Prédica: Isaías 60.1-6
Autor: Erhard S. Gerstenberber
Data Litúrgica: Dia da Epifania
Data da Pregação: 06/06/1980
Proclamar Libertação – Volume: V
I — A glorificação dos oprimidos
Nas últimas semanas acompanhei, através da televisão e jornais, o drama da revolução sandinista na Nicarágua. Houve luta sangrenta contra uma ditadura de mais de 40 anos. Finalmente, no dia 20 de julho de 1979 os guerrilheiros entraram na capital,, Manágua, aclamados em delírio por cerca de 200.000 pessoas na 'Praça da Revolução'… (Veja, 25.7.79, p. 35). As cenas transmitidas naqueles dias pela televisão foram emocionantes. Será que a luz começara a brilhar sobre um povo explorado e torturado há tantos anos? A vitória da revolução significaria o fim da escravidão e escuridão? Apesar das dificuldades internas e externas que o novo governo doravante vai enfrentar, parece mais do que justo avaliar a situação atua) da Nicarágua em termos de luz e trevas. O importante, após a fuga do último somozista na quinta-feira, era festejar, aclamar, dar tiros para o ar e brincar até a exaustão. (Veja, 25.7.79, p.35) No dia da vitória final o povo viu a luz – e por isso não se preocupou com as dificuldades vindouras.
Está certo iniciar assim uma meditação para a festa de Epifania? É legítimo comparar palavras bíblicas com um incidente tão profano e transitório como uma revolução latino-americana? Creio que sim! Em primeiro lugar, Is 59.15-60.22 é um texto que fala nitidamente de uma constelação política bem concreta. Não importa se colocamos este trecho no final do século VI a.C., quer dizer, nos primeiros anos após a libertação de Israel do cativeiro babilônico, ou se o localizamos no século V a.C.. Também nesta época, sob o domínio dos persas, aconteceram graves conflitos com os povos vizinhos, quando a cidade de Jerusalém era aparentemente mal afamada por ser rebelde e danosa aos reis (isto é: do estrangeiro) e às províncias… (cf. Ed 4.iss, especialmente os vv. 15 e 19). Basta saber que o povo de Israel vivia numa dependência total do Império Persa. Mesmo admitindo uma certa liberdade religiosa, os soberanos distantes exigiam muito dos seus vassalos em termos políticos e econômicos. As implicações políticas do texto se evidenciam claramente, por exemplo, na preparação bélica de Javé para entrar na batalha e resgatar o seu povo (Is 59.16ss), ou na peregrinação das nações para Jerusalém (Is 60.4ss). Esta é justamente a temática central de nossa passagem. Os que ontem eram conquistadores trazem agora os cativos de volta, e prestam tributos e serviços a Israel (Is 60.9s). … a nação e o reino que não te servirem, perecerão; sim, essas nações serão de todo assoladas. (v. 12)
Por outro lado, aquela espiritualização do nosso texto, tão comum na pregação cristã, não tem base no Antigo nem no Novo Testamento (cf. Westermann, p.284). Aquela visão – as outras nações fazendo uma verdadeira romaria para o Monte Sião a fim de adorar o Deus israelita – mesmo sendo escatológica, não deixa de ser esperança real na época pós-exílica (et. Is. 2.2-5; SI 87; Is 54.1ss; 55.5; 62.1ss; 66.10ss). E a projeção desse sonho sobre Jesus (cf. Mt 2.1-12; Ef 1.19ss; Fp 2.10; Ap 14.lss etc.) igualmente não dissipa o caráter material da salvação. O reino de Deus jamais foi uma ideia abstrata ou restrita à edificação interna e emocional de almas individuais. Neste sentido, a festa da Epifania de Cristo tem o mesmo peso como o Natal e, de certo modo, até como a Páscoa: Cristo irrompe nas trevas deste mundo, como o sol nascente, transformando as situações concretas de injustiça e opressão em um reino de paz e de amor. Ouço agora uma outra objeção: Impossível! Não se pode comparar a revolução sandinista com o reino de Cristo! É verdade? Sim! Mas mesmo que não se possa identificar as duas coisas, de certo existem afinidades entre ambas. Parte do impulso que promoveu a revolução na Nicarágua provinha da tradição cristã. Além disso, pelo menos consoante a concepção do Antigo Testamento podemos afirmar que Deus aproveita livremente os mecanismos históricos e políticos a fim de alcançar os seus objetivos. Assim, justamente da época em questão se afirma que foi Ciro, o rei persa, que desencadeou a libertação e o novo êxodo de Israel do cativeiro babilônico, como mandatário involuntário de Javé (Is 45.1ss). É possível, pois, afirmar que Deus se opõe a qualquer perversão da sua justiça? Ou que Deus vai construindo o seu reino perfeito paulatinamente, inclusive através de transtornos político-sociais, quando for necessário?
