Prédica: Romanos 1.1-7
Leituras: Gênesis 17.1-13 e Lucas 2.21
Autor: Albérico Baeske
Data Litúrgica: Ano Novo Circuncisão e Nome do Senhor
Data da Pregação: 01/01/2000
Proclamar Libertação – Volume: XXV
Tema: Ano Novo
In memoriam
do pai na prática da fé,
Dom Hélder Câmara
1. Pregar no decorrer do tempo
Não faltarão perspectivas e comentários, rasos e profundos, acerca do dia 1° de janeiro de 2000. Com certeza, alguns aproveitáveis como ganchos para a contextualização da mensagem bíblica. Dificilmente como substitutos da Palavra. Mantemos a prioridade (mensagem bíblica, depois o seu gancho) ex-officio e de ofício ou de coração e em fé? A data é propícia para auto-análise das pessoas que pregam quanto à sua motivação última.
1) Ruminemos (Lutero):
1. Tu que dos tempos és Senhor, os fardos destes, por favor, em bênçãos nos transforma. Agora que Cristo Jesus mostrou o centro em clara luz, conduze-nos à meta.
2. Tudo que o homem empreender aos olhos seus vai se esvair, se tu não o fizeres. Os anos que por graça dás fenecem, se tu não virás guiar-nos como queres.
3. Quem diante de ti subsistirá? Com suas obras passará a pessoa com seus anos. Somente, ó Deus, os anos teus hão de durar, enquanto os meus se passam como os ventos.
4. Ninguém conhece os dias seus, mas tu és sempre o mesmo Deus por anos sem medidas. Sob tua ira os dias vão, mas tua graça irá então encher as mãos vazias.
5. E assim só esses dons, Senhor, medida sejam e valor dos dias e dos anos. Falhas e vícios no porvir a ti já hão de subir, nem omissões, enganos.
6. Só tu o Eterno és, que a mim início mostras, meio e fim no decorrer dos tempos. A tua graça volta então a nós, seguros por tua mão daremos firmes passos. (Jochen Klepper, 1902-1942, in: Evangelisches Gesangbuch [EG], n° 21, adaptação de uma tradução de I. Kayser.)
2) Eis o movimento de Deus sem monumento humano! Deus puxa os pregadores e as pregadoras para dentro da sua ação. Ele quer que reflitam a esta e esqueçam das suas ideias, anseios e sonhos a respeito da peleja de Deus. Praedicatio gratiae Dei conturbat omnes praesumptiones (M. Lutero, WA 31/11, 49.14), a começar pelas presunções das pessoas que pregam. Deus se diverte à custa dos que o julgam a partir da história, tal qual ela nos parece. Ele é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó e não o deus dos filósofos (B. Pascal). Chama seguidores e seguidoras, não comentaristas; discípulos e discípulas, não pessoas virtuosas que buscam inspiração nele quando lhes dá vontade ou sentem necessidade.
Para entender Deus e o seu projeto, precisamos perguntar a Deus, não a nós. Ele toma posse da existência dos pastores e pastoras — da sua cabeça e da sua barriga, a fim de que não se acomodem numa cadeira, mas que usem os pés (cf. Is 52.7; Na 2.1; Mc 1.16-20 par.; 15.40s. par.; Jo 1.35-42; Rm 10.15; 16.19-21). Sejam, pois, menos teólogos e mais teo-lógicos (K. Adloff), que andam conforme a lógica de Deus com a terra e o que nela existe (SI 24.1 / l Co 10.26). Em absoluto é adequado o nosso cristianismo — uma liturgia antes social que religiosa, um doce cristianismo lírico, com muitas reminiscências (G. Freyre) do cultivo dos eus teomaníacos e do culto aos mesmos — no que somos craques.
Poucos descrevem tão agudamente essa existência como S. Kierkegaard:
Pastores cristãos, eis o que precisamos… […]; pastores capazes de dissecar a massa e fazer dela pessoas individuais [responsáveis e responsabilizadas, teônomas]; pastores que não façam exigências demasiadamente elevadas ao estudo e que nada queiram menos do que dominar; pastores que possivelmente dominem a arte de falar, mas que não dominem menos a arte de silenciar e de tolerar; pastores que, sendo conhecedores dos corações, tenham aprendido não pouca moderação no julgar e condenar; pastores aos quais primeiro a arte de sacrificar-se tenha ensinado a agirem em sua autoridade; pastores que estejam preparados, educados e formados para a obediência e o sofrimento [por causa do evangelho], de modo que possam amainar, admoestar, edificar, tocar e também obrigar — não por meio de poder, nada menos do que isso, e, sim, obrigar pela própria obediência [ao evangelho] e, sobretudo, suportar todas as manias do doente, sem deixar-se perturbar, tão pouco como o médico se deixa perturbar pelas invectivas e o espernear do paciente durante a operação. (Religion der Tat — Sein Werk in Auswahl [ed. E. Geismar], Leipzig : Kröner, 1930, p. 9; tradução I. Kayser.)
