Roteiro para encontros de preparação
visando a ordenação ao pastorado
junto à IECLB
Parte I
1) Cantos
2) Breve exposição sobre o ministério “que ensina o Evangelho e ministra os Sacramentos” (cf. Parte II).
3) Já que Deus instituiu tal ministério e o confere, via comunidade reunida em culto, a determinadas pessoas, esta precisa ter claro
* quem é a pessoa a quem a comunidade reunida em culto concede, a mando de Deus, o ministério (cf. Parte III);
* o que se pode e deve esperar desta pessoa no desempenho do ministério (cf. Parte III).
4) O que Martim Lutero conversou com pessoas cuja ordenação foi solicitada por comunidades, patronos de templos e a universidade de Wittenberg, por prefeituras, câmaras de vereadores e príncipes territoriais (cf. Parte IV).
5) Espaço para que ministros/as e presbíteros/as presentes verbalizem suas experiências, seus enfoques e esperanças, pessoais e junto a comunidades, no intuito de animar, apoiar e alegrar ao/à ordenando/a.
6) Oração de encerramento:
Atende-nos,ó Deus dos céus,
escuta os nossos brados.
Quão poucos são os santos teus,
e estão desamparados!
É desprezado o Verbo teu,
e a fé já quase esmoreceu
em toda a humanidade.
Por isso diz o santo Deus:
Dos crentes afligidos
os brados sobem já aos céus,
ouvi os seus gemidos.
Meu Verbo mando com vigor
aniquilar a sua dor
e as hostes inimigas.
Ensinam-se doutrinas vãs,
por homens inventadas.
Deturpam as palavras sãs,
no Verbo alicerçado.
Discordam entre si também,
confundem-noscom vil desdém,
brilhando na aparência.
Provada a prata é no calor,
no fogo acrisolada.
A sã Palavra do Senhor
na angústia é confirmada.
Provado o Verbo pela cruz,
revela então poder e luz,
iluminando a terra.
Senhor, oh! vem fazer calar
os tais ensinadores!
Ousados são no seu falar
e dizem quais doutores:
Nós temos a revelação,
decretos, leis e tradição;
da Bíblia somos mestres!
Ó Deus, vem puro o conservar
da geração perversa.
Em ti queremos confiar,
p’ra que não nos subverta.
O povo se juntando está
em torno desta gente má
que surge entre teu povo.”
(M. LUTERO, Obras Selecionadas v. 7. S Leopoldo: Sinodal / PAlegre: Concórdia, 2000. pp. 496.20 – 498.4)
Parte II
Deus, nosso criador e nosso juiz, instituiu o ministério “que ensina o Evangelho e ministra os Sacramentos” com a exclusiva finalidade de que cheguemos à fé (CA V) e, assim, subsistamos perante ele. Quer dizer: ouçamos, aceitemos e testemunhemos, alegres e livres,
“que as pessoas não podem ser justificadas diante de Deus por forças, méritos ou obras
próprias, senão que são justificadas gratuitamente, por causa de Cristo, mediante a fé,
quando crêem que são recebidas na graça e que seus pecados são remetidos por causa
de Cristo” e lhes “são dadas justiça e vida eterna. Essa fé atribui-a Deus como justiça
aos seus olhos. Rm 3 e 4.” (CA IV, versões latina e alemã)
Essa fé decide nosso destino. Ela é que importa, a única coisa que importa na vida e na morte. Sem essa fé estamos mortos e mortas, embora pareçamos bem vivos e vivas. Com ela estamos vivos e vivas, embora morramos barbaramente.
Ninguém chega de si a essa fé. Nós conseguimos tudo, podemos fazer qualquer coisa de nós, menos um crente e uma crente dessa fé. Pessoa nenhuma alcança essa fé “por sua própria razão ou força” (Lutero). Deus, em sua paixão por nós, cuida, ele mesmo, que cheguemos a essa fé, que “a atribui como justiça aos seus olhos”. Já que ele próprio se encarrega do surgimento dessa fé, chegamos a ela.
Para que isso suceda, Deus instituiu o ministério “que ensina o Evan- gelho e ministra os Sacramentos” e quer que a comunidade, incumbida por ele, ordene pessoas, como … (nome do/a ordenando/a), que se ocupam em
“publicamente ensinar ou pregar
e ministrar os sacramentos na igreja”
(CA XIV, versão alemã)
Deus nos ama tanto, por isso se adapta à nossa condição humana. Ele lança mão de meios que envolvem nossos cinco sentidos. Agrada Deus tratar através do seguinte: Primeiro, pelo sermão de uma pessoa como … (nome do/a ordenando/a), que promove a Jesus Cristo. Segundo, pelo ofício de perdoar ou reter os pecados em nome de Jesus Cristo, explicado e pronunciado por … (nome do/a ordenando/a). Terceiro, pelo ato de batizar com água, explicado e execu tado por … (nome do/a ordenando/a) conforme a vontade do Deus Triúno. Quarto, pelo comer e beber naquela ceia onde o próprio Jesus Cristo “é a comida e a bebida, o cozinheiro e o garção”
(Lutero), explicada e coordenada por … (nome do/a ordenando/a).
Pelo ministério ao qual … (nome do/a ordenando/a) está sendo ordenado/a, Deus
concede “o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naquelas pessoas que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos, um Deus gracioso, se o cremos”
(CA V, versão alemã)
Pela confissão e absolvição dos pecados, preferencialmente em particular (CA XI e XXV), pelo batismo (CA IX) e pela ceia do Senhor (CA X), Deus
enfatiza sua “vontade divina para conosco, com o fim de… despertar e confirmar a fé nos que deles fazem uso. Essa também a razão por que [os sacramentos] exigem fé, sendo usados corretamente quando a gente os recebe em fé e com isso fortalece a fé”
(CA XIII, versões alemã e latina)
Essa fé, que Deus atribui às pessoas como justiça aos seus olhos, produz bons frutos (CA VI, XVI e XX). … (nome do/a ordenando/a), bem como os demais ministros ordenados e as demais ministras ordenadas, ressaltam que os crentes e as crentes dessa fé
praticam “por amor a Deus… toda sorte de boas obras por ele ordenadas, não se devendo, porém, confiar nessas obras, como se por elas se merecesse graça e justiça diante de Deus. Pois é pela fé em Cristo que recebemos perdão dos pecados e justiça, como diz o próprio Cristo: ‘Depois de haverdes feito tudo isso, deveis dizer: Somos servos inúteis.’ (Lc 17.10)”
(CA VI, versão alemã)
A função única, exclusiva e vitalícia de … (nome do/a ordenando/a) e demais ministros e ministras é, pois, chamar a “essa fé que Deus atribui-a como justiça aos seus olhos”, animar e acompanhar as pessoas nessa fé e seus frutos. O ministério para o qual … (nome do/a ordenando/a) está sendo ordenado/a é maravilhoso. Lutero o definiu como “o ministério do próprio Deus”, pois mediante ele Deus age para “vida e salvação”. É uma tarefa de enorme responsabilidade, que compromete a comunidade, também por causa dela, a defendê-lo, guardá-lo e apoiá-lo com coração, boca e mãos.
Parte III
Quem é a pessoa à qual a comunidade reunida em culto concede, a mando de Deus, o ministério “que ensina o Evangelho e ministra os Sacramentos”?
1) Breve apresentação do/a candidato/a ao pastorado junto à IECLB,
… (nome do/a ordenando/
a), pelo/a Pastor/a Sinodal, … (nome do/a mesmo/a), coordenador/a do ato da ordenação.
2) Breve auto-apresentação do/a ordenando/a, referindo-se a sua caminhada teológica, pastoral e comunitária até agora, dando destaque a seus enfoques teológicos, pastorais e comunitários.
O que se pode e deve esperar de um pastor/a ordenado/a no desempenho do ministério “que ensina o Evangelho e ministra os Sacramentos”?
Que falem, prioritariamente, as pessoas que conviveram com … (nome do/a ordenando/a) em … (localidades nas quais o/a ordenando/a absolveu seu estágio e seu período prático de habilitação ao ministério pastoral):
1) Vocês acham que … (nome do/a ordenando/a), não tendo estudado teologia, sendo … (mencionar profissões exercidas por presbíteros/as presentes), participaria ativamente (assim como os/as presbíteros/as presentes) de uma comunidade filiada à IECLB?
2) Vocês confiam em … (nome do/a ordenando/a) a ponto de lhe abrir seu coração?
3) Vocês foram questionados e questionadas em sua fé por … (nome do/a ordenando/a)?
Favor mencionar exemplos.
4) Vocês foram fortalecidos e fortalecidas na fé em Jesus Cristo por … (nome do/a ordenando/a)?