Voltando ao nosso texto e ao cenário de Manágua naquele dia 20 de julho: a chegada de Deus, equivalente ao nascimento do sol depois defuma grande escuridão, faz resplandecer o rosto dos libertados. Há uma explosão de alegria. Não se pode, de jeito nenhum, conter essa emoção contagiante. Ela transborda, tornando-se um verdadeiro delírio de júbilo (cf. SI 126; Is 42.10ssetc.). Certo exegeta estranha que a luz divina é refletida pelos israelitas (S. Aalen. Theologisches Wõrterbuch zum Alten Testament.Vol. 1, pp. 180s). Mas não é natural que assim seja? A iluminação do espírito e das estruturas humanas, a clarificação de olhos cegos, deve se refletir no próprio comportamento das pessoas e das comunidades. Exemplos célebres são Moisés (Ex 34.29ss) e os discípulos de Jesus (Mc 9.2ss). Deus não tem outra chance de realizar os seus planos com a humanidade, a não ser que compartilhe a sua glória com os homens de fé. O maravilhoso é que isso não permanece apenas na teoria. Deus se solidariza realmente com os oprimidos, tanto no momento da vitória como depois. Preguemos, pois, essa alegria que provém de profundas transformações dentro do nosso mundo, alcançadas em serviço ao reino de Deus.
II – E depois?
Convém refletir brevemente sobre as consequências desta conscientização dos oprimidos à luz da chegada do Deus libertador. É verdade que revoluções na história humana terminaram muitas vezes em banhos de sangue e em repressão maior do que aquela que foi abolida. Tal reação dos oprimidos é perfeitamente compreensível. Terminada a festa da vitória, a gente tende a pensar em vingança, o que também transparece um pouco em nosso texto. Ver as caravanas e frotas estrangeiras se aproximando humildemente de Sião (vv. 3ss), deixar os líderes e ditadores de ontem fazer o trabalho de escravos (v.10) parece causar uma satisfação enorme aos israelitas explorados e torturados há tantas décadas. Mas não nos enganemos. Observa-se, já no Antigo Testamento, uma visão político-histórica que transcende a esse mecanismo natural de domínio e vingança. O nosso próprio texto comprova que Israel, além de defender o seu próprio interesse, quis ardentemente que todo mundo adorasse a Javé (w. 2s.: a luz de Deus atrai as nações; v.7: elas trazem sacrifícios para o Senhor). Mais ainda: o que os oprimidos desejam no final das contas não é um regime de contra-opressão, e sim de paz e de justiça (vv.17ss).
Seja como for, face a esta luz de Deus que quer libertar os oprimidos brota medo entre as antigas elites. Será que os miseráveis, uma vez apossados do poder, vão simplesmente inverter os papéis de oprimido e opressor? É justamente essa a grande dúvida das pessoas influentes em todos os países, especialmente entre os chamados países liberais. É este o medo existente entre os brancos da África do Sul. Os povos desenvolvidos estão também acordando para a ameaça que o terceiro mundo representa (veja abaixo). E os cristãos que moram no centro das cidades brasileiras ou nos seus bairros elegantes, estão pressentindo o terremoto que uma insurreição dos favelados poderia originar. Por outro lado, o medo das antigas elites pode gerar preocupações novas aos próprios rebeldes recém vitoriosos. Quanto a isso, apenas uma manchete do Correio do Povo de 27.7.79: Junta teme um ataque das forças do filho de Somoza.