3) Dificilmente os indivíduos que pregam iniciam do zero. Eles são confrontados com os efeitos das prédicas já havidas antes. Fato que frustra a muitos, pois choca-se com a sua visão predileta de uma comunidade (viva, engajada, solidária, etc.). Acabam se questionando: afinal, qual o sentido do meu serviço? Já que pouco ou nada dele vêem, um grupo crescente desiste de pregar. Esta vicissitude provoca duas constatações relativas ao ministério da pregação. Uma fundante, e outra derivada.
A fundante: não vem ao caso o que enxerga e acha aquele que prega, mas o que ele é. O pregador e a pregadora são coram Deo. Logo, a sua preocupação muda totalmente de figura. Eu nunca me assustei por não saber pregar direito, no entanto me assustei e tremi, muitas vezes, por ter falado e precisar falar diante da face de Deus a respeito da grande majestade e do ser divino (M. Lutero, WA TR 2, 144.17-20). Tal situação conduz a pessoa que prega a buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33). Ainda assim, Deus chega ao seu reino e realiza a sua justiça sem e contra os que pregam. Antes de terem aberto a boca, Deus já agiu e continua agindo — só que nós, fixados em nós, em nossas atividades e projetos mil, nem o notamos. Conseqüentemente, perdemos a alegria, a certeza e a convicção no nosso serviço. E, o que é pior, jogamos fora a graça de cooperar no reino de Deus com a pouca força que temos (cf. Ap 3.8). O grande Deus sempre valoriza a nossa pequena força. Dito de modo diferente: não é que nós façamos a nossa parte e Deus faça a sua; pelo contrário, ele tira de nós o nosso (que nos cega, paralisa e leva a entregar os pontos) e volve os nossos olhares, mentes e corações para o que ele efetua. Abre a nossa compreensão para onde, quando e como ele lança mão do nosso engajamento. Não o que sobra para nós fazermos ainda — isto seria sinergismo escravizante! Mas o que ele sua sponte insiste em realizar através de nós. Eis a liberdade de Deus, que nos concede alívio, deixa-nos dormir melhor e empregar bem a nossa fantasia e criatividade.
E ser corajosos — postura derivada da mencionada lida de Deus conosco. Pois, volta e meia, os pregadores e as pregadoras se questionam: que direito temos nós, seres humanos falhos, de mostrar à comunidade os seus defeitos, inclusive o tédio e a inércia perante a palavra de Deus? Contudo, esta pergunta não é subterfúgio para evitar o sofrimento? Sofrimento que inicia com a acusação de que falaríamos de cima para baixo e que segue com que os ouvintes mostrem também os nossos podres, resultando em demissão por parte da paróquia, e que se consuma na dúvida existencial em relação à nossa vocação para o ministério. Justamente por isso o serviço de pregar custa caro. Nós não o conseguiremos baratear! Ora, pessoas encarregadas da pregação ficam sem defesa e apelação. Deus, no entanto, as guarda do pecado de se sentir e declarar vítimas, vítimas incurvatas in se ipsas. Ele lhes dá a perceber quem são em verdade. Jamais as abandona, como talvez uma comunidade o faça, despedindo-as. Muito mais ainda: ele as talha para a sua salvação (cf. Ap 3.19). De semelhante modo, Deus trabalha a comunidade que rejeita ser mostrada pecadora pela sua Palavra. Deus a conscientiza de que é ele quem lhe comunica a Palavra arrasadora e salvadora, através do seu porta-voz desajeitado e indigno. Este é o jeito de Deus, e que a comunidade, da próxima vez, para o seu próprio bem, aguente, proteja e console o fraco porta-voz, pois outro tipo ela não terá. Sabendo disso, os pregadores e as pregadoras ouvem o conselho de Lutero (op. cit.): … sejam fortes e orem!.
2. A comunidade
1) Prédica e comunidade se correspondem. Prédica sem comunidade concreta vira demagogia. Sucede a adulteração da prédica. Comunidade sem prédica contextualizada vira clube social e recreativo. Sucede a adulteração da comunidade. Comunidade e prédica dependem uma da outra. A comunidade concreta contextualiza a prédica. Sem aquela, esta evapora. A prédica contextualizada organiza e articula a comunidade no seu lugar vivencial. Sem aquela, esta sucumbe no seu meio. A comunidade localizada é vaso e destinatária da prédica que confronta, acerta e levanta. A prédica que confronta, acerta e levanta é arrimo e expressão da comunidade sensível ao seu meio.
