Tema: A vida está em perigo: socorro!
Explicação do tema:
S.O.S…. O belo jardim em que vivemos está ameaçado pelo poder da morte. Até o último que duvidou disto, agora, após Hiroshima e Chernobyl, não mais pode assumir o papel da avestruz e ignorar a ameaça que paira sobre o nosso planeta.
Não só a ameaça nuclear representa perigo de morte, mas também a poluição de rios, mares, ares e do próprio solo.
Por que tudo isto? Por causa da ganância por lucros, desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos, tratamento indevido do lixo…
Urge que cada comunidade se conscientize de sua responsabilidade para com a natureza, da qual fazemos parte. Está mais do que na hora de cada comunidade se mobilizar na luta pela preservação da vida que Cristo quer para tudo e todos.
Texto para a prédica: Gênesis 2.8-15
Bertholdo Weber
l – Descrevendo o contexto
O grito de socorro S.O.S., reservado principalmente para casos de extremo perigo de vida, p. ex., naufrágio, poderia parecer um sinal de alarme exagerado para a atual crise ecológica do nosso planeta Terra. Não pretende suscitar pânico desnecessário ou dramatizar demasiadamente a situação da humanidade às vésperas de uma catástrofe apocalíptica. Por outro lado também não podemos fechar os olhos diante da verdade de que a destruição da natureza e o desequilíbrio ambiental já alcançaram proporções incalculáveis e perigosas. Muitos ecólogos sérios nos advertem: está em jogo a sobrevivência da família humana. A crescente exploração irresponsável e irrestrita da natureza pelo homo faber através de uma tecnologia sempre mais sofisticada pode levar a humanidade ao suicídio coletivo. O mundo está por um fio! reza a manchete de um jornal ecológico. E o relatório Global 2000, apresentado por cientistas americanos, não deixa margem a dúvidas, que a vida na face da terra enfrenta sua maior ameaça na história da humanidade.
Em vista desta realidade urge mudarmos a nossa atitude de indiferença e criamos entre nós o senso de responsabilidade e de respeito pela criação.
Em nossos cultos confessamos, no primeiro artigo do Credo Apostólico, a nossa fé em Deus Pai, o Criador do céu e da terra. Esta confissão de fé implica também a nossa responsabilidade pela preservação e integridade da criação. Nas primeiras páginas da Bíblia lemos que Deus criou o homem à sua imagem (Gn 1.26) e pôs à sua disposição as plantas e os animais (Gn 1.29ss.); colocou-o no Jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo (Gn 2.15). Assim o homem é inserido no todo da criação como parte dela e feito administrador dela. Sua tarefa como administrador consiste em preservar e guardar a natureza e cultivar a terra para o seu sustento, mas não exercer um domínio destruidor sobre a natureza. Ele não é senhor absoluto da terra: A terra é do Senhor! e o homem tem o mandato de ser mordomo fiel, responsável perante o Criador por sua administração da boa criação. Desta maneira o homem se torna parceiro e cooperador de Deus, o criador, preservador e governador da história e da natureza.
É hoje de suma importância que redescubramos esta visão bíblica do nosso relacionamento inseparável com a vida e o destino de toda a criação. Estamos, com ela, envolvida na queda, na culpa e na morte; mas também esperamos, justamente com ela, a partir da cruz e ressurreição de Cristo, pela redenção final, a nova criação no reino de Deus (Rm 8). Esta visão bíblica da interação da natureza e do homem como parte integrante de um processo vital global não se coaduna com aquela que vê o ser humano separado do meio ambiente, que só tem valor pela sua utilidade para o homem. Este é o pensamento científico-tecnológico da civilização ocidental para o qual também contribuiu o cristianismo através da dicotomia que nos coloca como observadores externos da natureza. Precisamos de uma nova mentalidade que reconhece nas outras formas de vida uma validade em si, independente da sua utilidade para o homem.
A fé cristã no Criador não crê tão-somente que Deus, no princípio, criou o céu e a terra, entregando o mundo depois as suas próprias leis; mas vê Deus pro-sente e atuante em cada uma de suas criaturas e dentro de todo o processo da evolução. Jesus diz: Meu Pai está aluando até agora (Jo 5.17) e nos mostra sua bondade que cuida das aves do céu e dos lírios do campo e faz chover sobro justos e injustos (Mt 5.45; 6.26-30).
Tudo o que Deus criou era muito bom e a terra se destinava a ser um jardim, um lar habitável (oikos = casa, daí a palavra ecologia). Mas o que nós, encarregados de cuidar e preservar a criação, fizemos deste nosso planeta a do mundo maravilhoso ecossistema biológico? Vangloriamo-nos do progresso da nossa era moderna, da civilização tecnológico-industrial e suas muitas conquistas na exploração e dominação das riquezas naturais. Entretanto reconhecemos, quase tarde demais, o preço elevado que temos de pagar por esta rapinagem e fome de lucro da sociedade de consumo insaciável.
Muitos rios que fornecem água potável para a população estão contaminados e até condenados à morte. Diariamente, recebem quantidades inadmissíveis de materiais poluentes, inclusive metais pesados (cromo, mercúrio, etc.) de efeitos cancerígenos e mutagênicos, sem que as indústrias, curtumes e outras fontes poluidoras providenciassem o indispensável tratamento primário e secundário. Sob o ponto de vista da ética ecológica que visa preservar, defender e promover a Vida, ê inadmissível que lucro e crescimento econômico prevaleça à saúde e ao bem-estar do povo. A preservação ecológica tem a primazia sobre a produção econômica.
Nas (grandes) cidades os gases tóxicos, expelidos por fábricas e automóveis (dióxido de carbono) e não absorvidos por árvores, poluem sempre mais a atmosfera, ao ponto de causar sérios problemas para a saúde (doenças respiratórias). Em escala mundial, o desastre nuclear de Chernobyl causou um choque ecológico pelos danos causados pela radioatividade mortífera à vida humana, animal e vegetal e em muitos países, inclusive no Brasil, pois para cá foram exportados produtos alimentícios (leite, queijo) radioativos. Não podemos assumir uma atitude de indiferença, sem nos tornarmos culpados diante do perigo de extinção que ameaça a humanidade, pelo arsenal de armas atômicas e da energia nuclear. Em nome daquele que é a Vida e quer que todos tenham vida em abundância, somos chamados a engajar-nos pela paz e a justiça social e pela integridade da criação, em favor das condições humanas fundamentais, contra estruturas injustas e projetos de uma morte prematura. Não é justificável recorrer, para produzir energia, à construção de reatores atómicos de alto risco e de gastos astronômicos, quando há fontes de energia alternativas (pequenas usinas hidráulicas, energia solar e outras).
Nos tempos da colonização os pioneiros desbravaram a mata virgem para poder cultivar a terra e assim garantir o sustento da vida. Hoje, é preocupante o crescimento irracional dos desmatamentos florestais sem o simultâneo refloresta-mento conforme manda a legislação vigente. Esta devastação florestal causa danos irreparáveis ao ambiente, pois a maioria dos rios já não possui às margens uma cobertura vegetal para reter a água das chuvas, causando então enchente, e boa parte do solo fértil é levada pela erosão. Outro tanto definha estorricado pelo sol e pela seca até a desertificação. Conscientizemo-nos disso antes de derrubar uma árvore ou um mato nativo. E hora de plantar e preservar, não de destruir e devastar a natureza!
A exploração descontrolada da Terra e a destruição da natureza é um dos graves pecados do homem moderno contra a vida. No interior, especialmente em regiões de monocultura, são lançados, pelas multinacionais, agrotóxicos e produtos químicos de adubação, os quais, mal aplicados, envenenam pessoas, animais, rios e lagos e com a chuva penetram no solo, atingindo o lençol freático de águas subterrâneas, e contribuindo para a extinção da fauna e dos peixes. E através de aditivos alimentares nos produtos hortigranjeiros chegam ao consumidor formando o veneno nosso de cada dia. No entanto, há outros meios de inseticidas e adubos orgânicos que a própria natureza fornece abundantemente…
Também não é indiferente quais os produtos químicos que usamos na vida do dia-a-dia (se são bio-degradáveis ou não). Com o uso constante do cloro-fluorcarbono, a substância empregada em aerosóis (spray), estamos contribuindo a danificar a camada de ozônio que protege a terra das radiações ultravioletas.
E o tratamento correto do lixo não é da responsabilidade só das prefeituras, mas a seleção do mesmo já deve ser feito em casa (lixo orgânico). Explorar a natureza e seus recursos, que aos poucos vão se esgotando e não são renováveis, espoliar os bens da terra, sem reaproveitar o património que é de todos, e sem respeitar a vida, toma este nosso país uma terra maldita, em vez de abençoada e sem males. A longa história da ganância por lucros, do poder opressor e expoliador dos ricos criou a pior crise ecológica, cujas consequências são os dois efeitos opostos: a poluição de miséria e a poluição de riqueza da sociedade capitalista de consumo. Poluição da miséria significa a ausência de condições básicas mínimas para uma vida humana. A pobreza e a fome também afeiam o meio ambiente porque os pobres e famintos são forçados a destruir frequentemente seu ambiente imediato para poder sobreviver (p. ex., cortam árvores para lenha e construção de malocas). Em nossa sociedade industrial, orgulhosa de sua produção em massa, de cada 10 pessoas, 6 padecem fome. No país que se ufana de ser o segundo maior exportador de alimentos do mundo, a metade de nossa gente vive no jejum crônico, um estado de subnutrição permanente que não só prejudica a função cerebral e uma atividade normal, mas expõe a pessoa a toda sorte de doenças. E o lixo farmacêutico de inúmeros medicamentos de valor terapêutico duvidoso, importados pelas multinacionais, ainda agrava esta situação.
Poluição da miséria também é falta de saneamento básico e de moradias suficientes e adequadas (o problema da sub-habitação). Milhares de irmãos nossos, vivendo como bichos em verdadeiros chiqueiros humanos, ou embaixo de pontes, catando lixo por um lado, e, por outro, o luxo acintoso do poder econômico agressivo e violento. Assim, contrastando com a poluição da miséria e dela se aproveitando e alimentando, temos no extremo oposto sua causa determinante, que é á poluição da riqueza e a desigualdade injusta na distribuição da renda e dos bens desta terra, que são de todos. A sociedade humana não conseguirá salvar os poucos ricos se não aprender a partilhar com os muitos pobres. Não pode haver paz sem justiça, aquela é fruto desta.
Com essas poucas linhas não pretendíamos expor todos os aspectos da atua) crise ecológica que vive o nosso mundo. Ainda há outras poluições não menos degradantes e desafiadoras (p. ex., drogas). Mas basta para nos conscientizar da ameaça que paira sobre o nosso planeta. Urge que cada comunidade se conscientize de sua responsabilidade para com a natureza da qual fazemos parte. Proteger a natureza é garantir a sobrevivência de todas as espécies, inclusive a nossa. Sendo assim, temos a obrigação de preservar os ecossistemas ainda intactos, e melhorar o meto ambiente em que vivemos pensando também na sobrevivência não só das gerações presentes, mas também das futuras. Isto deve começar com a consciente educação ecológica dos nosso filhos para o respeito da vida (A. Schweitzer), superando assim a agressividade ambiental de nossos dias.
A IECLB assumiu, em sua missão, também a responsabilidade pela paz, justiça e integridade da criação (o tema do próximo Congresso Mundial da Paz) e em sua Assembleia Ordinária (em 1986, no Rio) convocou as comunidades, através de uma moção, a se conscientizarem desta sua responsabilidade pela vida da criação. O momento é agora, para ver, debater e agir. Por isso: Está mais do que na hora de cada comunidade e cada cristão se mobilizar na luta pela preservação da Vida que Cristo quer para tudo e todos.
II – Proteger a natureza é preservar o homem
Mandamento Ecológico
– Preservarás a Terra que herdaste dos teus antepassados, conservando, de geração em geração, os seus recursos e sua produtividade.
– Preservarás a pureza e abundância das águas e a limpeza do ar, para que todos os seres possam usufruí-las sem dano permanente.
– Cuidarás que o solo não venha a perder sua fertilidade, para que nunca falte o alimento para ti e os teus descendentes.
– Pouparás os bens da Terra, tomando para ti somente o que for necessário para tua existência.
– Não destruirás os refúgios dos teus irmãos, os animais, e reservarás para eles uma parte das terras que ocupares.
– Cuida que não venha a desaparecer nenhuma das espécies de animais e plantas que criei, para que não diminua o património original da criação.
– EU te fiz herdeiro da Terra e seu administrador, que foi criada para ti como único refúgio onde podes viver em todo o Universo; cuida que esse refúgio não venha a se tomar um lugar de desolação e morte.
(J. Vasconcelos Sobrinho)
III – Oração do menino triste
Ortência Muradás Dapena
É uma pena, papai. É uma pena, mamãe. É uma pena que vocês se preocupam tanto comigo e nada com o meu mundo. Que adianta que me preparem para o futuro… um futuro que talvez nunca chegue. É uma pena.
Quando contas histórias de tua infância, não falas em televisão, motocas ou brinquedos eletrônicos. Porém falas em subir em árvores, em passeios pelos bosques, em brincadeiras nos rios; falas em algo que se chama viver. Eu não tenho árvores para subir, nem bosques para passear, nem posso me atirar nos rios. As águas estão envenenadas, dizes. Mas, se estão envenenadas, é porque tu, e todo mundo, atiram nelas o que não presta.
Lembras quando derrubaste aquele bosque? Os pássaros que moravam nele voavam e voltavam para as árvores caldas. Depois ficaram tristes, sem abrigo, sem alimento… E partiram… Não sei para onde, talvez para a morte. E tu não tiveste pena deles. Gostarias que alguém fizesse assim com a nossa casa, com o nosso alimento? Não, não gostarias. Tu gritarias, protestarias diante de tanta maldade. ..
Ah! papai, no dia em que não mais existir árvores, nem animais, nem pássaros, o homem morrerá de solidão. Foi um índio que disse isso. Mas quem se importa com o que um índio diz? Eles são selvagens… Não são civilizados como nós, não, papai?
E tu, mamãe, ficas tão orgulhosa, vendo teus lençóis tão brancos secando ao sol. Não sabes que essa espuma que deixa os lençóis tão brancos, está matando a vida dos rios? Ah! mamãe, tu sabes disso, mas parece que não te importas. .. Eu preciso de oxigénio que vem das árvores; da água que vem dos rios; eu preciso de vida. Sim, de vida. E onde encontrar vida, se tudo está morrendo a nossa volta!?…