Prédica: 2 Coríntios 8.1-9,13-14
Leituras: Lamentações 3.22-26 (27-30) e Marcos 5.24b-34 ou Marcos 5.21-24a,35-43
Autor: Uwe Wegner
Data Litúrgica: 6º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 03/07/1994
Proclamar Libertação – Volume: XIX
1. Introdução
Juliano, o apóstata, um imperador inimigo dos cristãos, constata o seguinte sobre seus adversários em escrito de sua autoria intitulado Epístula ad Arsacium:
Será que não entendemos que o ateísmo ( = cristianismo) foi promovido de modo mais eficiente pelo humanitarismo (dos cristãos) para com os estranhos e pelos cuidados (dos cristãos) com os enterros dos mortos…? Os ímpios galileus alimentam, além dos seus pobres, também os nossos; os nossos, porém, evidentemente, carecem de nossa assistência (texto em G.Lohfink, Como Jesus queria as comunidades?, p.223).
O imperador Juliano constata que na solidariedade para com os pobres residia uma marca da prática cristã e que esta marca era o que mais promovia o cristianismo. A solidariedade material é coisa profundamente espiritual. Estou convicto de que a irradiação missionária de nossas igrejas e comunidades tem na solidariedade para com os pobres o seu centro de vigor e força. Não foi outra a base para a irradiação missionária da pessoa de Jesus: Seu projeto de trazer boas notícias a pobres, de trabalhar pela cura dos seus corpos e pelo alimento indispensável a suas vidas foi o que o tornou tão conhecido e querido pelo povo. Sou da opinião de que também na comunidade primitiva de Jerusalém a grande admiração e adesão popular ao cristianismo emergente (cf. At 2.47b e 5.12-16) tinha na partilha de bens e no cuidado dos cristãos para com necessitados da época a sua maior fonte de inspiração.
2. A coleta para os pobres em Jerusalém
A campanha de arrecadação de fundos para os pobres de Jerusalém é uma das expressões paulinas para a necessidade de que o amor cristão tem que tomar a forma de carne, isto é, materializar-se, se quiser ser eficaz entre as pessoas. A campanha para os pobres em Jerusalém não é a primeira na qual Paulo se envolveu. Atos 11.27-30 conta que já anteriormente Paulo esteve atuante no envio de um socorro aos irmãos que moravam na Judéia (v.29). Isto está a indicar que este socorro financeiro, pelo qual tanto se empenhou o apóstolo até sua posterior prisão em Jerusalém, não é labor meramente acidental dentro de sua atividade missionária. Campanhas de arrecadação de fundos para pobres tinham para o apóstolo um sentido bem mais profundo e radical. O texto de 2 Co 8.1 ss esclarece melhor o assunto.
3. Indicações no texto de 2 Co 8.1ss
A compreensão que Paulo teve em relação ao levantamento de recursos em dinheiro para os irmãos de Jerusalém deixa transparecer o seguinte:
3.1. Não se trata exatamente de uma coleta
Algumas Bíblias intitulam os dois capítulos de 2 Co 8-9 utilizando o termo coleta (p.ex.:Organização da coleta: Bíblia de Jerusalém; Encorajamento a realizar o projeto da coleta: TEB, etc.). Mas este termo não reproduz exatamente o que está se propondo com a campanha de arrecadação de fundos e também não aparece literalmente nos versículos. Coleta tem entre nós o sabor de sobra, troco e miúdo que a gente dá em forma de dinheiro por ocasião de cultos. Ora,dificilmente associamos dinheiro dado em coletas com riqueza da generosidade de alguém (v.2) e também dificilmente pessoas fazem questão de doar(v.4); na maioria das vezes doa-se por hábito ou obrigação ou coação social (faz-se o que todo mundo também faz). Finalmente cabe dizer ainda que a natureza de nossas coletas é por demais variada: Seus valores são destinados para múltiplos fins, enquanto que aqui no caso de Paulo a arrecadação tem finalidade específica de reversão em benefício de pobres.
Comblin em seu comentário sobre 2 Coríntios intitula 2 Co 8-9 de O serviço dos pobres. Este título pode inspirar-se no v.4 :pedindo-nos…a graça de partici¬parem do serviço ( = diakonía) aos santos j) De fato a arrecadação era um serviço, um trabalho esforçado que realizavam- as comunidades em benefício de Jerusalém. Em l Co 16 Paulo propõe concretamente: No primeiro dia da semana cada um de vós porá de lado em sua casa o que tiver conseguido poupar, a fim de que não se espere a minha chegada para recolher os dons. Quando eu estiver aí enviarei com cartas os que tiverdes escolhido, para levarem os vossos dons a Jerusalém(v.2-3). Isto mostra que não se trata de migalhas, de sobras, mas de dinheiro conscientemente poupado com a finalidade específica de socorrer os pobres de Jerusalém. Ou seja: trata-se de uma poupança feita para assegurar o bem-estar e sobrevivência de outros! Há neste particular uma novidade: Quando a gente poupa, costuma-se assegurar coisas para si próprio. Aqui é o contrário. Ou seja: Pede-se que o bem-estar do pobre valha o nosso investimento! Além disso, o fato de tratar-se de uma poupança contínua (a cada primeiro dia da semana…) mostra que no caso desta arrecadação Paulo não está pedindo doações espontâneas; ele está, isto sim, pedindo que a arrecadação para pobres consiga mobilizar efetivamente tudo o que os cristãos têm em disponibilidade para doar.
Além da ideia de serviço que representa a arrecadação no texto, os versículos deixam transparecer ainda um segundo entendimento. Este se encontra explícito nos v.6 e 7. Para Paulo a arrecadação, respectivamente, a mobilização para a mesma é expressão da graça de Deus>> No v.4 afirma-se dos macedônios que pediram a graça de participar da assistência aos santos. O v.6 espera que Tito consiga completar esta graça entre os coríntios. E o v.7 coloca: Como, porém, em tudo manifestais superabundância…assim também abundeis nesta graça (cf. ainda 9.8,14s). Comblin comenta:
Ajudar os pobres de Jerusalém é a grande graça de Deus. A graça de Deus manifesta-se num movimento concreto dos homens. A graça não é dom inerte, não é um tesouro, uma riqueza da qual cada um gozaria egoisticamente. A graça de Deus é poder participar da partilha dos bens com os irmãos… A distribuição dos bens para compartilhar com os pobres – disto é que se trata – é a verdadeira liturgia dos que crêem em Jesus (9,12). É o verdadeiro culto que agrada a Deus… Se a graça de Deus, o evangelho de Cristo e a verdadeira liturgia estão na partilha com os pobres, não é estranho que esta seja também o motivo da ação de graças que os cristãos dirigem sem cessar a Deus. A ação de graças é a resposta dos homens à graça de Deus. Vendo a graça de Deus, os pobres dão graças a Deus (9,14): assim se completa o movimento que procede de Deus e renova a humanidade (p. 118).
Estas palavras são muito importantes. Elas mostram que Paulo não ficou no terreno das espiritualizacões. Um termo teológico tão carregado para ele como é a palavra graça é aqui aplicado à esfera da economia. De 18 vezes em que aparece em 2 Co, 10 vezes graça é empregado no contexto da coleta (cf. 8.1,4,6,7,9, 16,19; 9.8,14,15; as demais passagens, em 1.2,12,15; 2.14; 4.15; 6.1; 12.9 e 13.13). Graça é urna coisa muito profunda na teologia. Mas na economia, como .aqui em 2 Co 8-9, desaparecem as complicações: Graça é ajudar os pobres em suas necessidades. Só isto. Todo resto é enrolação. E, para Paulo, não enrolar teologicamente no terreno da economia é colocar-se a serviço dos pobres. Aqui, concretamente: colocar seus bens a serviço das necessidades dos pobres em Jerusalém. Graça de Deus foi e é expressão de sua infinita bondade. E bondade, no terreno da economia, é não deixar pobre na míngua e miséria. Paulo vai aqui na mesma linha de Jesus; Jesus, na mesma linha do AT.
3.2. Os pobres evangelizam
Em seu livro Opção pelos pobres, J. Pixley e C. Boff escrevem um parágrafo sobre como os pobres evangelizam, ou seja, sobre o potencial evangelizador dos pobres (p.253-258). Dentre as várias maneiras pelas quais os pobres evangelizam, os autores referem-se ao seu testemunho dos valores evangélicos, dentre os quais são destacados:
– generosidade e partilha recíprocas,
– solidariedade no sofrimento,
– hospitalidade com os de fora…
– a bondade, como sentimento de ternura c benevolência para com o próximo…
– o afeto às crianças, doentes, velhos,etc..
A partir daí é que Puebla afirma:
O 'potencial evangelizador' dos pobres consiste no fato, entre outros, de que 'muitos deles realizam em sua vida os valores evangélicos de solidariedade, serviço, simplicidade e disponibilidade para acolher o dom de Deus' (p.255s).
Somos da opinião de que 2 Co 8.1-5 é um comentário muito ilustrativo dessas palavras. Paulo já havia aludido ao potencial evangelizador dos pobres em ocasiões anteriores. Assim em 2 Co 6.10: entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos… Outra passagem programática a respeito é l Co 1.26-29, em que o apóstolo afirma que Deus escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. E, de fato, Paulo aparentemente tinha razões para temer que os macedônios acabariam por envergonhar a ele e aos coríntios…(cf. 2 Co 9.4)
No caso concreto do nosso texto, o potencial evangelizador é apresentado pelas comunidades pobres da Macedônia. Foram elas que, não obstante a sua profunda pobreza, apresentaram uma rica generosidade. O impacto desta grande generosidade de comunidades pobres foi tão grande no apóstolo, que se sentiu encorajado a propor aos coríntios reiniciarem o projeto de arrecadação de fundos para Jerusalém (Por isso encarregamos a Tito…:v.6!).
O significado que encerram os vv. 1-5 nos parece ser o seguinte: A libertação dos pobres começa dentro das próprias fileiras. Ela não vem de cima – dos ricos -para baixo. A velha historinha do bolo, que é primeiramente necessário fazer crescer bastante para só depois poder reparti-lo com todo mundo, foi uma proposta de rico que até agora ainda não deu certo entre nós. O que deu certo é unicamente que os ricos ficaram mais ricos . Propostas que impliquem uma efetiva redistribuição de riquezas, como p.ex. uma reforma fiscal séria ou uma reforma agrária efetiva, sempre encontraram nas classes empresariais e latifundiárias ferrenhos adversários. Quer dizer: Esperar transformações de cima para baixo é ilusório. A pobreza era um mal que, dentro da perspectiva do apóstolo, podia ser erradicado – assim o comprovavam os macedônios – a partir dos próprios pobres. Pergunta-se unicamen¬te: Como? O apóstolo coloca três condições: (1) É preciso que haja generosidade; (2) é preciso que haja a motivação da fé, e (3) é preciso que haja um projeto de igualdade.
A força da generosidade: v.2
No v. 2 afirma-se dos macedônios: A grandeza de sua pobreza era notória; mas a riqueza de sua generosidade foi ainda maior. O segredo da partilha parece, pois, estar na generosidade. O termo grego para esta palavra é haplótes. Os dicionários dão como sentido primário da palavra a simplicidade, sinceridade, franqueza. Rienecker/Rogers (Chave linguística do NT, p.354) comentam: generosidade, liberalidade. O significado básico da palavra é 'simplicidade', 'de mente limpa' e indica a verdadeira abertura de coração e generosidade para com outras pessoas, na qual não há duplicidade de motivos. Bauer-Aland (Griechisch-deutsches Wörterbuch zu den Schriften des Neuen Testaments…, col.171) sugerem para as passagens de Rm 12.8; 2 Co 8.2; 9.11,13 o sentido da generosidade simples, que se manifesta sem segundas intenções. Gingrich/Danker (Léxico do Novo Testamento…, p.28) interpretam para os mesmos textos significado semelhante: Preocupação sincera de pessoas que dão liberalmente, i. é., sem reservas, sem esperar nada em troca.
Todas estas interpretações convergem numa mesma direção: a haplótes é aquela generosidade sincera e não calculista, que visa realmente o bem-estar do próximo, em nosso caso, o seu bem-estar material. É baseado nesta que os pobres macedônios construíram seu potencial de participação na arrecadação de dinheiro para os pobres de Jerusalém. Mas, por que têm os macedônios esta predisposição para a generosidade e outros ou outras comunidades não a têm? O que faz um coração apresentar generosidade sincera e disposição para repartir com outros?