Essa é a razão pela qual as pessoas que pregam são pedestres por opção na e junto à comunidade. Na medida em que aumenta a quilometragem das suas andanças a pé, diminuem as ilusões nutridas pelo pregador, relativas à comunidade. Mesmo assim não desfaz nela, nem a larga. Demagogos desmascaram a comunidade, pregadores descrevem a sua condição de esposa de Jesus Cristo (cf. 2 Co 11.2s.; Ef 5.25-27,30,32). Esta é de origem duvidosa e cheia de vícios, é verdade, porém escolhida, para surpresa de todos e para humilhação dela própria, por um marido cujo amor transforma.
2) A seguir, menciono características de uma comunidade na qual e com a qual percorri muitos quilômetros. Recordando a nossa companhia de viandantes, o texto-base para a prédica se toma plástico para mim, e aquela comunidade, à luz do texto, real — e querida. Por motivos óbvios, pastorais e de espaço, restrinjo-me a um breve esboço. Enfatizo, todavia: sem ter cristalino onde e entre quem pregar, tanto o texto bíblico quanto a pregação (tranquilo, em qualquer caso!) não passam de composição, de exercício, de caligrafia (Freyre).
Na comunidade lembrada, a maioria se conhece pessoalmente, incluindo problemas agudos, ligados a preferência política partidária, sobrevivência econômica e relações familiares. Reina tolerância, de certo modo compreensão, para com particularidades pessoais dos indivíduos (p. ex., inclinação sexual e religiosa) e exercita-se solidariedade (financeira, em parte, mas, sobretudo, carregando pessoas em luto).
Uma minoria expressiva sente responsabilidade para com as camadas excluídas da população, dando dinheiro, tempo e trabalho pessoal para atividades que visam minimizar as diferenças sociais. Existem membros que cooperam com outras igrejas no estudo da Bíblia, encarnado na nossa realidade, e participam em iniciativas da sociedade civil na construção da cidadania, até exercendo cargos políticos (oriundos de eleição ou por indicação). Outros colocam-se à disposição para manter contato com membros afastados ou recém-chegados, para coordenar cultos e reuniões comunitárias.
Especialmente algumas mulheres e um punhado de jovens sentem os desafios que o evangelho coloca para a fé, por via de regra identificada com mentalidades e atitudes aburguesadas e interpretada como seguro contra as adversidades da vida e sustentáculo da estrutura familiar vigente. Algumas pessoas se revelam preocupadas e engajadas em aprofundar de forma mais vigorosa os desdobramentos da fé em Jesus Cristo. Discordam do espírito e da praxe do atendimento eclesiástico ainda predominantes na comunidade. Denunciam o imobilismo da maioria no tocante à situação das massas descartadas e ao fatalismo generalizado do povo. Destapam a atração e sedução praticadas pelo supermercado religioso onipresente. Enfrentam o múltiplo compromisso religioso de tantos membros. Encaram, de peito aberto e em responsabilidade, a questão da disciplina fraternal. Tudo bastante animador! Não obstante, continuam dependentes da figura do respectivo pastor e da sua visão comunitária e teológica. Mudando-se tal referência, aquele ela diminui, ou morre aos poucos. Falta ainda arraigamento bíblico e confessional que conforme as pessoas para desempenharem o sacerdócio dos crentes batizados (cf. At 8.39; l Pe 2.9s.; Ap 1.6). O sacerdócio comum e mútuo, exercitado em conjunto — primeiro intra e, depois, extra muros ecclesiae (cf. l Co 12-14; Rm 12.3-8). E isso, de pronto e com determinação alegre, independentemente de eventuais prós ou contras da pastorada passageira (cf. 2 Co 1.24; 6.1). Quando o sacerdócio dos crentes batizados ocorrer sem insistência, tutela e estratificação clericais, o evangelho atingirá, envolverá e transformará a comunidade inteira e convencerá o mundo.
3. O texto-base para a prédica
Romanos 1.1-7 é uma obra-prima do teo-lógico Paulo. Ele estrutura com cuidadosa exatidão o trecho, no que se refere a formulação e forma, e muito mais ainda quanto ao conteúdo.
Paulo usa o modelo da carta grega (cf. At 15.23; 23.26; Tg 1.1), onde se seguem cabeçalho, adscrição e saudação (E. Käsemann). Todavia, o faz com grande liberdade (parecido com Dn 4.1-3); principalmente no tocante ao cabeçalho, que Paulo aumenta de tal maneira que quase chega a resumir toda a carta, e à saudação, que substitui pela bênção. Algo inédito, também quando comparado às suas outras epístolas.
Em relação ao conteúdo, na parte do cabeçalho o remetente se apresenta (v. 1), resume a sua mensagem (vv. 2-4) e define a sua incumbência (vv. 5s.); na adscrição, coloca em evidência a categoria e a posição dos destinatários (v. 7a-c), e, na saudação, aliás na bênção, roga-lhes os benefícios do evangelho (v. 7 d-f).