Favor mencionar exemplos.
5) Vocês foram desafiados e desafiadas na fé em Jesus Cristo por … (nome do/a ordenando/a)?
Favor mencionar exemplos.
6) Conforme suas experiências com … (nome do/a ordenando/a) até agora, qual seria a marca registrada da atividade pastoral dele/a?
Favor mencionar em forma de uma só palavra.
Parte IV
Com o decreto de 12/05/1535, o Príncipe Eleitor da Saxônia, João Frederico, encarregou a Faculdade de Teologia da Universidade de Wittenberg de examinar, aprovar e ordenar os pastores. A partir de 24/06/1537 se registrou os ordenados; até a morte de Martim Lutero (18/02/1546, encontram-se 740 nomes na relação.
Os candidatos vinham à referida instituição munidos de papéis que comprovavam seu chamado/vocação para determinado lugar, que possuíam boa reputação e que solicitavam a ordenação. Através da “ordenação em público [em meio ao culto da comunidade em Wittenberg, congregada por Jesus Cristo]” acontecia “a confirmação da vocação [anteriormente ocorrida]”. No ensejo da ordenação era fornecido um certificado com o nome do ordenado, eventuais alusões a seus dons (p. ex.: erudição, capacidade retórica, especial jeito pedagógico) e data, via de regra escrito a próprio punho por Felipe Melanchthon, assinado muitas vezes por Lutero e João Bugenhagen, o Pomerano (pároco na Igreja Matriz em Wittenberg), por um professor de teologia e um ou mais pastores auxiliares em Wittenberg. Sucedia, às vezes, que a instância que solicitava a ordenação era “exortada a ajudar e defender o ordenado” no exercício de sua tarefa; repetidas vezes, ordenado e comunidade eram admoestados se preocupar com que o Evangelho de Deus ficasse puro e fosse fielmente conservado e propagado, a começar pelos descendentes.
32 certidões se conservaram; seus destinatários se originavam não só da Saxônia; para concluintes da faculdade, o documento era formulado em latim, para não-acadêmicos em alemão.
Nos anos de 1539s., surgiram certificados impressos com espaço em branco, no qual eram anotados, à mão, a data da ordenação, o nome do ordenado e a localidade de seu futuro pastoreio.
O ordenado exibia a certidão a pessoas e comunidades, instâncias patronais e autoridades civis que o requeriam ou já o tinham escolhido pastor junto delas. Com tal apresentação se efetivava o vínculo empregatício.
Nos primeiros certificados de ordenação não constam referências bíblicas. De 1542 em diante inclui-se Jo 15.7s., Ef 4.8.11, Tt 1.5 e 1 Tm 4.13-6. Em todas as certidões conservadas, no entanto, os que assinam atestam – invariavelmente, de maneira sucinta e precisa – o seguinte:
1) O ordenado é conhecedor da doutrina evangélica, foi examinado e aprovado.
Quer dizer:
O ordenado está radicado na diferença entre lei e Evangelho; na justificação por graça e fé por causa de Jesus Cristo, veiculada por pregação e ministração dos sacramentos; no fato de que a fé é concedida pelo Espírito Santo e de que as obras são frutos da fé dada e sucedem, em liberdade e espontaneidade, a serviço dos semelhantes, mas jamais justificam perante Deus.
2) O ordenado “se compromete” notoriamente (observe a priorização dos compromissos!)
* a se engajar, “com persistência, pela doutrina pura, verdadeira e reta”, redescoberta pela Reforma. Mantendo-se tal doutrina, “a Igreja permanece”: “Deus está presente e ouve, onde soa verdadeiramente seu Evangelho”.
Quer dizer:
Por um lado, o ordenado ressalta a concordância entre a doutrina de “nossa Igreja” e da “Igreja católica de Cristo”, ou seja em dizeres de Lutero, de “toda a cristandade na terra”; o ordenado exerce seu ministério “no mesmo espírito e numa só voz com a Igreja católica de Cristo”. Enfatiza-se desta forma a atuação e vivência ecumênicas da Reforma e de seus adeptos.
