Prédica: Mateus 1.18-25
Leituras: Isaías 7.1-14 e Romanos 1.1-7
Autora: Wanda Deifelt
Data Litúrgica: 4º Domingo de Advento
Data da Pregação:20/12/1992
Proclamar Libertação – Volume: XVIII
Tema: Advento
1. Introdução
Neste texto de Mt 1.18-25, o evangelista Mateus relata os acontecimentos que precedem o nascimento de Jesus. Se comparado com a riqueza de detalhes oferecida por Lucas, o texto de Mateus é sucinto e sóbrio. Supondo que a concepção milagrosa de Jesus fosse do conhecimento da comunidade, Mateus descreve com poucos detalhes os eventos ligados ao nascimento de Jesus. Mais interessante, porém, é a atenção quase exclusiva dada a José neste texto. Sendo Maria a que carrega em seu ventre o futuro salvador, por que o texto se dedica à explicação da paternidade assumida por José? Porque o texto não pergunta pela jovem mãe, como o faz Lucas? Quais seriam as consequências se José tivesse se recusado a assumir a paternidade da criança?
2. Considerações exegéticas
V. 18: Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estava Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José e sem que tivessem antes coabitado, Maria encontrou-se grávida pelo Espírito Santo.
Para compreender o enredo da passagem é necessário entender o que um casamento significava legalmente. Naquele período na Palestina o casamento se dava em duas etapas. Primeiro vinha o noivado, ou uma promessa de casamento (que é o caso de Maria e José), onde na presença de testemunhas era pago o dote à família da noiva. A noiva, em geral, estava na idade de 12 a 13 anos, no início da puberdade. Estando o compromisso de casamento já estabelecido, iniciava-se o período de transferência da tutela da noiva do seu pai para seu marido. Legalmente o futuro marido já tinha direitos sobre a noiva, e ela podia ser chamada de esposa. O noivado podia ser quebrado somente através do divórcio (geralmente iniciado pelo noivo). Qualquer violação dos direitos legais do marido era considerada adultério, e portanto passível de punições tais como difamação, apedrejamento e morte. Já a segunda etapa era o casamento propriamente dito, onde a moça se transferia para a casa de seu marido e passava a coabitar com ele.
Era pressuposto que a noiva fosse virgem por ocasião do noivado, mas não necessariamente por ocasião do casamento. Se o noivo tivesse ceado na casa de seu sogro e tivesse oportunidade de ficar a sós com a noiva, ele não poderia acusá-la de não ser mais virgem. Mas, em geral, esperava-se que o casamento fosse consuma do somente no casamento propriamente dito. Não causa espanto que o texto de Mateus tenha um tom de escândalo quando relata que, antes de coabitar com José, Maria se achava grávida. Este tom de escândalo refere-se à gravidez e lambem a paternidade indefinida da criança. O autor deixa claro que José não é seu pai biológico. Mas o tom de escândalo é abrandado através da complementação na frase grávida pelo Espírito Santo. Esta complementação do evangelista, porém, não explica como este processo aconteceu e nem qual repercussão teve na comunidade. Há duas explicações para isto: ou a teoria da imaculada concepção já havia sido tão difundida e aceita quando o evangelho foi escrito que não era mais necessário explicá-la, ou ela ainda causava tanto escândalo que era melhor não tocar muito nela. De uma forma ou de outra, o texto não entra em detalhes.
