Prédica: Apocalipse 7.9-12
Leituras: Deuteronômio 33.1-3 e Mateus 5.1-10 (11-12)
Autor: Lothar Hoch
Data Litúrgica: 21º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 01/11/1992
Proclamar Libertação – Volume: XVII
Celebração em Memória dos(as) Mártires
Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram.
(Hebreus 13.7.)
1. Introdução
Por coincidência, este ano, o 21° Domingo após Pentecostes cai no Dia de Todos os Santos. Nada mais oportuno que, em coerência com a adoção da Série Ecumênica, se ocupar com esse dia. Ao fazê-lo, precisamos ter consciência de que tocamos num ponto delicado da fé e da doutrina tanto católica quanto evangélico-luterana. Talvez por essa mesma razão ou até por acharem que os reformadores do século XVI já tenham pronunciado a última palavra sobre a questão dos santos, os protestantes do século XX tenham se ocupado tão pouco com a questão. Urge retomar o assunto.
Antes de examinar os textos bíblicos, precisam ser feitas algumas considerações de natureza histórica.
2. Os santos na Igreja Antiga e na doutrina católica
A um protestante chama atenção que em muitas igrejas católicas há imagens de santos e altares dedicados a santos, diante dos quais se encontram pessoas prostradas em atitude de devoção. Há também igrejas consagradas a santos ou a pessoas em processo de serem santificadas (por exemplo, a igreja do Padre Réus, em São Leopoldo). É difícil precisar o número de santos e santas existentes na Igreja Católica.
Qual a origem da adoração a santos? Os primórdios do culto, aos santos se encontram na Igreja Antiga, quando se passou a visitar o túmulo de mártires da fé ou de pessoas que tenham se destacado pelo seu testemunho cristão. Cedo firmou-se a tradição de realizar a visitação no dia da sua morte e de celebrar em sua memória. Até o século IV, a Igreja de Jerusalém só conhecia a veneração dos santos como exemplos na fé. Em muitas igrejas, porém, não tardou que se introduzisse a tradição de invocar os santos e mártires como intermediários das preces dos fiéis junto a Deus. Junto aos túmulos dos santos foram sendo construídas igrejas e, paulatinamente, suas relíquias ali reunidas e veneradas. As igrejas que não tinham santos e mártires oriundos do seu próprio meio, organizavam peregrinações para igrejas vizinhas.
Considerava-se santa uma pessoa que levara uma vida exemplar, em estreita comunhão de sofrimento com Cristo, preferencialmente celibatária, que tinha sacrificado sua vida em amor aos seus semelhantes e que comprovadamente havia praticado abundantes obras de arrependimento e de ascese. Para evitar abusos, a própria Igreja tomou a si a responsabilidade de definir se uma pessoa podia ou não ser considerada santa. O Papa João VI foi o primeiro a santificar alguém, no ano de 993. Há exatamente um milênio essa prática está, portanto, oficialmente em vigor na Igreja Católica. Cabe somente ao Papa tomar uma tal decisão, após um longo processo de exame das virtudes, dos ensinamentos e dos milagres realizados por alguém. Um passo preliminar para a santificação é a beatificação.
Ao santificar uma pessoa, a Igreja Católica parte da premissa de que, após a morte, os santos estejam junto a Cristo e em pleno gozo da comunhão com ele (Ap 14.1-5). Os santos são considerados figuras exemplares na fé, que inspiram os fiéis na peregrinação por este mundo rumo a sua união com Cristo. Convém invocá-los em oração e buscar socorro em sua poderosa ajuda (intercessão) para alcançar ajuda de Deus, através do seu Filho Jesus Cristo, que é o nosso único Salvador (Constituição da Igreja, 50).
3. A concepção luterana sobre os santos
A crítica reformatória à invocação de santos incide justamente sobre o risco implícito da relativização do papel de Cristo como o único mediador entre Deus e os seres humanos. No artigo XXI da Confissão de Augsburgo é afirmado explicitamente que a invocação de santos não tem base bíblica, pois há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (l Tm 2.5), nosso advogado junto ao Pai (l Jo 2.1). .
O luteranismo não ousa afirmar que pessoas falecidas estejam, já agora, vivendo em comunhão plena com Deus, premissa necessária para a invocação de seus nomes. Os falecidos pertencem a Deus e dirigir-se a eles significa romper as categorias de tempo e espaço dentro das (mais a Igreja se move neste mundo (Dietzfelbinger). Não nos cabe antecipar o juízo de Deus sobre qualquer pessoa. Na concepção reformatória santo é qualquer membro do corpo de Cristo agraciado com o Espírito Santo. Não porque ele/ela fosse moralmente irrepreensível e dotado(a) de alguma qualidade especial, mas porque Deus, por sua graça manifesta em palavra e sacramentos, fez dele/dela um(n) servo(a) seu(ua).
Não obstante, a Confissão de Augsburgo admite que se cultive a memória dos santos, a fim de que, pelo seu exemplo e por suas boas obras, sejamos fortalecidos em nossa fé. Evidencia-se aqui que a doutrina luterana reconhece a necessidade da comunidade cristã de valorizar o exemplo de grandes personagens da fé, tanto do presente como do passado. Ao falar na memória dos santos ela igualmente expressa a convicção de que a comunhão dos santos não se limita apenas à comunidade presente. Em outras palavras, na fé permanecemos ligados também às irmãs e aos irmãos que já nos precederam na morte, e absolutamente nada impede que nos inspiremos em seu exemplo de vida.
4. Balanço intermediário
Não há, do ponto de vista luterano, base bíblica suficiente para a prática da invocação de santos na Igreja de Jesus Cristo. Isso não significa que não se possa, em gratidão a Deus, lembrar mulheres e homens que, pelo exemplo de fé que legaram, venham a inspirar a comunidade cristã de hoje. A Igreja de hoje não pode esquecer o elo de comunhão que a une aos seus mártires do passado, sob o risco de deixar de ser una, santa e apostólica, como ela mesma o confessa em seus credos básicos.
A máxima luterana do simul justus et peccator, no entanto, haverá de preservar a Igreja da tentação de idealizar alguns vultos da fé, a ponto de lhes prestar culto. A lembrança de nossa condição humana nos torna humildes para reconhecer que, em determinados momentos, o testemunho dos santos não foi tão santo assim.
No ano em que lembramos os 500 anos de evangelização da América Latina, precisamos lembrar, juntamente com os mártires da Igreja, também os mártires que esta mesma Igreja produziu entre os índios, negros e pobres deste continente. A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, em atitude de autocrítica, precisa se perguntar de que forma também ela participou da expulsão de povos indígenas de suas terras e da escravidão imposta aos negros em nosso país.
5. O texto bíblico de Ap 7.9-12
5.1. O livro do Apocalipse
Ele surgiu numa época de perseguição aos cristãos. O motivo principal da perseguição resultou da negativa dos cristãos de se sujeitarem à autoridade supostamente divina do imperador romano. Este exigia que todos seus súditos lhe prestassem culto (cf. a alusão simbólica à besta em Ap 13). Isso naturalmente estava em flagrante oposição à fé em Cristo, o Senhor dos senhores e o Rei dos reis (Ap 17.14). O confronto era inevitável. A perseguição e a tortura tornavam-se mais cruéis à medida em que os imperadores se sucediam no trono romano. O sangue de mártires não parava de correr. Muitos cristãos abandonavam o evangelho por medo. Outros perguntavam: Até quando, Senhor, não julgas nem vingas nosso sangue (…)? (Ap 6.10.)
Uma mensagem de conforto, de esperança e de admoestação para a perseverança se fazia necessária. João, o autor dessa mensagem, não escreveu na cômoda posição de quem está longe dos fatos, mas na condição solidária de companheiro na tribulação (Ap 1.9). E a boa nova que o Apocalipse quer revelar ao povo é esta: O tempo está próximo! (1.3.) Dentro do tempo da história, marcado pelas perseguições, existe o tempo de Deus, a hora de Deus, o plano de Deus. Este plano entrou na sua fase final. Esgotou-se o prazo. Deus está para chegar! Ele vai mudar a situação e libertar o seu povo! (Mesters, p. 11). A vitória definitiva, já celebrada no céu, se manifestará em breve também sobre a terra.
5.2. O contexto
O capítulo 7 se compõe de duas partes. A primeira (w. 1-8) tem como cenário a terra, enquanto a segunda (vv. 9-17) tem como cenário o céu.
Na primeira parte (contexto anterior), a terra está prestes a sofrer grande destruição. Deus ordena, porém, uma pausa através dos quatro anjos que seguram os ventos destruidores, oriundos dos quatro pontos cardeais (v. 1). Esta calmaria antes da tempestade dá oportunidade a que os 144 mil remidos sejam selados (v. 3) e, desse modo, poupados do juízo iminente destinado aos demais. Este número é simbólico e expressa, na verdade, a ideia de uma multidão (o quadrado de 12 multiplicado por mil). Os remidos não se originam apenas do Israel da antiga aliança, mas abarcam também o novo Israel inaugurado com Cristo (7.9).
A parte que segue imediatamente ao texto da perícope (contexto posterior) serve para explicar melhor a cena recém descrita. A pergunta de um dos anciãos tem uma função didática e dá margem a que se caracterize com maior clareza quem são os que vestem as vestiduras brancas. Trata-se dos que vêm da grande tribulação (v. 14). Esta referência será importante para a caracterização que farei mais adiante do Dia de Todos os Santos como um dia dedicado aos mártires.
