Prédica: 1 Coríntios 15.19-28
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 31/03/1991
Proclamar Libertação – Volume: XV
I — Considerações gerais
Exegeses sobre o presente texto encontramos nos Volumes I e IX do Proclamar Libertação. Li os trabalhos e constatei que apresentam bons subsídios para entender o texto e transmiti-lo através de pregações e estudos.
II — Contexto
l Coríntios 15 é o grande capítulo que trata da ressurreição de Cristo. Paulo lembra que está transmitindo o Evangelho que recebeu: Cristo morreu pelos pecados, foi sepultado e ressuscitou. Por este Evangelho as pessoas serão salvas, aceitando-o na fé. Para que não haja dúvidas, Paulo cita uma série de acontecimentos nos quais Cristo apareceu como Ressurreto.
Mesmo assim havia pessoas que duvidavam, não da ressurreição de Cristo, mas da ressurreição dos mortos (v. 12). Paulo esclarece o assunto, afirmando que a ressurreição de Cristo e dos mortos estão intimamente ligadas. Não se pode separar uma coisa da outra. Se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. Isto seria um absurdo, pois Cristo ressuscitou e, por conseguinte, haverá ressurreição dos mortos.
Os versículos depois da presente perícope apontam para outros aspectos da ressurreição: O batismo seria inútil se não houvesse ressurreição dos mortos. A ressurreição será com um corpo transformado. Também os que viverem sobre a terra na vinda de Cristo serão transformados. E no desfecho do capítulo a certeza da vitória por Jesus Cristo e o convite para permanecer firme, inabalável e abundante na obra de Cristo.
III — Exegese
1. A tradução da perícope não oferece complicações. As variantes indicadas não mudam o sentido do texto.
2. A perícope. Nesta o apóstolo Paulo descarta definitivamente as dúvidas quanto à ressurreição de Cristo e dos mortos. Com estas colocações permanece de pé a sua convicção quanto à ressurreição.
3. Exegese dos versículos
V. 19: Esperança apenas para esta vida? Muitos encaram a vida restrita a este mundo: nascer — viver – morrer. Tudo acaba com a morte. Assim a esperança em Cristo se limitaria a este mundo visível. Mas Paulo chama a atenção que neste caso somos os mais infelizes entre todos (melhor traduzir com miseráveis). Por que ter esperança se ela-se esgota com a morte? Aí ela se torna limitada e no fim leva ao desespero, pois com a morte tudo termina. Paulo acentua que por uma tal esperança não vale a pena viver.
V. 20: Mas Cristo ressuscitou. Não há dúvidas quanto à ressurreição conforme descrita nos versículos anteriores. Com a negação da ressurreição de Cristo o próprio Evangelho cairia em descrédito. Ë um acontecimento indiscutível. As Escrituras são unânimes em testemunhar a ressurreição de Cristo. Ele é o princípio, o primogénito de entre os mortos, para em todas as cousas ter a primazia (Cl 1.18). Diante do rei Agripa em Atos 26.23 Paulo disse que Cristo foi o primeiro da ressurreição dos mortos. Isto significa que ninguém ressuscitou, nem antes, nem depois dele. Assim a sua ressurreição é a base para outros ressuscitarem. A ressurreição é obra de Deus e, começando com Cristo, traz consigo a ressurreição de todos. Se Cristo saiu como primeiro do meio dos que dormem, então existe a certeza de que em Cristo os que dormem também vão ressuscitar. Pois Deus veio a este mundo para ser igual a nós e nós sermos transformados na sua imagem, também na ressurreição.
Vv. 21-22: A morte é realidade neste mundo e ninguém pode negá-la. Paulo coloca que através de Adão a morte passou a ser parte inseparável da pessoa humana. Conforme o relato da queda em Gn 3.19 o ser humano foi formado da terra e a ela retornará. Por ser pó, ao pó retornará. Nada de enfeites e desvios: a morte é certa para toda criatura de Deus.
Mas como através de um ser, Adão, a morte passou a todos, assim a vida faz parte de todos através de um ser — Cristo. Neste versículo não se fala da vida só para os que crêem — aqui vida é para todos.
V. 23: Neste versículo a ressurreição é limitada aos que pertencem a Cristo. Mas no todo do Evangelho sabemos que a ressurreição será para todos. Só após a ressurreição de todos haverá o julgamento e a distribuição de todos (l Ts 4.13-18; Mt 25.3146). No presente versículo dá a impressão que Cristo ressuscitará, a seguir as primícias e depois os que são de Cristo. Mas no grego pode-se constatar que as primícias refere-se à ressurreição de Cristo como sendo o primeiro.