Mesmo considerando essa realidade humana temos que Insistir, apesar de tudo, que a luz da libertação deveria superar inclusive as nossas diversas preocupações. Existe uma grande diferença entre a condição humana pressuposta no Antigo Testa¬mento e a nossa situação, a saber, a preserva de Cristo. Foi ele quem ampliou o horizonte da salvação, para incluir todas as nações, etnias e agrupamentos humanos. Libertação dos oprimidos não mais significa aniquilação brutal dos opressores, como foi costume no antigo Israel (cf. Ex 15.1-21; Jz 5 etc.). Ao tomar posse do governo, por exemplo, os até então privados e desumanizados recebem nova chance de viver em dignidade. A luz da liberdade se reflete no seu agir. Serás radiante; o teu coração estremecerá e se dilatará de júbilo… (Is 60.5) Por outro lado, a fé cristã deveria se concretizar também no tratamento aos inimigos vencidos. Sabemos hoje que também eles eram seres alienados, pervertidos pela posse de poder e bens excessivos. Despojados de sua glória, esses opressores recebem a chance de recuperar a sua essência humana, reparando no que for possível os danos por eles causados. Neste sentido, esperamos que a revolução da Nicarágua seja mais cristã do que aquela feita pouco antes no Ira.
Cabe ainda destacar, com ênfase especial, que todas as luzes que se acendem neste mundo, seja por revoluções justas ou por desenvolvimento favorável às massas oprimidas, são nada mais e nada menos do que sinais do reino vindouro de Deus.
III – A escuridão que permanece
Todas as reflexões acima parecem irreais e inúteis se não tomarmos em conta aquela escuridão, da qual fala o texto (v.2) e na qual nós estamos vivendo. Pois sabemos muito bem que nem todos os dias brilha o sol, ou seja, nem sempre se participa de uma festa de libertação. A tarefa do cristão será então reconhecer e aguentar a realidade objetiva, orientando-se por essa libertação que se aproxima com* a chegada de Deus.
Reconhecer as verdadeiras trevas no nosso mundo se torna tio difícil porque estamos todos presos a preconceitos tradicionais. Em nossas comunidades lidamos, via de regra, com a ideia de que a escuridão consiste principalmente de pecados individuais e mentais. A salvação, consequentemente, pode acontecer no nível espiritual da existência, sem atingir o corpo humano nem os organismos sócio-políticos.
Contrariamente a essa ideia, nós pressupomos uma situação histórica e real como pano de fundo de nosso texto. Como paralelo poderíamos acrescentar uma passagem do Primeiro Isaías. Is 8.21s descreve a miséria do povo, enquanto Is 9.1-7 anuncia a salvação. A terminologia predominante é a da escuridão e luz e, mais importante, o trecho está claramente localizado dentro da situação política da década de 732 – 722 a.C. (cf. A. Alt). Numa passagem do profeta Oséias (5.8 – 6.6) encontramos, curiosamente, uma linguagem semelhante: … os meus juízos sairão como a luz (Os 6.5). Essas observações se coadunam bem com a atividade profética em geral como ela transparece no Antigo Testamento. Os homens de Deus normalmente partiram das trevas existentes para anunciar juízo e salvação.
Achamos, portanto, legítima a tentativa de interpretar também Is 60.2 em termos sócio-políticos. Não concordamos neste ponto com C. Westermann (p. 284) que descobre uma profunda espiritualização e desistorização em nosso texto. (Mais adiante, p. 288, ele mesmo avalia a situação bem mais concretamente.) O profeta que costumamos denominar Terceiro Isaías, e que atuava por volta de 500 a.C., não se afastou da realidade contemporânea. Ao contrário, estava muito bem enraizado em sua situação.
Perguntamos, agora, por situações análogas em nosso tempo, as quais poderiam servir como ponto de contato com a mensagem vetero-testamentária e como ponto de partida para a nossa pregação. Queremos abordar ligeiramente três conjunturas atuais sem, contudo, esgotar a lista de possíveis analogias.
1. Saiu há pouco tempo uma lista do Produto Interno Bruto de diversos países, com o cálculo da renda per capita. Refiro-me a uma breve notícia no Correio do Povo de 25.7.79. O que revela esta lista? Cinco países – Suíça, Kuwait, Dinamarca, Suécia e Alemanha Ocidental – ganham em média mais do que 10.000 dólares anuais por pessoa. Seguem-se outras quinze nações com uma renda per capita de mais de 5.000 dólares. Em 41o lugar se encontra a Argentina (1.740 dólares) e em 425, o Brasil (1.624 dólares). As rendas de mais ou menos cem nações, todas com menos de 1.000 dólares per capita, nem são registradas nos jornais. Que significam esses dados? Em primeiro lugar, persistem claramente as estruturas econômicas e políticas que mantêm a grande maioria dos homens à beira da fome. Em segundo lugar, pode-se especular sobre a existência de um regime de controle que assegura esse status quo aos países ricos e poderosos. Tal suspeita é certificada quando lemos, por exemplo, o livro editado por H. Assmann. Cerca de duzentas pessoas influentes, representando os Estados Unidos, a Europa e o Japão, estão mantendo contatos, desde 1973, a fim de estabilizar a ordem mundial e se aproveitar melhor das riquezas existentes. Trata-se da chamada Comissão Trilateral, que usa uma linguagem suave e até compassiva, para com o Terceiro Mundo, mas está disposta a combate- caso não aceite a ordem estabelecida. Escreve Z. Brzezinski, assessor do presidente Cárter …hoje em dia, achamos que o plano visível da cena internacional está mais dominado pelo conflito entre o mundo avançado e o mundo em desenvolvimento do que pelo conflito entre as democracias trilateralistas e os estados comunistas… e que as novas aspirações do Terceiro e Quarto Mundo, tomadas em conjunto, representam, no meu entender, uma ameaça maior à naturalidade do sistema internacional e, em definitivo, às nossas próprias sociedades… a ameaça é negarem-se à cooperação (citado em Assmann, p. 11). Temos aqui, sem dúvida nenhuma, o maior sistema de opressão já montado na história da humanidade. Dois bilhões de pessoas, ou mais, são vítimas desta conspiração. Não vemos sinais do dia da libertação.
2. Focalizando o Brasil e os seus múltiplos problemas ligados ao uso do poder econômico e político, queremos apontar para um fato no qual se anuncia os prenúncios de uma libertação. A desburocratização jamais se operará por decreto, pois ela terá que resultar da mobilização e até mesmo da revolta da sociedade contra a ineficiência e a ditadura administrativas que atingem a todos e a todos prejudicam. São palavras do Ministro Extraordinário para promover a desburocratização do país, Hélio Beltrão, conforme o Correio do Povo de 27.7.79. Quem se lembra do outro Hélio, que procurava o caminho da justiça nos primeiros anos da década de setenta (H. Bicudo), não vai confiar demasiadamente no êxito de uma tal luta contra o monstro da burocracia. Em todo o caso, podemos simpatizar com a análise do novo ministro, que se prontificou a ser o promotor da desburocratização. É preciso examinarmos se não estamos tratando a todos como se fossem desonestos, pois o papelório nasce da desconfiança e nada é mais simples e barato do que acreditar nas pessoas. O papelório nunca Impediu a fraude e o fraudador não teme o controle, pois está sempre disposto a burlá-lo, nada o detém, enquanto 97 ou 98 por cento das pessoas, que são honestas, sofrem as consequências de um mecanismo de controle que se revela ineficiente, precisamente com relação àqueles a quem é destinado. (Correio do Povo, 27.7.79)
3. Ainda mais próximo de nós encontramos pessoas ou grupos de pessoas que sofrem a opressão da sociedade, ou seja, de nós mesmos. Nossa sociedade desrespeita notoriamente aqueles que não têm poder, índios, mulheres, trabalhadores não especializados, domésticas, bóias-frias, posseiros, viúvas, alunos, pessoas idosas, criminosos que adquirem a liberdade etc. muitas vezes têm que viver em nível inferior. A opinião pública inclusive se opõe a qualquer tentativa de melhorar esta situação desprivilegiada. É muito difícil para as crianças de famílias marginalizadas saírem do círculo vicioso da pobreza, analfabetismo, doença, desemprego, criminalidade etc. Expressão chocante desta marginalização são as pessoas e famílias inteiras que se instalam nas imediações dos depósitos de lixo, e passam a viver, literalmente, dos restos sujos, fétidos e contaminados que caíram de nossas mesas. O que fazem os bons cristãos do centro e dos bairros nobres? Como poderia nascer o sol da libertação sobre esses miseráveis? O contexto maior de nossa perícope, mostrando uma certa afinidade temática, talvez dê uma orientação: Porventura não é também (este o jejum que escolhi) que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e se o vires nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante? Então romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda… se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita, então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. (Is 58.7-8,10)
IV – Lembranças para a prédica
1. O que dificulta a pregação da mensagem profética do Terceiro l saías são justamente os preconceitos espiritualizantes desenvolvidos ao longo da história da Igreja cristã. Eles podem também encobrir o sentido histórico e real do nosso texto. Como pregadores, temos que mostrar cuidadosamente a mensagem sócio-política de Is 60.1-6, sem ferir os sentimentos daqueles que interpretariam o texto de maneira abstrata.