V. 19: José, seu esposo, sendo justo e não querendo difamá-la, resolveu divorciá-la em segredo.
José era um homem obediente às leis de sua época. Era também um homem justo. Ele era justo porque não quis difamar Maria, expondo-a à acusações de adultério? Ou ele era justo porque obedecia à lei e portanto teria que divorciar-se de Maria, mesmo em segredo? O texto se dedica a fazer entender melhor a posição delicada de José. Um comentarista diz: Nada lemos sobre a angústia, a preocupação, a dúvida e a incerteza que atormentavam a alma daquele homem, que se vê de repente às voltas com o mais sério problema de sua vida. Na verdade, porém, devido à gravidez antes de ter coabitado com seu esposo (e portanto tido contato sexual com ele), era Maria quem estava em uma situação difícil. Ela poderia estar grávida porque havia sido violentada ou por ter sido seduzida. A acusação mais comum a quem consentisse em relacionamento sexual fora do casamento era adultério, e a punição para esta acusação era morte por apedrejamento (cf. Dt 22.21-22). A decisão de José em divorciar Maria em silêncio evitaria esta punição, já que a legislação sobre o adultério diz respeito ao direito do marido sobre a esposa. Basicamente, o adultério é uma infração do mandamento referente à propriedade de um marido (sendo a propriedade, no caso, a esposa). Divorciando-a, ele abriria mão do seu direito, mas Maria certamente carregaria o estigma de ser mãe solteira e poderia também sofrer a acusação de ser prostituta.
Em casos de adultério, havia somente duas opções legais para José: uma era mover um processo jurídico contra a família da noiva, expondo-a à difamação e levando à morte da noiva. Alguns autores afirmam que o apedrejamento da noiva e a subsequente morte não eram mais tão comuns no primeiro século, mas a maioria concorda que adultério era um crime passível de punição de morte. A outra alternativa era divorciar Maria em segredo. Neste caso, José não estaria acreditando que Maria tivesse cometido adultério. Talvez ela tivesse sido seduzida ou violentada. No caso de sedução, a punição de morte era válida tanto para a mulher quanto para o outro homem envolvido (cf. Dt 22.23-29). No caso de estupro, porém, somente o homem seria morto (cf. Dt 22.23-29). Se fosse comprovada a inocência de Maria, nada impediria José de completar o casamento (cf. Ex 22.16-17). Baseados nesta informação, alguns críticos vêem uma outra alternativa, talvez José .presumisse que Maria tivesse tido um relacionamento prévio com um outro homem, mas em respeito à autoridade paterna (os pais decidiam sobre o casamento) não tivesse contado nada sobre seu namoro secreto. Divorciando-a em segredo, José daria a liberdade para que o verdadeiro pai da criança pudesse assumir sua paternidade e casar-se com Maria, o que não era possível estando ela oficialmente comprometida em casamento com José e estando ela impossibilitada de se divorciar dele (já que o processo de divórcio deveria ser iniciado pelo marido).
V.20-21: Enquanto assim decidia, eis que o anjo do Senhor se manifestou a ele em sonho, dizendo: José, filho de Davi, não temas recebei Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados.
O anjo de Deus conta algo que já havia sido revelado para o/a leitor/a no v. 18. Mas para continuar com o suspense, somente ao final do v. 21 o fato de a criança ser gerada pelo Espírito Santo é revelado a José. Este é um artifício típico usado nas narrativas dos evangelistas. Nós, assim como a comunidade para a qual Mateus escreve, já sabemos que este menino é Jesus. Mas José ainda não. Nós já sabemos que ele foi gerado pelo Espírito Santo. Mas José ainda não. É necessário a aparição de um anjo em sonho para fazê-lo aceitar Maria. Assim, o anjo remove a suspeita de que Maria fosse adúltera, que tivesse se prostituído, ou que ela tivesse um amor secreto antes de casar-se com José. O fato de José aceitar Maria implica que toda problemática legal está resolvida. O anjo assegura a José que não é preciso temei Estas palavras poderiam significar que não há impedimento legal, ou, se há impedimento, este é removido pela intervenção direta de Deus. Para Mateus, esta é uma questão importante devido à constituição judaica da comunidade para a qual ele escreve e porque nela as leis judaicas continuam sendo cumpridas. Para a comunidade, a aceitação de Maria significa que ela não era adúltera ou prostituta, porque um homem justo e cumpridor das leis jamais se casaria com uma mulher considera da pecadora. O casamento não descartaria a possibilidade de que Maria tivesse si do violentada, mas como não há nenhuma referência quanto a isto, é necessário encontrar uma outra explicação para a gravidez.
