O USO DA BÍBLIA EM ESTUDOS COM COLONOS QUE MIGRAM PARA AS NOVAS ÁREAS DE COLONIZAÇÃO.
Tema: Surgimento e desenvolvimento do Reinado em Israel
Teobaldo Witter
l — O uso da Bíblia
A Bíblia é de vital importância no trabalho, crescimento e engajamento das comunidades, quer sejam urbanas, quer sejam rurais. Basta olhar para os momentos em que ela é usada: no culto, na OASE, no ensino confirmatório, nas reuniões de presbíteros, nos grupos de reflexão, etc. Em sua caminhada, o povo de Deus tem, na Bíblia, uma seta que indica o rumo e um espelho que ajuda iluminar a vida, a situação que está ao seu redor. Conforme Carlos Mesters, a Bíblia é como um espelho que joga os raios solares para dentro da casa. Assim, ela ilumina o ambiente, provocando uma reação nas pessoas que estão lá dentro. Como as pessoas que estão na casa não olham só para o espelho que reflete os raios solares pois isso provoca cegueira, assim também a comunidade não pode olhar só para a Bíblia. A finalidade do estudo é clarear a vida do povo, com todas as suas contradições, alegrias, duvidas, desafios e tomar uma atitude diante da mesma. A Bíblia ilumina a casa, a comunidade e o mundo, tornando a realidade concreta mais clara. Ela ajuda a descobrir o mundo e faz o povo tomar atitudes em relação ao mesmo. Por isso, estudá-la significa, também, fazer análise da realidade económica, social, política e religiosa do mundo em que vivemos com suas estruturas de morte. Também Jesus Cristo assim o fez. Depois da prisão de João (um fato político), Jesus foi para a Galiléia (no meio dos pobres) e ali pregou o Evangelho: a) O tempo chegou; b) o Reino de Deus está perto; c) arrependei-vos; d) crede no Evangelho (Mc 1.14,15 e paralelos). Ele foi envolvido pelos fatos da época. Ele os analisou e, então, partiu para a pregação, fazendo constantemente reavaliação. Querer estudar a Bíblia sem fazer análise de conjuntura é como olhar para o espelho que reflete a luz.
O resultado desta atitude é a cegueira. A finalidade do espelho e da luz é a edificação da vida. Por seu amor por nós, Deus usa a memória dos pobres testemunhada na Bíblia para aflorar sua vida no momento histórico em que vivem.
A Bíblia também é como uma bocha da castanha do Pará. A casca desta castanha é dura, mas no seu interior está o alimento para o corpo. O pessoal, aqui no Mato Grosso, abre essa bocha com um serrotinho. Neste trabalho, todos da família ajudam: um pega o serrotinho, o outro segura a bocha, um terceiro pega o martelo para abrir a noz onde está o alimento. . . Neste serviço, cada pessoa vai dando o seu palpite e experimentando a fruta. O trabalho de tirar o alimento para o corpo é feito em mutirão. Também a Bíblia contém o alimento da comunidade, que precisa ser desvendado e experimentado. Conforme Albérico Baeske, ela precisa ser descascada pela comunidade. Uns já levam jeito. Quem quer ajudar? Ela é lida pela comunidade que se sabe missionária, que quer comer o alimento e indicá-lo para os outros. Ah, não esquecer o tempero que é a vida social, económica, política e religiosa de hoje.
Com essa expectativa no coração e na razão, a comunidade se reúne para estudar a Bíblia.
Queremos olhar ao nosso redor: Como vivem e pensam os convidados? Como são as comunidades da IECLB?
II — A situação nas comunidades
A IECLB tem sido e está sendo uma igreja de atendimento. Parte considerável dos membros estão convictos de que, se forem batizados, confirmados, receberem a bênção matrimonial, participarem, às vezes, da Santa Ceia (não precisam participar muitas vezes, porque não têm muitos pecados) e forem sepultados com a assistência do pastor, então têm a salvação da alma garantida. Alguns pastores mais hábeis conseguem convencê-los de que precisam ir mais vezes ao culto e deixar sua contribuição em dia. Com isso, seus direitos na comunidade e diante de Deus aumentam. E ai daqueles/as pastores/as ou presbíteros/as que os questionam quando pagam mal seus empregados/as, quando compram bem baratinho a terra de seu vizinho que sucumbiu aos seus problemas, angústia e desespero, quando escravizam sua mulher ou seus filhos, quando na vida do dia-a-dia se tornam testemunhas do reino da morte.