2. Para alcançar este objetivo seria imprescindível levar a sério esta interpretação espiritual do texto, mostrando, contudo, que a salvação divina engloba o corpo, a matéria e a sociedade. A Bíblia não despreza este mundo material; ao contrário, o inclui na sua boa nova.
3. Os termos luz e trevas, encontrados no texto, relacionam-se com a linguagem da epifania de Javé (cf. Ex 19.16; 24.10; SI 18.11ss; 68.1ss; 104.2; Ez 1.27 etc.). Mas os textos proféticos, anteriormente citados, mostraram que esta linguagem se tornou simbólica, indicando o reino de justiça e a opressão injusta, respectivamente.
4. O importante para a prédica seria então identificar claramente situações análogas de nossa experiência. Onde é que nós, ou seja, a comunidade, sofremos as pressões desumanizantes? Onde e quando experimentamos a luz transformadora da justiça de Deus?
5. Cada texto da Bíblia tem a sua forma literária e o seu lugar vivência). Quanto a isso, Is 60.1-6 é um discurso profético com elementos de exortação, alerta, ensino, bem como de anúncio de eventos futuros.
6. A forma e o conteúdo do nosso trecho revelam uma certa dependência da primeira e, sobretudo, da segunda parte do livro de Isaías (compare, por exemplo, Is 60.4 com Is 49.18). Parece que o autor de Is 60 era um discípulo do profeta exílico (Is 40-55).
7. A linha profética da pregação deveria continuar até o nosso culto de hoje. Preguemos a luz da libertação, a alegria transbordante, mas dentro de nosso próprio contexto sócio-político. Está em jogo a salvação deste mundo, a reabilitação dos marginalizados, o nosso desprendimento de nossas riquezas etc.
8. Em nosso texto predomina o júbilo dos salvos, embora se saiba também das trevas existentes. Sem entrar neste segundo aspecto vai ser difícil comunicar o primeiro. Além disso, é possível que nós e os ouvintes da prédica estejamos confundindo luz e trevas. Entendemos por luz o bem-estar pessoal, quando na verdade ela significa o estado de justiça na sociedade humana. O pregador deveria procurar, portanto, esclarecimentos incisivos em torno da justiça maior do reino de Deus.
9. Na atual conjuntura brasileira, em fase de transição, poder-se-ia pensar numa atualização da volta dos dispersados (v.4). Seria legítimo estabelecer uma comparação com a anistia no Brasil, e seus efeitos? Se não, deveríamos pensar ao menos na recuperação dos marginalizados, como analogia moderna.
V – Bibliografia
– ALT, A. Jesaja 8,23-9,6. Befreiungsnacht und Krönungstag. In: Kleine Schriften zur Geschichte des Volkes Israel, Vol. 2. München, 1953.
– ASSMANN, H. ed. A Trilateral. Nova Fase do Capitalismo Mundial Petrópolis, 1979.
– BICUDO, H. P. Meu depoimento sobre o esquadrão da morte. 2ª. ed. São Paulo, 1976.
– ELLIGER, K. Die Einheit des Tritojesaja. Stuttgart, 1928.
– MESTERS, C. Seis dias nos porões da humanidade. Petrópolis, 1977.
– WESTERMANN, C. Das Buch Jesaja Kapitel 40-66. In: Das Alte Testament Deutsch. Vol. 19. Göttingen, 1966.