Prédica: Lucas 17.11-19
Leituras: Rute 1.1-19 e 2 Timóteo 2.8-13
Autor: Teobaldo Witter
Data Litúrgica: 21º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação:28/10/2001
Proclamar Libertação – Volume: XXVI
1. Introdução
Estamos no fim do ano da Igreja. O 21° Domingo após Pentecostes, neste ano, é o último da série. Depois o ano segue com os domingos que antecedem o da Eternidade. E tempo propício para pensar no fim. Fim do egoísmo, fim da indiferença, fim do tempo, fim da morte, fim da exclusão, fim das injustiças, fim das doenças. O ano da Igreja traz, também, em seu bojo o começo de um novo tempo. Advento se aproxima. Pensamos e trabalhamos pela novidade que é criada por Deus. Os textos nos levam a sonhar e lutar por novas relações, saúde, dignidade, gratuidade, nova caminhada. Os textos a seguir querem nos levar a contar com esta possibilidade de novo céu e nova terra.
O texto indicado para a pregação neste domingo é Lucas 17.11-19. O mesmo já foi tratado no Proclamar Libertação, vols. IV, X e XX. É um texto que faz parte da história dos auxílios homiléticos. Sobre a lepra, assunto do texto de Lucas, há um bom auxílio no PL XII, na série alternativa do PL Quer seja oportuno, quer não, mês de fevereiro. A leitura desta reflexão é importante para clarear a questão da lepra.
2. Lucas 17.11-19
V. 11 – O versículo 11 localiza Jesus em sua caminhada para Jerusalém, passando pela Samaria e Galiléia. Ele veio da Galiléia e está passando pela Samaria. O versículo serve de moldura para o início da ação de Jesus e a reação do povo que vai ao seu encontro (os leprosos, no caso).
V. 12 – Jesus entra numa aldeia. Leprosos vêm ao seu encontro. São pessoas de diferentes raças e culturas. A doença e a miséria da exclusão as colocam na mesma estrada. Vão ao encontro de Jesus, mas param ainda distantes dele. Era o que lhes cabia, conforme a lei. Ao avistarem alguém, devem parar e se identificar.
V 13 – A lei manda que gritem: Impuro! Impuro! (Lv 13.45-46). Mas eles gritam diferente, tal qual os trabalhadores do Egito (Êx 2.23-25): Tenha compaixão de nós. A esperança para eles havia acabado. Jesus se revela e os provoca com a sua presença. Com o grito, eles lembram Jesus de sua misericórdia. A miséria destes homens provoca a misericórdia de Jesus.
V 14 – Jesus os vê. Ele ouve o grito, se sensibiliza e vê a miséria dos leprosos. Ele reage: Vão. Não fiquem parados, resignados. Caminhem. Mostrem-se ao sacerdote. Era o sacerdote que dava o atestado de cura (Lv 14.3). Os dez leprosos vão. Em obediência à ordem de Jesus, caminham, apesar de que a doença ainda esteja encravada no seu corpo. Durante a caminhada vem a surpresa, isto é, são curados. Confiança e obediência a Jesus são realidades preponderantes no texto. Nesta caminhada, os doentes encontram saúde.
V 15 – Um dos doentes glorifica a Deus ao se perceber curado. Ele entra numa nova dimensão de vida. O que lhe importa é estar perto de Deus e integrado no seu povo.
V 16 – Um dos dez volta. Ao encontrar novamente Jesus, se põe de joelhos. Com o rosto na terra dá graças a Jesus. Ele percebeu que neste homem o Reino de Deus se torna concreto, real, palpável, visível, na ação da cura. Jesus derrama seu coração generoso e bondoso ao concretizar a compaixão pela qual os leprosos gritaram. O texto destaca que o que vem para adorar, louvar e agradecer é um samaritano. Samaritanos são considerados povo impuro, que se misturam com outras raças, culturas e adoram outros deuses. Era gente de segunda categoria para o povo judeu. No entanto, é este samaritano que cai de joelhos, com o rosto em terra e dá graças a Jesus pela sua obra em favor dos doentes, no caso. Está na dimensão de Paulo, que diz: Por esta causa me ponho de joelhos (Ef 3.14). O leproso curado percebeu que o tempo da graça chegou. Ele dá testemunho do novo tempo em que todo o mundo, no céu e na terra, cai de joelhos diante de Jesus, para a glória de Deus, o Pai (Fp 2.10-11). Ele é o protótipo do novo povo de Deus, recriado e libertado pela ação de Deus em Jesus Cristo.
V. 17 – O amor de Jesus inclui todo o povo e toda a vida e possibilidade de vida. Jesus pergunta pelos outros. Só uma ovelha voltou. Nove não estão aí. É Como Deus pergunta: “Adão, onde estás?”. O amor atingiu em cheio os dez. A insensibilidade dos nove não os conduziu de volta. Onde estão os nove?
V. 18 – Um versículo todo para dizer que apenas o samaritano voltou para dar glória a Deus. O samaritano fora excluído do povo da aliança, conforme o Antigo Testamento. Ele não faz exigências a Deus. Percebe e recebe o amor com as mãos vazias, desarmado. Recebe a dádiva graciosa de Jesus e agradece por ela. Os outros foram felizes e curados para casa, ao encontro dos seus. Mas o samaritano volta para Jesus. Ele vê mais longe. Percebe o novo céu e a nova terra. (Ap. 21.1-5). E não se satisfaz em apenas ser curado. Vem para agradecer. A misericórdia de Jesus o comove.
V. 19 – O samaritano é levantado e enviado por Jesus: “ Levanta-te e vai”. É enviado para a missão. Envolto na capa do amor, é enviado para “ensinar o que Jesus ensinou”. (Mt 20.18-20). Além da cura, também a libertação se torna a realidade para o samaritano. A fé vence o mundo. (1 Jo 5.5). A fé e confiança em Jesus Cristo são a raiz da cura e da libertação.
3. Rute 1.1-19a
O livro de Rute retoma quase a história do povo de Israel. Cada passagem da história, por si só, tem o seu recado. O marido se chama Eli-melec. Eli-melec é a profissão de fé do povo, que significa “Meu Deus é Rei” “ enquanto Deus é Rei, o povo tem sentido na sua vida (Jz 8.22-23).
Assim era no tempo dos juízes (Rt 1.1). Quando depois veio o rei, a situação do povo passou a ser desastrosa, or isso se diz “Morreu Elimelec!” (Rt 1.3). A esposa Noemi, isto é, graça ou graciosa, é a imagem do povo. Reconhecendo Deus como Rei e Senhor, o povo se torna a esposa graciosa de Deus (Is 62.5)
Com o rei humano, começa-se a ferir a aliança concluída entre Deus e o povo, a vida do povo perde a as GRAÇA e enche-se de amargura (Rt 1.3). Os dois filhos são Malon e Quelion, ou seja, doença e fragilidade. Israel e Judá são os dois filhos nascidos da aliança.
Mas esqueceram que Deus é o seu Rei e Senhor e andaram atrás de outros deuses e senhores, por isso foram ficando doentes e frágeis. Israel (do Norte) e Judá (do Sul) foram se acabando aos poucos. O que deles sobrou foi levado para o cativeiro, lá perderam a sua memória, suas raízes, sua fé, sua identidade. Morreram também os dois, Malon e Quelion (Rt 1.5).
O clã, a grande família, a comunidade, já não funcionava como defesa para os pequenos. A atualização e exigência do cumprimento da lei do levirato (Lv 25.23-25) e do resgate (Lv 25.47-49) têm como finalidade fortalecer e defender a pequena família e, conseqüentemente, o clã diante da ambição dos poderosos, dos reis…
O povo e os chefes de família esperam que Rute seja como Raquel e Lia, a nova mãe do povo de Deus (Rt 4.11). Tudo gira em torno da casa, a morte (Rt 1.3-5), a fome (Rt 1.6), mas também a certeza de que Deus continua dando o pão (Rt 1.6b), de que Deus, como nos tempos dos juizes (Rt 1.1), continua sendo o resgatador do povo dessa situação de morte. Na casa está a bondade de Deus (Rt 1.8), está a graça concedida por Deus (Rt 1.9). No clã fortalecido (Rt 2.1) está a fartura (Rt 2.14-18), há mais do que o suficiente e dá para partilhar! Aí está o futuro do povo, nasce o menino, que liberta e resgata a vida de Noemi da morte, do nada e do desespero. Resgata a terra, a família sem nome e sem futuro, traz para Noemi alento, ânimo, vida nova (Rt 4.15). Agora, mesmo sendo velha (Rt 1.12), Noemi tem motivo para viver. Tem escora que a sustenta apesar do quebrar dos anos.
Dizendo eram efrateus, de Belém de Judá (Rt 1.2e), o livro de Rute evoca a profecia que diz: E tu, Belém Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que sairá aquele que é chamado a governar Israel (Mq 5.1). É um camponês, gente do povo, lá do interior de Judá, na vila de Belém. É dos pobres que virá a libertação. O novo Davi virá como descendente de Obed (Rt 4.17-22). Será filho do servo. Fará do serviço ao povo a sua missão. É descendente dos pobres, dos estrangeiros. Será o líder, o chefe das tribos de Israel (Is 42.1-4).
Noemi e Rute participam da caminhada. Este caminhar é proporcionado por Deus, que é a raiz da vida. Nesta raiz a vida é sustentada e a solidariedade é alimentada (Rt 1.16). A solidariedade, a f é e a esperança das mulheres se expressam na afirmação da amiga Rute: O seu povo será o meu povo, e o seu Deus será o meu Deus.
4. 2 Timóteo 2.8-13
Paulo se sente fraco. Na fraqueza anima Timóteo, seu amigo (filho), para ser forte na fé e continuar a luta com Cristo. Orienta para que Timóteo seja zeloso na vida cristã. Lembra que ele, Paulo, anuncia Jesus Cristo, o ressuscitado e descendente de Davi. Lembra que ele, Paulo, está acorrentado por causa de Cristo. Mas a Palavra de Deus não está presa. Não é possível acorrentá-la. Sofrimento, morte e vida, negação e fidelidade são realidades da vida cristã. Apesar da infidelidade humana, Cristo permanece fiel. Esta é a principal chave que liga 2 Timóteo aos outros textos, quais sejam, Rute l.l-19a e Lucas 17.11-19. Deus é misericordioso e fiel. É ele que alimenta seu povo na caminhada.
A solidariedade de Rute com Noemi é ação de fidelidade. É uma fidelidade que leva a confiar no Deus de Noemi. A ação dos leprosos que vão para se mostrar para o sacerdote, apesar de ainda serem impuros, é confiança na fidelidade de Jesus. O agradecimento do samaritano que se ajoelha diante de Jesus, cai com o rosto em terra, testemunha a sua confiança em Deus.
Noemi, Rute, o samaritano e Paulo colocam-se nas mãos de Deus e nele confiam, apesar de tudo que lhes esteja acontecendo. Doenças, problemas familiares, perseguições, exclusões, problemas sociais, culturais e económicos são realidades presentes nos textos. Neste contexto, o povo faz êxodo. Nesta caminhada, Deus age de maneira surpreendente. A sua fidelidade é real.
5. Temas dos textos para mensagem
São vários os temas que são apresentados pelos três textos das leituras e da pregação. No entanto, destacamos os principais temas de Lucas 17.11-19 e os colocamos em sintonia com os textos das leituras:
5.1. O sofrimento
Um dos temas é o sofrimento humano. No texto de Rute temos problemas existenciais de doença, perda da terra e da falta de perspectivas para a vida com dignidade. Em Timóteo encontramos uma situação em que Paulo menciona a sua prisão e seus sofrimentos. A lepra que causa dores, exclusões, discriminação e separação está presente no texto de Lucas. Os leprosos não têm outra esperança a não ser confiar na graça e na compaixão de Jesus. As desilusões e as dores humanas passam pelos três textos.
Que outras dores e sofrimentos humanos estão presentes na comunidade hoje? Como a morte se manifesta em sua comunidade e no mundo ao seu redor? Como a comunidade se comporta diante desta realidade? Fria? Acomodada? Luta para vencer o mundo?
5.2. O clamor
O clamor, isto é, a oração, é uma realidade presente. Senhor, tem compaixão de nós, oram os leprosos. Esta é, também, a nossa oração. A mudança começa com a oração. A oração é o começo de qualquer ação no sentido de promover e resgatar a dignidade humana. A comunidade ora? A comunidade age? Oração e ação andam juntas.
5.3. A caminhada
A caminhada cristã é outra realidade presente no texto. Nas leituras, temos presente o processo de caminhada. Em obediência a uma ordem de Jesus Cristo, os leprosos se põem a caminhar. Na caminhada acontece o milagre da solidariedade e da salvação. O caminhar, sob ordem e envio de Jesus Cristo, é viagem para dignidade, vida e salvação.
5.4. A fidelidade de Deus
Outro tema é a fidelidade de Deus. Deus, por ser fiel e misericordioso, ouve a oração dos leprosos: Tem compaixão de nós, Senhor! Os doentes se deixam envolver por Deus. Confiam na bondade dele. O nosso Deus é dinâmico e vai ao seu encontro e devolve-lhes a razão de viver. Dá sentido para a sua vida. O samaritano entendeu que não é qualquer cura que é importante. A cura é o trampolim para louvar, agradecer e adorar o nosso Deus que salva.
Fidelidade, misericórdia, confiança, salvação e agradecimento estão na mesma dimensão do Reino de Deus.
5.5. A missão
A missão está presente. Rute, a amiga, testemunha a fé seu Deus é meu Deus. O samaritano volta para agradecer. Confessa a sua fé. Faz missão. Ele é enviado por Jesus para a missão. Levanta-te e vai, a tua fé te salvou. Jesus promove a fé. O samaritano é enviado para testemunhar e provocar a fé, até mesmo entre os que não vieram para agradecer.
6. Subsídios para o culto comunitário
Acolher as pessoas com carinho, mencionar visitantes;
Cantar com a comunidade;
Intróito: l Ts 5.24: Quem chama vocês é fiel, e ele é quem vai agir;
Pedir perdão:
– pela nossa insensibilidade diante das dores humanas e falta de solidariedade;
– pela nossa falta de confiança e fé em Deus;
– pela nossa falta de disposição em caminhar sob o envio de Jesus Cristo;
– pelas nossas desculpas para não participarmos da missão
libertadora de Deus, etc;
Anuncio da graça aos penitentes e/ou retenção dos pecados aos impenitentes: Se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprira a sua promessa e fará o que é justo: perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda a maldade (Jo 1.9);
Cantos
Oração de coleta
Leituras: Rute l.l-19a e 2 Timóteo 2.8-13
Cantos
Leitura de Lucas 17.11-19:
Fazer uma ligação entre os textos. Os auxílios podem ajudar nisso.
Dinâmica do papel: após a leitura dos textos, na hora da pregação, distribuir os papeizinhos a cada participante para que escreva uma palavra de um dos textos que lhe foi significativa e o seu nome. Trocar sua palavra com quatro pessoas ao seu redor. Pensar sobre cada palavra. Pedir para que as pessoas falem, em voz alta, a palavra que está no papel que ganhou do vizinho. Aí, colocar o seu papel com nome e palavra no prato no altar. Fazer a ligação entre as palavras lidas.
Fazer ligação entre as palavras que o povo escreveu.
Destacar temas da mensagem (a reflexão no item 5 pode ajudar);
Confessar a fé
Canto
Avisos da comunidade
Canto para recolher a oferta
Intercessões e Oração do Pai-nosso (lembrar das dores humanas, do clamor, da caminhada, da fidelidade, da missão de forma bem concreta);
Bênção e envio
Bibliografia
JEREMIAS, Joachim. Jerusalém no tempo de Jesus. 2. ed., São Paulo : Paulinas, 1986. (Nova Coleção Bíblica, 16).
MESTERS, Carlos. Projetos do Pós-Exílio. Anotações no curso bíblico realizado pelo CEBI, na Faculdade de Teologia Metodista, em São Bernardo do Campo (SP), 1988.
STÖGER, Alois. O Evangelho segundo Lucas. Petrópolis : Vozes, 1974. (Novo Testamento : comentário e mensagem, 3/2).