Prédica: Mateus 10.34-42
Leituras: Jeremias 28.5-9 e Romanos 6.1b-11
Autora: Claudete Beise Ulrich
Data Litúrgica: 6º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 26/06/2005
Proclamar Libertação – Volume: XXX
1.Introduzindo
O Evangelho de Mateus brota da história de uma comunidade que sofre perseguição por causa do anúncio da boa-nova de Jesus Cristo. As primeiras comunidades cristãs estavam inseridas num contexto hostil ao anúncio do reino de Deus. Havia perseguição, tortura e morte. Por isso, a comunidade de Mateus também é marcada pela parusia, pela espera paciente e ativa na volta de Jesus Cristo (Mt 24-25).
No entanto, os/as discípulos/as de Jesus se questionam: Não existe outra forma de viver e anunciar o evangelho sem passar pela perseguição? Até que ponto o testemunho cristão tem que passar necessariamente pela rejeição, enfrentando a violência? Como se posicionar diante da morte violenta? Estas perguntas estão por trás do capítulo 10 de Mateus. O texto previsto para reflexão encontra-se neste contexto. O texto de Mt 10.34-42 apresenta como tema central as conseqüências do discipulado. Mateus responde às perguntas e ansiedades da comunidade cristã por meio da proposta de vida e solidariedade de Jesus.
O texto do Antigo Testamento para a leitura é Jr 28.5-9. Jeremias trava uma batalha com o falso profeta Hananias, que anuncia promessas vãs. Jeremias aponta para a legitimidade da atuação do profeta: “O profeta que profetizar paz, só ao cumprir-se a sua palavra, será conhecido como profeta de fato enviado do Senhor” (Jr 28.9). O texto do Novo Testamento é Rm 6.1b-11. Ele aponta para a novidade de vida, recebida no Batismo (Rm 6.4). “Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos” (Rm 6.7). Portanto, podemos nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo. Isto significa assumir o projeto do reino de Deus, inaugurado por Jesus Cristo.
2. Situando o texto em seu contexto
O presente texto em estudo encontra-se no contexto maior do Evangelho de Mateus (Mt 9.35-13.52). “É o confronto da novidade cristã que vence o velho sistema da Lei (Mt 12.7), revela o mistério do reino e da nova família de Jesus.” (Gorgulho e Anderson, 1981: 99)
Esta parte do evangelho fala novamente da missão de Jesus, fazendo um resumo da sua atividade. “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Jesus vê as multidões e se compadece delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não tem pastor” (Mt 9.36). Jesus é o pastor que tem compaixão do povo que está aflito e exausto. Esta imagem “sustenta o sentido teológico do que se segue, e também da narrativa da paixão. É da compaixão de Jesus, o Bom Pastor (Ez 34; Zc 13.7-9), que vai nascer a missão dos discípulos” (Gorgulho e Anderson, 1981: 104). Jesus se dirige a seus discípulos, afirmando: “A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (9.37-38).
2.1 – Jesus chama e dá autoridade aos discípulos
O capítulo 10.1 inicia com Jesus chamando seus discípulos e dando a eles autoridade, para expelir espíritos imundos e curar toda sorte de doenças e enfermidades. Os discípulos também são apresentados com os seus nomes (Mt 10.2-4). O texto segue com as instruções para os doze discípulos (Mt 10.5-15), as admoestações (Mt 10.16-23) e os estímulos (Mt 10.24-33), as dificuldades (Mt 10.34-39) e as recompensas (Mt 10.40-42).
Os/as discípulos/as são missionários/as de Jesus. Eles são portadores do mesmo evangelho do reino e com os mesmos poderes de mestre (Mt 10.1 e Mt 10.42). O capítulo 10 inicia com o chamado de Jesus, dando autoridade aos discípulos, e encerra afirmando: “E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão”. Jesus se identifica com os pequeninos, que são seus enviados. A característica principal da ação missionária será a gratuidade: “de graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8). A vida na humildade e pobreza caracteriza o trabalho dos missionários (Mt 10.9-10). Eles anunciam a paz (Mt 10.11-15).
A missão dos discípulos é a mesma de Jesus, por isso entra em confronto com a prática dos escribas, saduceus e fariseus. Trata-se de uma luta entre ovelhas e lobos; são projetos de vida, sociedade e mundo que entram em confronto. “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt 10.16). Esta luta entre ovelhas e lobos suscitará perseguição no plano religioso, ideológico e político (Mt 10.17-18). O Espírito de vosso Pai é a força e a verdade que está com os discípulos e com eles age (Mt 10.19-20). Pelo testemunho, os discípulos serão perseguidos (Mt 10.21-23), exigindo perseverança até o fim (Mt 24.13).
