Prédica: Isaías 29.17-24
Autor: Gottfried Brakemeier
Data Litúrgica: 12º. Domingo após Trindade
Data da Pregação: 06/09/1987
Proclamar Libertação – Volume: XII
l – Considerações exegéticas
O texto contém anúncio de salvação. Dentro de breve Deus há de transformar a natureza, as pessoas e a sociedade, proporcionando fartura, dando verdadeiro entendimento e eliminando a opressão. A estrutura é muito clara. Distinguimos três unidades:
1. Os vv. 17-19 anunciam a salvação para
a. V. 17: a natureza
b. V. 18: os impedidos de ver e ouvir
c. V. 19: os humildes e pobres
2. Os vv. 20 e 21 fundamentam o anúncio pela afirmação da eliminação .dos opressores, dos iníquos e injustos.
3. Os vv. 22-24 tiram consequências para o presente: Já agora Jacó não tem mais razões para se envergonhar nem para temer (v. 22). Pois Deus há de partir para nova ação, da qual resultará a sua santificação (v. 23) e o conhecimento da verdade (v. 24).
Alguns detalhes exigem explicação:
V. 17: Os termos lembram a passagem Is 32.15. Expressam a esperança de o deserto se transformar em pomar e os pomares em espesso mato. Há quem interprete o versículo em sentido figurativo. Seria símile da transformação a ocorrer em pessoas e sociedade. No entanto, não há como contornar a interpretação literal: Conforme os profetas o agir escatológico de Deus abrange também a natureza (cf. Is 11.Is; Os 2.18s; Ez 36.26s; etc. – Rm 8.21!). Será restituída a fertilidade à terra, e ela produzirá em abundância.
A menção do Líbano (em lugar do deserto) provavelmente seja devido a Is 33.9. Anuncia-se nesta passagem que, em razão do juízo de Deus, o Líbano há de murchar. A salvação de que fala este nosso texto reverte os efeitos do juízo. Recupera a natureza, fazendo-a frutificar e acarretando fartura. A forma interrogativa da frase, requerendo resposta afirmativa, mostra que o autor, desde já, pode contar com a concordância dos leitores.
V. 18: Salvação restaura o ouvido aos surdos e a vista aos cegos. Trata-se, obviamente, de surdez e cegueira espiritual. Em outros termos, é falado em pessoas incapazes ou relutantes em ouvir a palavra de Deus e em ver suas obras. São surdos para as palavras do livro. Ainda assim, dês recomenda-se a interpretação tão-somente figurativa. Estaria em desacordo com Is 35.5s e não faria jus ao fato que a cura da doença necessariamente faz parte do agir salvífico de Deus, tanto no Antigo Testamento quanto no Novo (cf. SI 103.3; Is 61.1s; Mt 11.2s; etc). Por sobre a cegueira e surdez relativas à verdade (Is 29.9s; Jo 9.39s) o aspecto físico não deveria ser excluído. Aos preferidos da salvação de Deus, dos quais fala o próximo versículo, pertencem também os doentes.
V. 19: Salvação se caracteriza como regozijo dos humildes e pobres, dos que sofrem injustiça e opressão (cf. Is 11.4; 14.30; etc.). São os que, no entender de Isafías e da Bíblia em geral, depositam sua confiança em Deus. São os que crêem (cf. Is 28.16s; Mt 5.3s; etc.). Deus converterá seu sofrimento em alegria.
Vv. 20 e 21: Os tiranos, opressores e criminosos, enquanto isso, serão atingidos pelo juízo. São os inimigos de Deus. Trata-se concretamente:
a. de influentes que brutalmente abusam do poder, esmagando os fracos. Não se sabe, se o autor tem em vista tiranos estrangeiros ou do próprio povo. A questão é irrelevante. Pois Deus não se conforma com opressão de quem quer que seja.
b. de escarnecedores. Possivelmente seja aludido a sacerdotes e falsos profetas que iludem o povo, divulgam mentiras e assim zombam de Deus. Em todos os casos, são pessoas cínicas, quer diante de outros, quer diante de situações criticas.
c. de gente que cogita da iniquidade. Como mostra o v. 21, deve-se pensar em muitos tipos de criminosos, nos que torcem o direito, julgam sem base legal, perseguem os juizes retos e ainda não corruptos, negam ao justo o seu direito. Exploram, roubam, reprimem a justiça. Todos estes inimigos de Deus serão eliminados.
