Prédica: Marcos 8.27-35
Leituras: Isaías 50.4-10 e Tiago 2.1-5,8-10,14-18
Autor: Cláudio Molz
Data Litúrgica: 17º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 15/09/1991
Proclamar Libertação – Volume: XVI
1. O texto
1.1. Tradução literal
27 E saiu Jesus e os seus discípulos para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e no cami¬nho perguntou aos seus discípulos, dizendo-lhes: Quem dizem os seres humanos que eu seja?
28 Estes, porém, lhe falaram dizendo (que): João, o Batista; e outros: Elias; outros, porém (, que): Um dos profetas.
29 E ele mesmo perguntou-lhes: Vós, porém, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe diz: Tu és o Ungido.
30 E ameaçou-os, para que a ninguém falassem sobre ele.
31 E começou a ensiná-los (que): É necessário que o Filho do ser humano sofra muitas coisas e seja rejeitado pelo anciãos e os sumos sacerdotes e os escribas e seja morto e depois de três dias seja levantado.
32 E com liberdade pronunciou a palavra. E tomando-o Pedro para si, começou a ameaçá-lo.
33 Este, porém, voltando-se e encarando os seus discípulos, ameaçou a Pedro e diz: Vai-te atrás de mim, Satanás, porque não pensas as coisas de Deus, mas as coisas dos seres humanos.
34 E tendo convocado a multidão junto com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser seguir atrás de mim, negue-se a si mesmo e erga a sua cruz e siga-me.
35 Pois aquele, se quiser salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele, porém, se perder a sua vida por causa de mim e do evangelho, a salvará.
1.2. Delimitação da perícope: O caminho
Com o v. 27 inicia um novo assunto. Trata-se da definição de uma resposta à pergunta que Mc já formulara em 4.41: Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem? As curas, os milagres, os encontros, as disputas nos caps. 4-8 procuram preparar o leitor para uma resposta. Mas em Mc 6.52 se diz que os discípulos tinham corações endurecidos para a compreensão: não entendem quem é Jesus.
Com 8.27 Marcos diminui drasticamente o número de milagres e se concentra em histórias que conduzem o leitor para Jerusalém, o local da paixão e morte de Jesus. O termo que serve de fio condutor dessas histórias é caminho. Esse termo se adapta à mudança de ambiente geográfico: Jesus se desloca da Galiléia para várias regiões, cidades e vilas que levam finalmente à capital no sul e à sede do templo e do governo religioso e jurídico: Jerusalém.
A perícope vai de 8.27 a 9.1, onde inicia a história da transfiguração. A sugestão da série de leituras bíblicas termina com o v. 35, o que é viável, uma vez que os vv. 36-38 e 9. l tratam de várias ideias dispensáveis para a unidade. Seria, porém, mais adequado concluir a perícope no v. 33, porque no v. 34 inicia uma nova cena com a convocação da multidão, enquanto que 8.27-33 só se refere a Jesus com os discípulos.
1.3. Estrutura
8.27-33 Jesus se dirige aos discípulos: quem sou?
34-35 Jesus se dirige à multidão: a cruz inverte os valores de perder e ganhar a vida
36-38 Várias ideias: ganhar o mundo, trocar pela vida, envergonhar-se de e 9.1 Jesus, a proximidade do Reino.
2. Análise do texto versículo por versículo
27 Jesus é mais do que uma expressão regional
O grupo de Jesus parece estar bem consolidado. A viagem a Cesaréia Filipe (antiga Paneion, hoje Bancas) era feita em rota comercial a Damasco. Cesaréia Filipe foi fundada em lugar próximo do templo antigo, construído por Jeroboão I (l Rs 12.25-33), por um dos sucessores de Herodes, o Grande, que era o tetrarca Filipe (4 a.C.-34 d.C.). Foi a sua mulher Salomé que dançou e deu ensejo à decapitação de João Batista. Ao que isso indica, Jesus parece querer começar a sua missão no extremo norte de sua terra natal e percorrê-la até o sul. Poderíamos ver nisso um símbolo: Jesus quer abranger todo o seu país com a sua caminhada a Jerusalém. Não quer ser visto como uma expressão regional, mas nacional, englobando todo o povo eleito de norte a sul. Merece destaque o seguinte: não é à grande cidade que ele dá prioridade, mas às aldeias. É nelas que mora e trabalha a gente com que ele se identifica.