A seguir, destaco aspectos de Rm 1.1-7 para a caminhada, no decorrer do tempo, da comunidade recordada, bem como de quem prega junto dela. Fico, pois, longe de mergulhar na profundidade da perícope.
1) Paulo não escreve como indivíduo, por bel-prazer ou motivos particula¬res. Ele se confessa escravo de Cristo Jesus (v. 1a; Fp 1.1; a tradução servo é eufemismo e não capta o tertium comparationis paulinum, veja abaixo), a saber, do nosso Senhor (v. 4d). Paulo não é escravo dos cristãos e das cristãs em Roma. Ambos são livres um do outro — e ligados um ao outro, sempre devido ao mesmo Senhor comum. Eis o seu lema: ' 'Não vale o que eu digo, nem o que tu dizes, nem o que ele diz, mas vale o que o Senhor diz (A. Agostinho; cf. l Ts 4.15; l Co 7.12,25). O nosso Senhor libertou Paulo e os romanos do autobloqueio (cf. Rm 7.7-25; Gl 5.17), do seu voltar-se sobre si próprios (cf. Rm 6.16-23; 13.11-14; Gl 1.16; l Co 4.6-8; 5s.; 10.23-33), das coisas do presente e dos medos do porvir (cf. Rm 8.31-39), das amarras sociais que os reduzem a objetos de terceiros (cf. 6.17s.; 12.1s.; Gl 5; l Co 3.21-23; 6.12-20; 7.23). Chegaram à jubilosa libertação dos ímpios grilhões deste mundo (Declaração de Barmen, 1934, 2° art.; cf. G. Gutiérrez, Teologia da libertação, Petrópolis : Vozes, 1971, p. 146-56; L. Boff, Jesus Cristo Libertador, 13. ed., Petrópolis : Vozes, 1991, p. 25-37.231-4). Escravos e escravas de Jesus Cristo são livres, livres como ninguém. São livres porque ele é o seu Senhor, não o seu amigo, companheiro ou irmão. São libertados como ninguém, porque Jesus Cristo per¬manece junto deles:
Está bem perto sempre, / vem justo me declarar. / O que ele a mim concede / nunca há de conceder / patrão nenhum ao servo. / Do sono o tirará, / a fim de conduzi-lo / a seu serviço já. (J. Klepper, EG, n° 452.4; tradução de I. Kayser.)
2) Paulo se confessa chamado para ser apóstolo (v. l b; cf. Gl 1.1; 2 Co 1.1), acrescentando logo que os destinatários também são chamados para serem de Jesus Cristo (v. 6b) e são chamados [de novo, termo idêntico!] para serem santos (v. 7c; cf. l Ts 1.4; 2.12; 4.7; l Co 1.2; 6.11). O remetente e aquelas pessoas a quem se dirige (v. 7a) — provavelmente na primavera do ano de 56 d.C., em Corinto, na casa de Gaio (cf. 16.23) (P. Stuhlmacher) — todos foram chamados. Todos são de Jesus Cristo, agora e depois, em toda parte e para sempre (cf. 7.1-6; 14.7-9; l Ts 5.9s.; 2 Co 5.14s.,17s.). O amor de Deus alcançou, envolveu e transformou a elas (cf. 1.7b) e a Paulo. Todos são santos porque foram conduzidos a Jesus Cristo, a quem é impossível chegar por si próprio (cf. M. Lutero, in: Livro de concórdia [LC], 4. ed., São Leopoldo : Sinodal; Porto Alegre : Concórdia, 1993, p. 452,38s.).
Ninguém consegue se chamar a si mesmo. Deus lança mão de mil maneiras, cada hora é hora para ele, e não lhe importam as paragens da gente. Ele chamou a Paulo (cf. Gl 1.15s.; l Co 9,ls.; 15.8[-11]; 2 Co 4.6) perto de Damasco/ Síria (cf. At 9. l-19a par.) e os destinatários da epístola em Roma ou em qualquer outro lugar do mundo (cf. Rm 16.3-5 / At 18.2[.26]).
O chamado de Deus
— une as pessoas, até então estranhas entre si, ou das quais apenas se ouve falar que vivem no discipulado (cf. Rm 16.19a; l Ts l.6-10; Gl 1.22-4) O chamado de Deus cria alegria entre elas e por causa delas (cf. Rm [1. l ls] 15.32; 16.19b; l Ts 2.17-20; 3.6-9; 2 Co 2.1-3; 7.4; 8.1-5; Fp l.25s.; 2.l7s., 28; Fm 7,20). Suscita a comunhão humana, objetiva, o verdadeiro ecumenismo, indepen-dente de necessidades, interesses e reivindicações pessoais;
— torna as pessoas humildes. O chamado derruba toda a consciência subjetiva de ter sido chamado, entendido como privilegiado e feito superior perante outra gente. O fato objetivo do chamado de Deus exorciza o egoísmo e o orgulho, o entusiasmo e o messianismo das pessoas chamadas (cf. J. Fischer, O homem — um entusiasta?, in: M. N. Dreher (org.), Reflexões em torno de Lutero, São Leopoldo : Faculdade de Teologia, 1981, v. l, p. 49-69);
— consigna às pessoas tarefas específicas (não especiais!). A quem Deus chama, ele também encarrega. Ele chama — para o serviço. Paulo, para ser apóstolo, e o pessoal de Roma, para os mais diversos serviços (cf. Rm 12.3-8; l Co 12-14). Não há convocação e nomeação autônomas, nem hierarquia entre os serviços. O chamado é comum, o serviço diferente, exercido, porém, de maneira compartilhada e co-responsável (cf. E. Käsemann, Perspectivas paulinas, São Paulo : Paulinas, 1980, p. 117-36; J. Moltmann, La Iglesia, fuerza del Espiritu : hacia una eclesiología mesiánica, Salamanca : Sígueme, 1978, p. 347-53);
— aplica às pessoas a graça (cháris) de Deus. Paulo escreve: viemos a receber graça e apostolado (Rm 1.5a; cf. 12.3a; 15.15c) e temos diferentes carismas (charísmata), segundo a graça que nos foi dada (12.6a). O apostolado e os demais carismas são a graça de Deus em ação, aqui e agora. Paulo trabalhando de apóstolo e os romanos exercitando os carismas dados a eles só podem confessar que a graça os alcançou, envolveu e transformou. Uma existên¬cia assim não é nada fácil e nem um pouco agradável, sobretudo a apostólica, sempre controvertida e submersa em mil e uma atribulações. Paulo o aprendeu a duras penas e articulou a sua aprendizagem (cf. l Ts 2.2-10; Gl 1.6-10; 4.13-15; 6.17; l Co 4.9-13; 2 Co 1.8-11; 2.14-7.4; 10-13; Fp 3.2-14; [Rm 16.17-20]), concluindo que aquela graça basta e que ela se impõe — do jeito dela (cf. 2 Co 12.1-9). Quanto mais apostólicos, tanto mais todos os… que estão em Roma (Rm 1.7ab) granjeiam idêntica experiência (cf. 1 Ts 2.14-6; 3.3; 2 Co 1.3-7; Fp 1.29s.; G. Vicedom, A missão como obra de Deus, São Leopoldo : Sinodal, 1996, p. 92-8). Essa é a razão pela qual o apóstolo curtido lhes envia a bênção: graça… e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (Rm 1.7d-f; cf. 1 Ts 1.1; Fp. 1.2; Gl 1.3; Fm 1,3; l Co 1.3; 2 Co 1.2).
3) Paulo se confessa separado para o evangelho de Deus (Rm l .lc). Diz: [eu fui] separado (passivum divinum; cf. Gl 1.15; Jr 1.5) e não: eu me separei. O grupo dos fariseus, do qual participou (cf. Fp 3.5s.; At 22.3s. par.), se auto-separou. A auto-separação se origina da autojustificação individual e grupai. Ela é o humo para a sociedade que se autocria e auto-sustenta, que tem a sua finalidade em si e que vive do desprezo e da exclusão dos outros. Paulo foi salvo de tal mentalidade e estilo de vida (cf. Fp 3.7s.). Daí a sua insistência na inconformidade dos romanos (cf. Rm 12.Is.; W. Altmann, A crise da identi¬dade eclesial e a inconformidade de Cristo — reflexões sobre a identidade da IECLB, in: G. Burger, Quem assume esta tarefa?, São Leopoldo : Sinodal, 1977, p. 282-95).
Separação e inconformidade, segundo Paulo, se fundam no evangelho de Deus. De Deus é o evangelho. Deus o concebeu e projetou, preparou e realizou de antemão (cf. Rm 8.29s.), antes de todos os séculos (Credo Niceno, in: LC, p. 20). Para os seres humanos, inaudito e imperceptível, inconcebível e impenetrável (cf. Rm 11.33-36; [16.25-7]; Gl 1.11s.; l Co 2.7-9). No entanto, o Espírito de Deus, gratuitamente, faz o seu evangelho audível e perceptível, concebível e cristalino (cf. Rm 8.11,14-16; l Co 2.10-16; 12.3c; M. Lutero, in: LC, p. 371.6). Deus o prometeu por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras (Rm 1.2; cf. l Co 15.3s.) e atualmente o anuncia mediante Paulo (cf. Rm l.lc,9; l Co 1.17; 15.1). Em todo o mundo, inclusive onde o apóstolo não conseguiu chegar ainda, mas chegará, com o apoio e o auxílio dos romanos (cf. Rm 15.19b-24).
Para sublinhar a comunhão no evangelho de Deus e a sua partilha ecumênica entre os destinatários e o remetente, Paulo coloca um credo (Rm 1.3s.). Este lhe serve de resumo do evangelho de Deus; ou seja: o seu Filho não é o fundador do evangelho, mas o conteúdo peremptório deste (Käsemann). Os exegetas contemporâneos consultados mostram que se trata de uma citação anterior a Paulo (bastante divulgada na cristandade de então?), que este emoldura com formulações típicas suas: seu Filho (v. 3a) e nosso Senhor (v. 4d). [De momento, não há possibilidade de apresentar e analisar as descobertas da pesquisa bíblica e tirar delas consequências comunitárias e pastorais. Quem quer perseguir esta particularidade aliciante do texto-base pode valer-se dos comentá¬rios relacionados abaixo.]
No sentido da prerrogativa da presente abordagem de Rm 1.1-7, assinalada acima, prefiro ressaltar que o credo transcrito (sem a moldura paulina)
— confessa a Jesus, o judeu, como convém a cristãos (cf. F.-W. Marquardt; adaptando o título de sua cristologia: Das christliche Bekenntnis zu Jesus, dem Juden, Kaiser / Gütersloher : Gütersloh, 1990s., v. l [1993, 2. ed.] e v. 2). O evangelho de Deus remete aos judeus, já que Jesus veio da descendência de Davi. Eles e a sua Bíblia (cf. Rm 9.4s.) constituem parte integrante deste evangelho, uma vez que ele não depende de quem quer, ou de quem corre, mas da misericórdia de Deus (9.16). Segundo Paulo, os cristãos e as cristãs são enxertados no meio deles, e os judeus formam a raiz que os sustenta (11.17s.). De vez e para sempre, os cristãos e os judeus são interligados pelo evangelho de Deus (cf. Gl 6.16). Paulo desdobra tal brutum factum salutis em Rm 9-11 e insiste numa convivência entre ambos, permeada por este evangelho (cf. Proclamar Libertação São Leopoldo : Sinodal, l998, v. 24, p. 255-9);
— confessa a Jesus secundo a carne (katà sárka). Jesus é ser humano rompido; isto mesmo — e só! Desempenhando alegremente todas as faculdades humanas e sujeito a todas as nossas contradições. Nada de humano lhe é estranho. Quer ser e permanecer humano, totalmente dependente de Deus. Obediente a Deus, mas aí existencialmente atribulado. Não compreendendo Deus, todavia confiando nele, inclusive quando abandonado de vez. O pobre homem Jesus tentado (Lutero). Solidariza-se incansavelmente e ao extremo com os semelhantes. Pessoa alguma o pode decepcionar ou desanimar na sua opção pela vida solidária, que custa a sua própria vida (cf. L. Boff, op. cit., p. 60-73; R. R. Ruether, Sexismo e religião, São Leopoldo : Sinodal, 1993, p. 115-8);
— confessa que esse ser humano, obediente a Deus e solidário com os outros até o ponto máximo, e que leva a pior, foi empossado (horístheís) como Filho de Deus… pela ressurreição dos mortos (cf. Gl 1.1). Resultado da intervenção implacável do espírito de santidade, ou seja, do Deus que não pára de agir conforme o seu plano (cf. M. Lutero, Obras selecionadas [OS], São Leopoldo : Sinodal; Porto Alegre : Concórdia, 1993, v. 4, p. 123-54; H. Berkhof, La doctrina del Espírítu Santo, Buenos Aires : La Aurora, 1969, p. 121-34). Assim, Deus reconhece, reforça e universaliza a vida e luta de Jesus, antes e na cruz. De modo que este, empossado como Filho de Deus, está em condições de voltar a simpatizantes e inimigos para convencê-los da sua confiança em Deus e da sua vida solidária para com os seres humanos. Ele é ubíquo e onífero. Chega para contagiá-los com ambas. Doravante ninguém se pode prevenir e esconder da sua ofensiva irreversível neste sentido.
4) O Filho empossado por Deus emprega pessoalmente Paulo (cf. acima) nesta sua ofensiva mundial (apostole). Paulo encara a incumbência para louvor [honra] do seu nome (Rm 1.5b; cf. v. 1.5a). O empossado, o nosso Senhor, visa e provoca destarte a obediência da fé no meio de todos os povos [que ainda não tomaram consciência nem tiraram consequência do seu emposse] (éthne) (v. 5cd). Paulo corre o mundo todo e anuncia no seu nome, quer dizer, o próprio está presente e age (cf. l Ts 2.13; l Co 6.11; 2 Co 5.20; At 4.10-12). Este cria a obediência da fé: contagia os ouvintes com a sua confiança em Deus e com a sua vida solidária.
Para Paulo, fé e obediência são permutáveis (cf. Rm 1.8; 15.18; 16.19; l Ts 1.8; 2 Co 10.5,15). Estabelece uma ligação intrínseca entre fé e obediência. Fé é obediência, e vice-versa. Não se refere à ética, mas ao fato de que aquele que ele proclama em verdade alcança, envolve e transforma as pessoas (cf. 2 Co 10.4-6). Tal certeza faz também Paulo escrever aos romanos. Toda a sua epístola está a serviço da obediência da fé e à espreita de que ela se realize (cf. Rm 1.5 e 15.18 [16.19,26]!).
A obediência da fé acontece no meio de Iodos os povos. Entre todos eles haverá amados de Deus e chamados para serem santos, como já existem em Roma. Os amados e santos vivem com os seus povos, mas não como eles, vivem por eles e, por isso, às vezes, resistindo a eles (cf. l Ts 2.14-16; G. Vicedom, op. cit, p. 71-7). Paulo enfatiza a unicidade e a universalidade da obediência da fé. Já que ela surgiu numa parte do mundo, inclusive no seu centro, quer servi-la agora no seu ponto oposto, na Espanha (cf. Rm 11.13; 15.16,23s.,28).
Paulo é um homem controvertido, e o seu apostolado, hostilizado. Ele, todavia, quando defende a si e ao seu serviço, o faz asseverando que Jesus Cristo optou por ele (cf. Gl 1.6-10; l Co 9.16-27; 2 Co 4.13-5; M. Lutero, OS, 1996, v. 6, p. 286,35-299,15). Logo de início Paulo se nega a honra de originalidade (A. Schlatter). A opção que experiência o incita a rejeitar colocações que começam com talvez e terminam com quem sabe. Assim fala quem optou por Jesus Cristo, em absoluto não aquele que foi feito servo, separado e recebeu graça e apostolado. Paulo faz assertivas, não apenas comparações (cf. M. Lutero, OS, 1993, v. 4, p. 216; ganha redobrada importância K. Barth, Carta aos Romanos [tradução e interpretação Lindolfo K. Anders], São Paulo : Novo Século, 1999, p. 27-30). Pois
estamos certos e seguros de que agradamos a Deus, não pelo mérito de nossa obra, mas pelo favor da misericórdia que nos é prometida; e se fazemos menos ou o fazemos mal, [estamos certos e seguros] de que no-lo não imputará, mas que nos perdoa e corrige paternalmente. Esta é a glória de todos os santos em seu Deus. (P. 212.)
4. Sugestões para a prédica
Estando, por ocasião da virada do milênio, junto à comunidade recordada, eu estruturaria a prédica assim:
1) Inicialmente, a bênção. Dificilmente há algo mais sóbrio e confortador para uma comunidade entrar no terceiro milênio.
2) Aprofundamento, alargamento e aplicação desta bênção através dos atributos chamada para ser de Jesus Cristo e chamada para ser santa. Ora, a comunidade é isso; é querida mesmo (também pelo pregador) — devido à ação do evangelho de Deus. Cabe, de fato, um grande enaltecimento dela qua grupo de pessoas que Deus, mediante Jesus Cristo, chamou e fez santa. Enaltecimento que surpreende e alegra, em primeiro lugar, a comunidade — e a envergonha.
3) Desdobramento da dignidade imputada à comunidade pelo evangelho de Deus:
a) a comunidade recomenda o mundo ao empossado / nosso Senhor, e indica este ao mundo. Sob pretexto algum se impõe ao mundo;
b) a comunidade descobre o sentido tia sua existência para a obediência da fé entre todos os povos, não apenas entre seu povo; a sua existência separada, inclusive, no seu próprio povo — é transnacional e transcultural, na acepção verdadeira dos termos;
c) a comunidade vive a sua pró-existência (não apenas a sua coexistência) com desprendimento e intrepidez, pois não a inventou nem se automantém nela; justamente por se tratar de veicular vida e salvação (Lutero) em, por e com o nosso Senhor / o empossado; nada é dela e para ela — tudo é dele e para ele; aí ela nem mesmo pode fracassar, pois também os seus fracassos são dele; o espírito de santidade, que empossou o abandonado na cruz, também contornará aqueles fracassos da separada;
d) a comunidade descobre e vive o ecumenismo onde as mais diversas pessoas se acham e se alegram umas pelas outras em consequência da ação do nosso Senhor / empossado junto a elas todas;
e) a comunidade descobre os carismas dados a ela e os exercita no serviço comum a todos, mútuo e, em conjunto, além das suas hostes; a movimentação alegre e harmoniosa do organismo multiforme dos carismas elimina a hierarquia (a ordem sacra/sagrada [Moltmann] das coisas, instituições e pessoas), conforma as pessoas em comunhão serviçal intra et extra muros ecclesiae, e ensaia — sem autopromoção — características de uma sociedade universal sem desprezo e manipulação, sem preeminências e exclusões.
4) A vivência da dignidade imputada à comunidade pelo evangelho de Deus custa caro a todos quantos forem alcançados, envolvidos e transformados, a iniciar por Jesus, o judeu. No terceiro milênio não será diferente. Por isso, novamente, graça a vós outros e paz da parte de Deus.
5. Lembretes para a liturgia
Na parte que caberia a mim na liturgia inicial e final, colocaria em evidência o voto de bênção.
Com relação à confissão dos pecados; mencionaria atitudes minhas que dificultam o desempenho do sacerdócio dos crentes batizados, a começar pela omissão de não o ter lembrado suficientemente e com a necessária fantasia. O que vale dizer que falhei no amor à comunidade. Procuraria animar a comunidade a se lembrar, em voz alta ou em silêncio, de quando ela não viveu o sacerdócio, a começar pelo menosprezo do culto coordenado por um membro.
No que tange à oração final: animaria os presentes a formular em uma só frase os seus medos e esperanças em vista da virada do milênio, os carismas que existem na comunidade, mas não são exercidos, e aqueles que não existem, mas se fazem tão necessários, por exemplo: o de dizer a colegas de trabalho e vizinhos, com todas as letras, que a vida é mais do que churrasco e CTG; ter sentimentos religiosos é tão pouco obediência da fé como não compartilhar tudo o que se é e tem. Depois de cada manifestação diríamos em conjunto: Agradecemos ao nosso Pai e ao nosso Senhor Jesus Cristo por sua graça e sua paz''.
Insistiria bastante com a comunidade para que ela sugerisse hinos, mormen¬te após a prédica. Eu proporia de IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL [IECLB], Hinos do povo de Deus : Hinário da IECLB, 5. ed, São Leopoldo : Sinodal, 1984, n° 35, 37.3.4, 156, 165, 99, 118; e de PASTORAL POPULAR LUTERANA [PPL], O povo canta, Palmitos : PPL, p. 42s., 47, 102s., 158s., 178, 262, 264.
Referências bibliográficas
Textos para ruminar
Com referência a 1.3:
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL [IECLB]. Hinos do povo de Deus : hinário da IECLB. 5. ed. São Leopoldo : Sinodal, 1984. n° 96.
IWAND, Hans Joachim. A justiça da fé. 2. ed. São Leopoldo : Sinodal, 1981. p. 21-34.
LUTERO, Martinho. Obras selecionadas [OS]. São Leopoldo : Sinodal; Porto Alegre : Concórdia, 1992. v. 4, p. 189-214.
Com referência a 2.1:
LUTERO, Martinho. OS. 1992. v. 2, p. 442-7.
—. OS. 1989. v. l, p. 250-6.
Com referência a 2.2:
LUTERO, Martinho. Pelo evangelho de Cristo. São Leopoldo : Sinodal; Porto Alegre : Concórdia, 1984. p. 194-204.
—. OS. 1999. v. 7, p. 92,34-105,11.
Com referência a vida solidária, passim:
COMBLIN, José. A mensagem da Epístola de S. Paulo a Filemon. Estudos Bíblicos, Petrópolis : Vozes, 1987, v. 2, p. 50-70.
Textos para consultar
Com referência a 1.1:
OLIVEIRA, Enoch de. Ano 2000 — angústia ou esperança? São Paulo : Tatuí, 1989.
CALIMAN, Cleto SDB (Org.). A sedução do Sagrado — o fenômeno religioso na virada do milênio. Petrópolis : Vozes, 1998.
Com referência a 2:
BRAATEN. Carl R., ,JENSON, Richard W. (Eds.) Dogmática cristã. São Leopoldo
Sinodal, 1994. v. 2, p. 154-75.
Com referência a 1.3:
KÄSEMANN, Ernst. Na die Römer. 3. cd. Tübingen : Mohr, 1974. p. 1-14. (Handbuch zum Neuen Testament).
WILCKENS, Ulrich. La Carta a los Romanos (Rm 1-5). Salamanca : Sígueme, 1989. v. l, p. 75-99.
BRAKEMEIER, Gottfried. Carta aos Romanos — l a 6. Faculdade de Teologia : Polígrafo, 1982. p. 13-25. (Série Exegese, volume 3, fascículo 1).
STUHLMACHER, Peter. Der Brief an die Römer. Vandenhoeck & Ruprecht: Göttingen, 1989. p. 19-27 (Das Neue Testament Deutsch).
Com referência a 3.3:
BORNKAMM, Günther. Paulo — vida e obra. Petrópolis : Vozes, 1992. p. 274-6.
Com referência a 3.5:
VOLKMANN, Martin. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo : Sinodal, 1998. v. XVI,
p. 77-82.
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia