Tema: Lepra – uma doença que assusta?
Explicação do tema:
Lepra é uma doença que horroriza, assusta e mata aos poucos; faz cair os pedaços do corpo, é uma doença envolta em mistério. Tem sua maior incidência em áreas carentes e subdesenvolvidas.
Desde tempos imemoráveis a sociedade marginaliza os leprosos de seu convívio.
Somos, porém, desafiados a conviver com pessoas portadoras de lepra. Já não há mais motivos para o isolamento discriminatório dos leprosos.
Texto: Números 12.9-16
Autor: Hans Alfred Trein
l – Informações: Médicas, Estatísticas, Sociais, Bíblicas
1. Médicas
A origem da lepra não é conhecida. Várias fontes, incluindo a Bíblia, confirmam a lepra como sofrimento antiquíssimo; em todas elas o discernimento da lepra em relação a outras doenças, sobretudo da pele, não é muito claro.
A lepra, doravante designada de hanseníase, ataca principalmente mãos, pés, rosto e vistas. Ela não corrói a pele, nem os ossos; os dedos não caem! A hanseníase é, antes de mais nada, uma doença da pele e dos nervos periféricos. Os primeiros sinais são manchas com alteração de pigmentação e sensi-bilidade; um terceiro sinal é o engrossamento de certos nervos periféricos. Nenhum dano é causado ao sistema nervoso central.
Em 1874 o médico norueguês Gerhard Armauer Hansen (1841 – 1912) demonstrou a presença do bacilo/bactéria em forma de bastão, hoje conhecida como microbacterium leprae. Ao que se sabe, o bacilo se encontra somente em humanos. É uma doença de baixa contagiosidade. A maior parte da raça humana tem imunidade natural à hanseníase. Pode haver contato longo e íntimo entro mando e mulher, entre pais e filhos sem ocorrer transmissão. O índice de contágio 6 do 10%. O enfraquecimento da resistência natural, alimentação errada ou nutrição insuficiente parece ser o fator mais importante na transmissão.
A hanseníase não é hereditária. Ela se manifesta sob três formas:
a) Tuberculóide: é o tipo mais frequente; praticamente não é contagiosa. Apesar de apresentar muitas vezes um restabelecimento espontâneo, provoca graves alterações nervosas, especialmente nas mãos e pés. Manifesta-se geralmente com grandes manchas na pele.
b) Lepromatosa (ou Virchowiana) e diforma (apresenta simultaneamente características de tuberculóide e da lepromatosa): é o tipo mais grave; os tecidos dos doentes lepromatosos estão cheios de bacilos, e portanto mais transmitem a infecção. O contágio acontece por via cutânea, ou através de bacilos emitidos pelas secreções do nariz.
c) Indeterminada: representa uma forma inicial que pode desenvolver-se em uma das outras duas variedades; pode sarar espontaneamente. Manifesta-se com pequenas manchas na pele.
Na hanseníase a mutilação decorre de causas primárias e secundárias. Nas primárias os bacilos podem invadir diretamente o olho, nariz, tecidos do rosto, causando perda de sobrancelhas, da cartilagem do nariz (que fica como que puxado para dentro), causando enfraquecimento dos pequenos ossos das mãos e pés, cicatrizes, desfiguramentos. Entretanto, as maiores lesões são secundárias e decorrem da perda de sensibilidade, ou danificação dos nervos que ativam os músculos. O paciente não dispõe mais do aviso da dor, queima-se, corta-se, bate, se machuca, se pisa, se espinha, calça sapato apertado… Como não nota esses machucados, as feridas ficam expostas a todo tipo de outras infecções.Mutilações e deformidades não são decorrências diretas da doença, mas sequelas resultantes do não tratamento e da discriminação social.
A hanseníase tornou-se curável. Trata-se com sulfona (DDS-Diamino-di-phenil-sulphon), que é o remédio mais usado; dapsona (DA-DDS); clofamzina (lampren) – este medicamento pode alterar levemente a cor da pele; refampicina; BCG, como injeção preventiva. Ainda não existe vacina contra essa doença. O tratamento imediatamente retira a contagiosidade do doente, podendo ser ele perfeitamente tratado em casa; não há necessidade de leprosário.
Segundo um curandor de ervas, a doença resulta de uma intoxicação crônica que pode levar anos para se manifestar. Nas manchas a pele não sua e não pega poeira. Além disso, ainda diz que os dedos não caem, mas são reabsorvidos pelo corpo. Para evitar a doença precisa-se de uma alimentação balanceada. É uma doença social, pois ataca, sobretudo, as camadas empobrecidas. O tratamento para cura completa leva de 60-90 dias, e consiste basicamente em dieta alimentar frugívora e de uma desintoxicação do aparelho digestivo. A desintoxicação é realizada através de calumba (raiz) com limão e através de ervas depurativas: algodoeiro do campo, arnica, caroba, velame do campo… O curandor condena o uso de sulfas. (Curandor – Henrique Sedlacek, Cuibá/MT).
2. Estatísticas
No mundo estima-se existirem 20 milhões de hansenianos; no Brasil são 500 mil. Há quem aumente essa estimativa para 50 milhões de casos. A dificuldade de uma estatística é devida a/) problema da coleta de dados e da proscrição social. Pessoas com suspeita de hanseníase são escondidas, discriminadas por causa da carga tradicional pejorativa e por causa da ignorância sobre contagiosidade e cura da doença. Lamentavelmente também a Bíblia e as igrejas contribuíram para essa imagem da doença. O preconceito, abandono, medo estabelece um fator de multiplicação para as estimativas: 4 vezes mais os números estatísticos registrados.
A hanseníase se espalhou epidemicamente na Europa durante a época das cruzadas, atingindo seu auge nos séculos 13 e 14. A eliminação da hanseníase na Alemanha, por ex., aconteceu muito antes da descoberta do bacilo e do tratamento, e, coincidentemente, acompanhou o processo de desenvolvimento econômico-social.
A hanseníase chegou ao Brasil com os primeiros colonizadores portugueses e, mais tarde, com os navios sobrecarregados de escravos africanos. Os indígenas não conheciam essa doença. O estado do Acre atualmente é o campeão da hanseníase com 9,6 casos por 1.000 habitantes, seguido pelo Amazonas com em torno de 7,0, e pelo Mato Grosso com em torno de 5,5 casos/1.000 hab. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera alta endemicidade, quando há um doente hanseniano por mil hab.; além disso, a OMS constatou que não mais de 25% de todos os pacientes conhecidos recebem tratamento regular e que no mínimo 30% já são deformados.
3. Sociais
Lepra não é doença, lepra é uma palavra, carregada de significados pejorativos, de rejeição, de abandono, de execração. E palavra – disse o escritor Graham Greene – não tem cura; hanseníase tem cura!
O maior problema da lepra/hanseníase é o social. Discriminação de família e sociedade, tradição religiosa de castigo por pecados são empecilhos fortes, que atrapalham sensivelmente a luta por sua eliminação. Leproso, lazarento são estigmas que aumentam desnecessariamente o sofrimento.
Exemplos verídicos recentes: Uma médica dermatologista contou que uma colega de profissão lhe encaminhou uma enfermeira com suspeita de hanseníase. A suspeita se confirmou: a enfermeira tinha contraído a forma não contagiosa, amena de hanseníase. Duas semanas depois a enfermeira voltou ao centro de tratamento, desesperada e abatida e contou o que lhe acontecera: aquela médica, colega de profissão, quebrando o sigilo profissional, contou a todos do hospital que a tal enfermeira tinha lepra, e recomendou a todos que se distanciassem dela. A enfermeira perdeu o lugar de trabalho, amigos e vizinhos lhe aumentavam o sofrimento de tal forma que teve de se mudar de cidade. Contra a médica sem ética nada se pôde fazer, pois é rica e de família influente.
Outro fato contado por um técnico em saúde: Ano passado realizamos diagnose de lepra numa noviça das franciscanas. Como se tratava da forma amena e não contagiosa, não havia motivos para preocupação. Contudo, a notícia de que a noviça tinha contraído lepra desencadeou um pânico entre as freiras. Investimos ca. de 40 hs de elucidações com audiovisuais para garantir que não haveria perigo, que lepra é uma doença como qualquer outra. Para provar a ausência de perigo, deixamos a noviça brincar com nossa filhinha. Certo dia, a noviça nos visitou e nos contou entre lágrimas que havia sido excluída da ordem.
Ainda haveria vários exemplos de discriminação no trabalho; pessoas que fazem carteira profissional para dirigir, onde consta a observação apto a dirigir, sem remuneração.
O V Congresso Internacional de Leprologia em 1948 resolveu por unanimidade recomendar que se abandonasse o termo leproso na designação de um paciente com lepra. Também no Brasil o Ministério da Saúde baixou uma portaria n9 165 de 14/5/76 que resolveu: Estimular a apresentação voluntária; preservar a unidade familiar; abolir a separação compulsória dos filhos de seus pais enfermos; estimular revisão do grupo familiar; internar quando houver necessidade em hospitais gerais; desdobrar os atuais sanatórios, colónias e leprosários. O termo lepra e derivados ficam proscritos da linguagem oficial do Ministério da Saúde. Resolveu também cuidar, para que os doentes permaneçam ou se tornem economicamente capazes e auto-suficientes; reduzir progressivamente as barreiras segregacionistas.
Um padre, Mário, visitou em 1980 todos os 32 sanatórios-colônias do Brasil. Neles se encontram apenas 3,6% dos hansenianos no Brasil. Verificou que há muitos pacientes que ainda estão esperando uma visita dos familiares, de parentes e amigos, ou pelo menos uma carta ou cartão postal desde o dia de seu internamento, há vinte ou trinta anos atrás. Ninguém se apresenta, para saber deles; é como se já estivessem falecidos e sepultados, mortos socialmente.
Mais recentemente o trabalho com hansenianos está abandonando os leprosários e indo a campo. Sobretudo grupos civis e religiosos estão realizando o que o ministério da saúde resolveu, mas não está implementando com a necessária demanda. Prefere-se um atendimento ambulatorial nos postos e centros de saúde e a domicílio. A separação compulsória para leprosários e sanatórios é uma tragédia e precisa ser cada vez mais evitada. O estado tem obrigação de fornecer tratamento gratuito em hanseníase!
4. Bíblicas
Em nenhuma parte da Bíblia está escrito que um dia Jesus disse a Pedro: Não se assente sobre aquela pedra, pois aí, há cem anos atrás, sentou-se um leproso impuro. Isso é produto da imaginação popular através dos séculos, que manifesta toda a ignorância e horror que sempre existiram – e ainda existem – no meio da gente a respeito dos hansenianos.
Consta que o Antigo Oriente foi assolado por vários tipos de doenças de pele. Doenças infecciosas da pele aparecem em massa, como epidemias (Lv 26.25; Dt 28.21; 2 Sm 24.13). Sendo geralmente fatais, são citadas em série ao lado da espada. De forma especialmente terrível Zc 14.12 anuncia uma doença de massa. Nas listas de maldições aparecem em primeiro lugar.
A noção que os antigos hebreus tinham da lepra reunia diversas infecções cutâneas ou superficiais; e a estas se ligaram também os bolores que podiam aparecer em roupas ou corrosão por salitre nas paredes das casas (Lv 13 e 14). Esses dois capítulos do Lv fornecem valiosas informações para se conhecer a capacidade de distinção de lepra das outras doenças ou semelhanças. Também nos revelam detalhadamente os ritos de purificação, de deixar qualquer macumbeiro com vergonha. O diagnóstico e as preocupações coletivas contra o contágio são codificados e confiados à decisão do sacerdote. Essas medidas tomam valor religioso no javismo, como discernimento do impuro. A lepra era entendida como castigo de Deus, especialmente para atitudes como inveja, calúnia e orgulho.
O cap. 14 mostra dois ritos de purificação. Cria-se que Deus tinha retido para si o poder de cura da lepra. Os vv. 2-9 apresentam um ritual arcaico, comparável ao da novilha vermelha (Nm 19.1), que supõe que o mal seja causado por um demónio que se poderia assim expulsar. Nos vv. 10-32 o ritual está mais ligado ao conjunto de Lv, e não tem equivalente. Os pobres podem receber o ritual purificador, trazendo menos quantidade de elementos. Os sacerdotes retêm para si uma parte do material de sacrifício (casal de cordeiros que não é usado no ritual) e recebe as partes consideradas nobres, o peito e a coxa direita (Lv 7.28ss). Aos leprosos era prescrito o comportamento: deviam usar vestes rasgadas, cabelos desgrenhados, cobrir o bigode e clamar: Impuro! Impuro!, morar à parte, fora do acampamento, enquanto durasse a enfermidade.
Encontramos curiosas histórias sobre lepra: em Nm 12.10 Deus castiga a murmurante Miriam com lepra. Em 2 Rs 5.1ss Naamã, chefe de exército de muito prestígio e vitórias, acometido do mal, recebe licença para uma viagem de cura. Acaba recebendo do profeta Eliseu ordem para banhar-se sete vezes no Jordão. Naamã já ia se retirando indignado, mas resolveu mergulhar, por insistência dos seus servos; fica curado e quer servir a Javé. Eliseu não aceita os presentes de Naamã, mas Geazi, seu ajudante, corre atrás da caravana e pedicha. Interpelado por Eliseu, mente e a lepra acaba se apegando a ele. Em 2 Rs 7, quatro leprosos são responsáveis pela salvação de uma cidade sitiada faminta, pois descobrem, na sua situação de não ter nada a perder, que os sitiantes haviam abandonado o acampamento ao redor da cidade. Em 2 Rs 15 Javé castiga o rei Ozias, por não ter conseguido eliminar os lugares altos de culto idólatra. Em Ex 4.6 Javé mostra seu poder a Moisés, tornando a mão no peito leprosa, e desfazendo-tudo em seguida. Em Nm 5.2 se ordena a expulsão de todos os leprosos do acampamento.
Em Mc 1.40-45 Jesus se irrita, constrangido por um leproso com uma confissão de fé que é simultaneamente um beco sem saída: Se quiseres, podes purificar-me. Jesus quis, tocou-o e o curou; em seguida, correu com ele de sua presença. Especula-se que a irritação de Jesus tivesse a ver com a quantidade de leprosos que havia, com o fato de já estar cansado, com o fato de não querer ser reduzido a mero milagreiro. Jesus toca o leproso, quando todos dele se afastam; não tem medo do contágio, nem da declaração de impuro. Demonstra a todos o que falta: comunhão, compaixão ativa, possibilidade de cura. Demonstra claramente que os leprosos não estão apartados de Deus. Isso tudo subverte o domínio que a religião oficial detém sobre o povo. Em Mt 10.8 também os discípulos recebem a missão de purificar leprosos. Purificar leprosos é sinal do Messias, Lc 7.22; Mt 26.6 indica que Jesus parava frequentemente na casa de Simão, o leproso. Em Lc 4.27 Jesus enfurece os judeus, lembrando a cura isolada de Naamã, um sírio. Em Lc 17.12ss, provavelmente uma narração samaritana, encontramos judeus e samaritanos solidários na lepra comum à margem de uma vila e todos são curados por Jesus.
Jesus, curando leprosos, mostra que há lugares fora do templo, onde a ação de Deus é possível. Ele quebra o domínio, a exclusividade, e interfere no ciclo de exploração. Jesus os tira da marginalização, do abandono, os reintegra socialmente e religiosamente; restaura-lhes a dignidade humana. Ele rompe com a equação pecado-doença, ao nível individual.
Como última informação bíblica, queria resgatar o hissopo, planta usada nos ritos de purificação. Trata-se de uma planta medicinal, também conhecida como alfazema-de-caboclo. Arbusto muito ramificado, cultiva-se nos jardins e multiplica-se por sementes e estacos. Empregam-se folhas e flores como estomacais, expectorantes, sudoríferas, estimulantes, nas feridas é desinfetante, alivia dores e faz desaparecer inflamações; além disso, é bom para asma, contusões, insónia, nevralgia. É impressionante a coincidência com a forma com que o curandor de Cuiabá diagnostica e cura a doença – intoxicação crônica.
II – Texto
Em meio a problemas de sobrevivência que desencadearam murmurações e votos de desconfiança dos israelitas e estratégias para a tomada da terra encontra-se o nosso texto, em que Deus castiga com lepra e aceita voltar atrás.
Durante todo o tempo de peregrinação pelo deserto são frequentes as situações de murmurações de pessoas ou do povo contra Moisés e contra o próprio Deus. Deus assume claramente as dores de algumas murmurações contra Moisés, e assim também é no nosso texto.
Miriã e Arão aproveitam uma questão religiosa-moral para minar a liderança de Moisés. Parece tratar-se de uma luta pelo poder; porque Moisés tomou uma mulher estrangeira, querem jogar o povo contra ele. Moisés, muito manso, não entra na briga. Deus chama os três, coloca-os frente a frente no centro-comunitário do povo. Deus ressalta a especialidade de Moisés em comparação a qualquer profeta, confirma a sua posição de liderança inquestionável, assume a murmuração como contra si próprio, irrita-se e retira-se. O resultado é que Miriã fica leprosa, branca como neve. Arão se arrepende diante de Moisés e pede clemência. Moisés intercede junto a Deus. Deus transforma o castigo em temporário e o reduz a sete dias: Miriã deve ficar fora do arraial.
Esse texto confirma a lepra como castigo de Deus. Além disso, parece confirmar também a ideia de que Deus reteve o poder de cura para essa doença. Seria um castigo agora contra a murmuração e a ambição! Revela-nos também o horror que causava a doença.
Ludwig Köhler, em seu livro Der habräische Mensch (Tübingen 1953), sustenta que, o que na Bíblia comumente se denomina lepra, nada tem a ver com leprose, mas que se trata de uma doença de pele bem distinta e curável. A frase bíblica comum lepra, branca como a neve não corresponde à descrição atual de formas de leprose. Em Lv 13 se parte da premissa de curabilidade daquela doença de pele, enquanto que nem na idade antiga, nem na idade média havia cura para a lepra. A descrição antiga parece indicar para uma doença de pele com escamas brancas.
Ill – Meditação
O conteúdo evangélico do texto .é a sequência: arrependimento – intercessão – graça. Deus no final cura a lepra; e isso é uma boa notícia; ele se deixa sensibilizar, sobretudo quando as relações entre as pessoas se restabeleceram, a ponto de a vítima da murmuração interceder.
No entanto, quanto à questão lepra o texto é problemático. Parece que a lepra só é instrumento para que mais uma vez seja manifestada a glória de Deus. De modo geral, foi sempre essa a interpretação de textos e consequente pregação dentro das igrejas. Também na história da cura dos dez leprosos, sempre se ressaltou a questão do agradecimento e do samaritano; a questão da lepra ficou em segundo plano.
Nesse auxílio homilético se prioriza exatamente a doença e suas vitimas. Considero vital para as comunidades descobrir essas vítimas, não de pecado individual, mas coletivo, social ao nosso redor, ouvir seu clamor, denunciar sua situação de abandono e anunciar-lhes a graça de nossa compaixão ativa. Penso que quando Jesus, nas curas que realizou, perdoa pecados, ele está libertando as pessoas da situação de pecado coletivo na qual estão inseridas com o seu estado de pecado individual; e isso só pode resultar em cura.
Considero imprescindível informar-se sobre o número de casos conhecidos (em tratamento ou novos) de hanseníase no local. Também considero importante registrar a ausência de dados publicamente, quando isso foro caso, pois reflete muito bem o desleixo com que o Estado trata da questão.
Pastores, religiosos e grupos de comunidade podem ajudar: a) no aconselhamento animador dos doentes; b) no preparo de família e comunidade, para a integração dos hansenianos, recuperando-os fisicamente (tratamento), socialmente (convívio) e economicamente (emprego).
A ignorância sobre o assunto é um dos maiores empecilhos, ao lado da inoperância do Estado. Uma comunidade ou grupo social pode dar uma excelente contribuição; no caso da igreja, certamente esse trabalho diacônico terá seus re¬flexos de retorno para dentro da vida comunitária.
IV – Pistas para prédica
Proponho uma prédica temática. Assim como esse auxílio, proponho que ela seja rica em informação. Seria bom contar casos reais para exemplificar a discriminação. em caso de não haver exemplos locais, poder-se-á usar os já referidos. Considero também necessário repassar um mínimo de informações locais sobre a questão hanseníase no local, para no final talvez propor a constituição de um grupo de trabalho que se proponha a fazer levantamentos, e a continuar na dedicação à causa, mantendo também contatos com outros organismos afins. Não se pode ter receio de denunciar autoridades que testemunhadamente ajudam a esconder as estatísticas, que insistem em separação compulsória dos doentes, que fazem do tratamento um alto negócio particular com consultas e vendas de remédio.
É importante sempre relembrar que a hanseníase é curável. Assim como Jesus foi abordado (Mc 1.40-45), hoje milhares de leprosos gritam para dentro de nosso culto: Se vocês quiserem, podem curar-nos! Como discípulos de Jesus Cristo estamos constrangidos a repassar o seu amor, traduzindo-o em ação concreta, nesse caso, em favor dos hansenianos. Um grupo de trabalho pode ser o início.
Endereços:
1) Movimento de Reintegração do Hanseniano
-_MORHAN – Av. Índico, 545 – Jardim do Mar-SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP Telefone: (011)4142837.
2) CERPHA – R. Conde de Bonfim, 232 sala 613 – Caixa Postal 20.046/20520 Rio de Janeiro – RJ Telefone: (021)2645015 – Revista Companheiros.
3) CERPHA – A/C Manfred Gôbel
Caixa Postal 262 – RONDONÓPOLIS – MT.
V – Subsídios Litúrgicos
1. Confissão de pecados: Pai misericordioso. Trazemos para diante de ti toda a corrupção do nosso pecado. Estamos inscritos numa sociedade que nos empurra para o lucro, a discriminação, a vantagem sobre a desgraça de outros. Não nos podemos desculpar. As estruturas da injustiça que por ação ou por omissão ajudamos a construir, agora funcionam contra a vida, que queres em abundância para todos. Não temos nos importado com os doentes; sobretudo os leprosos, hansenianos estão no abandono, também porque nós achamos que nada temos a ver com isso. Se agora te pedimos perdão por nosso pecado, concede que tenhamos desprendimento das coisas e sensibilidade para os necessitados. Tem piedade de nós, Senhor!
2. Anúncio da graça: Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero (curá-lo), fica limpo! No mesmo instante lhe desapareceu a lepra, e ficou limpo:Mc 1.41 s. Jesus nos limpa de nosso pecado; livrou-nos para nos dedicarmos aos outros, aos hansenianos. Glória…
3. Oração de Coleta: Bondoso Pai. Abre agora nossos ouvidos, nossa mente e nossos corações, para que ouçamos a tua palavra e nos deixemos motivar por tua vontade. Dá que nos sensibilizemos com a causa dos hansenianos e que tenhamos coragem de ir ao seu encontro e com eles lutar por uma vida mais digna e do teu agrado.
4. Assuntos para oração final: Agradecimento pela palavra, pela saúde, pela comunhão. Intercessão pelos hansenianos abandonados, discriminados. Intercessão pelos empobrecidos, subnutridos, presas fáceis, vítimas regulares de doenças, da hanseníase. Intercessão pela nossa sensibilização quanto ao problema da hanseníase e por coragem para a ação. Intercessão para que a IECLB procure ser fiel à vida abundante para todos e assim fiel a nosso Senhor Jesus Cristo.
VI – Bibliografia
– Dr. CÂNDIA, Pe. Mário. Onde estão os nossos irmãos hansenianos? 1. ed. São Paulo, 1983.
– GÖBEL, M. 3. Rundbrief des Entwicklungshelfers aus der Pfarrei Rebdorf Manfred Göbel an seine Freunde. Pfingsten, 1984.
– MINISTÉRIO DA SAÚDE. Legislação sobre o Controle de doenças da área de dermatologia sanitária. Centro de Documentação do Ministério da Saúde, Brasília, 1983.
– MORHAN. Hanseníase, guerra contra o preconceito. Publicação elaborada por vários colaboradores. São Paulo.