Esta resposta é dada pelo anjo em forma de sonho: trata-se de uma criança gerada pelo Espírito Santo. Diferente do relato de Lucas, onde Maria participa do processo de decisão sobre a concepção da criança, o relato de Mateus não dá detalhes sobre este processo. Mateus faz dupla referência ao fato da criança ser gerada pelo Espírito Santo (w. 18 e 20). A maioria dos intérpretes é unânime em entender a descrição da gravidez de Maria, de acordo com os textos de Mateus e Lucas, através de concepção virginal. Mateus dá ênfase ao fato de que a criança é gerada pelo Espírito Santo, mas não que há uma relação sexual envolvida. Jesus é gerado através de uma intervenção divina, e não através de um relacionamento sexual normal entre dois sexos. A maioria dos intérpretes lêem este texto como se Jesus tivesse sido concebido pelo poder criador do Espírito Santo. Assim, pode-se dispensar uma divindade masculina para impregnar um ser humano feminino (como era comum nos relatos mitológicos de outras religiões). Este poder do Espírito Santo é de ordem criadora e não sexual (assim como em Gênesis).
A forma descrita no v.21 o chamarás pelo nome é uma frase que denota a aceitação desta criança por parte de José. Esta também é uma fórmula usada em casos de adoção. Mais uma vez é interessante observar o interesse de Mateus em garantir a legalidade da criança: mesmo não sendo o pai biológico da criança, José é seu pai adotivo. Este fato já é destacado previamente, na genealogia de Jesus. Ali não se dá a origem da mãe biológica, mas do pai adotivo. Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo. Para Mateus é importante demonstrar a aceitação da criança por parte do pai adotivo e colocar sua aceitação dentro de um pano de fundo legal. José, aceitando uma mulher grávida, também aceita responsabilidade sobre a criança. Esta responsabilidade é sancionada através das formas não temas aceitar Maria e chamarás [a criança] com o nome de Jesus. Como José não moveu um processo jurídico, a criança é oficialmente sua. Em termos legais, a história tem um final feliz.
O nome de Jesus tem sua origem etimológica na forma helenizada do hebraico Yehoshu'a, e no v.21 é dada uma versão popularizada do termo Javé salva. É dito que o nome de Jesus significa que ele salvará o povo de seus pecados. Esta interpretação popular do nome de Jesus era bastante conhecida entre as primeiras comunidades cristãs e não haveria necessidade de incluí-la. Tanto é que Lucas, que tem uma versão mais detalhada dos eventos que precedem o nascimento de Jesus, não o faz. Talvez Mateus queira reforçar mais uma vez o aspecto legal que sanciona divinamente o nome da criança e sua adoção. Á definição do nome, porém, já revela de antemão o futuro da criança e sua importância. Se José ainda tivesse alguma dúvida se deveria ou não aceitar Maria após a aparição do anjo, da explicação sobre a natureza da gravidez, da isenção legal de Maria da acusação de infidelidade, então o argumento final deveria ser: mas ele é o salvador! Se nada bastasse para convencer José, certamente a notícia de que esta criança é o tão esperado salvador deveria fazê-lo aceitar Maria.
Vv. 22-23: Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: Deus está conosco.
Se José já está convencido da necessidade de aceitar Maria, apesar de sua gravidez antes de ter coabitado com o futuro marido, agora é a vez de convencer a comunidade. Para tanto, Mateus faz referência ao texto de Is 7.14. Aqui, mais uma vez, Mateus fundamenta a concepção virginal, tentando, inclusive, mostrar que o profeta Isaías já havia previsto que uma virgem (sexualmente intocada) haveria de conceber. E assim a profecia se cumpriria. O único problema, porém, é que o termo empregado em Is 7.14 (ha almá) deve ser traduzido como moça ou jovem em idade de se casar e não como virgem. Mateus, porém, empregou o termo com o sentido de virgem. A Septuaginta traduz o termo, usando a palavra he parthenos, que também é empregada em Mt 1.23. Na LXX, porém, o termo virgem não se refere necessariamente a uma moça que não tenha tido contato sexual, mas a uma moça jovem (cf. Gn 34.3). Dentro da tradição judaica não há outra referência sobre uma concepção e um nascimento virginal. De igual forma, nem no contexto pré-cristão nem na literatura não-cristã há referência sobre um nascimento deste tipo. Parece que a ideia da concepção e nascimento virginal surgiu no período intertestamentário e é um aspecto específico das narrativas de infância de Jesus encontradas em Mateus e Lucas. Há histórias sobre seres metade humanos e metade divinos encontradas em outras religiões, mas todas pressupõem um relacionamento sexual entre uma divindade e um ser humano. O que Mateus relata, portanto, é um acontecimento sem precedentes, algo completamente inusitado.