Comblin (p. 149) é da opinião de que a explicação para o fato está na simplicidade de vida:
Esta haplótes é ao mesmo tempo simplicidade de vida, disponibilidade, abertura, generosidade. Ela lembra o modo de vida simples dos antepassados. De tal simplicidade brota a generosidade. Quem se contenta com uma vida austera e restringida torna-se capaz de dar bastante, mesmo que seja de condição muito humilde. A riqueza dos macedônios é a contribuição que podem dar, graças às restrições que eles se impõem no modo de viver.
Comblin tem razão: Sem a opção por uma vida simples e modesta, o que de nossa parle poderia ser aplicado em benefício de outros vai estar sempre comprometido com as novas exigências dos padrões de vida elevados. Dentro de uma sociedade de consumo a propaganda se encarrega de despertar diariamente novas necessidades para nossos investimentos… É preciso, portanto, fazer opção por padrões de vida modestos. Pergunta-se, contudo: Como orientar-se nesta opção? O apóstolo dá a seguinte indicação: não acumular excedentes (v. 13-15).
Paulo não tem a intenção de generalizar a validade do que fizeram os 'macedônios, dando mesmo acima do que possuíam em disponibilidade (v.3). O apóstolo não pede dos coríntios o que eles não têm (v. 12); o objetivo não é empobrecer ninguém. A proposta é profundamente simples: Pede, unicamente, o que os cristãos têm em excesso, o supérfluo. Por quê? Porque o excedente de um pode gerar ou perpetuar a carência do outro. Ora, o cristianismo se fundamenta num movimento exatamente o contrário ao da perpetuação da miséria, já que é construído sobre a prática da solidariedade.
A motivação: a prática de Jesus (v.9)
A prática de Jesus foi a do desprendimento: Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós… Um outro texto que vai em direção semelhante é o de Fp 2.6-8. Convém que se diga que este desprendimento de Jesus não se restringe unicamente ao desprendimento de bens materiais, embora o inclua. Jesus assumiu uma condição de pobre porque teve um projeto para nos libertar da penúria e exploração. Ilustrativos neste sentido são textos como os de Mc 3.20s; 10.28-30; Mt 8.19-22, entre outros. À sua condição de pobre também pertence o fato de que foi crucificado, um castigo reservado a escravos e pessoas sem cidadania romana.
O texto está a sugerir que, assim como Cristo desprendeu-se de uma opção e condição de vida assegurada e confortável, assim também as comunidades devem estar dispostas a desprender-se de tudo o que representa excessos supérfluos, para colocá-los a serviço dos pobres.
O projeto de igualdade: v.13-15
O apóstolo mostra nos w. 13-15 que o motor que está por trás de toda sua insistência na arrecadação de fundos para os pobres de Jerusalém é um projeto muito ambicioso, com fortes raízes no AT (cf. 19), a saber, o projeto da igualdade.
Note-se que igualdade no texto não é necessariamente o ponto de partida comum (igualdade de condições para acesso à educação, à concorrência, etc.) a partir do qual se constrói a economia e se definem as relações sociais. Assim, em verdade, é no capitalismo neo-liberal: Todos concorrem, os melhores vencem, os demais se marginalizam. O capitalismo diz que iguala no início (livre acesso de todos à concorrência), o que já é bastante duvidoso; sua característica maior é, no entanto, a força de exclusão e marginalização que exerce no meio e no final do caminho da concorrência.
A proposta do texto é diferente. O texto não pressupõe uma igualdade no início da jornada económica de trabalho entre os cristãos. Também não pressupõe um igualitarismo no resultado da produção: Não se colhem quantidades exatamente iguais (v. 15). Tem gente com excedentes (= supérfluos) e tem gente com carências (= necessidades): v. 14. O que pretende o projeto de igualdade é unicamente corrigir desníveis, distorções e desigualdades geradas a partir do processo de produção e trabalho. É um projeto realista, ambicioso e transparente:
É realista, pois constrói uma proposta sobre a realidade efetiva de pobreza existente. A carência dos pobres exige soluções imediatas e urgentes; ela não pode esperar, senão o pobre morre.
É ambicioso porque é o mais exigente. Mais exigente no sentido da solidariedade. Este projeto vende a ideia de que a solução para a pobreza está nas mãos dos próprios cristãos e reside num novo destino a ser dado aos excedentes de economia Em termos modernos a gente diria: O projeto pressupõe que haja o suficiente para todos viverem com dignidade, desde que se redistribuam as riquezas, em forma de renda, terra, etc.
