Prédica: Lucas 14.15-24
Autor: Renatus Porath
Data Litúrgica: 2º Domingo após Trindade
Data da Pregação: 24/06/1979
Proclamar Libertação – Volume: IV
1.0 — Preliminares
A maioria das parábolas é uma 'arma de luta' de Jesus. Estão relacionadas diretamente com o irrompimento do reino de Deus. Seus gestos, suas ações: suas palavras são sinais do irrompimento do tão esperado reino que Deus iria desencadear. O que os judeus presenciavam se chocava violentamente com as suas expectativas, imagens e projeções.
Para uns, humilde demais para ser o início do que Deus prometera. Para outros, um escândalo e até blasfêmia, ao ver este Jesus proferir: Filho, Deus perdoou teus pecados! (Mc 2,5). Ou ao explicar as suas expulsões com as palavras: Se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós (Lc 11,20). Chama, para o seguir, pessoas da ralé, excluídas da comunhão do templo, odiadas pelos bons cidadãos. Vive em companhia de pessoas sem qualquer qualificação para participar do reino de Deus. Essas eram opiniões correntes
Diante desses ouvintes, era considerado o carpinteiro de Nazaré (Mc 6, 3), rabi (mestre) itinerante com alguns discípulos (nada incomum!), o pregador de arrependimento que alguns consideravam profeta. Seus milagres também não eram evidência de ser o autorizado a proclamar o reino futuro. Não era o único que operava curas (Mt 12,27). Não podia recorrer a uma ordenação ou basear sua autoridade em algum cargo que ocupasse. O que lhe resta? Só lhe resta a palavra. Com ela podia despertar a fé ou acirrar a crítica.
Todos viviam da certeza de que Deus é o Senhor deste mundo enigmático e que não ficaria eternamente longe, mas que se manifestaria e cumpriria sua palavra (Bornkamm, p. 59). Mas quando viria? Os zelotas acreditavam que podiam forçar a vinda pela violência, opondo-se ao império romano. Os fariseus se esforçavam em manter o caminho aberto para a vinda do reino. Obedeciam rigorosamente a leis, praticando ritos e mantendo-se afastados de qualquer impureza (contato com doentes, pecadores e gentios).
Agora Jesus responde aos fariseus: o reino de Deus está à vossa disposição (Lc 17,20). Mas a maneira como se estabelece o início deste reinar de Deus não coincide com a expectativa e o projeto desses piedosos. Só esperavam a confirmação de Deus de que são candidatos sérios desse reino. O comportamento era tudo menos confirmação de que estavam certos. O povo que Jesus reuniu (sinal do reino) não cabia mais nos limites e padrões da fé transmitida (Bornkamm, p. 70). São figuras à margem que recebem ajuda de Jesus. São pessoas marcadas pelo destino, pela culpa, pelo preconceito (doentes, pobres, endemoninhados, leprosos, gentios, mulheres, crianças e sempre de novo pessoas imprestáveis) (Bornkamm, p. 72). Foi essa atuação, essa proclamação do irrompimento do reino através de sua palavra e seu agir que provocou a contradição.
Jesus se vale da parábola para se defender contra os ataques, para justificar seu agir como autorizado por Deus, para atacar seus críticos, para desafiar os que se sentiam seguros quanto a uma futura participação no reino. Em grande parte, as parábolas nasceram de uma situação de luta (Jeremias, p. 18). Através delas, Jesus queria conquistar seus ouvintes para que participassem do 'agora' do irrompimento. Quem chegasse a um acordo com Jesus (concluindo após a parábola: É assim mesmo!), este passava por uma transformação e se aliava ao povo que o seguia.
Jesus, ao contar a parábola, corria o risco imprevisível. Ele não sabia qual seria a reação de seus críticos. Ele teve que aguentar as consequências. Podemos detectar uma linha reta que parte das parábolas de Jesus e vai até a crucificação. Dificilmente podemos aceitar que Jesus não soubesse o risco que corria ao contá-las (Linemann, p. 48). Só há duas respostas que podem ser dadas às parábolas: 1) 'Crucifica-o, este está blasfemando a Deus!' ou 2) 'Verdadeiramente este é filho de Deus!' A última é a resposta daqueles que reconheceram: Este é o autorizado a falar e agir em nome de Deus (Linemann, p. 49).