A pergunta pela identidade de Jesus traz à tona a necessidade de poder contar com um grupo que adere à sua proposta. Essa pergunta visa reforçar os elos identificatórios do grupo, clareando mal-entendidos e falsas expectativas, erros de avaliação e alvos ilusórios.
28 Há algo em comum entre Jesus, Elias e João Batista
Os nomes citados, Elias e João Batista, são de profetas (l Rs 17.1ss; Ml 14.5). Sua característica comum é a de que a eles se prendem esperanças de uma mudança na situação do povo, promovida por um messias, i. e. um rei que, ungido para o cargo de guia, usaria todo o seu poder para afastar os males da nação (e ale do mundo) e trazer a felicidade, a justiça, a bondade, a paz. A esperança era essa. A prática dos profetas, porém, foi de intensa luta para afastar os males. O povo esperava mudanças, mas na prática o povo mesmo precisaria tomar parte ativa na mudança da situação, precisaria aceitar os encargos e as consequências de uma mudança. Se alguém, p. ex., se beneficiava com a exploração dos seus compatriotas, então precisaria largar e desistir desse falso benefício e obter um modo de vida justo e compatível com a esperança que o povo em geral tem.
Sabemos, no entanto, quanta frustração se encontra na vida de um profeta desses. Elias, após uma luta de campeão contra os falsos deuses e sacerdotes (l Rs 18), achou que tudo não valia a pena e que sua geração não veria nenhum avanço na história (l Rs 19.4). João Batista, por sua vez, conseguiu atrair multidões com a pregação do arrependimento e do batismo (Mt 3.5s), mas o seu fim se deu pelas mãos de um governo injusto e corrupto (Mt 14.10).
Típico é também que ambos não procuram a inspiração na cidade, Jerusalém p. ex., mas no deserto (Mt 3.1). As origens da fé de Israel estão no deserto (Êx 3.1). Apesar da extrema violência praticada por Elias no contexto da religião cananéia (l Rs 18), o deserto o corrige e lhe ensina que Deus está no cicio tranquilo e suave e não no terremoto nem no fogo consumidor (l Rs 19.lis). Apesar das palavras violentas reservadas por João Batista aos detentores do poder, hipócritas e descarados (Mt 3.7,10), seu exemplo de vida é de pobreza e paz e sua vivência chamaríamos hoje de ecológica (Mt 3.3s).
Se o povo, portanto, comparava Jesus com esses e profetas semelhantes, temos que ver nisso um reconhecimento de valor positivo. O povo não quer desprezar, mas valorizar Jesus.
29 Messias é um rei especial
Pedro aceita o desafio de Jesus e decide externar claramente o que o leitor já sabia desde Mc 1.1: Jesus é, em grego: o Cristo, em hebraico: o Messias, em portu¬guês: o Ungido. Assim se chamava uma pessoa sobre a qual se derramava azeite de oliva, em sinal de uma grande distinção. Samuel derramou óleo sobre Saul para consagrá-lo como rei de Israel (l Sm 10.1). Davi parece ter sido ungido várias vezes (l Sm 16.13; 2 Sm 2.4; 5.3). Mas também Absalão tinha sido ungido, apesar de seu reinado não ter passado de um breve episódio. Outros reis, como Salomão, também foram ungidos (l Rs 1.39). Ungido era, portanto, em geral, um sinônimo de rei (SI 2.2; 45.7), se bem que também se mencione que profetas (l Rs 19.16) e sacerdotes (Êx 40.13) eram ungidos. No mais, o uso de azeite, com diferentes graus de pureza e sofisticação, era semelhante à nossa água de colónia, para refrescar e pôr em situação confortável o corpo (2 Sm 12.20). O gesto da unção do corpo ou parte dele era visto como uma honraria (SI 23.5; Lc 7.38). Também como remédio se usava o óleo (Mc 6.13; Lc 10.34; Tg 5.14). É claro que Pedro, ao designar Jesus de ungido, quis se referir ao fato de Deus tê-lo distinguido (Lc 4.18), i. e. eleito para uma grandiosa missão salvadora, tão ansiosa e longamente esperada pelo povo. (Veja p. ex. o cântico de Ana, em l Sm 2.1ss, esp. o v. 10!)
Pedro era líder na Igreja
No tempo de Pedro havia vários grupos cuja esperança por um rei não era apenas passiva ou contemplativa. Os zelotas, p. ex., queriam preparar a vinda desse remado messiânico, eliminando o maior número possível de inimigos através da violência. Tinham muitos simpatizantes. É bastante provável que entre os discípulos de Jesus havia alguns zelotas, como Simão, o Zelota (Mc 3.18). Talvez os irmãos João e Tiago tenham também sido zelotas (Mc 3.17). Há quem suspeite que Judas Iscariotes (Mc 3.19) até tenha sido membro do grupo mais violento: os sicários (sica = espada), cuja fama era grande por causa de seu fanatismo extremo e de consequências fantásticas (At 21.38).
Há uma suspeita de que Pedro tendia a simpatizar com esse grupo dos sicários, conforme Jo 18.10s! No mais, a liderança de Pedro sobre os discípulos, durante a vida de Jesus, não pode ser comprovada. Conhecem-se o seu entusiasmo transbordante, o fervor ardente, mas também a sua instabilidade e fraqueza (Cullmann, p. 34). Após a morte de Jesus, porém, a posição de líder de Pedro é incontestavelmente clara. Dirige a comunidade de Jerusalém (v. esp. At 5.1 ss!) e exerce uma função avançada na missão. Mas não há uma exclusividade de Pedro. Gl 1.18 destaca Cefas como pessoa que interessa a Paulo, mas Gl 2.9 menciona também a Tiago e João como colunas da comunidade de Jerusalém. Na missão Pedro teve um papel de preponderância (l Co 9.5), mas a independência de Paulo, p. ex., fica evidente em Gl 2.11ss. Conforme o texto paralelo ao nosso, Mt 16.13ss, Simão recebe de Jesus um novo nome: Rocha (português) = Petros/Pedro (grego) = Cefas (hebraico). Seu irmão André era seu sócio na pescaria (Mt 4.18-20).
Os católicos interpretam os encargos e atributos dados a Simão como válidos também para os seus sucessores na liderança da Igreja, de forma permanente, o que os textos não explicitam. Com essa interpretação tendem a sacramentar não só a pessoa de Simão, mas, com ele como iniciador, a estrutura da Igreja na sua manifestação histórica.
30 O mistério do Messias
Após a confissão de que Jesus é o Ungido, se esperaria ter alcançado o clímax do evangelho: Jesus é reconhecido como aquele que há muito se esperava. Só que, ao invés de uma constatação nesse sentido, vem um anti-clímax: Guardem silêncio sobre essa questão! Há três séries de ordens para guardar silêncio: a) os demônios não devem falar, Mc 1.25,34; 3.12; e também 5.7; b) os curados não devem falar, Mc 1.44; 5.43; e também 6.53-56; c) Jesus permite que só os discípulos saibam da sua messianidade, para que a revelem depois da ressurreição (Mc 8.30; 9.9); os discípulos, porém, não o entendem (Mc 4.13; 6.52; 8.17s,21; 9.10; 10.32). Conforme L. Goppelt, v. l, pp. 188-93, Marcos utilizou-se das ideias do esoterismo para desenvolver, a partir de uma tradição que recebeu, a diferença entre imagem de Jesus (…) e o quérigma da comunidade pós-pascal (p. 90). Além disso o esquema do mistério do Messias teria contribuído para a criação do género literário evangelho. O objetivo desse esquema é criar uma distância entre o que Jesus reivindicava através da sua atuação e a sua pessoa. Queria que o ouvinte fosse atingido pelo conteúdo da mensagem. Isso era essencial para Jesus. Os atingidos não eram confrontados com uma exigência formal de um homem, mas com a obra de Deus que se realizava por intermédio deste homem. (Goppelt, p. 192.) Mt e Lc transmitem algumas passagens do esquema do mistério messiânico, mas não o adotam na sua teologia. Conforme Mt 11.25s, o mistério é revelado aos pequeninos/pobres/anawim; ou, conforme l Co 1.20-24, Deus escolhe as coisas humildes e desprezadas, as loucuras e fraquezas do mundo para revelar o seu Cristo: a cruz é o centro da pregação que esconde Deus aos não-crentes, mas revela o poder e a sabedoria de filhos aos que ele chamou por sua graça.
31 À semelhança dos profetas-mártires, Jesus se vê nas mãos dos líderes de seu povo
O verbo ensinar tem a mesma raiz que lei, thora = orientação, em hebraico. Com ele Marcos nos indica que o conteúdo seguinte, que fala do sofrimento de Jesus, não deveria surpreender. Marcos diz que é necessário, por estar previsto no Antigo Testamento que o justo sofre. A palavra de Mc 15.34, tão escandalosa para outros escritores bíblicos que a omitiram, com exceção de Mt 27.46, é citação do SI 22, onde temos várias outras imagens que nos lembram o crucificado (cf. SI 22.17,19!). Acrescentam-se ao SI 22 os textos de Is 53, não como profecias, mas como interpretação da vida e atuação de Jesus. Ele sabia que o caminho de um anaw/pobre (Mt 11.29), como o de muitos profetas anteriormente, é o sofrimento: parece que Deus é surdo para o seu grito (SI 22.3). Isso quer dizer que a justiça não lhe vale. Morre injustiçado (Is 53.7s). O seu próprio povo não lhe concede espaço digno (Mt 8.20).
O termo filho do homem se encontra já em Dn 7.13, onde já não tem mais simplesmente o significado original de homem, como em Ez 2.1, mas é um título messiânico. Trata-se de um salvador.
32 Pedro quer proteger Jesus da morte
A liberdade com que Jesus se insere na história das pessoas que procuram ajudar o seu povo, com o risco de sofrer represálias, ameaças, acusações, torturas e a própria morte, põe Pedro em alerta. Quer prevenir o pior: a eliminação de Jesus. Muitos profetas já foram eliminados, conforme os textos bíblicos (l Rs 18.4; Jr 26.23; Mc 6.27s).
33 Jesus reconhece a tentação do diabo em Pedro
Marcos não narra um evangelho qualquer. Ele conta a vida de Jesus como uma boa nova. Os cristãos poderiam achar que no culto adquirem pelo Batismo e pela comunhão da Santa Ceia a garantia da vida eterna, sem precisar enfrentar a realidade da morte. Isso não é possível. A presença do reino de Deus na pessoa e na atuação de Jesus não exclui a realidade da morte.
O próprio Jesus deve ter tido a preocupação de não permitir que o confundam com um rei nacional bem-sucedido (Jo 6.15). No seu evangelho Marcos procura guardar essa mesma preocupação, de não desvincular da vida, paixão e morte de Jesus de Nazaré a fé no Cristo. A atitude ríspida contra Pedro procura preservar a autenticidade do caminho de Deus. A verdadeira boa nova que modifica a vida não afasta deste mundo e sua história.
Quando Jesus tinha morrido e ressuscitado, essa preocupação diminuiu. O Ungido já não podia ser tido apenas por um vitorioso, porque a sua cruz era inegável. Portanto a sua vitória passou a ter a nova característica de que falam os versículos seguintes.
34 e 35 Como ser vencedor
A expressão negue-se a si mesmo lembra-nos a liberdade com que os discípulos abandonaram a sua vida de pescadores, p. ex., Mc 1.18. Lembra-nos, porém, igualmente como Pedro disse: Não conheço esse homem de quem falais! (Mc 14.71.) Lembra-nos também de que Jesus era estrangeiro em seu próprio país (Mt 8.20), de que Paulo se gastou pela comunidade (2 Co 12.15) e de que a comunidade cantava que o próprio Deus se negou a si mesmo (Fp 2.6-11). Enfim, também a história da transfiguração lembra que Jesus negou aceitar para benefício próprio a proposta de Pedro (Mc 9.5) de viver uma vida pretensamente divina, num outro mundo, religioso, abstraído da realidade, ao lado da exclusiva companhia de campeões da fé, como Moisés e Elias. Isso seria alienação e desobediência à voz de Deus (Mc 9.7). Jesus corrige esse desvio tentador: o filho do homem deverá sofrer (Mc 9.12s).
Jesus é o Cristo. Com isso Pedro concordou. Só que o Cristo de Pedro era um rei guerreiro e vencedor neste mundo. A ida a Jerusalém não seria estrategicamente inteligente naquele momento. Por isso Pedro tentou desviar Jesus. Jesus, porém, reconheceu o diabo nele. Isso significa: Jesus não vai a Jerusalém por gostar de morrer ou porque a morte é o destino inexorável. O caminho a Jerusalém representa a luta de Deus contra todos os poderes deste mundo que querem desviar, suspender, adiar, eliminar a vinda do reino de Deus. Jesus se coloca do lado dos que não têm esse poder, em toda a sua fraqueza humana, confiando que só o amor de Deus pode promover a vitória da vida, da justiça, da fraternidade.
3. Reflexão e prédica
Sugiro que se pregue sobre o texto de forma tal que se realcem três aspectos:
1. Quem é Jesus?
a. É um caminhante que sai de sua terra natal, percorre o país de norte a sul, mas, basicamente, sai das aldeias rurais em direção à grande cidade, sem lá temer o conflito.
b. É um libertador inclusivo que se identifica com muitos, mas não com o diabo, mesmo que se chame Pedro.
2. A quem se compara Jesus?
a. Os ungidos legítimos da história sofreram. Foram rejeitados, porque exigiam a luta enobrecedora e participativa do povo. Sentiram a frustração. Os governos corruptos os liquidavam em nome de Deus.
b. Os ungidos legítimos recebiam a sua inspiração do passado histórico que Israel lembrava a partir do deserto. Qual seria o ponto em que nossas comunidades começam a refletir e se lembrar? Seria quando pensam no tempo da roça, mas se encontram na cidade?
c. Os ungidos legítimos tinham uma prática de denúncia contra a falsidade religiosa e a injustiça do Estado.
d. Aos ungidos legítimos se prendiam esperanças de salvação.
3. Jesus promove que os seus discípulos reaprendam
a. De uma esperança à base da violência destrutiva passam para uma atuação construtiva baseada na paz, no amor, na confiança no poder de Deus, incluindo o poder sobre a morte.
b. A aprendizagem é um processo lento, com reveses, e exige clareza e planejamento frente às incompreensões e aos riscos.
c. O diabo está nas próprias fileiras. Erros de avaliação podem pôr todo o projeto do reino de Deus a perder.
d. Além de líder, mestre e exemplo, Jesus é a encarnação do próprio Deus. Ele se identifica bem concretamente com os fracos e perdidos, como o mundo atual os mostra, sem se preocupar com a sua divindade pura ou abstrata, limpa ou elevada, como certos teólogos, pretensos donos da verdade, o definem e querem impor.
4. Subsídios litúrgicos
1. Confissão de pecados. Santo Deus, falamos de ti o óbvio e evidente, achando que isso basta. Nosso falar é vazio e está longe da nossa prática na vida. Dizemos: Jesus é o Cristo, mas não assumimos nenhum compromisso de andar com os fracos e perdidos no caminho da vida. Vamos à cidade ou à capital como Jesus foi a Jerusalém, mas para tratar do financiamento ou da ampliação dos negócios e não para enfrentar o conflito e defender o desamparado, analfabeto e órfão. Participamos da comunidade, mas não para que a tua palavra descubra em nós a mentira e hipocrisia, mas para consolidar o que vínhamos fazendo. Dá-nos a força do teu Santo Espírito, para que sejamos sinceros ao dizer: Tem piedade de nós, Senhor!
2. Oração de coleta. Graças te damos, Senhor Jesus, que nos reúnes e ensinas o teu caminho. Identifica-te conosco. Não te irrite a nossa oração. Orienta-a, para que no nosso culto dominical e diário te sigamos sem temer riscos e perigos, enfrentando poderes e injustiças que tu já superaste. Amém.
3. Oração final. Como tua comunidade reunida, Pai celeste, vimos a ti com nossas confissões de pecados, orações e prédicas, com nossos salmos, credos e cantos. Agora nos envias de volta ao mundo, cheio de conflitos, que nos amedronta. Tira de nós o medo e a pequenez. Une-nos e organiza-nos para que a tua presença vença os males do mundo: a solidão e o luto, a morte, a dor e a doença, a injustiça, a ofensa, o abuso e a violência, a falta de carinho e amor para as crianças e os velhos, a falta de escola e emprego para os jovens e adultos. Tudo isso te recomendamos, Pai no céu, nossa Rocha e Amparo, nossa Força e Proteção, que reinas com o Filho e o Espírito Santo eternamente. Amém.
5. Bibliografia
– CULLMANN, O. Pedro, discípulo, apóstolo, mártir. ASTE, São Paulo, 1964.
– FREITAG, C. J. Meditação sobre Mc 8.31-38. Proclamar Libertação. Sinodal, São Leopoldo. 10:234-41, 1984.
– GOPPELT, L. Teologia do Novo Testamento, v. l (2. ed.) e 2. Sinodal/Vozes, S. Leopoldo/Petrópolis, 1983 e 1982.
– ILLIES, H. So sagt es Markus, anders Matthäus. EVA, Berlin, 1986.
– SCHWEIZER, E. Das Evangelium nach Markus. 5. ed. Vandenhoeck & Ruprecht, Göttingen, 1978 = EVA, Berlin, 1981 (NTD, 1).
– TRAUB, H. Meditação sobre Mc 8.31(27)-38(9.1). Göttinger Predigtmeditationen. Vandenhoeck & Ruprecht, Göttingen. 33(2): 124-30, 1979.