Prédica: 1 Coríntios 15.19-28
Autor: Rolf Droste
Data Litúrgica: Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 22/04/1984
Proclamar Libertação – Volume: IX
A REABILITAÇÃO DA VIDA
I — Considerações introdutórias
Conta-se que certo estudante de teologia perguntou a Karl Barth, qual era o princípio e a base de todas as suas reflexões. A sua resposta foi: Jesus vive! Parto desta realidade. (Schäfer, p. 76)
Não fosse a ressurreição de Cristo, vida, fé, Igreja e tudo mais seria um absurdo vazio. A Igreja seria uma organização social dentre outras tantas, com certa ideologia, porém sem perspectiva de ganhar o espaço e a dimensão maior do Reino de Deus. Morreria na sua própria casca. E melhor seria comer e beber (v.32), isto é, valer-se ao máximo do material e do capital.
O apóstolo se expõe aqui ao ridículo, como tantas outras vezes (Rm 1.16), testemunhando a ressurreição. A fé sempre está exposta, em todos os sentidos. Ela enxerga além da razão humana, como se sonhasse (Sl 126.1). Só quem respira esperança (v.19; t Pé 1.3) consegue falar no Cristo vivo. — Mais, se Cristo não ressuscitou (vv. 14ss), o Reino de Deus também não nos veio próximo na sua vida terrestre (Mc 1.15). Cristo então é a grande mentira. A promessa sem cumprimento. E a morte(v.26), então, manteria em suas gélidas mãos a fanfarra final.
A dificuldade está no confronto do Evangelho (boa nova) da ressurreição com as coisas de morte que vemos acontecer a cada dia. Tudo nos quer fazer crer que a exploração e o aniquilamento da vida são o fim inexorável.
Ter dúvidas quanto à ressurreição dos mortos até pode sei considerado uma coisa normal neste mundo. Mais do que vida, os nossos olhos vêem morte. Daí porque não cabe censurar os cristãos de Corinto, tão espirituais e carismáticos, que aceitavam a ressurreição de Cristo, mas desacreditavam da sua própria.
O quanto já na época de Paulo a questão era polêmica, vemos na sua afirmação de que estes se desviaram da verdade, asseveran¬do que a ressurreição já se realizou (2 Tm 2.18). Esta é, portanto, mais uma forma de resolver o problema da ressurreição.
Mas Paulo, em todo este capítulo da sua carta, fala da grande verdade, que Jesus formulou com estas palavras: Eu vivo, e vós também vivereis (Jo 14.19). Nesta palavra Lutero se apoiou constante-mente nas horas de luta e de dúvidas, chegando a dizer: Cristo vive, e se ele não vive, eu não desejaria viver nem mais uma só hora.
II — Exegese
V.19: O texto apresenta, neste versículo, uma pequena dificuldade de tradução, que, no entanto, não tem importância fundamental para a interpretação. O termo MÓNON (apenas) está ligado a a esta vida, ou a esperança? Alguns traduzem: Se, nesta vida, apenas esperamos (e a ênfase é colocada no apenas), então somos os mais infelizes de todos os homens. Neste caso se trataria de uma esperança que jamais se tornaria realidade. Mas a maioria traduz como Almeida, o que equivale ao seguinte: Se aquilo que temos a esperar de Cristo se limita apenas a esta vida… (Voigt, p. 149). — Mesmo assim, quê esperança em Cristo seria essa, se ficasse limitada a esta vida? Então, sim, os cristãos seriam os mais miseráveis de todos. A esperança faria apenas o papel de um anestésico. Seria o coroamento do absurdo, se Deus tivesse revelado em seu Filho todo o seu amor aos homens, para no fim permitir passivamente que a morte o tragasse. Que Cristo seria esse, que primeiro liberta as pessoas das trevas para a luz, para depois desaparecer na sombra da morte?