5.3. O texto
A perícope apresenta como cenário a sala do trono celestial. Aqui se reúne grande multidão oriunda de todas as nações, tribos, povos e línguas. O que têm em comum não é a tradição, a confissão religiosa nem a origem étnica, mas a experiência de terem vindo da grande tribulação e de terem lavado suas vestiduras (…) no sangue do Cordeiro (7.14). Trata-se de uma comunidade universal, da oikoumene, i.e., de toda a terra habitada.
Como se vê, a redenção não é privilégio exclusivo das comunidades ou de alguns eleitos do seu meio. A promessa vale para a humanidade inteira. Até porque a comunidade não é a única a impor resistência à tirania e opressão. O Deus libertador não é propriedade das comunidades. As comunidades, sim, são propriedade de Javé. (Mesters, p. 54.) Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. (Mt 8.11.)
As vestes alvas são o sinal externo da salvação (cf. 6.11), lavadas que foram no sangue do Cordeiro (v. 14). Os ramos de palmas simbolizam a alegria pela vitória alcançada (cf. l Macabeus 13.51). O hino que entoam (v. 10) é um cântico de vitória que enaltece a Deus e ao Cordeiro como autores e consumadores da salvação. O fato de estarem inicialmente em pé (vv. 9 e 11) e, posteriormente, prostrados diante do trono é expressão de humildade e de adoração. A sequência da manifestação de louvor e adoração do v. 12 já nos é conhecida de Ap 5.12s. Trata-se de uma coletânea de sete predicados ou atributos divinos. O número sete indica totalidade.
6. Os outros textos
a) Dt 33.1-3: Moisés, como homem de Deus, e, na qualidade de ancião prestes a morrer, era portador de bênção. Esta costumava ser transmitida de geração em geração. Também nesse texto Deus habita lugares sagrados, inacessíveis aos simples mortais, e está rodeado de um grande número de santos. Não obstante, o seu amor se estende indistintamente a todos os povos. E do meio de todos eles Deus escolhe um povo que se coloca a seus pés para o adorar. Todos os santos estão na sua mão.
b) Mt 5.1-10: O texto das bem-aventuranças já era usado pela Igreja Antiga como texto apropriado para celebrar o dia dos mártires. Se nos textos anteriores os santos são seres celestiais, aqui assumem contornos bem mais definidos.
Os bem-aventurados são pessoas humanas que, no palco da história, se caracterizam por uma vivência marcada pela pobreza, pela humildade e pela perseguição. Pessoas, enfim, que têm a coragem de resistir aos valores de grandeza, poder e corrupção vigentes e de sofrer por aquilo em que acreditam. São bem-aventurados porque estão na contra-mão da história e porque estão dispostos a pagar o preço de sua opção. A santidade aqui assume contornos concretos. O seu lugar vivencial não são os ambientes defumados e solenes dos rituais eclesiásticos, mas a periferia do mundo. O verdadeiro louvor a Deus se presta ali, onde se resiste aos donos deste mundo.
7. Um culto em memória dos mártires
Se no seio do protestantismo temos justificadas razões para resistir à prática da invocação de santos, temos, não obstante, raízes suficientes para redescobrir a prática da celebração de cultos em memória de mártires e de figuras exemplares da fé. O testemunho bíblico e a tradição da Igreja Antiga nos dão o aval para tanto. E se isso não bastasse, temos uma herança confessional que aponta na mesma direção.
Do Artigo 21 da Confissão de Augsburgo preservamos apenas o seu caráter anticatólico, ou seja, a condenação da adoração aos santos. Esquecemos que esse mesmo artigo preserva algo de valioso, a saber, a ideia de cultivar a memória dos mártires como exemplos a serem seguidos. Ao jogarmos fora o frasco, jogamos fora também o perfume.
É hora de reintroduzir a celebração do Dia dos Mártires nas igrejas de tradição reformatória aqui na América Latina! A Igreja Evangélica nos países escandinavos e a Igreja Anglicana reservam um dia para esse fim no seu calendário litúrgico. Também o Manual da Igreja Evangélica da União, ainda hoje em uso em algumas comunidades de fala alemã da IECLB, prevê um Dia em Memória dos Mártires (volume l, 2. edição, Witten, 1969, p. 109). O dia 1° de novembro se oferece como a data mais adequada para isso. Ao invés de combater o Dia de Todos os Santos vamos preenchê-lo com novo conteúdo. Ou melhor, vamos redescobrir o conteúdo que já teve. O martírio dos povos latino-americanos clama por isso.