Vv. 24-25: Após a ressurreição virá o fim estabelecido por Deus, quando ele será tudo em todos (v. 28). Ninguém mais poderá resistir a Cristo, pois toda potestade, poder e principados serão destruídos. Só ele terá o poder e não mais haverá poderosos que tomam o seu lugar. Precisa acontecer o que lemos em l Co 8.6: Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as cousas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual suo todas as cousas, e nós também por ele. Tudo precisa ser colocado aos pés de Deus (SI 110.1). Este será o vencedor único e absoluto. Cristo reina, conforme o v. 25, até colocar todos os inimigos sob o poder de Deus. Só quando ninguém mais fizer oposição a Deus, Cristo entregará tudo ao Pai. Aí tudo estará consumado — haverá um só Deus e Senhor.
V. 26: Por fim ainda resta a morte. Esta é uma realidade temível. Apesar da certeza que todos os inimigos serão vencidos por Cristo, a morte ainda continua a ceifar as suas vítimas. Será a útlima cousa a ser vencida por Cristo. Este já a venceu (Mt 28.6). Em Ap 20.14 lemos que a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. E em Ap 21.4 a morte já não existirá. Por enquanto vive-se a esperança de que a morte será vencida e aniquilada definitivamente. Este é o objetivo do plano de Deus e acontecerá no seu devido tempo.
V. 27: Tudo estará sujeito a Cristo com exceção de Deus, pois este deu toda autoridade a Cristo e, por isso, não pode ser-lhe subordinado. Tudo tem a sua ordem.
V. 28: No fim tudo estará diante de Deus. A ele pertence toda honra, todo o poder, toda a glória (Ap 5.13). Deus será tudo em todos. Nada mais estará fora do seu domínio. Não haverá mais lágrima, nem morte, nem luto, nem pranto, nem dor (Ap 21.4).
IV – Meditação
Ser infeliz e miserável. Ê o que os seres humanos e toda a criação estão enfrentando nesta vida. Se procurarmos saber as causas de tanta desgraça e miséria, vamos constatar dois motivos: 1) a limitação da esperança; 2) o domínio dos poderosos.
1. A limitação da esperança
Apesar de falarmos sobre a ressurreição de Cristo na Páscoa, milhares de pessoas não dão o mínimo de atenção à nova vida que Cristo conquistou. Lembro-me de cultos realizados em cemitérios no Domingo da Páscoa. Enquanto anunciava a vitória de Cristo sobre a morte, muitas pessoas permaneciam nos túmulos de entes queridos, lamentando o fim da vida terrena e a perda para sempre. O apóstolo Paulo, diante desta falta de esperança, fez colocações que não deixam dúvidas: Se a nossa esperança em Cristo se limitar apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. Esperança só para esta vida é sinónimo de frustração, desgraça e destruição. É o que ultimamente temos experimentado neste mundo e em nosso País: promessas e novas tentativas por parte dos governantes e também por parte de organizações do povo. Fala-se e escreve-se muito, mas no fundo fica um vazio. Por isso a mensagem da Páscoa quer desviar-nos das falsas esperanças apontando para Cristo, que é a única esperança para uma vida plena (Jo 10.10). Enquanto não colocarmos mais atenção e peso na esperança da ressurreição de Cristo e, por conseguinte, na nossa própria ressurreição, seremos seres miseráveis. Quando leio resultados de encontros eclesiásticos, nos quais se aponta só para esta vida, fico triste, pois neste caso a esperança em Cristo é deixada de lado. Não é suficiente deduzir que a esperança em Cristo e na eternidade estão garantidas, pois é obra de Deus. É necessário testemunhar ao mundo, com todos os meios disponíveis, que Cristo ressuscitou, que ele vive e que nele ressuscitaremos para uma vida plena (Ap 21.4).
2. O domínio dos poderosos
O segundo motivo para tanta miséria é o domínio dos poderosos. No decorrer da história constatamos que os poderosos e principados deste mundo se revezaram no poder. Sempre os que dominavam, eram os opressores, os maldosos. Quando, porém, o grupo oprimido tomava o poder, este passava a dominar. Querer ser grande e dominar é algo inerente à pessoa humana. E mesmo prometendo não dominar quando for escolhido ou eleito, constatamos que a sede pelo poder toma conta das pessoas. Esta é a estratégia de Satanás. E muitos cristãos e grupos se deixam levar pelas promessas de pessoas e grupos, os quais dizem que, se conseguirem derrubar os poderosos, não vão dominar. Tudo não passa de promessas, pois a realidade é diferente. Por isso, quem confia demais nas pessoas e grupos neste mundo, será sempre decepcionado e viverá miseravelmente.