— É transparente no sentido de apontar o dedo para a raiz da ferida social, a saber, o acúmulo, o excesso. Não é verdade que o nosso maior problema sócio econômico seja a estagnação econômica; o maior problema é o fato de sermos o país de maior concentração de renda no mundo!
4. Prédica
Paulo pede no texto que os coríntios colaborem na arrecadação de fundos para os pobres de Jerusalém. A pressuposição do texto é, pois, a existência de pobres e suas urgentes necessidades.
4.1. Com essa pressuposição estamos em sintonia com nossa realidade brasi¬leira. Temos mais de 30 milhões em estado de pobreza crônica, segundo o IBGE. Uma prédica que quisesse tematizar este aspecto mais nacional poderia orientar-se na formulação de algumas perguntas, a exemplo de:
Como é possível que dentro de um país de tantos cristãos como é o Brasil exista tanta falta de solidariedade e ajuda para com os pobres? Como é possível que num país de tanta riqueza exista espaço para tanta pobreza? Como é possível sermos cristãos e nos conformarmos com uma tal situação?
A prédica poderia, inicialmente, abordar a questão da pobreza como mal estrutural. Deveria procurar mostrar em que medida e até que ponto a miséria que nos rodeia é produto de um sistema – no caso, o sistema capitalista neo-liberal -dentro do qual vivemos e que, parcialmente, assumimos como critério para nossas relações sociais e de trabalho. Colocada esta parte, poderiam seguir-se, a partir do texto, algumas indicações para corrigir a situação:
1. Reparar no exemplo de Jesus: v.9 (um evangelho que não represente mais boa nova para pobres não é o genuíno evangelho – ou, como diz o texto – a graça de Cristo)
2. Aprender a prática da generosidade, que pressupõe um estilo simples de vida: v.2 (aqui caberia lembrar a prática solidária de pobres, que tem muito a nos ensinar: v. l-5)
3. Reparar nos excedentes, identificá-los e desprender-se deles: vv. 13-15 (aqui a lógica do acúmulo tem que ser contestada; via Estado o desprendimento de excedentes faz-se através de uma política de combate à sonegação e de recolhimento de imposto)
4. Trabalhar para a realização de um projeto coletivo, e não individualista: a busca pela realização da igualdade: v.13s. Este projeto está a sugerir que, enquanto existirem pobres entre nós, alguma coisa está errada com nossa fé.
4.2. A realidade da pobreza também poderia motivar uma prédica que considerasse mais o aspecto individual e eclesial da questão.
Neste caso poderíamos começar com a seguinte motivação: O que explica que pessoas reconhecidamente pobres como eram os macedônios tivessem tanta alegria e disposição para participar de uma arrecadação de fundos para outros pobres de Jerusalém? Como se explica que doar dinheiro representou para essas pessoas tanta alegria, quando para nós costuma representar exatamente o contrário?
O centro da prédica estaria no conceito da disposição para ajuda material como graça de Cristo (v.9) ou graça de Deus (v. l + 6s). Na economia a graça, isto é, o dom, a dádiva, o presente de Deus/Cristo materializa-se em forma de dádivas concretas (= dinheiro, posses, bens.etc.). Isto é envolvente e causa alegrias à medida que é expressão do amor. Aqui a teoria pouco ajuda. A comunidade e as pessoas teriam que ser motivadas para praticar a disponibilidade. A prédica, a nosso ver, seria tanto mais envolvente quanto mais pudesse trabalhar com exemplos e experiências de disponibilidade tiradas da vida real. E a vida real é muito rica neste particular. É só abrir os olhos. Pergunta que poderia servir de orientação aqui seria: Em que medida concreta nossa comunidade está ajudando aos pobres que vivem em seu meio ou ao seu redor?
5. Bibliografia
PIXLEY, J. e BOFF, C. Opção pelos pobres. Petrópolis, Vozes, 1987. COMBLIN, J. Segunda epístola aos Coríntios. Petrópolis…, Vozes…, 1991.
UNDURRAGA, J. Reflexões sobre o direito dos pobres à igualdade. In: VV.AA. Direitos humanos, direitos dos pobres. São Paulo, Vozes, 1991, p. 123-136.
WOLFF, G. Pago para ter! In: H. Malschitzky e U. Wegner (coord.). Proclamar Libertação. São Leopoldo, Sinodal, 1987, p. 18-28, v.XIII.