Na IECLB, muito peso se tem dado ao culto. Para muitos membros, comunidade significa duas horas de culto por mês. Acredito que o culto é necessário, é bom, mas como um momento da caminhada da comunidade. Ele não é um fim em si mesmo, nem a comunidade o é.
O que é a comunidade? Qual a sua missão no mundo? A partir da vida, testemunho, morte e ressurreição de Jesus Cristo nasceu uma pequena comunidade. Foi pequena, mas a mensagem por ela deixada é tão forte que enfrentou a morte e a venceu, atravessando a História feita e contada pela ideologia dominante com todos os seus instrumentos diabólicos, e chegou até nós hoje. À comunidade, hoje, compete entender os sinais dos tempos e abrir os seus olhos. Isso ela consegue com dedicação, com estudo da Bíblia, da vida e da morte e assumindo compromissos concretos, testemunhando o Reino de Deus frente às estruturas de massacre da vida.
Em termos de fé e vida existe confusão na cabeça de muita gente. Muitos membros não têm clareza. Quem não tem clareza, não consegue se virar, não tem argumentos. Basta olhar para dentro da própria casa. Mesmo pessoas com muita disposição para ajudar, quando sofrem dor, morte, doença e abandono inventam mentiras sobre Deus para se consolar: É muito difícil, impossível de suportar calado, mas foi Deus quem quis assim. Se estão bem, inventam mais uma vez mentiras sobre Deus para justificar seu direito de sacrificar vidas: Fui abençoado por Deus para comprar a terra de meu vizinho. No entanto, fazem parte da mesma comunidade cristã. Isso tem consequências profundas e dolorosas para a vida comunitária. Aí já se perdeu o rumo das coisas. Pastores e comunidades, em muitos casos, também perderam o rumo e não sabem por que e para que estão aí (Günter Wolff. Proclamar Libertação XIII, São Leopoldo, p. 20). Portanto, é preciso fazer algo para esclarecer e assumir a missão que Deus nos dá aqui neste mundo.
Sinais de avanço estão nascendo em algumas comunidades. Há grupos em diversas regiões do país, que se reúnem para o estudo. Entre estes podemos incluir algumas comunidades do Pastorado de Tangará da Serra, MT. Passamos ao relato da experiência de Santa Rita, MT.
III — Contexto da comunidade em que foi feito o estudo
1. O tema Surgimento e Desenvolvimento do Reinado em Israel foi estudado em três comunidades do Pastorado de Tangará da Serra, MT. Não é um estudo isolado. Faz parte de um programa de reflexão bíblica baseada no Antigo e Novo Testamento, quais sejam: Êxodo, Reinado, Profecia, Cristologia, Atos dos Apóstolos, Comunidades Paulinas, Apocalipse. Mais durante o período da seca, de junho a dezembro, a comunidade se reúne, em média, de três em três meses, durante dois dias seguidos (fim de semana ou feriadão) para o estudo da Bíblia e da vida. Todos os membros da comunidade são chamados a participar. A comunidade tem respondido com interesse.
Há uma participação em torno de 80% dos membros.
Durante a reflexão, são consideradas as interrogações, as dúvidas e as convicções que o pessoal tem. Os próprios participantes vão colocando as questões sobre cada tema e ajudando no rumo que a reflexão vai seguindo. Sendo assim, os assuntos autoridade, poder, propriedade, organização do povo, igreja, escola e recado dos profetas são alguns dos pontos discutidos em plenário a partir do estudo do presente tema.
A ligação com a vida sofrida dos migrantes e agricultores de hoje é indispensável. Afinal, é a realidade vivida em nosso meio que nos faz recorrer à Bíblia. É nesta que os empobrecidos de hoje encontram a sua própria memória.
Com o estudo em comunidade se busca a transformação da realidade de injustiça e morte. O estudo comunitário prepara os cristãos para a sua luta nos movimentos populares. É nesta luta que a comunidade, os cristãos são chamados a dar os sinais do Reino de Deus. Este implica novas relações de poder, de trabalho, de terra, de produção e de distribuição do produto. . . Hoje, na América Latina, a existência de pobres denuncia o fracasso do sistema capitalista e a iminência do Reino de Deus em sinais concretos. Denuncia que a aliança entre Deus e o ser humano está quebrada (Dt 15.4; At 4.32ss).