Diante de tudo isto nos é mostrado pelo apóstolo Paulo uma outra esperança:
3. Deus em Cristo é e será tudo em todos
O texto descreve que pela ressurreição de Cristo, este assumiu o poder. Nele há vida e esperança. Nele serão vencidos todos os poderes, potestades e principados. Tudo será colocado diante dos seus pés. Diante dele se dobrará todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai (Fl 2.10-11). Esta mensagem do Evangelho precisa ser anunciada no Domingo da Páscoa através de todos os meios disponíveis. Esta esperança não decepcionará ninguém que nela confia. Como Igreja de Jesus Cristo no Brasil e no mundo precisamos retornar sempre de novo ao primeiro amor (Ap 2.4), para sermos portadores da esperança centrada em Cristo e no seu poder.
Cristo quer ser o Senhor já aqui em nossa vida e vem a nós com as palavras de Ap 3.20: Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo”. Esta mensagem de esperança vale a pena anunciar e receber neste dia da ressurreição de Cristo. Esta mensagem é esperança para sempre.
V — Mensagem central
A nossa esperança em Cristo não pode limitar-se a esta vida. Pois Cristo venceu a morte e reina para destruir todos os poderes, que nos escravizam neste mundo e que nos mantêm na miséria. Confiando neste Cristo e testemunhando dele ao mundo, viveremos repletos de vida e de esperança.
VI — Sugestões para prédica
1. Tomar por base a exegese e fazer uma homilia (versículo por versículo).
2. Usar o esquema da meditação:
a) A limitação da esperança (colocar mais exemplos de esperanças frustradas).
b) O domínio dos poderosos.
c) Deus em Cristo é e será tudo em todos.
VII —Subsídios litúrgicos
1. Intróito: Jesus Cristo diz: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente (Jo 11.25-26).
2. Confissão de pecados: Senhor, nosso Deus! Tua és a esperança para uma vida plena, que não se resume nesta vida que aqui temos. Mesmo assim estamos presos demasiadamente neste mundo. Perdoa-nos quando esquecemos que tu em Cristo és a ressurreição e a vida. Tem piedade de nós, Senhor!
3. Absolvição: Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos. Por isso, graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de Jesus Cristo.
4. Oração de coleta: Amado Pai! Agradecemos-te pela oportunidade de estarmos reunidos e receber a tua mensagem da vida, que nos enche de esperança no meio de tanta morte neste mundo. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.
5. Leitura bíblica: Mateus 28.1-10.
6. Oração final: Eterno Deus e Pai! Obrigado que tu és o Deus Todo-Poderoso, que em Jesus Cristo venceste a morte e a escuridão neste mundo. Tu serás um dia tudo em todos. Todo o poder, toda a honra e toda a glória pertencem a ti. Por isso te adoramos e suplicamos que nos animes por teu Espírito para vivermos a verdadeira esperança, que é alimentada pela ressurreição de Cristo e nele também a nossa ressurreição. Concede que não continuemos na miséria por confiar em ti só para esta vida. Sejas tu a nossa ajuda para termos em ti a esperança a jorrar para a vida eterna. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.
VIII – Bibliografia
– ALTMANN, W. l Coríntios 15.19-28. In: Proclamar Libertação Vol I São Leopoldo, 1976.
– DROSTE, R. l Coríntios 15.19-28. In: Proclamar Libertação. Vol. IX. São Leopoldo, 1983.
– SAUTER, G. 1. Korinther 15.19-28. In: Neue Calwer Predigthilfen. Vol. A. Stuttgart, 1983.
– SCHUMANN, B. Ressurreição. In: CEI – Suplemento 4. Rio de Janeiro, 1973.
– WEHRMANN, G. l Coríntios 15.19-28. In: Proclamar Libertação Vol I São Leopoldo, 1976.
– WENDLAND, H. D. Die Briefe an die Korintlier In- Das Neue Testament Deutsch. 7a ed. Göttingen, 1954.
– VOIGT, G. 1. Korinther 15.19-28. In: Homiletische Auslegung der Predigttexte. Neue Folge – Reihe VI Göttingen, 1983.