2.2 – Basta ao discípulo ser como seu mestre
O texto de Mt 10.24-33 aponta para as características da existência dos discípulos em seu testemunho. A primeira característica dessa existência é a identificação com a missão do próprio mestre (Mt 10.24-25). A perseguição que os discípulos sofrem é a mesma que Jesus sofre (Mt 10.25-26). A segunda característica é a confiança na força da verdade, que, no final, vencerá (Mt 10.26-27). A terceira característica está em entregar a vida por causa do testemunho. “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt 10.28ss). A expressão “não tenham medo” aparece três vezes no texto (Mt 10.26,38,31), sendo uma espécie de refrão e marcando com força que é preciso ter coragem. O medo vem das conseqüências que a prática do seguimento ao mestre traz: hostilidades, perseguições, acusações e morte. O testemunho não deve amedrontar ninguém, mas deve ser feito de forma clara, como a luz do dia e proclamado bem alto (Mt 10.27). Os homens podem considerar-se donos de vidas humanas, mas a vida pertence a Deus (Mt 10.29-30). Em outras palavras, Jesus diz: “Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (Mt 10.31). O contexto dos v. 32-33 lembra as perseguições que os cristãos sofriam por seguir o Mestre. A morte para os cristãos tem sentido enquanto solidariedade com Jesus e seu projeto. “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.” Portanto, o desafio dos discípulos é aceitar ou rejeitar a proposta de Jesus, com todas as suas conseqüências. Ser discípulo/a não é um mar de rosas, mas traz dificuldades, tensões, lutas, perseguições e escolhas. É isto que nos indica o texto de Mt 10.34-42, apontando para uma nova relação de família e um novo projeto de vida que nasce da vida solidária com Jesus.
3. As conseqüências do discipulado: Mateus 10.34-42
O texto de Mt 10.34-42 traz presente a conseqüência do discipulado. A ação missionária de Jesus é como uma espada. “Não penseis que vim trazer paz a terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mt 10.34). A espada aponta para a verdade. A verdade liberta. Encontra-se aqui uma ligação com o texto de Jr 28.5-9. A paz só se concretiza quando se realiza a palavra do profeta. Percebe-se aqui a íntima ligação entre a palavra e a ação. A realização da palavra se mostra na concretização da paz cotidiana. A paz anunciada no AT (schalom) e no NT (eirene) aponta para o bem-estar físico, social, espiritual, tendo como alvo a vida em plenitude. Portanto, a proposta de Jesus é como uma espada, pois é anunciada dentro de um contexto de paz aparente: a pax romana, onde aqueles/as que seguem a proposta de Jesus, de paz e justiça, são perseguidos.
3.1 – A proposta de Jesus exige mudanças radicais
A proposta de Jesus é uma espada, exigindo decisão dos seus/suas seguidores/as, para que possam andar em novidade de vida (como diz Rm 6.4). A proposta de vida de Jesus é uma espada, provocando divisão por causa da resistência das pessoas. “Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa” (Mt 10.35-36). Jesus aponta para novas relações familiares, já não só baseadas nos laços de sangue, mas no compromisso solidário com a justiça e a paz. Jesus destaca aqui o conflito presente na própria família. É interessante observar que Jesus aponta a família como o início dos conflitos e também das transformações. A família sempre foi considerada a célula básica da sociedade. A família fala do cotidiano da vida das pessoas. Este cotidiano foi, muitas vezes, considerado algo privado, pessoal e particular. Por isso, a violência cometida contra as mulheres e as crianças, que acontece dentro das famílias, ficou por muito tempo escondida. O cotidiano familiar também precisa ser tema de reflexão pública e cristã. O privado também é político, pois ali também vivem pessoas cidadãs e cristãs. Jesus veio para anunciar relações fraternas, amorosas, justas, solidárias. A família é nomeada por Jesus como um espaço importante para as mudanças nas relações entre as pessoas.