Trago, a seguir, algumas ideias que poderiam se constituir em elementos para uma celebração do Dia dos Mártires. Peço compreensão pela precariedade das mesmas. Nunca participei de uma tal celebração (excetuando breves referências a líderes de movimentos populares recentemente mortos no Brasil em celebrações ecumênicas) e tampouco tive acesso a material litúrgico existente no meio protestante.
Penso que a experiência que resultar de celebrações futuras deva ser reunida e, no momento oportuno, incorporada à nossa tradição litúrgica.
Olhando para os textos que nortearam nossa reflexão bíblica e considerando o levantamento histórico que fizemos no início dessa contribuição, penso que se poderia encaminhar a pregação em torno das seguintes ideias:
— oferecer à comunidade uma justificativa para a celebração de um Dia dos Mártires. Uma das modalidades possíveis é contar a história de um martírio recente ocorrido no contexto brasileiro;
— lembrar as origens da Igreja de Jesus Cristo, a perseguição, a vida em catacumbas, os espetáculos circenses, o possível martírio de Pedro e de muitos outros homens e mulheres por causa do seu testemunho cristão (aspectos históricos);
— possíveis deturpações ocorridas ao longo da história da Igreja e o novo acento trazido pela Reforma (aspectos confessionais). Menção a mártires da Reforma como Huss e outros, ou ao risco de vida a que o próprio Lutero esteve exposto, poderiam tornar mais vivas essas referências, uma vez que a simples enumeração de acontecimentos históricos torna a pregação monótona;
— fazer referência à grande tribulação, da qual fala o Livro do Apocalipse e sua relação com as bem-aventuranças, e, principalmente, com a resistência aos poderes que desejam que se lhes preste culto (aspectos bíblicos);
— lembrar diferentes formas que o martírio assume em nossos dias e em nosso contexto. Casos de martírio e de perseguição poderiam ser contados. Dever-se-ia ter o cuidado de não idealizar tais pessoas, mas destacar seu caráter de exemplos na fé. Lembrar igualmente os mártires que a Igreja fez nesse continente;
— talvez caberia colocar a pergunta se em nossa Igreja também existem mártires. Tivemo-los no passado? Temo-los hoje? Quem seriam?
— considero importante que a ideia da comunhão dos santos não se limite à comunhão dos que formam a Igreja de hoje, mas também inclua os que já viveram antes de nós. Formamos uma corrente com a comunhão universal dos santos. Na Santa Ceia, ao redor da mesa eucarística, o Senhor reúne a Igreja de todos os tempos e de todos os lugares. Eis por que na Liturgia do Sacramento (Celebrações do Povo de Deus, 1991, p. 17) é dito que com toda a tua Igreja e os coros celestiais, louvamos e adoramos o teu glorioso Nome. Na Ceia do Senhor a Igreja do passado e a do presente e seus mártires se encontram;
— enfatizar que o louvor dos santos que agrada a Deus é o seu testemunho e seu martírio e não a sua intercessão por quem quer que seja. Deus não precisa de pistolões na fé. Nós, todavia, precisamos de exemplos que nos inspirem na fé, em meio a um mundo carente de modelos e em tempos difíceis e de grande opressão.
Observação final: Devido à falta de tradição e de modelos de celebração em memória de mártires, seria aconselhável que a preparação de um tal evento fosse feita em equipe. Dessa equipe poderiam fazer parte pessoas que já tiveram experiências de sofrimento por causa do seu testemunho, pessoas que foram perseguidas injustamente e grupos que lutam por causas justas na Igreja e na sociedade. Onde se tornar difícil integrar tais pessoas na própria celebração, pode-se recorrer a audiovisuais breves que concretizem tais situações de perseguição e sofrimento.
Também a decoração da igreja ou do local onde a celebração tiver lugar merece atenção. Cartazes com dizeres significativos de pessoas exemplares na fé e recortes de jornais ou revistas que falem de sua história podem ser afixados; uma cruz singela com panos vermelhos que lembrem o sangue derramado pelos(as) mártires e como símbolo do sofrimento cristão; nomes de pessoas perseguidas, desaparecidas e mortas ou de pessoas que se sacrificam pela causa de Cristo podem ser lembrados; os cantos deveriam ser escolhidos adequadamente. A ecumenicidade de tal celebração deveria ser contemplada.
8. Bibliografia
DIETZFELBINGER, W. Katholisch für Evangelische. Munique, Claudius, 1970.
KRÜGER, H. et alii. Ökumene Lexikon. Frankfurt/Main, Otto Lembeck, 1983.
MESTERS, C. Esperança de um povo que luta. O apocalipse de São João — uma chave de leitura. São Paulo, Edições Paulinas, s. d.
ROLOFF, J. Die Offenbarung des Johannes. Zurique, TVZ, 1984.