2. A comunidade de Santa Rita, MT, é uma das três comunidades do Pastorado de Tangará da Serra onde foi realizado o presente estudo. Esta comunidade nasceu em 1978, no meio do cerrado, a 200 km da sede do município, em Nobres, MT. Naquele ano, algumas famílias iniciaram a migração do Oeste do Paraná para esta região. A colonizadora Trivelato trouxe os pioneiros de avião para olhar a terra e comprá-la. Assim não tiveram a oportunidade de sentir na própria carne a realidade de sofrimento que as estradas, o isolamento, a dificuldade de comercialização, a falta de escola, a doença impõem aos migrantes. O sofrimento aumenta à medida em que estão mal informados e descapitalizados. Como diz um membro: Parecia que tudo era tão bom e fácil. Eles nos trouxeram de avião para olhar a terra. Ficava feio não comprá-la, mesmo que a gente já desconfiava que ela podia não ser boa. Depois que a colonizadora vendeu as terras, sumiu, deixando os migrantes desorientados nesta terra estranha.
A comunidade de Santa Rita, apesar de nova, já passou por muitas dificuldades. Além de se organizar em meio à construção do novo lar e à nova roça, já chorou o assassinato de seu vice-presidente, ocorrido em 1984. Já esteve envolvida com polícia, juiz de direito, Banco do Brasil, traída pelo prefeito municipal e pelo delegado sindical (pelego). A terra de alguns membros já foi leiloada pelo Banco do Brasil. Houve momentos em que foi desafiada a tomar decisões difíceis. Ela permanece viva, graças a Deus que se utilizou de algumas pessoas para levar sua missão adiante nesta localidade. Seu testemunho está carregado de derrotas, de lutas e de pequenas vitórias. Por ocasião do assassinato de seu vice-presidente, quando a grande maioria dos moradores da localidade, desiludidos pela tramóia das autoridades competentes, resignaram sua dignidade, alguns membros permaneceram firmes, alertas. Foram em cima dos fatos, juntaram argumentos e exigiram esclarecimentos e justiça, contrariando o prefeito que fora por eles eleito. Hoje a comunidade se compõe de médios e pequenos proprietários rurais, de arrendatários e sem-terra.
IV — Metodologia
Para um bom estudo bíblico em grupos é necessário que a sabedoria popular ganhe espaço. O agente não é dono da verdade bíblica. No grupo, todos aprendem e todos ensinam. Uma das tarefas do/a coordenador/a é criar espaço para que o grupo defina seu papel e que todos, até mesmo os que não sabem falar, se posicionem diante dos fatos. Este é um caminho lento, que leva anos, mas é a chance que temos para criar comunidades vivas, conscientes, que se saibam missionárias e comprometidas com o Reino de Deus.
Passo a citar alguns princípios metodológicos usados nos encontros de estudo da Bíblia. Cada realidade é diferente. O coordenador deve definir com o grupo a metodologia conveniente à sua realidade.
1. Celebração: Iniciamos e encerramos o dia com celebração. Durante o encerramento do curso de dois dias, normalmente se partilha a Santa Ceia. Ali todos podem falar. A avaliação do curso é feita durante a celebração de encerramento, quando se assume, também, o compromisso.
2. Trabalhos em grupo: Muito peso é dado aos trabalhos em grupos. Lê-se o texto em conjunto, procuram-se esclarecer as palavras e expressões desconhecidas, se houver. Em seguida, trabalha-se em grupos. Cada grupinho pode, simplesmente, tirar do texto o que chama a atenção ou o que acha importante e trazer as perguntas ao plenário, onde a reflexão continua. Ou então dá-se algumas perguntas que ajudam na reflexão, tais como: Que grupos aparecem no texto? Quais os interesses que cada grupo defende? O que faz o rei? O que fazem os ricos? O que fazem os pobres? E Deus, que posição toma? O que o texto diz para nós hoje? No estudo com agricultores, não é bom dar muitas perguntas.
3. Relatos dos grupos: É bom deixar certa liberdade aos grupos para que eles definam a forma de apresentação da reflexão ao plenário. A dramatização (encenação), o papelógrafo, o relatório e o desenho é o que o pessoal mais gosta de usar. Compartilhar as descobertas em plenária é muito importante. Por isso a dinâmica precisa ser criativa. Os agricultores aprendem com as mãos, os pés, a boca, os olhos, os ouvidos, o coração e, só então, com a razão. Isso deve ser considerado.
4. Valorização da interpretação dos humildes: O/a coordenador/a precisa ter sensibilidade e ajudar para que o grupo se posicione. Concretamente isso significa cuidar para que dois ou três não dominem a turma e os outros fiquem calados em seu cantinho. Isso é começo de abertura e sinal de continuidade do estudo. Ninguém vem ao encontro para ficar durante dois dias calado/a. A libertação dos pobres começa quando estes criam coragem para falar. Interessante foi a oração de uma mulher durante a celebração de encerramento do encontro: Agradeço-te, Deus, porque estivemos reunidos durante dois dias. Cada um falou de sua vida. Descobrimos o que está na Bíblia, e ninguém foi humilhado. Para ela, poder falar de sua vida, da Bíblia e de Deus sem ser humilhada, gozada pelo grupo foi o começo da ressurreição.
Neste momento, um novo mundo cheio de sonhos e esperanças se abre para ela. Começa a ver sentido em sua vida e em sua luta.
5. Comparações: Procurar usar histórias da luta e da vida dos pobres de hoje. Fazer comparações com fatos da vida que todos conhecem ou que são de seu mundo.
6. O grupo: Criar, no grupo, um clima de abertura, de sinceridade, de amizade e de respeito mútuo. Trazer a comida pronta de casa e almoçar juntos tem sido uma boa experiência.
7. Mapas: Fazer mapas em folha de cartolina /ou outro papel), colocando os principais nomes de cidades e locais que aparecem nos textos. Usá-los na introdução sobre cada texto, quando necessário. Apontar que estes locais existem aqui na terra. Ali havia pessoas que se posicionavam diante de Deus e diante da ideologia dominante, diante da vida e diante da morte.
8. O texto e a vida: Tirar do texto bíblico só aquilo que ele realmente diz. Não enfeitar, nem defender, nem trair o texto. Ligar o texto com a vida de hoje. Apontar para a realidade de vida e de morte do povo de hoje.
V — Conteúdos abordados
Cito aqui os textos bíblicos que foram refletidos durante os dois dias de encontro. O critério usado foi o de escolher um texto que está a favor da monarquia e um que está contra. Por isso é bom observar os grupos que estão contra ou a favor. Para quem a monarquia foi boa e para quem ela foi um desastre? É fundamental observar os grupos que vencem conforme o texto. Nos projetos de reconstrução, após o exílio, foram estudados só os de Esdras/Neemias e o de Rute. Existem muitos outros (o de Jó também é importante). Os que estudamos seguem duas linhas divergentes: um é da elite, de fechamento, e o outro é popular, de abertura. Por aí já dá para refletir muito. É interes-sante observar o que foi trabalhado no Novo Testamento. Vamos aos textos.
1) Surgimento da monarquia em Israel: a) l Sm 8; b) l Sm11.
2) Saul e Davi: a) l Sm 14.47,52; b) l Sm 19.1,11; c) 2 Sm 5.1,12; d) 2 Sm 24.1,10.
3) Salomão: a) l Rs 1.39,49; b) l Rs 4.20,28; c) l Rs 9.10,28.
4) Os dois reinos: Israel e Judá: a) 2 Rs 12.1,24; b) l Rs 14.
5) Fim da monarquia em Israel e Judâ:
a) 2 Rs 17.1,23;
b)2 Rs 24.10 até 25.7.
6) Exílio babilônico: a) 2 Rs 25.8-26; b) SI 137.1,9; c) Lm 5.1,22.,
7) Volta do exílio: a reconstrução: a) 2 Cr 36.22,23; b) Ne 5.1,5 (6,11); c) Ed 3.8,13 e Ed 9.1,9; d) Rt 1.1,22 e Rt 4.13,22.
8) Princípios do Reino de Deus que Jesus nos apresenta:
a) Mt 20.24ss: Neste Reino não há domínio de uns sobre os/as outros/as.
b) Mt 23.8,9: Só um é o mestre, nós somos irmãos/ãs.
c) Mt 22.34,40: Amor a Deus e ao semelhante,
d) Mt 12.1,7: A lei deve ser em benéfico do ser humano,
e) Mt 7.12: O que quer para você, faça para o semelhante,
f) Jo 18.8: Não trair os/as companheiros/as, o povo.
g) Jo IS.lss: Celebração da Páscoa inclinar-se diante do chulé da favela,
h) Jo 4.20,24 e Mc 3.1ss: O novo culto,
i) Lc 4.14,30: Recuperação da vida com dignidade,
j) Jo 14.6: Cristo é o caminho, a verdade e a vida.
VI — Avaliação
Coloco, aqui, alguns pontos da avaliação feita pelo grupo que estudou o tema sobre o Reinado em Israel. Ela fala do significado que o encontro teve para os participantes e também dá um certo rumo por onde o grupo pretende seguir.
Este encontro foi de grande proveito para nós, porque aprendemos coisas que não sabíamos. Estudamos as leis do passado, do tempo da Bíblia, e a nossa vida hoje. Estudando com a comunidade, a gente entende melhor a Palavra de Deus. — Foi muito bom, porque aprendemos muita coisa, inclusive a ler a Bíblia e entender sua mensagem. Não adianta só br sem entender o que está escrito. Foi bom o trabalho nos grupos, porque a gente podia falar e, também, perguntar. — As pessoas neste encontro sentiram-se mais amigas, com vontade de um ajudar o outro.
Aprofundamos nossos conhecimentos. A gente deve se encontrar mais vezes para estudar a Palavra de Deus. — Foi boa a amizade, a abertura e os teatrinhos que nos deram coragem para falar. A Bíblia e a vida é como uma escola. Falar das coisas da Bíblia e da vida é ir aprendendo. As encenações e as comparações dos reis com os militares e a Nova República, a enrolação do Plano Cruzado para ganhar a eleição, a Pátria, a Babilónia, os americanos, os países ricos, os países pobres, o templo ao lado do palácio, tudo isso é uma grande escola para nós. Nós temos que cuidar para que a nossa igreja não fique ao lado do Banco do Brasil, dos vendedores de adubo, dos comerciantes que nos exploram e dos fazendeiros que tiram as pessoas da terra e colocam o boi e a soja em seu lugar. Jesus Cristo que sofre com os pobres faz a gente animar novamente. Sobre isso dá para conversar bastante. — O encontro foi bom, mas a gente poderia conversar mais sobre os assuntos levantados. A fé das pessoas deveria crescer mais a partir daquilo que ouvem e vêem. O povo deveria participar mais destes encontros. Seria bom fazer um estudo só com as mulheres e convidar as das outras igrejas também. — Esperamos que para o próximo encontro a participação da comunidade melhore ainda mais.
— Temos que nos libertar das 'leis' que nos levam à escravidão. Sempre disseram para nós que devemos trabalhar e ficar quietinhos no nosso canto, porque o governo e o banco sabem o que fazem e só querem nos ajudar. Mas cada ano que passa, a gente trabalha mais e vive menos. Sempre somos reprimidos: no banco, na polícia, no comércio, e. . . Parece que não temos nenhum direito. Estamos descobrindo que temos que nos unir para lutar por nossos direitos. Afinal, Jesus morreu pra nos salvar. Pra que, então, a gente fica nessa, parado feito bobo? — Fiquei muito chocado quando li na Bíblia que os pobres vendiam seus filhos como escravos para poder viver (Ne 5.1ss). Começo a entender as meninas e as mães das meninas que vão para o garimpo trabalhar como prostitutas. E os grandes querem dizer e fazer a gente acreditar que no Brasil não há escravidão. Que país livre da escravidão é esse? Parece fácil, mas é difícil. Vida mesmo é. . . A gente precisa ter muita fé em Deus e animar os outros companheiros para trabalhar com coragem por uma vida mais de acordo com a vontade de Deus.
— O encontro foi muito bom. Aprendemos que o Salomão ia engrandecendo a nação, mas cobrando muitos impostos e sacrificando os que trabalhavam na construção do templo. O Brasil é bonito, um país rico com muitas cidades grandes, edifícios, bancos, exército, grandes planta¬ções de soja, grandes fazendas com muitas cabeças de gado. Mas tem muito povo passando fome, sem casa para morar, sem terra para plantar, sem ter salário justo e vida que tem valor, vida digna. O Brasil está crescendo, mas escravizando os brasileiros. Para o governo, mais vale uma palavra de um grande fazendeiro ou de um banqueiro estrangeiro do que milhões de gritos de pobres brasileiros.
Foi avaliado, no grupo, a metodologia, o conteúdo bíblico, a igreja, a sociedade, os impasses … e se tentou ir adiante. Boa parte dos participantes são assíduos frequentadores da igreja. Se estes descobriram tantas novidades no estudo comunitário, quanto irão descobrir os que pouco aparecem? Antes de encaminhar algum trabalho numa paróquia, é indispensável conversar e estudar junto com os membros.
VII — Sugestão de literatura para preparar o curso
– METZGER, M. História de Israel. 2. ed. São Leopoldo, 1978.
– SCHWANTES, M. Sofrimento e Esperança no Exílio. São Leopoldo, 1987.
– MESTERS, C. Rute. In: Comentário Bíblico AT. Petrópolis, 1986.