Portanto, a parábola se dirige a seus críticos e não aos discípulos. Diríamos hoje, são palavras a não-cristãos. Como tais podem mostrar de uma maneira nova a mensagem de Jesus e do irrompimento do reino numa época onde não é mais tão natural a fé em Jesus, como Cristo. Sem uma linguagem teológica, nem sacral, as parábolas falam do ato decisivo de Deus com o mundo (Bornkamm).
2.0 – Texto
V. 15: Porém, ouvindo isto, um dos que estavam com ele à mesa, disse a Jesus: Feliz aquele que comer pão no reino de Deus.
V. 16: Ao que Jesus respondeu: Um homem deu um grande banquete e convidou a muitos.
V. 17: E mandou o seu servo, à hora do banquete, dizer aos convidados: Vinde, porque agora está preparado!
V. 18: Apesar disso, de uma só vez, todos começaram a se desculpar. Disse o primeiro: comprei um campo, e preciso ir vê-lo; desculpa-me, por favor.
V. 19: O outro disse: comprei cinco parelhas de bois e vou experimentá-las; desculpa-me, por favor.
V. 20: E outro disse: casei-me recentemente, e por isso não posso ir.
V. 21: Voltando o servo, tudo contou a seu Senhor. Então, irado, o dono da casa disse a seu servo: Sai rapidamente para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, aleijados, os cegos e os mancos.
V. 22: (E) Disse o servo: Senhor, tua ordem foi cumprida, mas ainda há lugar.
V. 23: Respondeu-lhe o Senhor: Sai para as estradas e as cercas dos vinhedos e força-os a entrar para que a minha casa fique cheia.
V. 24: Digo-vos, pois, que nenhum daqueles homens convidados vai provar o meu banquete.
2.1 – Contexto
A parábola está inserida no grande relato de viagem (caps. 10-19), onde Jesus se encontra a caminho do sofrimento. Antecedem-lhe os discursos à mesa, onde fala sobre os lugares que devem ocupar os convidados (7-11) e a quem convidar (pobres, aleijados, cegos e mancos) (12-13). A parábola figura como narração exemplar com ênfase na parênese (Jeremias, p. 41). Segue-lhe a palavra sobre o discipulado (vv. 15-24).
2.2 — Comparação Sinótica
Esta parábola é um exemplo clássico do caráter presente e atual da palavra de Jesus A comunidade primitiva reinterpretou a parábola para o novo público, a comunidade. Provavelmente pela boca de seus profetas e pregadores, a palavra do Senhor de ontem se tornou a palavra do Senhor de hoje. Para a comunidade primitiva Jesus de Nazaré e idêntico com o Exaltado que tem interesse na hoje da comunidade (Bornkamm, p. 16s). Esta parábola é transmitida por Mateus e ainda pelo Ev. seg. Tomé log. 64. Mateus acrescenta a ela mais uma parábola e conclui com um dito generalizante. Em comparação com Lucas, ele alegoriza fortemente a parábola, isto é, interpreta cada figura. O homem nobre se tornou rei; o banquete virou festa de casamento do filho. Em vez de um, são mais servos que saem para convidar. Já na primeira vez, eles rejeitam o convite. As desculpas são bem mais' resumidas do que em Lucas. O maltrato dos convidados é um traço novo. Em resposta, o rei manda exterminar os assassinos e sua cidade. Em vez dos marginalizados, a versão de Mt apenas convida maus e bons. Então segue a parábola da roupa inadequada para a festa (Mt 22,11-14). Para Mt a parábola das bodas do filho é um esboço da história da salvação.
O Ev. seg. Tomé, 64 (Linemann, p. 166) se aproxima muito de Lucas. Nos dois há um acento na crítica social. Volta a mesma enumeração de 14,13 no v. 21. Parece que Lucas preservou mais a formulação original. Inegavelmente também ele alegoriza alguns traços, embora seja mais cauteloso. A segunda saída para convidar os das 'estradas e das cercas' para assim completar a mesa do banquete (v. 23), faz alusão à missão entre gentios. Jesus não entendia assim a inclusão dos gentios no reino. Para ele os gentios afluiriam na hora escatológica (Lc 13,29) (Jeremias, p. 62). Cidade (v. 21) é alegoria para Jerusalém. 'Banquete' lembrava o tempo da salvação. A parábola para Lc quer ilustrar a missão entre os gentios. Começa com os publicanos e pecadores (os da cidade) e passa em seguida para os gentios (os das estradas e cercas). Comum às três versões é: por parte dos primeiros é rejeitado o convite (Jeremias, p. 61 s).