Por outro lado, o ordenado rejeita, “combate” e ataca “todas as opi- niões dos fanáticos/entusiastas/’Schwärmer’” (p. ex.: um segundo ou mais batismos; formação e auto-isolamento de grupos especialmente pios, atendidos por pregadores andarilhos, não examinados nem vocacionados; percepção errônea do amor à cruz: em vez de se solidarizar com os pobres e pecadores, acham sofrer a cruz quando criticados e repelidos em seu caminho arbitrário; negação/rejeição das autoridades constituídas e em assumir cargos públicos para promover o bem-comum); destarte, o ordenado age na linha “do juízo/ julgamento [dos concílios] da Igreja católica de Cristo”. Enfatiza-se desta forma a atuação e vivência missionárias da Reforma e de seus adeptos;
* e a exercer o ministério com afinco e esmero, “em fé e diligência”.
Quer dizer:
o ordenado leva uma vida de ministro em espiritualidade pessoal e familiar, sem escândalos morais para a comuna que o escolheu e na qual serve. Às vezes, lembra-se um ordenado a trabalhar em comunhão com os colegas, evitando “competições e rixas que produzem conturbações dogmáticas, das quais seguem erros, impiedade e devastações das comunidades”.
3) Com a execução da ordenação em culto comunitário e público, juntamente com a preparação e entrega do respectivo documento, “confia-se” ao ordenado “o ministério de pregar o Evangelho e de ministrar os sacramentos”. Pede-se ao Espírito Santo que providencie para que o ministério do ordenado “ponha em relevo a glória de Deus e do nosso Senhor / Libertador (!) Jesus Cristo e a salvação da Igreja”, exatamente “em vista das sevícias turcas que ameaçam devastar toda a Europa”.
Quer dizer:
a Igreja que passou pela Reforma procede “conforme a doutrina apostólica” (Tt 1. 5 e Ef 4.8.11) tanto no geral quanto no particular da ordenação de ministros, independentemente da conjuntura política periclitante, que Jesus Cristo contornará para o bem de seu povo.
Nos certificados em alemão acrescenta-se que o ordenado precisa procurar um pastor experimentado como mentor (p. ex.: “superintendente”), às vezes, menciona-se logo o nome deste e lhe solicita a acompanhar, com diligência e delicadeza fraternais, em doutrina e conduta, o recém ordenado que lhe mostra seu certificado.
A Igreja que passou pela Reforma considera indispensáveis pessoas que pregam a palavra de Deus e ministram seus sacramentos (cf. Parte II). Em vista deste serviço, tais pessoas são examinadas e, se aprovadas, ordenadas. Lutero queria como pastores indivíduos, assim se expressa freqüentemente, “piedosos, doutos e éticos” (observe a seqüência dos atributos!). Tanto o exame da mensagem que pretendem levar, de seu comprometimento vitalício com a Reforma e de sua vida espiritual e de conduta pessoal e pública, quanto a ordenação com certificado são pré-requisitos inalienáveis para o exercício do pastorado. O estudo acadêmico da Teologia é pré-requisito alienável, embora sumamente desejável. A Igreja que passou pela Reforma, Lutero ainda em vida, examinou e aprovou no sentido referido e ordenou com o acréscimo mencionado, por exemplo: mestre-escola, sacristão, vereador, talhador.
(Quem quer saber detalhes, estude Martin Luther, Weimarer Ausgabe Briefe / WA BR, Edição de Weimar de suas obras completas, 12 [Anhang III],
44[7]-85 [Zu Nr. 4330,1-22]. Tudo o que acima consta entre “…” é tirado deste tomo. Cf. ID., Obras Selecionadas v. 7. pp. 73-150; vol. 9. Ibd., 2005. pp. 425-598).
Parte V
Prezado/a … (nome do/a ordenando/a), prezada família do/a ordenando/a, prezada comunidade congregada por Jesus Cristo, o Bom Pastor!
1.
Em dois anos ocorre aqui a segunda ordenação ao ministério pastoral. Fato que desperta curiosidade. Tomara que não só isso. Oxalá cada pessoa presente chegue a entender o que é a ordenação e o que caracteriza um pastor e uma pastora!
Muitos de nós conhecemos pastores e pastoras de perto. Uns convivem, de certa maneira, com eles. Daí formam alguma idéia de como pasto- res e pastoras surgem e o que fazem, o que enfrentam e agüentam. Há pessoas tão marcadas por pastores que falam deles sempre coisas positivas ou negativas.
No entanto, para o público em geral o termo pastor / pastora soa esquisito; é assunto de religião, da Igreja; alude a alguém fora da realidade, como a imaginam e percebem. Isto tanto mais que nossa cultura desconhece a figura do pastor no cotidiano. Talvez o tropeiro lembre determinados traços do pastor no ambiente oriental e bíblico.