V. 22: O anúncio culmina com a introdução solene de palavras do próprio Deus. Devido à perspectiva da iminente salvação, Jacó, ou seja o povo de Deus não mais precisa sentir vergonha nem medo. Ao falar do Deus que remiu a Abraão, o autor possivelmente faça alusão a uma lenda (não bíblica), corrente em Is¬rael, contando a salvação de Abraão do fogo dos Caldeus. A referência reforça que Deus é Deus salvador.
V. 23: A frase ainda se apresenta na forma de alocução direta de Deus. Mas na segunda parte do versículo fala-se de Deus novamente na terceira pessoa. O conteúdo varia os termos do v. 19: Os filhos de Jacó, vendo as obras que Deus está por fazer, santificarão o nome divino e temerão o Deus de Israel.
V. 24: Então também os incompreensíveis, os que estão errados na sua maneira de ver as coisas e os que protestam contra a instrução de Deus, virão a ter entendimento. A sabedoria de Deus há de triunfar sobre a sabedoria de homens.
O texto, pois, anuncia uma radical transformação dentro de breve. A fome será extinta, a doença curada e os pobres ver-se-ão livres de seus opressores. Deus será santificado e sua palavra respeitada. Sendo esta a perspectiva, Israel já não mais tem razões de viver envergonhado e atemorizado. Pode tomar coragem.
Quanto à origem do texto as opiniões dos especialistas divergem. A maioria o considera um adendo posterior, especialmente devido à referência às palavras do livro. Pressupõe a existência de uma pré-forma de Escritura em Israel. Para época mais avançada, ou seja a época helenista, apontaria também a alusão à redenção de Abraão nos termos acima expostos. Outros, porém, julgam possível atribuir as palavras ao próprio profeta Isaías, associando-as ao ciclo assírio. Neste caso a profecia teria sido proferida entre os anos 713 a 701 a.C.
Verdade é que o texto não está de tal modo relacionado a uma situação histórica específica que fosse possível determinar com precisão a data de sua origem. O conteúdo não é incompatível com a profecia autêntica do primeiro Isaías, contida essencialmente nos caps. 1-39. Mas são fortes os indícios de redação posterior. De qualquer forma, o tempo é de opressão e desânimo em Israel. Nesta situação, o profeta (seja ele Isaías ou alguém que, em tempos posteriores, decididamente com ele se identifica) renova a esperança, anunciando o iminente agir redentor de Deus.
II – Decisões teológicas
O texto confronta a prédica com uma série de dificuldades. Exige reflexões e decisões teológicas, das quais é necessário dar-se conta:
1. É falado numa transformação a ocorrer dentro de breve (v. 17). De fato, esperança costuma ter força somente quando tiver a perspectiva de cumprimento próximo. Mas como pregar isto? É preciso cuidar para não iludir as pessoas com promessas falsas. De outro lado, o pregador também não poderá falar numa esperança abstrata e distante. O Evangelho, em todos os tempos, afirma a proximidade da salvação (cf. Mc 1.15!). É bem verdade que a plenitude da salvação continua sendo futura. Sob tal ponto de vista, a profecia de Is 29.17s ainda aguarda o cumprimento. E todavia, algo deste futuro sempre de novo se fez presente na História e também se faz presente hoje, dentro de breve, trazendo renovação e cumprindo esperanças. Deus salva – não só em longínquo futuro. Salvou ontem, salva hoje e salvará amanhã. Portanto, não compete aos cristãos especular sobre a data da consumação dos séculos, nem sobre a época de uma transformação radical das coisas. Mas é o direito da fé esperar que Deus não demore em cumprir sua promessa – evidentemente sem prescrever-lhe o como. Verá que esta esperança não frustra.
2. No texto a transformação é atribuída à ação de Deus, não à de homens. Significa isto que o ser humano devesse aguardar passivamente o desenrolar dos acontecimentos? Portanto, como se relacionam escatologia e ética? É preciso reconhecer que os profetas esperaram a transformação como obra exclusiva de Deus. Não conclamaram os oprimidos a derrubarem os tiranos, não lideraram movimentos reivindicatórios ou populares, não conclamaram a construir o reino de Deus. Este é antes o resultado de um milagre divino. E realmente, a transformação da promessa profética em imperativo ético imporia ao ser humano carga excessiva e redundaria em bárbaro legalismo. Construir o reino de Deus está fora de seu alcance. Ainda assim, é preciso mudar agora já o que pode ser mudado, caso contrário Deus aplicará o juízo. Importa que pessoas e sociedade se reorientem no que Deus quer. Deus vai mudar as coisas. Por isto elas podem e devem mudar (cf. W. Altmann, p. 203). O agir humano, pois, não substitui o agir de Deus, mas dele recebe motivação.