2.3 — Situação Vivencial
Com essa parábola, Jesus responde a um judeu piedoso que esclamara entusiasticamente: Como passarão bem aqueles convidados para o banquete que Deus preparou para os justos, quando ele manifestar o seu reinado. Assim Schlatter transcreve o macarisma do v.15. Para alguns exegetas há dúvida quanto à autenticidade deste versículo, apesar de haver paralelo em Lc 11,27s
Para a determinação da situação histórica, isto pouco altera. Talvez no original que Lucas encontrou, constasse: um fariseu lhe disse:. De qualquer forma essa declaração reflete um traço bem típico para os fariseus. Eles esperavam a vinda deste reino, onde todos os poderes antidivinos – opressão, pecado e morte – estariam vencidos (Bornkamm, p. 59). Preparavam-se para essa manifestação do tempo da salvação, tomando sobre si o jugo da lei, Imitando cumprir a justiça. Estavam atentos para não serem surpreendidos em alguma transgressão. Caso acontecesse, já tinham de reserva algumas boas ações adicionais. Mas com isso eles se separavam de todos aqueles que não levavam uma vida segundo a lei (Lohse, p. 55ss).
Com a bem-aventurança, ele expressa qual o critério de sua vida À base desse critério, ele avalia e quer ser avaliado. Esperava corresponder à vontade de Deus e aguardava de Jesus uma confirmação de que sua futura participação, no tempo messiânico, estava garantida. Com a parábola, Jesus responde a ele e a todos que representa, apontando para a ilusão em que viviam (Linemann, p.96.
2.4 — Análise detalhada
(16) A parábola nos conta de um certo homem, provavelmente rico e distinto, que convida um grupo selecionado para um banquete. Todos bem situados. A partir do v.19 podemos deduzir que um até era latifundiário. O dono da casa se vale de um costume praticado na alta sociedade de Jerusalém. Qual seja, repetir o convite à hora do banquete.
(17) Vinde, porque agora está preparado. O que acontece? Como se tivessem combinado entre si, de uma só vez, todos recusam o convite. Este traço bem incomum quer despertar a atenção do ouvinte. Os três têm seus motivos para não atender o convite. (19) Normalmente um camponês tem 1 a 2 parelhas de bois. O número de bois indicava a quantidade de terra que o agricultor possuía. A porção que uma parelha de bois arava por dia era chamada feddan pelos palestinos. Esta medida equivale a 9 – 9,45 hectares. O homem que se desculpa está adquirindo mais cinco juntas No mínimo, ele dispunha de 45 ha. se não mais. Portanto, um latifundiário.
(20) O terceiro casou recentemente. O verbo no aoristo é tradução do perfeito semítico que descreve uma ação há pouco concluída. Não queria deixar sua esposa sozinha, pois, para banquetes, as mulheres não eram convidadas. Ele até dispensa a fórmula de cortesia (desculpa, por favor!).
Qual a reação do hospedeiro? De desgosto, o dono da casa manda convidar os primeiros que encontra na rua. Lucas repete aqueles que enumerou em 14,13: pobres, aleijados, cegos e mancos. Mesmo que não seja formulação original, na prática nada altera no curso do relato. Os primeiros que o servo iria encontrar como tapa-furos, de uma hora para outra, só poderiam ser pessoas assim. Eram expostos por seus familiares para receberem boas influências e esmolas dos que passavam. Eram pessoas excluídas do templo (Grundmann, p. 299). Convidar um necessitado para um jantar em sua casa era considerado uma boa obra (Tobias 2,2). Mas em nossa história, alguém enche a sua casa com eles. Como ainda existem lugares vazios, e o dono da festa não quer dar nenhuma chance para os primeiros, ele manda seu servo buscar os andarilhos e desabrigados. Esses ele iria encontrar fora nas estradas e junto 'às cercas dos vinhedos' (W. Michaelis). Surpresos por tal convite, os convidados resistem. O servo recebe a ordem de puxá-los pelo braço. Fazia parte da cortesia e da modéstia não aceitar de imediato um convite, mas esperar peia insistência de quem convida. Mais tarde na história da igreja o verbo forçar foi interpretado como usar a força para integrar os gentios no cristianismo (cruzadas).
O motivo dessas medidas por parte do dono da casa é que a casa fique cheia. Não é indiferente a quem damos a honra de sentar-se a nossa mesa. Os primeiros foram substituídos pelos doentes, pobres, andarilhos e desabrigados. Como os primeiros desprezaram esta honra, os tapa-furos passam a receber tudo o que fora preparado. Para perceber o acento da parábola, devemos ainda observar a relação íntima que existe entre v.23 e o v.24. À minha casa (v.23) corresponde meu banquete (v.24). A conclusão (v.24) pertence ainda à parte da figura, mas já aponta para a parte do conteúdo. (Cp. também: Lc 11,8; 18,14; Mt 18,13). Com essa palavra, colocada na boca do dono da casa, Jesus se dirige a todo o público ouvinte (veja o plural: eu porém vos digo). Aos presentes ele explica o sentido e a intenção das medidas que tomou, mas o fariseu já recebeu a resposta à sua segurança que originara a parábola Mesmo que não se trate de uma alegoria para o banquete messiânico, uma coisa é certa que ele a contou com vistas ao tempo da salvação que 'agora' irrompe e à recusa dos líderes de Israel (Jeremias, p. 61s). (Informações colhidas em: Linemann, p. 94ss e 166ss; e Jeremias, p. 175).
2.5 — Ponto de Comparação
Agora irrompe o reino. Vocês (fariseus e piedosos) são como os convidados que não aceitam que agora se decide uma futura participação. Quem não se juntar a ele e ao povo que com ele esta (publicanos e pecadores) para este será tarde demais.
2.6 — Explicitação do Ponto de Comparação
Agora acontece a hora decisiva, a mudança radical. Deus sai do oculto e se manifesta com seu reino O que todo o povo de Israel esperava, agora se concretiza. O novo mundo de Deus está invadindo o velho. Há um choque de dois mundos. O novo reinar de Deus não se coaduna com o que esperavam. Podiam dizer com os discípulos de Emaús: Nós esperávamos que fosse ele quem havia de libertar a Israel (Lc 24,21).
Quando perdoa culpados, ele faz o que cabe a Deus. Quando liberta o oprimido por espíritos, é Deus vencendo os poderes que paralisam e aniquilam a existência do homem. Quando se senta à mesa com pessoas excluídas da comunhão do templo (publicanos, pecadores, e gentios) é o amor de Deus que toma forma entre esses marginalizados. Com este povo miserável, maltrapilho, Deus está inaugurando seu novo mundo, seu reino? Impossível, diziam os esforçados piedosos. Este choque provocado, Jesus tenta superar com esta parábola. Sim, já agora principia! Assim é Deus! Isto e presença do seu reino! Mas não conseguiam ver a conexão entre a comunhão de mesa de Jesus com os mais desprezados do povo e o início do banquete (tempo da salvação).
O futuro de Deus é salvação para aquele que se apega ao 'agora', ao presente de Deus. E o futuro de Deus é juízo para aquele que não aceita o hoje de Deus e se agarra ao seu próprio presente (status religioso, segurança económica, posição de destaque), ao seu próprio passado (tradição) ou ainda aos seus próprios sonhos (Bornkamm, p. 85). Jesus ainda quer conquistá-los para o 'agora' do reino. O único caminho que Jesus lhes oferece é o de solidarizar-se com os pecadores. Quem agora não se identificar com Jesus e seu povo miserável, se exclui de uma futura participação. Em Mt 21,31, a exclusão dos piedosos justos é proferida por Jesus, quando diz: publicanos e meretrizes entrarão no reino de Deus, vós não! (O verbo empregado tem sentido exclusivo e não temporal).
Deste grupo não se pode dizer que não queiram o reino, mas o querem com suas condições e seus critérios Se seus critérios valessem, os fariseus e seus comparsas estariam na companhia de Jesus e os publicanos e pecadores continuariam excluídos. Eles querem o reino sem renunciar a nada (círculo dos religiosos, reputação e posição). Por isso a sentença condenatória de Jesus em Mt 21,31.
3.0 – Meditação
Os endereçados da parábola na boca de Jesus não perderam seus representantes. Mesmo como Igreja de Jesus Cristo, podemos sustentar posições iguais ou semelhantes. Com isso estamos negando nossa existência como tal.
De modo geral não se espera com ansiedade o irrompimento do novo mundo de Deus. Isso também não significa que já se vivesse do 'agora' (presente) do reino que começou a se estabelecer com Jesus. Sinto como todos esses conceitos e a realidade que está por detrás estão distantes da vivência da maioria de nós. Se muito, espera-se a implantação do novo mundo de Deus para após um juízo. Quem for aprovado naquela prestação de contas, terá parte Procura-se uma vivência condizente com critérios por nós estabelecidos. Uma certa moralidade e a participação nos ritos que existem no círculo restrito da comunidade, garantem nossa futura inclusão. No dia-a-dia vigoram a regras segundo as quais todos fazem seu jogo da vida. O futuro, como antecipado em Jesus, é pouco concreto. Por isso nossos sonhos com relação ao futuro precisam de uma correção. Nosso texto nos confronta com o já e mostra a correlação com o ainda não.
A radicalidade evangélica é surpreendente nesta parábola. A alegria e a seriedade do hoje estão justapostas.
Para os fariseus, Jesus era muito unilateral. O futuro é para aquele que agora ousa caminhar com Jesus e seu povo. E isso era pedir demais. Exige uma mudança na visão de vida. Significa romper com o círculo dos esforçados piedosos.
Ë impressionante como Jesus não distancia o 'indicativo' do 'imperativo'. O interlocutor sabe de imediato em que implicava caminhar com Jesus. O homem de Nazaré não apresenta um relacionamento abstrato com Deus, mas compromete simultaneamente com o povo que já o segue. No encontro com o jovem rico, vemos também o imperativo 'vende’ comprometido com o 'segue-me' (Lc 18,22). As consequências a serem tiradas não são opcionais.
A preferência de Deus salta aos olhos, ao observarmos a constituição do povo que o acompanha.
Com quem nós nos solidarizamos, evidencia se agarramos o 'agora' do novo mundo, manifesto em Jesus, ou se ainda vivemos na ilusão. Porque participar do novo mundo, implicava em mudança do lugar social. Reconhecer-se como pobre, carente de ajuda, como todos os que caminhavam com Jesus. Caso não quisesse pagar este preço, ele se excluía do agora e do futuro do novo mundo. Só aqueles que agora se põem do lado de Jesus e do seu povo, estão participando. Não é uma mudança que pudéssemos realizar após estudos teóricos, mas é uma mudança ao nível da fé. Temos que ser conquistados pelo Senhor para esta mudança, caso contrário, tudo não passará de um romantismo passageiro ou de um legalismo escravizador, destituído de toda alegria. Uma coisa é clara, não podemos caminhar com Jesus, se não quisermos caminhar com seu povo miserável (não só economicamente!). Assim se expressa o novo mundo que agora está preparado (v.17). A alegria desta participação não é triunfalista, porque continua sob a cruz, mas nem por isso deixa de ser experiência de libertação.
Suportamos nós esta forma de Deus inaugurar seu novo mundo? Atestam nossas comunidades que estamos caminhando com este Jesus unilateral? Estamos nós dispensando o aval dos poderosos deste mundo para nossa opção evangélica? Nossa prática de Santa Ceia, como prefiguração do novo mundo de Deus, não testemunha exatamente uma oferta de salvação sem qualquer comprometimento, sem qualquer solidarização com o povo a quem é afiançado o reino (Lc 6,20)?
4.0 — Dicas para a Prédica
É importante que os ouvintes percebam o ponto de comparação. Cabe aqui muita clareza para que o ouvinte não se amarre num ponto secundário. (Por exemplo: a ira do dono da casa).
Para que o ouvinte entenda a parábola como resposta e desafio, é necessário mostrar que ela foi motivada pela segurança e a ilusão, em que vivia o piedoso. Só depois que conseguimos descobrir seus representantes hoje, a palavra de Jesus encontrará ouvidos.
Leia-se de início o v.15, para então detectar seus representantes entre nós. Em seguida, leia-se a parábola (vv.16ss) como resposta de Jesus. A mensagem poderá girar em torno do aspecto central: O ‘hoje’ do Novo Mundo se estabelece, caminhando com Jesus e seu povo miserável. Aquele que não quiser pagar o preço em que isto implica, se exclui de uma futura participação também. Volte ao item meditação para maiores subsídios.
5.0 – Bibliografia
– BORNKAMM, Günther. Jesus von Nazarelh. Stuttgart. 197 l (em português: Jesus de Nazaré. Petrópolis. 1976).
– GRUNDMANN, Walter. Das Evangelium nach Lucas. Berlim. 1971.
– JEREMIAS, Joachim. Die Gleichnisse Jesu. 7a ed.. Göttingen. J972 (em português: As parábolas de Jesus. Ed. Paulinas. 1976).
– LINEMANN. Eta. Gleichnisse Jesu. 5a ed.. Gottingen. 1969.
– LOHSE. Eduard. Umwelt des Neuen Testaments. Göttingen, 1971.