V.20: Por isso é necessário testemunhar mais uma vez a ressurreição de Cristo. Ele é o principio da ressurreição de todos (Cl 1.18). As primícias dos que dormem. Primícias, na linguagem cúltica veterotestamentária, são os primeiros molhos de trigo e frutos dados em sacrifício a Deus (Dt 18.4; 26.2,10), em reconhecimento de sua soberania, da qual se recebe toda a bênção. Por ele, tudo o que estava ainda para colher podia-se considerar santificado (cf. Rm 11.16; Walter, p. 283). A ressurreição, assim Paulo o quer dizer, deve ser entendida pelos coríntios como o começo da sua própria ressurreição. A ressurreição de Cristo, como primícias, traz consigo a ressurreição de todos. Com a sua ressurreição, todos os que dormem já começaram a levantar. Cristo, como o Verbo que se fez carne (Jo 1.14), é a manifestação de vida de Deus. Nele Deus, por assim dizer, recomeça a criação, ou começa a criar novo céu e nova terra (Ap 21.1ss). Esta verdade, que o Filho — tal como o Pai — tem vida em si mesmo (Jo 5.26), foi reconhecida e confessada desde os primórdios da cristandade. É fundamental reconhecer: se a morte estiver no trono, nem a vida, nem o Evangelho, nem o mundo, nem nada faz sentido. Mas em Cristo está a plenitude da vida (Cl 1.19), e por isso ele mesmo quer que todos a tenham em abundância (Jo 10.10).
V.21: A desgraça vem de Adão; de Cristo, a vida. Cristo é o fim do primeiro homem, Adão (vv.45ss). Através de Adão a morte se insta¬lou no mundo, mas por Cristo ela foi tragada (Rm 5.12ss; v.54b).
V.22: Da forma como a morte de Adão determinou a morte de todos os homens e de toda a criação (Rm 8.22), assim a ressurreição de Cristo passa a determinar a vida de todos. — Fica aberta aqui a questão, se a ressurreição é de todos ou somente dos que são de Cristo. Neste versículo fala-se simplesmente em todos, como mais tarde está definido no Símbolo de Atanásio: À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos (Livro de Concórdia, p. 22).
V.23: Neste versículo transparece a unidade de Cristo com os seus (Rm 8.17). Fala-se apenas na ressurreição dos seus.-Não é dito como será com os demais, mas Paulo não os deve ter excluído (2 Co 1.9). Apenas não os cita, porque está se dirigindo aos coríntios em particular.
V.24: De forma alguma deve-se traduzir o começo deste versículo com e então virá o resto (os restantes, os demais), como se Paulo se referisse aqui aos que não são de Cristo (v.23). TELOS significa de fato o fim. Não o fim da História, mas a consumação da sua meta final (v.28). — Toda resistência, todos os que usurparam o lugar que cabe unicamente a Deus, serão colocados sob os seus pés (S1110.1). A ressurreição de Cristo é o desencadeamento do poder de Deus que começa a restabelecer a sua prioridade (Brakemeier, p.17). — Aqui não se justifica divagar sobre o milênio (Ap 20). O acento está no poder de Cristo que desírói todos os poderes concorrentes que se oferecem como ídolos (1 Co 8.6). O seu alvo é colocar tudo sob os pés de Deus (Ef 1.20ss), até que Deus não seja mais contestado e questionado (Gn 3.6). A soberania de Deus existirá. Mas tudo isto acontecerá com ten¬soes.
V.25: Cumprir-se-á, porém, o que está no salmo messiânico (110.1), que todos os inimigos ficarão sob os seus pés (Ef 1.19-22). Se a morte tivesse retido Cristo, Deus estaria posto em xeque.
V.26: Assim mesmo, é preciso reconhecer que a morte, mesmo que numa liberdade de ação vigiada, continua como inimiga. Ela continua colhendo os homens através do vírus do pecado (Rm 5.12). E ela é tão angustiante (Sl 18.5; Sl 116.3), porque na morte não se pode mais louvar o Senhor (Is 38.18s). Ela parece o fim. Só pode destruí-la quem está sem pecado (Jo 8.46a), mesmo que feito pecado por nós (2 Co 5.21 a). Somente o Ressurreto tem autoridade sobre a morte (Mt 28.18). Ou melhor, ele tem autoridade sobre todas as coisas, porque derrotou o último inimigo, a morte.