Alguns intérpretes propõem uma interpretação de Is 7.14 num sentido figurativo ou simbólico, isto é, que esta criança está em continuidade com a história de Israel e que ela atesta para a presença constante de Deus dentro da história de seu povo. Afinal, esta criança é Emanuel, o Deus conosco. Isaías fala de uma jovem que conceberá e dará a luz a uma criança, e esta criança será o salvador. Em Isaías não há referência sobre o pai biológico, pois isto não é relevante. Por que isto haveria de ser relevante para Mateus? Ou ainda, por que Mateus haveria de dar tanta ênfase ao status legal desta criança? Como vimos acima, isto pode ser devido à constituição da própria comunidade para a qual Mateus escrevia.
Vv. 24-25: José, ao acordar do sono, agiu conforme o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher. E não a conheceu até o dia em que deu à luz um filho. E ele o chamou com o nome de Jesus.
Aqui, mais uma vez, é enfatizado o fato de José não ser o pai biológico da criança. Ele fez o que o anjo lhe ordenara, recebendo Maria como sua esposa. Mas fez ainda mais: também se absteve de manter relações com ela. Mostra-se, mais uma vez, que José é um homem justo e obediente às leis. Assim, quando a criança final mente nasce, não somente a profecia de Isaías se cumpre, mas também as palavras do anjo se tornam realidade. Não só isto, mas mãe e filho estão protegidos legalmente e sua aceitação é assegurada. A história tem um final feliz.
3. Considerações teológicas
É necessário apontar que a concepção virginal de Jesus, associada a seu papel de salvador (como aquele que tira o povo dos pecados), pode levar a algumas interpretações perigosas. A primeira é que Jesus não tinha pecados, porque não foi concebido sexualmente, mas divinamente. Isto corrobora a visão de que a sexualidade é vista como pecaminosa não apenas por muitos Pais da Igreja, mas que ela tem fundamentação bíblica. A concepção virginal pode ter sido a saída encontrada por Mateus para justificar a gravidez ilegítima de Maria diante de uma comunidade legalista. Para Isaías a paternidade da criança não interessava, mas para a comunidade de Mateus a paternidade conta, e muito. Tanto é que Mateus precisa retrabalhar termos (virgem ao invés de moça) para explicar a origem da gravidez. Como não havia precedente, Mateus precisou criar uma versão do nascimento de Jesus baseando-se em fragmentos (um deles sendo Is 7.14). Pistas adicionais para entender os acontecimentos que precedem o nascimento de Jesus poderiam ser encontradas nas histórias das quatro mulheres que constam na genealogia de Jesus (Tamar, Raab, Rute e a mulher de Urias).
Virgem ou não virgem? Este debate acirrado não data de hoje. É interessante apontar para o fato de que a concepção virginal é informação exclusiva de Mateus e Lucas. Os demais evangelistas não fazem referência alguma ao fato de Jesus ser gerado pelo Espírito Santo. Considerando a constituição da comunidade para a qual Mateus escrevia, se Jesus fosse filho ilegítimo, como seria sua aceitação? Mateus parece acreditar que seria difícil. Por isto ele não poupa argumentos para demonstrar que a situação da criança e da mãe está de acordo com os costumes e as leis judaicas. O que foge à regra, porém, é a concepção virginal. Ser gerado pelo Espírito Santo é uma novidade sem igual, sem precedentes. Mas ela ajuda a entender que Jesus já tinha qualidades especiais desde que havia sido gerado e assim, explica-se sua atuação futura. Se a concepção virginal não tem precedentes, assim também é Jesus — verdadeiramente filho de Deus.