Essa nova família é também a nova comunidade. “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim” (Mt 10.37-38). Estas palavras estão na continuidade daquilo que foi anunciado anteriormente. Assumir a proposta do reino da justiça é como uma espada que provoca grandes transformações. As palavras que se repetem nos versículos são “quem ama … mais do que a mim não é digno de mim”. Um mundo que valoriza o status social (pertence “à família fulana de tal”), os bens materiais, as aparências não consegue amar Jesus e nem ser digno da proposta do reino de Deus. O discipulado não se concretizará se não rompermos com um tipo de família e sociedade que considera “dignas e justas” as relações baseadas na hierarquia do homem sobre a mulher, do adulto sobre a criança, do branco sobre o negro, do rico sobre o pobre, a má distribuição de renda, o aumento das desigualdades sociais, gerando desemprego, violência e morte. “A força da ação missionária está no critério que apresenta: a superioridade do amor a Jesus, como fonte e luz para todos os outros atos de amor (v. 37). […] Revela que a novidade do amor está acima dos laços que vêm da raça, da nação e dos interesses das classes sociais.” (Gorgulho e Anderson, 110: 1981)
3.2 – Seguir Jesus é segui-lo na cruz
Ser digno de Jesus é ter a coragem de assumir a sua proposta, de segui-lo na cruz. “Quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim” (Mt 10.39). Jesus revelou-se totalmente na cruz! Aqueles/as que confessam ser cristãos/ãs não podem esquecer que são seguidores de um crucificado, alguém que foi morto por causa da proposta do reino. Quem segue Jesus também poderá sofrer a cruz. Portanto, aqui se fala do seguimento a Jesus, de assumir a proposta do mestre. Seguir a Jesus é segui-lo até as últimas conseqüências. É segui-lo até a cruz. Jesus desafiou os princípios de uma sociedade que anunciava uma paz aparente, baseada no acúmulo da riqueza, do prestígio e do poder. Quem segue os ensinamentos de Jesus e denuncia os pecados individuais e coletivos, que afirmam a sociedade capitalista, e anuncia um novo projeto baseado nos valores da solidariedade, da partilha e do amor certamente sofrerá perseguição e até a morte em nosso mundo. Seguir o discipulado é não se conformar com este século (Rm 12.2).
3.3 – Como e onde encontrar o verdadeiro sentido da vida?
Que sentido tem a vida para aquelas pessoas que se conformam com a realidade presente? A vida é muito mais do que as aparências. O versículo de Mt 10.39 ajuda a iluminar a realidade. Jesus afirma: “Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perder a vida por minha causa acha-la-á”. Quem não anda em novidade de vida, isto é, não procura viver o batismo, isto é, “o afogamento da velha pessoa em nós no cotidiano”, e conforma-se com este mundo, achando que encontrou a vida, irá, na verdade, perder a vida. Quem perde a vida por causa de Jesus, isto é, quem procura a transformação deste mundo, vivenciando a proposta de Jesus, seguindo-o até as últimas conseqüências, este/a encontrará o verdadeiro sentido da existência. Jesus afirma que o sentido da vida está na doação, na entrega pela justiça do reino (Mt 5.6).
3.4 – Encontrar o sentido da vida no acolhimento
O texto final de Mt 10.40-42 apresenta uma proposta para a nova família e a nova comunidade: o acolhimento. As palavras que se repetem são: recebe, receberá, galardão. Elas são os fios condutores de todo o texto. Elas querem esclarecer o que foi apresentado anteriormente no capítulo 10. Receber implica abrir as portas, acolher, aceitar e cuidar do/a outro/a.
Os/as primeiros/as discípulos/as não tinham um lugar fixo, iam de cidade em cidade, de casa em casa, de aldeia em aldeia, anunciando o reino da justiça com palavras e ações, libertando as pessoas dos demônios. Eles também não eram bem-vistos pela sociedade estabelecida, sofrendo perseguições e martírio. Eram profetas, justos e pequenos e, dessa forma, anunciavam a vinda do reino de justiça e paz. Jesus também foi profeta, justo e se fez pequeno por amor a nós. No entanto, Jesus foi rejeitado e sofreu a cruz. Como são recebidos os/as seguidores de Jesus? Jesus diz: “Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou” (Mt 10.40). Quem recebe os/as seguidores/as de Jesus recebe o próprio Jesus, assim como recebe o próprio Deus.
Cada um/a receberá o seu galardão, isto é, a sua recompensa, conforme a atitude de acolhimento. “Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo” (Mt 10.41). A recompensa, isto é, o galardão, realizar-se-á se a pessoa for recebida assim como ela se apresenta: profeta, justo. O profeta fala em nome de Deus, anunciando um mundo novo; quem o recebe nessa qualidade está recebendo a palavra de Deus e o conteúdo dessa promessa. O justo é aquele/a que comunica a vida e as promessas da justiça; quem o recebe está recebendo a justiça como luz e força para a própria vida.
A novidade do texto está no fato de que é na ação dos “pequeninos” que está a recompensa prometida. “E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10.42). Nada melhor do que oferecer um copo de água fria a quem está cansado e sedento. Como recebemos nossos pequeninos irmãos em nosso cotidiano?
Em Mt 25.31-46, encontramos a resposta à pergunta: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? … Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.
Acolhimento é a palavra-chave para a nova família e comunidade de Jesus, baseada nos valores da solidariedade, da paz, do cuidado e da justiça. Solidarizar-se com as pessoas que assumem atitudes proféticas, justas e assumem a posição de pequenos é o mandato de Jesus. Como realizar isso no cotidiano de nossas famílias e comunidades? Jesus não dá receitas. Os/as seguidores/as de Jesus são pessoas que se alimentam da palavra, por isso agem com sensibilidade, humanidade e justiça nas mais diferentes situações. Jesus deixa claro: Quem oferecer um copo de água aos profetas, justos e pequenos não ficará sem recompensa. O/a discípulo/a de Jesus é portador da mesma autoridade de Jesus; aqui se encontra a validade da promessa.
4. Impulsos para a mensagem
A perseguição e o martírio sempre se manifestaram na vida daquelas pessoas que seguem e seguiram Jesus. O discipulado inclui a cruz. Seguir Jesus é segui-lo até as últimas conseqüências. Perguntamos: são autênticos o discipulado e a atuação da igreja que não sofre nenhum tipo de rejeição e perseguição? Lembrar o exemplo da Irmã Doraci, que deu a própria vida (sofreu a morte), seguindo o amor de Jesus, pelos mais pequeninos irmãos (povo pobre de Moçambique). “Tomar a cruz” é seguir a proposta de Jesus até as últimas conseqüências. Trago como subsídio de reflexão o texto editado pelo grupo de pesquisa: Práxis social da Igreja, publicado no site da EST.
Diaconia e martírio
O assassinato da Diaconisa Doraci Edinger, no dia 21 de fevereiro de 2004, em Moçambique, desafia a compreensão de diaconia na IECLB.
Ainda perplexos e chocados, não sabemos definir exatamente o significado desta morte. Na busca por entender o seu grau de relevância histórica e teológica, arriscamos dizer que o fato imprime, de forma irreversível, uma marca na diaconia da IECLB. Esta não mais poderá contar sua história sem lembrar o martírio (martiría = testemunho) da Irmã Doraci.
Perguntamo-nos se a morte da Irmã Doraci não reivindica de nós assumir a linguagem do martírio! Isto, independentemente das causas ainda não definitivamente esclarecidas desta morte. Essa pergunta se impõe ainda com mais força quando consideramos a repercussão que o fato teve em toda a IECLB, entre as igrejas do mundo ecumênico, da própria nação brasileira e da mídia, suscitando comoção e solidariedade.
O martírio como sofrimento por causa do testemunho da fé cristã, sem dúvida, já alcançou muitas pessoas em nossa igreja. Porém, teria havido, na história da IECLB, outro caso de morte em conseqüência do testemunho?
Consideramos justo perguntar se não é legítimo afirmar que a diaconia da IECLB tem uma mártir. Mais do que isto, que a própria IECLB tem uma mártir. Uma mártir mulher. Uma mártir diaconisa.
Ter uma mártir não é nenhum mérito. Não representa motivo de orgulho ou satisfação. O martírio não se conquista, se sofre em conseqüência do testemunho corajoso do Evangelho de Jesus Cristo. O martírio, sempre presente no testemunho cristão como uma possibilidade, evidenciou-se agora na história da IECLB como um fato real.
O martírio sofrido pela Irmã Doraci mostra que o fundamento teológico da diaconia é o seguimento de Jesus no caminho da cruz.
Perguntamo-nos se, a partir da morte da Irmã Doraci, a diaconia e a própria IECLB não deverão proceder a uma releitura das palavras do apóstolo Paulo: “eu trago no corpo as marcas de Jesus” (Gl 6.17b) e “levo sempre no corpo o morrer de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo” (2 Co 4.10).
(Autores Rodolfo Gaede Neto e Lothar Carlos Hoch pelo grupo de pesquisa “práxis social da igreja”)
O texto de Rm 6.1b-11 afirma que nós fomos feitos novas pessoas por meio do Batismo cristão, na morte e ressurreição de Jesus. Como vivenciar o Batismo diariamente? Como fazer para tornar-nos defensores e promotores da vida na sociedade capitalista em que nós vivemos? Como vivenciar o acolhimento (Mt 10.40-42) anunciado por Jesus? “E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” Receber alguém com um copo de água é sinal de acolhimento, de vida, de compromisso… Oferecer um copo de água é oferecer vida/renovação das forças… A água que é um bem de toda a humanidade e que também se encontra, atualmente, ameaçada devido à ganância e à falta de responsabilidade das pessoas e da sociedade capitalista. O acolhimento é característica das pessoas e também da comunidade que segue Jesus. Somos uma comunidade acolhedora? Como acolhemos nossos/as mais pequeninos/as irmãos/ãs (as pessoas empobrecidas em nossos diferentes contextos)? Como acolhemos os/as profetas e os/as justos/as de nosso tempo? São perguntas que desafiam o discipulado (seja na diaconia, na missão, na pregação ou no ensino). Jeremias deixa claro que o reconhecimento do profeta está não somente no anúncio da paz, mas na sua concretização em nosso cotidiano.
5. Celebrando…
Saudação com a poesia: Prece por mensageiros e mensageiras
Se não houver quem profetize,
quem fale aos homens e às mulheres com poder:
Senhor, o que será da terra,
Se teu juízo a surpreender?
Se não houver quem diga ao mundo
Que só em ti há salvação:
Por falsos deuses enganados,
Perecerá na escuridão.
Cidade que sem atalaia
A espada não verá chegar:
Acordará desprevenida,
O seu destino a lamentar.
Ó Deus, nos faze mensageiros e mensageiras
Da boa nova de Jesus!
No mundo inquieto e conturbado
Ergamos o sinal da cruz!
Sinal de alerta e de esperança,
Sinal de juízo e de perdão:
Ao mundo inteiro o anunciemos
Que em Cristo há paz e salvação!
(Lindolfo Weingärtner)
Hinos: HPD 2 – 336; O Povo Canta – 71; O Povo Canta – 158; e HPD 2 – 449.
Confissão de pecados:
Confesso-te, Senhor,
Hoje não foi um dia muito bom.
Aquela menina vendendo flores….
Aquela mãe sem dinheiro para o remédio do filho…
Aquele telefonema que atrapalhou meu trabalho…
A notícia do desemprego do meu amigo…
Confesso-te, Senhor,
Minha limitação, minha indignação
Diante das coisas que não consigo mudar
E ao mesmo tempo
Minha indiferença para com aquelas coisas
Que posso mudar.
Acolhe-me, Senhor, e transforma meu jeito de viver!
(Inês de França Bento)
Após a pregação – Sugiro celebrar a ágape, oferecendo um copo de água como sinal do acolhimento que recebemos de Cristo. Cristo nos acolhe. Temos uma tarefa como seguidores/as de Jesus: Acolher nossos/as pequeninos/as irmãos/ãs! O auge do texto que refletimos nos diz que, se alguém oferecer um copo de água aos/ás pequeninos/as irmãos/irmãs de Jesus, de modo algum perderá o galardão/a recompensa.
Encerrar com a oração de uma mulher de Teresina/Piauí:
“Meu querido Deus, obrigado pelo papelão que eu tenho para dormir, mas ajude aquela vizinha… a ter um bom papelão para dormir; a ter comida no dia de amanhã para os seus filhos.” (Extrato da carta/relatório da Missão Zero 2004 – Teresina/Piauí do estudante de teologia Mateus Holz Tasso)
Bênção e envio:
Que o Deus da Vida ajude vocês a construírem uma família e comunidade,
firmada no diálogo e no respeito.
Que a Paz de Cristo acompanhe a todos e todas!
Que o Espírito Santo sopre sobre vocês a coragem
Para que vosso testemunho seja de amor, solidariedade e justiça.
Que a disposição em acolher aos pequeninos e as pequeninas irmãs
Seja um sinal visível de vosso discipulado!
Ofereçam sempre um copo de água fresca como sinal de vossa hospi
talidade!
Água do Batismo… Água da vida…
Sinal visível do acolhimento de pessoas cristãs…
Pessoas renascidas e comprometidas com o reino de Deus! Amém.
(Claudete B. Ulrich)
Bibliografia
GORGULHO, Gilberto e ANDERSON, Ana Flora. A justiça dos pobres: círculos bíblicos preparados por Frei Gilberto Gorgulho e Ana Flora Anderson. São Paulo: Paulinas, 1981.
BORTOLINI, JOSÉ. Roteiros Homiléticos: Evangelho (Mt 10.37-42): Encontrar a vida acolhendo. Vida Pastoral n. 170, Ano XXXIV, maio-junho de 1993, p. 63-64.
LUTZ, Marli. 6º Domingo após Pentecostes: Mateus 10.34-42. In: STRECK, Edson Emilio e KILPP, Nelson. (Coord.) Proclamar Libertação. V. XVIII, São Leopoldo: Sinodal, 1992. p. 181-185.
WEINGÄRTNER, Lindolfo. Prática da esperança: poemas e meditações para refletir e orar. São Leopoldo: Sinodal, 1981. p. 80.