegiou o latifúndio em detrimento da pequena propriedade.
Perpetua-se em nossos dias, porém, de forma mais acelerada, a concentração da terra, que resulta na expropriação do trabalhador rural do seu meio de vida. Aumenta, assim, o cinturão de miséria em torno das cidades e o deslocamento para novas áreas, servindo como testa-de-ferro para a posterior ocupação e exploração destas novas fronteiras pelo capital.
A partir daí não podemos ver a migração como um processo natural e espontâneo, mas como instrumento usado para manter a injusta estrutura fundiária vigente.
Faz-se necessária uma autêntica Reforma Agrária, não como mera distribuição de terras, mas com a participação e controle por parte da classe trabalhadora. Também deve vir acompanhada de uma nova ordem social e política, que vise uma vida digna a toda criatura de Deus.
Texto para a prédica: Levítico 25.8-17,23-28,35-43
Autor: Baldur van Kalck
I — O migrante
1. Depoimento de um migrante
Nasci em Candelária e me criei em Santa Cruz, terra do fumo. Lá eu plantava de meia — em parceria — duas colónias. Desde pequeno, minha vida foi assim, sempre naquela luta. No final, as plantas estavam ruins e a gente ficava cada vez devendo mais para o patrão. Este também não deixava ninguém morar nas suas terras por mais de cinco anos — tinha medo que os colonos usassem a lei do usucapião. — Passava o tempo e eu nunca conseguia fazer dinheiro para sobrar e comprar uma terrinha. Doenças na família fizeram, então, que eu me resolvesse a vir para Porto Alegre. Isto faz dez anos. Primeiro, moramos (eu, a esposa e cinco filhos) com uns primos. Consegui um serviço de servente de obras e minha mulher foi trabalhar de doméstica. — No primeiro ano, tudo foi mal. A gente não conhecia o povo, os lugares, não sabia onde procurar trabalho. Já no segundo, a situação melhorou, conseguimos escola para os filhos. Comprei uma casinha, depois o terreno no Morro da Polícia. Ali, só eu mando — é um direito que tenho. Voltar? Nunca mais. Claro, se eu pudesse comprar uma terrinha… Sei que é difícil. Então, prefiro ficar aqui do que continuar a encher os bolsos de quem já está com eles cheios. (Rahde, Correio, p. 1).
Este é o depoimento de Rodolfo Conrad, de 53 anos, que deixou a colónia e foi morar na cidade. Como este agricultor que um dia deixou a colônia, existem milhares de outros no Brasil. A migração acontece tanto para as cidades, onde os migrantes vão engrossar as vilas e as favelas, como para as novas áreas de colonização.
Na Veja n.° 625 de 1980 leio: De janeiro de 1977 a junho deste ano, 250.000 brasileiros marcharam sobre Rondônia. (Morais, p. 58). Em outro documento encontro a informação que nos últimos anos emigraram para o Paraguai 300.000 brasileiros. (Comissão Pastoral, p. 8).
Por que o homem do campo migra? Porque gosta? — O exemplo inicial mostra: ele migra por necessidade. Porque não tem terra. Porque tem que entregar parte do que colheu para os proprietários.
O Censo de 1970 fala de 30 milhões de migrantes no Brasil.
2. As causas da migração
Sem dúvida a principal causa da migração é a situação fundiária do país. Dados do IBGE revelam que em 1972 os minifúndios totalizavam 72% do número de imóveis rurais, com apenas 12,5% da área agrlcultável. Em contrapartida os latifúndios somavam apenas 23,3% dos imóveis, com 77,9% da área. (Comissão Pastoral, p. 4).
Quanto à população rural, os dados do INCRA de 1972 mostram a seguinte realidade: 10% da população do campo são proprietários 85% são Agregados 05% são assalariados
Ou seja: 90% das pessoas em atividades na agricultura não possuem terra. (Comissão de Publicações, p. 6).
A concentração de terras nas mãos de poucos no Brasil é impressionante. Ela é de fato injusta. Há na verdade, em consequência desta distribuição de terras, duas classes sociais: os proprietários — e os agregados, que são camponeses sem terra, arrendatários, meeiros, parceiros, ou como quer que sejam designados. Estes trabalham em terra alheia e têm de entregar parte da renda ao proprietário. A consequência desta situação injusta é a migração. A migração não é pois um fenômeno natural, mas ela tem uma causa social, ou seja, a situação agrária no Brasil.
A migração para a cidade ou para as novas áreas de colonização foi acelerada nos últimos anos pelos seguintes fatores:
a) A mecanização da lavoura
Para citar o exemplo do Rio Grande do Sul: Em 1960, havia no Estado uma área de 900 mil hectares mecanizada; 20 anos depois, em 1980, a área mecanizada foi de 5,3 milhões de hectares. Em 1960 havia 14.500 tratores, em 1980,90 mil tratores. Em 1960, trabalhavam no Estado 600 colheitadeiras, em 1980, 20 mil. (Feijó, p. 10). O maquinário agrícola substituiu o homem do campo. A mecanização da lavoura expulsou muitos trabalhadores sem terra da zona rural. Nas grandes lavouras mecanizadas o trabalhador só é necessário ainda na época da capina ou da colheita. Ele se torna interessante como trabalhador volante, e não como agregado.
b) A agricultura de exportação
O modelo agrícola adotado no Brasil a partir dos anos 60 favoreceu a monocultura e a agricultura de exportação. Para a agricultura de exportação a pequena propriedade é desinteressante. Aconteceu, em consequência disso, nos últimos anos, uma grande concentração de terras no Brasil. Assim diminuiu no Brasil, de 1970 a 1975, o número de propriedades de menos de 100 hectares e aumentou o número de estabelecimentos de 100 a 10.000 hectares e mais. (Com. Pastoral, p. 13). Os pequenos proprietários que venderam suas propriedades geralmente seguiram para as novas áreas de colonização, atraídos pela propaganda das colonizadoras, que se interessam em especial por pequenos proprietários que têm alguns recursos financeiros. Ora, os grandes proprietários não têm interesse que trabalhadores rurais mantenham em suas terras lavouras de subsistência. — A agricultura de exportação expulsou o trabalhador sem terra do meio rural.
c) Outros fatores
Enfim, há muitos fatores que aceleraram a migração nos últimos anos no Brasil. Queremos acrescentar ainda os seguintes:
O governo adotou nos anos após 1965 a política de ocupação dos vazios demográficos. Em vez de promover uma Reforma Agrária, o governo preferiu colonizar as terras ainda não incorporadas à agricultura. Assim surgiram projetos de colonização que levaram milhares de agricultores de um canto do Brasil para outro.
A construção de hidrelétricas deslocou milhares de famílias de seu lugar de trabalho.
Acrescentamos o desestímulo à pequena propriedade, os preços baixos dos produtos produzidos, o tamanho sempre mais reduzido de propriedades subdivididas entre os herdeiros, o elevado preço da terra que dificulta o acesso à terra, a atração natural da cidade. — Mas atrás de tudo está a concentração de terras em mãos de poucos. A migração é consequência da distribuição injusta de terras no Brasil.
3. Os legisladores
O que fizeram os legisladores no Brasil para mudar esta situação?
O problema da terra no Brasil é antigo. Quando o Brasil foi descoberto, ele foi dividido em capitanias e estas em sesmarias. As sesmarias eram doadas a senhores ricos e ambiciosos. Logo no início houve portanto concentração de terras no Brasil. Havia duas classes sociais: os proprietários e os escravos. Apenas em 1822, com a Independência, o sistema de sesmarias foi abolido.
A primeira lei de terras no Brasil data de 1850. Esta lei de terras proibia o acesso à terra através da posse e estabelecia que a terra devia ser comprada. Não era do interesse do Brasil, naquela época, que os imigrantes em São Paulo e outros Estados adquirissem terras para o cultivo; os imigrantes para as classes dominantes eram interessantes como mão de obra para as suas grandes lavouras de café e algodão. A lei de 1850 foi criada, pois, para dificultar o acesso à terra. (Petry, p. 17). Desde o início, no Brasil, o minifúndio foi a exceção.
A primeira tentativa séria de mudar a situação foi a aprovação do Estatuto da Terra em 1965 pelo Congresso Nacional. O Estatuto da Terra é visto como a lei básica em todas as questões de terra no Brasil. Ele prevê pela primeira vez uma Reforma Agrária no Brasil. Mas até 1979 não foram beneficiadas pelo Estatuto da Terra mais de 10 mil famílias. (Com. Publ., p. 16). De uma Reforma Agrária não se pode falar. Apenas agora, quando escrevo este trabalho (junho/julho de 1985) surge da parte do Governo Sarney um projeto sério com o plano de assentar ao longo de 15 anos sete milhões e cem mil trabalhadores rurais. E já surge também um debate acirrado nos meios de comunicação em torno do 1º. Plano Nacional de Reforma Agrária, colocando-se os grandes proprietários contra e outros a favor. Urge tomar, neste momento, posição ao lado de todos aqueles que lutam por uma distribuição justa de terras no Brasil.
4. Vida digna para os migrantes
Nas novas áreas de colonização os migrantes abrem clareiras, empurram a fronteira agrícola para dentro da selva, enfrentam grileiros, não ganham o título das terras muitas vezes, as crianças não encontram escola e as famílias contraem com frequência a malária. A revista Veja afirma: De cinquenta migrantes que chegam ao território (Rondônia), dois enriquecem. Os outros 48 fracassam e às vezes sucumbem nos mais primitivos precipícios da injustiça social. (Morais, p. 64).
O migrante enfrenta a angústia e a incerteza da migração porque ele tem um sonho, o sonho da terra, e este sonho ele busca tornar realidade. Por causa deste sonho ele suporta as privações. Na cidade as privações do migrante não são menores. Mas não há somente as privações, há também as injustiças.
A discussão atual em torno do 1º. Plano Nacional de Reforma Agrária mostra claramente que os trabalhadores sem terra devem organizar-se e pressionar (assim como os grandes proprietários estão se organizando contra a Reforma Agrária), para que a Reforma Agrária seja realizada e os migrantes tenham as condições de construir uma vida digna. Pois sem a Reforma Agrária não haverá vida digna para os milhões de migrantes no Brasil.
II — O texto Levítico 25.8-17, 23-28, 35-43
1. Questões introdutórias
Levítico 25 pertence à Lei da Santificação, que abrange os caps. 17-26. A Lei da Santificação contém diversas leis, por exemplo, leis sobre os sacrifícios, sobre o casamento e leis para os sacerdotes. Uma observação importante: As leis são apresentadas como palavras de Deus a Moisés (cf. 17.1). O bloco 17-26 contém, portanto, mandamentos de Deus e quem obedece aos seus mandamentos recebe a bênção de Deus (cap. 26).
Outro detalhe significativo: A Lei da Santificação faz parte do Escrito Sacerdotal (P). Conforme Homburg, o Escrito Sacerdotal surgiu no exílio babilônico por volta de 550 (Homburg, p. 66). Sellin-Fohrer acrescenta: P contém um programa de reconstrução da com unidade, determinada por Deus, ou de reforma da comunidade para os tempos que se seguirão ao exílio (Sellin-Fohrer, p. 256). É este programa que Esdras leva para Jerusalém após o exílio.
2. Exegese
a) O ano de jubileu (vv. 8-13)
Nestes versículos encontramos explicações sobre o ano de jubileu e indicações sobre a data do ano de jubileu. Conforme os w. 8 e 9, o ano de jubileu será realizado no 49.° ano. Ele será proclamado festivamente. Arautos o anunciarão em todos os recantos do país. O texto determina que o ano de jubileu iniciará no dia da expiação.
O v. 10 menciona o ano 50.° como ano de jubileu. No primeiro cálculo se exclui na contagem o último ano de jubileu, no segundo ele está incluído, chegando-se assim ao ano qüinquagésimo.
O que é o ano de jubileu? No ano qüinquagésimo será proclamada liberdade a todos os moradores da terra (v. 11). Neste ano cada morador poderá voltar à sua possessão e à sua família. A lei de Deus prevê, portanto.que cada cinquenta anos aconteça em Israel a devolução de terras aos seus antigos proprietários, e todo israelita que perdeu a sua liberdade e se tornou escravo, no ano qüinquagésimo será libertado e voltará para a sua família. No ano de jubileu acontece, portanto, a libertação dos escravos e a devolução das terras aos seus primeiros ocupantes.
b) Sobre a compra e venda de terras em Israel (vv. 14-17)
Deus não quer que no ato de compra e venda de terras um israelita seja prejudicado. Isto podia acontecer quando um israelita era obrigado a vender sua terra por se ter endividado. Quais são as diretrizes fixadas para o ato de compra e venda de terras? 1º.) Vendida não é a terra, mas apenas as messes são vendidas (v. 15b e 16b). Ninguém em Israel pode comprar ou vender terras, mas apenas o direito de usaras terras durante um determinado número de anos. 2.°) A data chave para calcular o número de messes a serem vendidas é o ano de jubileu. Sendo muitos os anos (até o ano de jubileu), aumentarás o preço, e sendo poucos, abaixarás o preço; porque ele te vende o número das messes (v. 16e 15). Esta lei é fixada para que no ato de compra e venda de terras o próximo não seja oprimido. O texto enfatiza isto duas vezes (v. 14 e 17). O v. 17 encerra a questão lembrando que quem teme Deus não oprime o seu próximo.
Tanto nos vv. 8-13 como nos vv. 14-17 verificamos uma acentuada preocupação social. Deus se importa com os escravos, com os sem terra, com os empobrecidos que são obrigados a vender suas terras para pagar suas dívidas e que podiam ser facilmente explorados. Deus não concorda com a opressão e a sua vontade é que cada um, depois de determinado número de anos, possa readquirir sua liberdade e sua possessão.
c) A terra é de Deus (vv. 23-28)
O v. 23 faz uma afirmação central, decisiva para a legislação so¬bre a posse da terra: Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha (v. 23a). O proprietário da terra é Deus. Aqui temos novamente o tema do ano da IECLB de 1982: Terra de Deus — terra para todos. Israel não é o proprietário da terra, mas apenas arrendatário. A terra pertence a Deus e é Deus quem determina sobre o seu uso. Uma venda definitiva de terras não entra em cogitação. Israel sempre será estrangeiro e peregrino em uma terra que de fato pertence a Javé. — Os versículos seguintes mostram as consequências desta concepção: Deus quer que o primeiro arrendatário da terra, a quem ele conferiu a posse da terra, sempre tenha o direito de resgatá-la caso a tenha perdido por causa de algum infortúnio. O novo proprietário tem o dever de vendê-la ao primeiro proprietário, observadas sempre as regras de compra e venda de terras (v. 27). Se ele não conseguir resgatar as terras (v. 26), nem os familiares (v. 25), o novo proprietário só poderá permanecer na posse delas até o ano de jubileu, quando as restituirá ao antigo proprietário (v. 28).
Deus defende o proprietário empobrecido e limita os direitos dos grandes proprietários.
d) Sobre empréstimos e negócios com os sem terra (vv. 35-38)
Estes versículos exortam a ajudar um israelita que empobreceu. O israelita empobrecido tem o direito de morar na terra de outro como agregado (v. 35). Ele tem o direito à solidariedade dos outros. Não se deve emprestar dinheiro a ele visando juros nem vender alimentos procurando lucro (v. 37). Antes, cada israelita tem o compromisso de ajudar. Porquê? Porque Deus não libertou o seu povo do Egito para que em Israel se repita a opressão do Egito (v. 38).
e) Sobre a dignidade de escravos israelitas (vv. 39-43)
Podia acontecer que um israelita se endividava a ponto de ter que vender a si e a sua família como escravos. Se isto acontecer, ainda assim ele não deverá ser tratado como escravo, mas como jornaleiro e peregrino, ou seja, como alguém que ainda tem direitos (vv. 39-40). E o ano de jubileu trará também para ele a liberdade e a posse da propriedade perdida (vv. 40b-41).
Nenhum israelita deve submeter essas pessoas a trabalhos forçados, como aconteceu a Israel no Egito. Nenhum deles deve ser também vendido a terceiros como escravo.
Novamente vemos que Deus protege o trabalhador que empobreceu e perdeu a sua posse e a sua própria liberdade. Ele ainda assim possui direitos! Deus não permite uma atitude não fraterna em relação a ele.
O Resumo do texto
O texto examinado é tremendamente atual. Eu procuro fazer um resumo:
— Deus não quer o acúmulo de terras nas mãos de poucas pessoas. O acúmulo é contrário à vontade de Deus. A terra é para os homens, não para um pequeno grupo que tem maior poder aquisitivo.
— O ano de jubileu não é nada menos do que uma Reforma Agrária instituída por Deus. De 50 em 50 anos Deus prevê para todo agricultor israelita que perdeu sua terra um novo acesso à terra.
— A terra é de Deus e por isso não pode ser vendida definitivamente a ninguém. O sentido que Deus lhe deu é de produzir alimentos. O valor da terra é calculado com base no número de colheitas que se fará numa terra até o ano de jubileu, quando tornará ao primeiro proprietário. O valor da terra não pode ser fixado a bel-prazer.
— Deus não permite que o agricultor empobrecido seja explorado. Também depois de perderas terras ele tem direito a uma vidadigna.
— Deus libertou o seu povo da opressão do Egito, logo Deus não quer que haja opressão entre o seu povo.
III — Considerações homiléticas
A sequência do trabalho: l — Situação II — Texto, indica o caminho da prédica.
Objetivos da prédica:
1. Informar a comunidade sobre a questão da migração;
2. Levar a comunidade a refletir sobre a urgência de uma Reforma Agrária;
3. Mostrar que a Bíblia é tremendamente atual nesta questão e tornar a comunidade mais consciente de que a questão da terra e da migração é uma questão teológica. Ou seja: Deus tem uma opinião sobre este assunto e quer que esta opinião seja conhecida. No início da prédica a comunidade deverá ser informada que o assunto da prédica é muito atual.
O culto de ação de graças pela colheita é uma boa oportunidade para tratar esta questão. Uma outra data possível é o dia do migrante, dia 19 de junho.
Proposta de um esboço de prédica:
1. Informar que queremos refletir neste culto sobre o tema terra. Todos vivem sobre um espaço de terra, outros necessitam de terra para plantar. Muitos não têm terra e gostariam de ter para plantar.
Ler o depoimento do ex-agricultor Rodolfo Conrad, de 53 anos. O depoimento se encontra no Correio do Povo de 19.06.1983 (No culto que realizei mostrei o recorte de jornal à comunidade).
Expor que existem muitas famílias no Brasil como a de Rodolfo Conrad. Mencionar a notícia de Veja sobre o número de brasileiros que marcharam sobre Rondônia e o número de brasileiros que emigraram para o Paraguai.
Perguntar. Por que as pessoas migram? Por que gostam ou porque têm necessidade?
Resposta: Porque não têm terra!
Explicar com rápidos traços que o homem do campo está sendo expulso da terra. O Censo de 1970 fala de 30 milhões de migrantes. Informar com dados estatísticos que a concentração de terras no Brasil aumentou de 1970 para cá (cf. l/2b).
Colocar que o governo apresentou um plano de Reforma Agrária e perguntar o que nós cristãos dizemos sobre ele. Todos estão tomando posição. Qual é a nossa posição como cristãos? De que lado estamos?
2. Leitura de Levítico 25.8-17, 23-28.
3. Lembrar que Deus deu a cada uma das tribos de Israel um espaço de terra. Informar que, conforme a Bíblia, o sentido que Deus deu à terra é de produzir alimentos.
Informar que em Lv 25 lemos que Deus quer que cada 50 anos haja um ano de jubileu em Israel. Neste ano cada agricultor que perdeu a terra por infortúnio poderá voltar para ela. Isto é, de 50 em 50 anos em Israel, conforme a vontade de Deus, é para acontecer a devolução de terras acumuladas aos seus antigos proprietários. Por isso o ano de jubileu era anunciado festivamente em todo o país. Era um ano de alegria.
Mostrar que conforme a vontade de Deus a terra não deve ser vendida definitivamente a ninguém. A terra é de Deus. Deus a empresta, no entanto, ao homem.
Se um agricultor quer comprar mais hectares do que recebeu, pode comprá-los até o ano de jubileu, quando terá que devolvê-los aos antigos proprietários. Ele não compra as terras de fato, mas apenas as messes. O número de colheitas que poderão ser feitas numa terra até o ano de jubileu é que determinam o valor da terra. Se faltam 20 anos até o ano de jubileu, o valor será um, se faltam 5 anos o valor será inferior.
Conclusões:
Não podemos adotar estas diretrizes do passado dlretamente para o presente. Mas o texto indica ideias básicas que são válidas para todos os tempos:
a) A terra é de Deus. É para ser usada para produzir alimentos;
b) O Criador dá a sua opinião sobre a distribuição das terras;
c) O Criador é contra o acúmulo de terras nas mãos de poucos;
d) Deus protege os sem terra. Eles têm direito à terra; O ano de jubileu não é nada mais e nada menos do que uma Reforma Agrária desejada por Deus.
Concluir lembrando que surgiu um debate muito duro sobre a Reforma Agrária e todos estão se posicionando (é esta a situação quando escrevo esta meditação). Nós cristãos devemos conhecer o que a Bíblia diz que é a vontade de Deus neste assunto. Lembrar então que nos devemos colocar do lado do sem terra, daquele que tem vocação para plantar e não tem terra, dos que lutam por uma distribuição justa da terra. Lembrar que a prédica quer servir de subsídio para que cada um ache um posicionamento evangélico na questão da terra.
IV — Subsídios litúrgicos
1. Intróito: Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, e a sua misericórdia dura para sempre. Dá sustento aos que o temem; lembrar-se-á sempre da sua aliança. (Sl 107.1; Sl 111.5).
2. Confissão de pecados: Senhor, as ofertas no altar (caso for culto de ação de graças pela colheita) nos lembram tua bondade. Atua bênção devemos tudo o que possuímos. A ti, por isso, agradecemos pelo alimento de cada dia. Perdoa-nos, Senhor, que aceitamos tudo sem pensar em tua bondade. Desculpa-nos quando fazemos uso egoísta daquilo que tu nos deste. Lembramo-nos também de todos aqueles que têm vocação para plantar e não têm terra para plantar, dos migrantes. Desperta em nós a vontade de ajudar e a admiração diante da riqueza com a qual tu nos agracias, e não permitas que esqueçamos, em meio às dádivas, a ti, o Criador que nos dá tudo. Tem piedade de nós, Senhor! (cf. Orações para o Culto).
3. Oração de coleta: Senhor, temos trabalhado nos campos, nas fábricas, nas oficinas. E tu abençoaste o nosso trabalho. Recebemos o necessário para viverias agora queremos agradecer-te pelo teu dom mais precioso: por Jesus Cristo. Conserva em nós a fome por ele, que ó o pão da vida, e alimenta-nos com a tua palavra. Amém. (cf. Orações para o Culto).
4. Leitura bíblica: Lucas 12.15-21.
5. Oração final: Agradecer a Deus pela sua palavra. Ela também fala contra nós, nos desinstala, mexe conosco. Pedir que Deus nos livre de todo egoísmo. Pedir que reconheçamos que Deus deu um sentido especial à terra: ser cultivada para produzir alimentos. Interceder pelos que têm vastas extensões de terra e não querem desfazer-se delas. Interceder pelos sem terra, pelos que têm vocação para plantar e não têm acesso à terra. Orar para que sejam criadas leis justas sobre o direito à terra em nosso país. Recomendar a Deus os migrantes, os agricultores, os agrônomos, os presidentes de sindicatos, os que legislam sobre a posse da terra, o governo. Pedir pela Igreja para que ela ouça a vontade de Deus e encontre um posicionamento evangélico na questão da Reforma Agrária. Louvar Deus pela sua misericórdia e fide¬lidade.
V — Bibliografia
– COMISSÃO DE PUBLICAÇÕES FACULDADE DE TEOLOGIA. A questão agrária no Brasil. In: Série Realidade Brasileira, v. 1, São Leopoldo, 1981.
– COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Sem Terra e Sem Rumo, Mal. Cândido Rondon, 1979.
– ELLIGER, K. Leviticus. In: Handbuch zum Alten Testament, v. 4, Tübingen, 1966.
– FEIJÓ, J. Concentração da renda cresce com má distribuição da terra. Zero Hora, 02.09.1984, Caderno de Economia, p. 10-11.
– GERSTENBERGER, E.S. A terra e sua posse conforme o Antigo Testamento. In: Estudos Teológicos, São Leopoldo, 16(2): p. 29-44,1976.
– HOMBURG, K. Introdução ao Antigo Testamento, São Leopoldo, 1975.
– MORAIS, J. Rondônia. O faroeste brasileiro. Veja, 27.08.1980, p. 58-64.
– NOTH, M. Das dritte Buch Mose. In: Das Alte Testament Deutsch, v. 6, Berlin, 1964.
– PETRY, A. Latifúndios Versus Minifúndios. In: CEM. Terra de Deus – Terra para Todos, São Leopoldo, 1982, p. 14-27.
– RAHDE, A. Migrantes. A triste esperança de uma vida melhor. Correio do Povo, 19.06.1983, Caderno Especial, p. 1.
– SELLIN, E. FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento, v. 1, São Paulo, 1978.
– SERVIÇO DE IN¬FORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO DA IECLB. A Reforma Agrária em debate. In: Informação IECLB, n.° 69, Junho 1985.