Também entre filiados à IECLB irrompem noções disparatadas a respeito de pastores e seu ofício. Por exemplo: pastor e pastora trabalham apenas no fim de semana; pouco sabem da vida tal qual é; ganham baita salário, carro novo e ampla moradia; pastor e pastora são empregados da gente e têm de nos amenizar a lida pesada nos dias que correm.
2.
Nesta altura é imprescindível ter claro que pastor é um termo freqüen- te e um personagem central na Bíblia. Quem não ouviu ou leu ainda “O Senhor é meu pastor, nada me faltará” (Sl 23.1. Cf. 74.1; 79.13; 80.1; 95.7; 100.3; Jr 13.37; Is 40.11; Zc 10.3; Mq 5.[2.]4s. <> Mt 2.6; Mq 7.14; Gn 49.24), e Jesus dizendo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ove- lhas” (Jo 10.11.15.17s.)? Talvez uma dessas palavras conste na Certidão de Confirmação ou de Bênção Matrimonial de pessoas sentadas conosco nos bancos do templo.
Como poucos, os dois ditos resumem a fé testemunhada na e pela Bíblia. Deus cuida integralmente dos seus, sim, empenha sua própria vida por eles (cf. Zc 13.7-9 <> Mc 14.27s.). Nada mais lógico, então, que um e outro dos seus morra com um versículo desses nos lábios ou peça que o gravem em sua lápide.
Assim as pessoas confessam: Desde o Batismo temos pertencido ao Bom Pastor e a seu povo. Quando fugimos dele, nos perdemos, mas o Bom Pastor foi atrás de nós até nos encontrar e carregar de volta (cf. Lc 15.4-7; Mt 18.12-4). Fomos “desgarrados como ovelhas, agora, porém, fomos convertidos para o pastor e protetor de nossas vidas” (1 Pe 2.25; cf. Jo 10.16; 11.52). Ele caminhou a nossa frente, abrindo clareiras para nossa vida particular, familiar, profissional e social. Andou a nosso lado instruindo e organizando-nos em sua comunidade, curando e alimentando-nos com seus sacramentos. Na hora de nossa morte, permanece a nossa frente, defendendo-nos no Juízo Final, onde sucede a separação “uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas” (Mt 25.32. Cf. 13.24-30; 22.11-14), e preparando-nos a morada derradeira (cf. Jo 14.2s.; 17.24; Lc 23.33-43). Com o que inicia o reinado da glória graciosa de Deus que dá “seu reino” ao “pequenino rebanho” (Lc 12.32 <> Dn 7.27). O Bom Pastor é real e cria realidade.
Homens e mulheres que confessam isto são realistas. São os seus e bem-aventurados. Pessoas que percebem a realidade, mas excluem dela o Bom Pastor, são irrealistas. Pior, são “como ovelhas que não têm pastor, [acabam] aflitas e exaustas” (1 Rs 22.17 [Zc 10.2] e Mc 6.34 par.) – e urge que caiam na real, já por sua própria causa.
3.
Na Bíblia, o Bom Pastor é chamado igualmente de “Grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20) e de “o Supremo Pastor” (1 Pe 5.4). “Ele mesmo constitui uns para pastores” (Ef 4.11) a fim de “pastorear o rebanho de Deus” (1 Pe 5.2; At 20.28; Jo 21.16). Em absoluto, os pastores e as pastoras são seus substitutos ou representantes. São, isto sim, seus serventes, seus moços e suas moças de recado. Seu primeiro moço de recado foi Simão, filho de João, o Pedro, ao qual encarregou: “Apascenta minhas ovelhas” (Jo 21.17). Desde aquela época não parou de chamar moços e moças de recado. Hoje chama … (nome do/a ordenando/a).
Ser moço e moça de recado do Bom Pastor é graça tremenda – por conseguinte, responsabilidade ímpar: será que entreguei o recado do qual fui incumbido/a? Graça e responsabilidade estão imbricadas. Sobrepõem-se uma à outra como as telhas de um telhado ou as escamas do peixe. Graça não é desperdício, graça tem finalidade. E a finalidade está sujeita à prestação de contas (cf. 1 Co 3.5-20; 4.1-5; 1 Pe 5.2-4; 2 Tm 4.1-8).
A graça do Bom Pastor jamais fornece sombra e água fresca, pelo contrário, traz serviço duro no solaço. A Bíblia descreve com realismo a existência da gente convocada pelo Grande Pastor, de seus moços e suas moças de recado, de nossos pastores e nossas pastoras.
O pastor de ovelhas e cabritos na terra bíblica, a Palestina, não é pro- prietário do rebanho. Ele é empregado (cf. 1 Sm 16.11.15.17). O rebanho lhe foi confiado. Sua tarefa é achar pasto e água num terreno árido (cf. Sl 23.2), evitando que o rebanho se desvie para as montanhas de pura pedra onde perece (cf. Jr 50.6s.). O que exige caminhar e procurar bastante. O pastor precisa de resistência física e de conhecimento da área onde anda com as ovelhas. Muitas vezes, acaba distante de seu lugar de partida e longe dos proprietários das ovelhas. Nestas andanças, sucede que feras (cf. 1 Sm 17.34-6) e ladrões (cf. Jo 10.10) atacam o rebanho. Aí o pastor fica no conflito: abandonar o rebanho, salvando a própria pele e frustrando seus empregado- res (cf. Jo 10. 12) ou defender o rebanho (cf. 1 Sm 17.34s.), sofrendo ferimentos, perdendo até a vida (cf. Jo 10.11).
Sim, o pastor na Bíblia corre altos riscos. Não apenas no sentido aludido, mas também no seguinte: o pastor lança mão do rebanho em proveito próprio. Demorando um tempão com o rebanho, sozinho e sem controle, começa a faturá-lo (cf. Is 56.11s.). Apascenta-se a si mesmo em vez de apascentar as ovelhas. Come da gordura, veste-se da lã e degola o cevado. Não fortalece a ovelha fraca, não cura a doente, não torna a trazer a desgarrada e não busca a perdida. Em lugar de cuidar do rebanho, trata-o com rigor, dureza e rapinagem. Razão pela qual, as ovelhas correm desatinadas e apavoradas para lá e para cá, se espalham e viram pasto para todas as feras do campo (cf. Ez 34.2-6).
Conforme a Bíblia, pastor fujão ou corrupto será destituído do pastoreio (cf. Ez 34.10), mais cedo ou mais tarde. Ele é inútil; grita-se “ai” a seu respeito, em dor, revolta e desespero (cf. Zc 11.17). Tudo o que cometeu contra o rebanho confiado, vem em dobro sobre ele (cf. Jr 23.1s; 25.34-8).
4.
É nossa oração e esperança que … (nome do/a ordenando/a) seja pastor/a segundo o coração do Bom Pastor. Que o Bom Pastor estabeleça … (nome do/a ordenado/a) para que as ovelhas não tenham medo, não tenham pavor e nem se percam (cf. Jr 23.4). Que ilumine … (nome do/a ordenando/ a) para que o rebanho, entregue em confiança, não acabe em terra estranha e deserta ou no matadouro. Que instrua … (nome do/a ordenado/a) para “que vos [comunidades] apascente com conhecimento e prudência” (3.15).
… (nome do/a ordenando/a) é prudente se tem conhecimento e consciência do fato de que vocês, membros das comunidades, são daquele que diz: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10.9; cf. 21.15-7). … (nome do/a ordenando/ a) é prudente se lhes desdobra que não há outro bom pastor onde quer que seja, que ninguém pode concorrer com ele. … (nome do/a ordenandoa) é prudente se lhes incute que pertencem ao Bom Pastor: sejam vocês, membros das comunidades, sem fé nele ou com fé, em desgraça ou graça, na salvação ou perdição – vocês são dele e ele quer o melhor para vocês; se são justos ou injustos, estão mortos ou vivos, no céu ou no inferno – vocês, membros das comunidades, são do Bom Pastor (seg. Chr. Blumhardt). … (nome do/a ordenando/a) é prudente se ele/a próprio/a o crê; se ele/a próprio/a confessa, com coração, boca e mãos:
Jesus Cristo, pela sua livre paixão e morte, é meu Senhor, remindo, resgatando e salvando-me de todos os pecados, da morte e do diabo, para que lhe pertença e viva submisso/a a ele e o sirva (seg. Lutero). … (nome do/ a ordenando/a) é prudente se assegura isso perante os sabidões em sociedade e igreja. É prudente se tem isso cristalino como o recado fiado a ele/a da parte do Bom Pastor.
Na transmissão de seu recado, a pastora e o pastor são questionados, combatidos, quem sabe mal-vistos e hostilizados. Ora, isto é normal. Sempre foi e será assim. O que falta é interiorizá-lo como o mais natural que existe para pastores e comunidades. Conforme o evangelista Mateus, Jesus Cristo afirma que a ameaça ao rebanho não se dá apenas por lobos que vêm de fora (veja 10.16 par.), mas também de dentro do rebanho, através de lobos disfarçados em ovelhas (veja 7.15). Conforme Atos dos Apóstolos, Paulo repete que nas comunidades “penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho”, sim, até mesmo dentre os pastores “se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar discípulos atrás de si” (20.29s.).
Lobos disfarçados em ovelhas promovem perversão. Por exemplo: quando igualam o Bom Pastor a grandes líderes religiosos ou os acrescentam a ele; quando aceitam além de Jesus Cristo “outros acontecimentos e poderes, personagens e verdades como fonte de pregação e como revelação divina” (Declaração de Barmen, 1934); quando instrumentalizam a comunidade em campo experimental de iniciativas político-sociais, morais e igrejeiras; quando incorporam o rebanho do Bom Pastor às estruturas civis vigentes e, deste jeito, identificam-no com elas; quando esquecem que o rebanho do Bom Pastor está no mundo e a ele é enviado, embora não seja do mundo (cf. Jo 17.11.14-9); quando contemporizam quanto à condição de o rebanho do Bom Pastor ser alternativa ao que aí está em questão de religião e convivência humana, quanto a ser vanguarda da vida integral que tem em Jesus Cristo seu centro criador, girador e conquistador; quando negam ou evitam que a comunidade fique ciente de estar sempre entre o Espírito Santo e o espírito dos tempos.
5.
… (nome do/a ordenando/a) e comunidade: o recado que você … (nome do/a ordenando/a) leva não é brincadeira, não. Em absoluto é diversão dominical, ao contrário, é vital e decisivo para nossa vida diária. Compromete a todos, presentes e ausentes. O recado confiado elimina qualquer primazia, nivela de modo perfeito pastores e comunidade, aqueles que pregam e aqueles que escutam. Até porque vale para ambos e requer de ambos a correspondente prática cotidiana.
Em vista do recado a ser transmitido e seus desdobramentos, não cabe, sob hipótese alguma, hesitação, susto e medo. Cabe, com certeza, que seja- mos atentos por nós todos (cf. At 20. 28). Sejamos todos sóbrios e vigilantes, pois a tentação de baratear aquele recado e deixá-lo despercebido, respectivamente, nos “rodeia como um leão que ruge, procurando quem devorar” (1 Pe 5.8).
Logo, pastor e pastora cumpram seu papel “não constrangidos, mas espontaneamente; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade, nem como dominadores, antes como modelos do rebanho” (5.2 s.). A comunidade escora pastora e pastor, anima sua espontaneidade em dar o recado, denuncia sua eventual ganância, empenha-se em fortalecer sua boa vontade, derruba seu eventual domínio e lhes ajuda a serem exemplos para outras pessoas.
Quem entrega o recado do Bom Pastor – prezado/a … (nome do/a ordenando/a), prezada comunidade – só o pode fazer confiante. Porque as ovelhas, que pertencem a Jesus Cristo, “ele as chama pelos nomes” (Jo 10,3), ele conhece suas ovelhas, e elas o conhecem (cf. v. 14), e “lhe reconhecem a voz” (v. 4. 27), crêem nele (cf. v. 26), e ele “vai adiante delas, e elas o seguem” (v. 5; cf. v. 27). … (nome do/a ordenando/a): fique despreocupado/a, a não ser fazer eco à voz do Bom Pastor. Comunidade: seja ciente de sua condição e característica, a saber, conjunto de pessoas “que ouvem a voz de seu Pastor [Jesus Cristo]” (Lutero) e o seguem em vida, “morte e dor” na “segura via que ele abrir / aos crentes seus, amados” (V. E. Löscher, HPD 44.2). Amém.
(A reelaboração da alocução cuidou especialmente do alastramento da base bíblica; recomenda-se procurar e “ruminar” (Lutero) as referências bíblicas. É possível que a reelaboração tenha transformado a alocução em estudo. Diante da temática, isso não precisa ser negativo.)