Mas a versão dada por Mateus é uma versão parcial. Ela nos conta a história somente do ponto de vista de José. O que estaria se passando com Maria? O que aconteceria se Deus não intervisse para convencer José a se casar com ela? Difamação pública caso José a divorciasse em segredo, apedrejamento e morte caso José a acusasse de adultério. É interessante ver como a maioria dos intérpretes se preocupa com a decisão difícil que José leria que tomar, esquecendo-se totalmente de que quem sofreria as consequências seria Maria. O interesse de Mateus não é de descrever a situação de Maria. Ele escreve sobre José, o pai adotivo da criança. Presumindo que a comunidade soubesse das opções legais oferecidas a José nesta situação, e das consequências que elas trariam, o/a leitor/a é levado/a a se identificar por completo com José. Ele é considerado um homem justo quando quer se divorciar de Maria em segredo, mas sua atitude é nobre quando aceita Maria e a criança. José torna-se, assim, ainda mais justo, incorporando Maria e Jesus à genealogia de Davi. O que é evidente nesta versão de Mateus (diferente da de Lucas) é que o poder de decisão está totalmente nas mãos de José. É dele que depende a aceitação pública da mãe e da criança. É José quem decide se a mãe deve viver. Afinal, ele poderia acusá-la de adultério e ela seria apedrejada até morrer. É José quem decide se a criança será legítima, adotando-a como seu próprio filho. Mais uma vez se dá ênfase ao cumprimento das leis, à necessidade de uma vivência justa. Isto era importante para a comunidade de Mateus, que provavelmente também se defrontava com a validade das leis judaicas e a necessidade de seu cumprimento. A tônica do relato de Mateus é a decisão importante que José deverá tomar diante do cumprimento da lei e da revelação divina. Pela decisão de José a mãe do salvador não foi apedrejada por adultério e Jesus teve a aceitação legal necessária.
4. Pistas para a pregação
Uma prédica sobre Mt 1.18-25 poderia usar as informações legais como pano de fundo para entender o dilema de José. Porém, mais interessante do que isto seria tentar entender a situação de Maria. Já que o interesse de Mateus sobre sua pessoa é mínimo, é possível imaginar o terror que a própria Maria estaria passando diante da iminência de ser apedrejada por adultério, morta por ter sido infiel ao seu futuro marido. O/a leitor/a sabe que ela é inocente. Mas qual seria a atitude de Maria, tendo que esperar que José decidisse sobre seu futuro? Se a situação de José é delicada, então a situação de Maria é angustiante, dependendo de outra pessoa para decidir não somente sobre sua própria vida ou morte, mas também sobre a vida ou morte do salvador do mundo.
Neste sentido, a intervenção do anjo não funciona apenas como uma justificativa legal para a aceitação de Maria e da criança, mas também é a atitude de Deus em colocar-se ao lado da mulher e da criança que estão sofrendo, já de antemão, as dores do mundo. O mundo não hesitaria em discriminar o salvador do mundo por ser filho de mãe solteira. Assim, o nascimento de Jesus não é somente um milagre porque ele foi gerado pelo Espírito Santo. O nascimento de Jesus é também um milagre porque ele teve que vencer obstáculos legais e sociais para poder nascer.
5. Bibliografia
– HENDRIKSEN, Guillermo. Comentário del Nuevo Testamento: Exposición del Evangelio según Mateo. Gran Rapids, MI, Subcomision Literatura Cristiana, 1986.
– SCHABERG, Jane. The Illegitimacy of Jesus: A Feminist Theological Interpretation of the Infancy Narratives. San Francisco, Harper Row, 1987.
– TRILLING, Wolfgang. O Evangelho segundo Mateus. Parte 1. Petrópolis, Vozes, 1968.
Proclamar Libertação 18
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia