Prédica: Romanos 11.33-36
Autor: Gottfried Brakemeier
Data Litúrgica: Domingo da Trindade
Data da Pregação: 25/05/1986
Proclamar Libertação – Volume: XI
I — Preliminares
Trindade é um tema de difícil atualização. Como explicar que em Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo se trata de três pessoas, mas de uma só substância, como o diz o dogma antigo? E qual é a relevância que o fato de Deus ser triúno possui para as nossas comunidades e nossa existência hoje? Os assuntos quentes da atualidade obviamente são outros, razão pela qual o pregador possivelmente pergunte pelo porquê da pregação de um tema como este.
De fato, sofismas teológicos não cabem no púlpito, e a prédica deveria abter-se de aborrecer os ouvintes com raciocínios que eles não entendem. Ainda assim, é preciso falar do assunto. O dogma da Trindade é mais do que uma doutrina abstrusa e especulativa da Igreja Antiga (formulada, aliás, nos Concílios Ecumênicos de 325 e 381 d.C.). Tem em toda a paradoxalidade sua profunda razão de ser, tentando traduzir em palavras humanas uma das principais verdades bíblicas e cristãs. A questão ainda há de merecer nossa atenção. Por ora nos limitamos a constatar não ser permitido suprimir o tema Trindade em favor de outros, supostamente mais atuais e calar a respeito. Os grandes dias do ano eclesiástico, inclusive, impedem seja nossa agenda ditada exclusivamente pelos problemas do dia-a-dia. Colocando um tema teológico, eles certamente não fazem esquecer o que nos aflige diretamente, mas abrem os horizontes, fazendo ver a realidade sob nova luz.
Somos de opinião, porém, que o texto proposto, não o tema da Trindade deverá prevalecer na prédica, ser seu ponto de partida e seu centro. Em outros termos, o tema deverá ser abordado a partir do texto, não vice-versa. Uma prédica temática sobre o trino Deus — assim tememos — corre o sério risco de permanecer estéril. Enquanto isto, o texto Rm 11.33-36, que em termos expressos não fala da Trindade, possui significado e relevância palpitantes.
II — O texto
A. Forma: Trata-se em Rm 11.33-36 de um hino que enaltece a Deus. A linguagem é poética, fazendo uso de elementos vétero-testamentários e helenísticos. Pertencem aos primeiros as citações do Is 40.13 e Jó 41.3 (em versão próxima a da LXX) nos vv. 34 e 35, algumas outras alusões a passagens vétero-testamentárias (Pr 8.18, Jó 5.9; etc.) e, sobretudo, a forma doxológica como tal. São típicos do estilo grego a fala da profundidade de Deus, o uso de adjetivos como insondáveis e inescrutáveis (vv. 33), bem como a expressão ta pánta (= tudo) no v. 36. A estrutura foi habilmente elaborada, exercendo o principio três um papel importante:
1. V. 33: Tem este versículo o mistério de Deus por conteúdo.
Consiste numa exclamação de adoração por sobre:
a. a profundidade de
a.1. riqueza
a.2. sabedoria
a.3. conhecimento em Deus
b. Seus juízos insondáveis
c. Seus caminhos inescrutáveis
2. Vv. 34/35: Seguem três perguntas, todas exigindo a resposta: Ninguém! Asseguram a absoluta superioridade de Deus por sobre os homens, fazendo alusão à tríade riqueza, sabedoria e conhecimento de Deus do v. 33, em ordem inversa:
a. Quem conhece a mente do Senhor? Ou: Quem pode igualar-se a Deus em conhecimento?
b. Quem foi seu conselheiro? Ou: Que pode igualar-se a Deus em sabedoria?
c. Quem deu algo a Deus para ter direito à devolução? Ou: Quem pode igualar-se a Deus em riqueza?
3. V.36: O hino é encerrado com
a. Uma fórmula, igualmente triádica, fundamentando o anterior e dizendo que
a.1. tudo provém de Deus
a.2. tudo existe através dele
a.3. tudo existe para ele, e
b. a doxologia propriamente dita, concluída com o enfático Amém (cf a excelente meditação de G. Wehrmann).
Defrontamo-nos, pois, com um poema em alto grau de perfeição. Entoa o louvor a Deus, cuja magnitude permanece inalcançável para o ser humano e cujo agir ultrapassa todo o entendimento (cf Fp 4.7).
B. Contexto: O hino fecha o bloco temático Rm 9-11, no qual o apóstolo Paulo se debate com o problema da desobediência de Israel. É o povo da aliança e das promessas (9.4ss). Como então se explica que ele, em sua maioria, se negou à fé em Jesus Cristo e está à parte da salvação que nele há? Para Paulo, ele mesmo judeu, é dolorosa a obs¬tinação de seu povo (9.1 ss). Ela o lança em profundas reflexões sobre a justiça de Deus (9.14ss) e sobre a Sua liberdade de escolher e de rejeitar (9.18ss). Mas Paulo não para aí. Não desonera Israel de sua culpa (9.30ss) e afirma, todavia, que Israel não está perdido (11.1ss). Seu pecado tão-somente demonstra que não há salvação senão por graça (cf 9.16). E nisto Israel é típico para as pessoas em geral: A infidelidade humana é superada pela fidelidade de Deus, a salvação de Israel está na justificação gratuita do pecador. A graça de Deus triunfará por sobre o pecado (11.32!) — motivo para Paulo entoar o hino que estamos analisando.
A formulação do v. 32, pois, indica o horizonte, dentro do qual devem ser interpretados os vv.33-36. Paulo glorifica a Deus, porque onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5.20). Portanto, o hino não é expressão da resignação de Paulo por sobre os caminhos obscuros de Deus, mas sim de exaltação da riqueza divina, de Seus caminhos e juízos sobremodo maravilhosos. Aliás, o v.32 não diz que Deus quis a desobediência de todos. Neste caso seria Ele próprio responsável pelo pecado humano — um pensamento absurdo para Paulo. O versículo formula não uma especulação, mas uma experiência. Constata tão-somente o fato de todos serem pecadores (cf Rm 3.23) dependentes da misericórdia divina. Por ser de difícil interpretação, julgamos dispensável a expressa inclusão do versículo no texto da prédica — desde que seja respeitado o horizonte por ele colocado.
C. Conteúdo: O hino não reverencia um Deus enigmático, ao qual o ser humano não teria acesso e diante de cuja arbitrariedade deveria capitular e dobrar-se calado. Muito pelo contrário, Paulo fala das maravilhas de Deus (cf At 2.11) que vão muito além do que ser humano qualquer pode imaginar e ansiar. A postura de Paulo é a da admiração. Como Deus é rico em misericórdia (cf Ef 2.4), em recursos e possibilidades! Nem mesmo a morte limita Sua ação. Ele faz ressuscitar. O mundo espelha a sabedoria do Criador (cf 1. Co 1.21), e mesmo o que parece ser tolo diante do mundo, é mais sábio que toda sabedoria humana (1 Co 1.25). Enfim, também em conhecimento Deus é inigualável: Nós ainda não conseguimos conhecer como já fomos por Deus conhecidos (1 Co 13.12) e por Ele escolhidos (Ef 1.4ss).
O v.33b, no mesmo estilo exclamativo, aprofunda a consciência do mistério de Deus. O ser humano, na verdade, é incapaz de acompanhar os passos de Deus e compreender os seus juízos. Isto é possível somente até certo ponto. Resta um mistério que excede a percepção e o raciocínio humanos. Deus se subtrai ao controle do homem. E todavia, é o mistério daquele Deus que quer a vida das pessoas, não de um Deus incógnito, brutal, arbitrário. Sabedores dos propósitos salvíficos de Deus, podemos respeitares seus mistérios e ainda assim confiar e não ter medo.
As três perguntas retóricas dos vv.34/35 têm a finalidade de sufocar todo atrevimento e derrubar toda arrogância humana. Ninguém é como Deus, ainda que assim se comporte. Há uma diferença qualitativa entre o Criador e a criatura que exige a modéstia. Deus — graças a Deus — não depende de homens, nem dos cientistas (v.34a), nem de conselheiros (v.34b), nem de financiadores ou emprestadores (v.35). Muito pelo contrário, o ser humano depende d'Ele, embora não o admita.
Pois tudo tem em Deus sua origem, tudo existe através d'Ele, como Ele também é o alvo a que tudo se encaminha (v.36). A fórmula tem afinidades a expressões estóicas que viam todas as coisas (tá pánta) repousarem Deus, e Deus em todas as coisas. Mas Paulo claramente se distancia do panteísmo dos filósofos. Ele não diz que Deus está em tudo. O Criador não permite ser confundido com a criação. Deus não se identifica com tudo, Ele permanece sendo o Senhor de tudo.
Um dos paralelos mais próximos desta fórmula temos na confissão de 1 Co 8.6. Diz ela ser Jesus Cristo aquele através do qual tudo existe. É ele em tudo o Mediador de Deus (cf. Jo 1.3; 1 Tm 2.5; etc.). Por isto é legítimo descobrir também em Rm 11.36 alusão indireta a Jesus Cristo, sim, às três pessoas da Trindade: A Deus, o Criador, do qual provêm todas as coisas, a Jesus Cristo, mediante o qual são todas as coisas, e ao Espírito Santo, o Consumador, que as conduz a seu alvo proposto. Evidentemente, este versículo não contém algo como uma doutrina(!)daTrindade. O Novo Testamento coloca lado a lado Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, sem definir precisamente sua relação ou elaborar uma doutrina a respeito. E no entanto, não só a estrutura triádica do v.36a, toda a maneira de Paulo glorificar a Deus legitima o falar do trino Deus.
Pois o Deus rico em misericórdia, confiável mesmo onde incompreensível, maravilhoso em Seu agir e julgar, Paulo O chegou a conhecer em Jesus Cristo e na experiência do Espírito Santo. O Deus glorificado neste hino não é alguém projetado pela imaginação humana nem deduzido da contemplação da natureza ou da história, mas sim é o revelado em Jesus Cristo. Com alguma razão, pois, podemos dizer: Paulo glorifica o trino Deus, aquele que se aproximou das pessoas em graça e cuja misericórdia, mesmo no juízo, é infinita. A este a comunidade, bem como o próprio Paulo, devem sua existência (cf 1 Co 8.6; 15.10; etc.). Gratidão faz o apóstolo dizer: A ele a glória eternamente. Amém (v.36b). Toda doxologia autêntica tem a experiência da graça por premissa.
III — Meditação
1. A prédica sobre este hino só pode ter um grande objetivo: Convidar e motivar a comunidade a aderir ao louvor a Deus e a se juntar aos que cantam a glória do Senhor de todas as coisas. O mais perfeito conhecimento de Deus nada vale, se não conduzir à prática da adoração. Por isto os elementos doutrinais e reflexivos deverão permanecer na prédica subordinados a este objetivo principal. Não se trata de ensinar os ouvintes a respeito de como pensar devidamente sobre Deus (isto deverá estar implícito), trata-se de capacitá-los para o louvor a Deus, no que consiste uma das principais tarefas dos ministros, dos cristãos e da comunidade (cf Mt 5.16). Sem adoração não há culto nem comunidade cristã.
2. Afirmar isto não é nada lógico hoje em dia. Por acaso, não há outras coisas mais importantes do que ensaiar com a comunidade o louvor a Deus? E, não é fictício cantar glórias em tempos tão difíceis e em meio a tanto sofrimento? Ambas as coisas, a importância da adoração e os obstáculos que se lhe opõem, devem merecer nossa atenção.
a. Com respeito à importância do louvor a Deus é de admitir que é uma das coisas mais improdutivas que há. A comunidade simplesmente celebra, e isto para muitos é pouco. Acham mais importantes a reflexão conjunta, o estudo, a educação da comunidade, seu treinamento prático, respectivamente seu equipamento para a ação transformadora. Não negamos que também isto seja importante. No entanto, sem adoração tudo isto será um exercício sem alegria, uma obra, realizada sob a coação do imperativo da permanente produção. Importa preservar o lado a lado de ação cristã na sociedade e adoração a Deus.
O texto Rm 11.33-36 quer motivar para o louvor. Bem-aventurado aquele que sabe sintonizar com o apóstolo Paulo ou então reverenciar Deus em palavras próprias. Pois no fundo não há razão para preocupar-se com pessoas que sabem orar, dizendo: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome… (Sl 103.1). Motivo de preocupação são aqueles outros, cuja boca é muda, que glorificam ídolos em lugar de Deus, que não têm tempo para agradecer ou que sempre devem ser ativos. Motivo de preocupação são aqueles que, amargurados por sobre a vida, privados de seus mais elementares direitos, golpeados e humilhados, perderam a fé na graça de Deus e se tornaram apáticos. Eis porque a capacitação das pessoas para o louvor a Deus se dá por palavra e ação (cf. Mt 5.16). A prédica é uma oportunidade para fazê-lo pela palavra. De qualquer maneira, sem a adoração a Deus, vida humana está seriamente prejudicada.
b. Mas, não existem por demais obstáculos a vencer para realmente podermos render a Deus louvores? O império do mal, as injustiças, a fome, a violência, a morte, isto para muitos dificulta senão impossibilita a fé em Deus e a glorificação de Seu nome. Se Deus fosse Deus não poderia permitir tanto sofrimento inocente e as tantas coisas absurdas que acontecem. Além disto, a pesquisa científica não encontrou vestígio algum de Deus. Tudo se explica de modo muito natural e se faz sem Ele. Consequentemente, o homem secularizado não tem necessidade da fé num ser divino. E ainda: Deus é uma palavra muito abusada. Em Seu nome pessoas são massacradas, exploradas, mandadas para o campo de batalha. E quantos O invocam para sancionar negócios dúbios, proteger interesses particularistas, legitimar crimes. Como glorificar a Deus nestas circunstâncias?
É necessário levar a sério estes problemas. Do uma forma ou de outra, somos todos testemunhas do abuso de Deus e experimentamos algo do mencionado acima. Há por demais enigmas em nossa vida e em nosso mundo, coisas que não entendemos e sob as quais so-fremos. Elas nos constrangem com relação a Deus e dificultam a adoração.
A prédica, dentro de certos limites, deve refletir e trabalhar estas dificuldades. Ignorá-las conduz a um culto hipócrita e artificial que se resume em mero exercício religioso, sem realmente brotar do coração. De outro lado, porém, a prédica também não deveria permanecer presa aos problemas. Render louvor a Deus é difícil, mas de modo algum impossível.
Isto se pode aprender com Paulo. Também ele teve que superar impedimentos. Como Deus podia permitir que Seu povo Israel, o povo eleito, com o qual fizera a aliança, que este povo tinha rejeitado Jesus Cristo? É o que mexeu com o apóstolo e o fez perguntar, como vimos, pela justiça de Deus, pelo Seu poder, Sua providência. A fé de Paulo, diante de enigma tão grande, foi lançada em profunda crise. Mas ele a supera, dando-se conta de que Deus, embora sejam inescrutáveis os Seus caminhos, tem em vista o bem de Suas criaturas, não o mal. A infidelidade de Israel é grande, grandes são — assim podemos complementar — os crimes humanos, os enigmas da história, o sofrimento e a destruição. Mas maior do que tudo isto é o amor de Deus, do qual nada nos pode separar, nem mesmo a morte (Rm 8.38s). Por isto: A ele a glória eternamente (Rm 11.36).
3. É impressionante observar com que concreticidade a Bíblia (e neste hino o apóstolo Paulo) se arrisca a falar de Deus. É-lhe estranha a atitude de distância e reserva, peculiar de filosofia e racionalismo. Deus não é aquele vago ser superior que, em última instância, estaria por detrás das coisas. Ele não é o ser imutável, a primeira causa ou então mera hipótese. Um tal Deus não possui vida nem relevância. Não! Para a Bíblia Deus é uma realidade tão integrada na vida humana que esta, sem Ele, é praticamente inimaginável. Logicamente é possível dizer que não há Deus (Sl 14.1) e viver de acordo. Mas é o insensato, o louco que o faz (cf. Lc 12.15ss).
A Bíblia, pois, inverte a perspectiva. Sábio não é o esclarecido que de tantos problemas não consegue crer. Sábio é quem conta com Deus em sua vida. O temor a Deus é o princípio de to¬do o saber (Pr 1.7). Sábio é quem respeita a vontade divina, adora a Deus e lhe agradece os benefícios — ou mesmo luta com Deus à se¬melhança de Jó. Quem não crê, não é ateu, é tolo, presunçoso, um coitado de quem é preciso ter compaixão. Isto a Bíblia afirma, apesar de estar ciente da relatividade de todo falar humano a respeito de Deus. Ninguém consegue realmente descrevê-lo, ninguém jamais O viu (Jo 1.18). São insondáveis os Seus juízos e inescrutáveis os Seus caminhos (Rm 11.33). E todavia, isto não impede as pessoas da Bíblia a se relacionarem muito diretamente com Ele. Deus é o assunto mais importante da vida. Sem Ele, as pessoas perdem orientação, esteio e esperança, e a sociedade afunda em injustiça e conflito.
4. Contudo, Deus é um termo ambíguo. O vocábulo pode designar realidades diversas, uma vez que as pessoas, invocando Deus, O imaginam de diferentes modos e, não raro, confundem Deus com ídolos. Como aí distinguir? Nesta tarefa o dogma da Trindade representa uma valiosa ajuda. Pois, Trindade significa que do Deus verdadeiro devemos falar três vezes:
a. Devemos falar de Deus, em primeiro lugar, quando se trata da pergunta pela origem de nós e de todas as coisas. O mundo, embora resultado de uma longa evolução, não é o produto de um acaso, mas sim criação de Deus. Logo, ele tem um sentido e um Senhor. Provém de Deus (Rm 11.36). Também o que continua surgindo, em especial cada pessoa individualmente, é criatura e tem em Deus sua fonte. Consequentemente, o ser humano não é dono da terra, antes receptor da dádiva e por ela responsável.
b. Devemos falar de Deus, em segundo lugar, quando se trata da pergunta pela superação do mal. A humanidade se corrompeu, não faz o que devia, sofre sob violência, injustiça, pecado. Deus, porém, liberta. Revela, em Cristo, seu amor que quer salvar os perdidos. Ele, Jesus Cristo, é em sentido pleno a palavra, através da qual Deus manifesta Sua vontade salvífica (Jo 1.1 ss) e recupera a mim, homem perdido e condenado (M. Lutero). O crucificado é a encarnação do Deus Redentor que supera o poder de pecado e morte, liberta de todas as prisões e compromete a viver em novidade dê vida, ou seja, em culto a Deus, serviço à justiça, nova obediência (cf. Rm 6.12ss).
c. Devemos falar de Deus, em terceiro lugar, quando se trata da pergunta pelo rumo de nossa vida. Deus nos guia, orienta, congrega em comunidade, nos assiste em nossas lutas contra o mal e nos conduz à meta proposta que é a ressurreição dos mortos e a vida eterna. É o Espírito Santo, o poder do Deus vivo, que o faz. Renova vida humana e dá futuro e esperança mesmo onde a morte parece triunfar. O Espírito Santo conduz ao Reino de Deus.
Trindade afirma que o mesmo Deus cria, salva e guia. Quem aqui separa, produz ídolos. Ele, Deus, está na origem, no meio e no fim. Dele, pois, devemos falar quando se trata de responder às perguntas chaves da vida humana, as que decidem sobre vida e morte. A Deus devemos nossa existência, nossa redenção, nosso futuro. Pela graça de Deus somos o que somos (1 Co 15.10). É o que diz a Santíssima Trindade.
5. Por isto: Ó profundidade de riqueza, tanto da sabedoria e do conhecimento de Deus!… A ele a glória eternamente. O louvor a Deus não é apenas um dever, é um privilégio. Onde ele falta, há problemas. Não se vive então da graça, mas do esforço próprio que não conta realmente com o triúno Deus. Falta de louvor a Deus acusa heresia, idolatria ou então profundo desespero. É a tarefa da prédica cristã e da ação cristã — nós o repetimos — capacitar as pessoas para a glorificação de Deus. Ela faz parte da salvação.
IV — Quanto à prédica
Com base no exposto acima sugerimos estruturar a prédica em quatro partes:
1. Na primeira parte, a prédica deveria contar à comunidade o que Paulo faz neste texto. Deveria ser dito em poucas palavras o que Paulo diz e por que ele glorifica a Deus.
2. Na segunda parte, os olhares seriam dirigidos à comunidade hoje. Estariam em pauta nosso compromisso de igualmente louvar a Deus e as dificuldades que sentimos. Por que é tão difícil acompanhar o apóstolo em sua adoração?
3. A terceira parte tentaria exporás razões que há para render louvores a Deus. Qual o Deus de quem é a glória eternamente? É a oportunidade de falar do trino Deus a partir do v.36.
4. Na parte fina! deveria ser exposto o quanto é importante o louvor a Deus, mesmo em épocas difíceis, sendo que a própria prédica deveria desembocar em doxologia. Talvez seja bom encerrar a prédica com a repetição da leitura do texto.
V — Subsídios litúrgicos
1. Confissão dos pecados: Senhor! Confessamos que temos ficado em débito contigo. Não temos sido responsáveis na medida em que tu o queres. Temos desrespeitado a tua vontade, temos glorificado outras coisas mais do que a ti, temos prejudicado a vida de outras pessoas por palavra, ação ou indiferença. Dirigimo-nos a ti, pedindo teu perdão. Sabemos que não o merecemos. Ainda assim confiamos em tua misericórdia, por Jesus Cristo. Amém.
2. Oração de coleta: Nós te agradecemos, ó Deus Criador, que podemos invocar-te como Pai bondoso que se compadece de suas criaturas como uma mãe de seus filhos. Nós te agradecemos, Senhor Jesus, que vieste para ser o nosso irmão e redentor. Nós te agradecemos, ó Espírito Santo, que nos consolas e fortaleces, dando à nossa vida resistência e sentido. Nós te agradecemos, ó trino Deus, que nos perdoas, aceitas, seguras. Amém.
3. Assuntos para a oração final: Agradecimento pelo dom da vida, pela palavra do Evangelho, pela força do Espírito. Pedido para que Deus nos faça instrumentos de seu amor, da justiça e da verdade no mundo. Prece em favor da paz e por proteção contra ameaças como destruição, doença, devastação da natureza, por uma política orientada no bem comum e voltada contra a exploração e corrupção. Intercessão em favor dos necessitados (a) em termos gerais (todos os famintos, doentes, desesperados, moribundos, etc.) e (b) em termos específicos (casos concretos da comunidade ou do momento). Intercessão em favor da Igreja, de todos os seus obreiros e membros, para que cumpram sua missão e para que, através de suas boas obras, as pessoas aprendam a glorificar o nosso Pai, que está nos céus (Mt 5.16).
VI — Bibliografia
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