3. No texto se destacam diversos grupos:
a. Destina-se a salvação prioritariamente aos humildes, pobres, injustiçados e doentes. Será superada a carência e o sofrimento, será restituída a liberdade e reaprendido o culto a Deus. Não se pode suprimir nenhum destes aspectos. Não há salvação sem santificação de Deus, nem sem o saciar da fome. Aliás, não deveria ser esquecido que também a natureza é atingida pela renovação. Faz parte da criação de Deus. De fato, como imaginar salvação sob exclusão das condições ambientais do ser humano? Eis um dos aspectos a ser considerado hoje com redobrada atenção. Ecologia tem algo a ver com salvação. É um assunto teológico.
b. De outro lado há os tiranos, escarnecedores, corruptos, exploradores. Serão eliminados pelo juízo de Deus. A linguagem é dura. Por isto é perigosa: Pode dar margem a sentimentos de vingança. É oportuno lembrar que o Novo Testamento assume postura algo diferente diante do inimigo, quer de Deus, quer de pessoas humanas: Não é pretendida a morte do inimigo, mas sua vida. Ó que vai morrer é a tirania, a injustiça, o pecado, não necessariamente o pecador. Certamente, também no Novo Testamento a perspectiva do juízo está presente, ameaçando de morte o injusto. Mas no juízo que o condena é lhe oferecida a graça. E bom ter isto em mente.
c. Finalmente, o profeta fala dos que erram de espírito (v. 24). Falta-lhes o entendimento, são cegos e surdos para a verdade, resistem em aceitar instrução. O agir escatológico de Deus lhes dará novos olhos e ouvidos e a devida compreensão das coisas. Conversão, pois, é a condição da salvação. Ainda que esta conversão seja aguardada do futuro, o profeta, em termos indiretos, a exige para já. A situação de injustiça e opressão tem uma de suas principais causas na cegueira e surdez das pessoas. Não enxergam o que é necessário fazer, não dão ouvidos à voz da sabedoria, falta-lhes o entendimento. O profeta lhes dirige seu apelo.
Também o pregador de hoje deve distinguir estes grupos. Há os que são pobres mais do que outros. Há os que se destacam por sua maldade, pessoas brutais e sem escrúpulos. E há os verdadeiros campeões de cegueira e insensatez. Ainda assim, desrecomenda-se distinguir demais. Iria distorcer a realidade. Pois também entre os pobres há os cegos com relação à verdade, doença se registra também entre os tiranos e dominação pode-se observar em muitas formas e em todas as classes sociais. Por isto, a distinção dos grupos possui valor apenas relativo. Não permite ignorar a solidariedade de todos no pecado, solidariedade da qual o próprio profeta não escapa.
4. A salvação se destina à casa de Jacó (v. 22). Provém do Santo de Jacó e Deus de Israel (v. 23). O profeta tem em vista o seu povo, o Israel segundo a carne (1 Co 10.18), respectivamente, aquele resto de Israel que há de se converter e fugir do juízo divino (Is 7.3; 10.21). O pregador de hoje logicamente ampliará o endereço. Ele o faz autorizado por Jesus Cristo, mediante quem Deus deu a entender o seu desejo de que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1 Tm 2.4). Através de Cristo, pois, é criado um novo povo de Deus. Distingue-se do antigo pelo fato de que a mera descendência de Abraão não é suficiente para pertencer ao povo de Deus. É a fé que decide sobre a filiação (Gl 5.6s). A quem, pois, anunciamos a salvação? Ora, aos pobres que crêem, aos que se convertem (e também os pobres devem converter-se!), aos que ouvem a palavra de Deus e a praticam (Lc 11.28; Mt 7.21). Para o pregador é importante dar-se conta dessa mudança de endereço. Implica inevitavelmente a introdução da categoria da fé.
5. O objetivo da profeta de Is 29.17-24 consiste em encorajar um povo cansado e desanimado. Deus há de mudar a situação em breve. Por isto, já agora Jacó não precisa ter vergonha ou medo (v. 22). Da mesma forma está em evidência o propósito de conclamar ao arrependimento e de converter os que erram de espírito (v. 24). Os objetivos da prédica hoje, em princípio, não serão outros. Procurará fortalecer os que sofrem, encorajá-los em sua luta por justiça e lembrá-los que Deus cumprirá sua promessa de salvação. Simultaneamente a prédica deverá conclamar à conversão, aliás, não só de alguns, mas de todos. Também aqui o Novo Testamento muda a perspectiva: Não há salvação sem conversão (cf. Mc 1.15; etc.). Naturalmente uns devem mudar mais, outros menos. Mas o pecado é típico de todos. Por isto, prédica cristã não pode consistir na mera constatação de que estes são salvos e aqueles condenados. Deve, isto sim, procurar ganhar as pessoas (cf. 1 Co 9.19s), convertê-las, abrir-lhes os olhos e ouvidos. Entre outras coisas é a ênfase na conversão e na busca do perdido que distingue Jesus dos profetas do Antigo Testamento. Também isto a prédica cristã não deveria es-quecer.
Ill – Reflexões pastorais
Pregar é um ato de enorme responsabilidade. Exige, por isto, não só boa preparação exegética e teológica, exige também considerações de ordem pastoral. O texto manda pregar a proximidade da salvação e, conseqüentemente, a conversão. Que devo respeitar?
1. Devo conscientizar-me, em primeiro lugar: quem serão os ouvintes? Possivelmente não sejam nem os mais pobres nem os grandes tiranos. Ainda assim, o normal é que tenhamos uma mescla de pessoas no culto, representando tipos muito diversos. Para todos eles, o Evangelho consiste no anúncio da libertação de injustiça e sofrimento e exige uma nova mentalidade bem como uma nova ordem das coisas. Os beneficiados serão antes de mais nada os pobres, humildes, os que sofrem. Acerca disso não há dúvidas. No entanto, importa deixar claro que o anúncio da salvação dos pobres requer também deles a conversão, e que o chamado à conversão aos que erram de espírito é graça, não desconsiderando o sofrimento de que também eles participam. Também eu como pregador estou sob a exigência de mudar, respectivamente de me avaliar criticamente. De qualquer forma, os juízos duros jamais conduzem ao arrependimento. É a bondade de Deus que o faz (Rm 2.4). Se os membros no culto somente ouvirem xingação, vão preferir ficar em casa.
2. O texto prega Evangelho – antes de qualquer coisa. Conseqüente-mente também eu o devo fazer. É essencial ouvir que não serão vitoriosos a destruição e o mal, mas sim a justiça, a alegria e a santificação de Deus. O maltrato da natureza, a corrupção, a opressão e a doença – tudo isto terá um fim e Deus triunfará, criando um novo céu e uma nova terra (Ap 21.1s). Também a morte será destruída (1 Co 15.26). Ê porque há motivo de regozijo, coragem e esperança. No entanto, devo permanecer sóbrio. É Deus quem fixa prazos e determina o como. Se não o respeitar, vou incorrer no erro das virgens tolas na parábola de Jesus (Mt 25.1s). Da mesma forma não me é permitido preconizar o nosso esforço, seja individual ou coletivo, como solução mágica da desgraça humana. Só Deus é capaz de superar em definitivo o pecado e o sofrimento. E, todavia, devo dizer que algo da salvação e libertação será experimentado já, onde pessoas se convertem e onde se faz a tentativa de criar uma ordem social justa. Devo, pois, conclamar à ação transformadora sem suprimir que a promessa de Deus exige também a minha conversão e que o cumprimento pleno das esperanças continua dependendo de Deus. Caso contrário vou enganar a comunidade, respectivamente o povo. Ainda assim, conversão autêntica de pessoas e estruturas fará este mundo incomparavelmente mais humano.
3. Insistindo na necessidade da conversão, devo usar, como pregador, de humildade A denúncia de um pastor justo, já definitivamente convertido e não mais solidário com a comunidade dos pecadores, vai antes mobilizar os mecanismos de auto-defesa dos ouvintes do que convencê-los da necessidade de mudar. É preciso evitar o perigo do autoritarismo farisaico do pregador que tantas vezes obstrui o curso do Evangelho. Naturalmente, não se trata de agradar a todo o mundo. Isto não é possível nem legítimo. E não obstante, é bom lembrar que a meta do Evangelho é a edificação de comunidade e que os imperativos da prédica serão cristãos apenas na medida em que resultarem do Evangelho. A prédica, pois, não deve promover a separação de justos e pecadores, mas sim motivar para a santificação de Deus e para o serviço ao pobre.
IV – Sugestões homiléticas
1. A prédica poderá iniciar com alguns exemplos de cegueira e surdez das pessoas hoje. E cegueira resistir às reformas sociais em nosso país. Por quê? Ora, porque não são vistos os prejuízos que a injustiça acarreta – para todos! É cegueira achar ser possível combater a violência pelo mero esforço da polícia. É sinal de trágica surdez ignorar a voz de Deus que quer a salvação do mundo. A situação é apavorante. Cegueira, surdez, erro de espírito, tolice são os principais responsáveis pelos males de nossa época – incluindo a tirania, a corrupção, a injustiça e a destruição da natureza. Mas a prédica não deverá demorar-se demais nestes exemplos. Afinal, não pregamos a cegueira. Da mesma forma, não devemos ater-nos tão-somente a exemplos distantes. Participamos da cegueira – também nós!
2. Num segundo passo deverá ser falado dos propósitos de Deus comeste mundo. Os homens estão destruindo a terra, cegos que estão. Mas Deus não se conforma com isto. Não se conforma com a destruição do meio-ambiente, com o sofrimento do pobre, com a injustiça e a idolatria. Não sabemos quando Deus há de trazer a grande mudança. Mas há de fazê-lo, porquanto seja Deus. Pôs isto há esperança, mesmo que todas as aparências a negarem. Há esperança de ressurreição.
3. Exatamente por isto somos chamados a mudar já agora. Por quê? Ora, para que o juízo de Deus não seja por demais duro. A cegueira e surdez humana matam. Conduzem a uma sociedade louca, cada vez mais violenta, frustrada, ameaçada – eis o juízo de Deus. Deus, porém, tem compaixão. Ainda dá-nos tempo, envia profetas, manda pregar o Evangelho. Ainda é tempo de mudar, de abrir os olhos e ouvidos – mas até quando?
4. O texto ameaça com o juízo de Deus. Mas muito mais põe em evidência a graça e a promessa. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados (Mt 5.4). Esta é a mensagem fundamental do texto. Tem uma promessa para os pobres, os humildes, os que sofrem, os que crêem. Por isto não precisamos ter vergonha e medo. Podemos enfrentar corajosos o pecado no mundo e os que praticam o crime. Por isto há motivos de alegria e júbilo – já hoje. No final da prédica deveria estar a gratidão a Deus por sua palavra. As vezes esta palavra dói. Mas ela salva e tem promessa para quem, humanamente falando, não tem esperança.
V – Subsídios litúrgicos
1. Confissão de pecados: Senhor, nossos olhos muitas vezes não querem ver o que deveriam ver e os nossos ouvidos não querem ouvir o que deveriam ouvir. Perdoa-nos a cegueira e a surdez. Não queremos ver o Lázaro à nossa porta nem queremos ouvir o desafio de tua palavra. Dá-nos entendimento, Senhor, para que nos tornemos sábios, pessoas com clara visão e percepção. Por tua misericórdia o pedimos. Amém.
2. Oração de coleta: Senhor, tu tens o poder sobre o mundo. Ele é teu. Muitos, porém, não o sabem ou preferem não sabê-lo para poderem fazer o que bem entendem. Mas tu não entregas nem abandonas tua criação. Mandas pregar a tua palavra, chamas as pessoas e reivindicas os teus direitos. Dás a tua promessa aos humildes e aflitos. Senhor, nós te agradecemos pelo Evangelho que também hoje temos a oportunidade de ouvir. Queremos ser a tua comunidade, Senhor. Amém!
3. Assuntos para a oração final: Agradecimento pela esperança e pela nova chance que Deus concede. Pedido para que abra os olhos e os ouvidos da humanidade para que a paz e a justiça sejam feitas, para que as causas dos males sejam descobertas e para que haja pessoas dispostas a se engajarem em sua remoção. Motivo de especial intercessão são os pobres e necessitados, doentes e moribundos, presos e torturados, perseguidos e injustiçados, desesperados e os que não conseguem crer. A intercessão deveria estender-se também à Igreja, à Escola, ao Governo, à juventude, às famílias e a todos quantos têm responsabilidades, professores, obreiros, outros profissionais. A oração poderá encerrar com o pedido por proteção na semana que inicia, mencionando coisas bem concretas que causam medo.
VI – Bibliografia
– ALTMANN, W. Isafas 29.18-24. In: Proclamar Libertação, v. 3 São Leopoldo, 1978.
– KAISER, O. Prophet Jesaja. Kapitel 13-39. In: Das Alte Testament Deutsch. v. 18. Göttingen, 1973.
– KRAUS, H. J. Jesaja 29.17-24. In: Göttinger Predigtmeditationen. Pastoraltheologie 70. no. 8. Göttingen, 1981
– RUPPRECHT E. Jes. 29,18-24. In: Calwer Predigthilfen. v. 4. Stuttgart, 1965.
– VOIGT, G Jes 29.17-24. In:___. Die geliebte Welt. Göttingen, 1980.
– WEISER, A. Einleitung in das Alte Testament. 4. ed. Göttingen, 1957.