V.27: Aqui fica evidente como o ministério de Cristo é ação de Deus. O salmo citado (SI 8.6) diz que Deus sujeitará tudo. E aqui o próprio Cristo aparece como aquele que tudo domina. Isto mostra que Deus está em Cristo e que este é a expressão da sua vontade (Jo 4.34). Somente o próprio Deus estará excluído da subordinação. — No entanto, vale o que lemos no Símbolo de Atanásio: E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor. (Livro de Concórdia, p. 21)
V.28: Chegará a hora em que o Filho devolverá ao Pai todo o poder. Nada estará excluído. Também a morte estará aniquilada (Ef 4.8-10). Os mortos ressuscitarão. Deus será tudo em todos. Todos os espaços serão seus. Não haverá mais área santa e área profana. A dualidade acabará. Então não haverá mais lágrima, nem morte, nem dor, nem contaminação, nem maldição, mas cura, vida e comunhão (Ap 21.1-5a).
III — Meditação
Quem não sabe o que pregar na Páscoa também não vai saber o que pregar em outros dias. A ressurreição de Cristo muda tudo. Tudo é visto a partir da vida e da vitória de Deus sobre o diabo e a morte (Jo 8.44). Esta vitória não é um acontecimento isolado, mas abrange a todos nós. Assim como Cristo morreu por nós, assim a sua ressurreição também é para nós. Com ele começou a nossa própria ressurreição (Rm 6.3-10).
Mas contra este Evangelho argumenta-se com outros fatos, e visíveis. A cada instante morre alguém. Em toda parte a vida está em perigo e sofre cortes. Nos falecimentos e enterros fica-se sem saber o que dizer. Em certos casos se diz: Que bom, assim ela pelo menos descansou. Mas fica a pergunta: Só descansou? Nada mais a dizer? Não se trata apenas de um truque que faz de conta que a morte é uma amiga?
Escritores e poetas se ocuparam muito com este tema. Expressam o que tantos outros pensam. Por exemplo, a poetisa judia Mascha Kaléko escreve em seu Memento:
Da minha própria morte eu não tenho medo,
só da morte dos que me estão próximos…
o partir não é tão dolorido como o ficar…
Lembrai: A morte própria, esta apenas se morre,
mas com a morte dos outros é preciso conviver (Traduzido por Erk, p.207).
Aqui não há perspectiva de vida. Somente saudade, afetividade.
Diferente se expressa o poeta gaúcho Mário Quintana, em seu poema Viagem, publicado no Correio do Povo, em 20.10.1979:
O bom mesmo é partir. Para que chegar?
É assim que eu imagino
o que vocês chamam a última viagem!
A gente embarca num trem, daqueles bons
porque bem demorados: o Maria Fumaça.
Vai lendo velhas revistas ilustradas e
que afinal não são mais do que
as recordações da gente.
Com o passar do tempo, as imagens vão desaparecendo,
desbotando, desgastando-se, até que
as páginas fiquem inteiramente em branco.
Até não te lembrares do teu próprio nome.
É o que se costuma chamar de sono eterno.
Até hoje ninguém soube o destino
desses viajantes adormecidos.
Os que embarcaram uns duzentos anos antes de nós,
esses viajaram de diligência.
E de diligência deve ser mais divertido,
pois pode haver assaltos de índios,
como nos filmes do faroeste.
Só não invejo os que estão partindo
agora de avião a jato.
Vão tão rápido que são capazes de
chegar — ainda despertos — a alguma parte!
Não se sabe…
Aqui existe a concordância com o partir. O sono é bem-vindo. Além, no sono, não se penetra, mas… não se sabe…
Em 160 d.C., o filósofo Celso desafia os cristãos, perguntando: Vocês pensam que aquilo que os outros contam é uma fábula (que heróis tenham retornado do mundo dos mortos),… mas que vocês acharam a saída fidedigna da encenação (o aparecimento de Cristo no mundo). Quem viu que ele ressurgiu como morto, ele que — vivo — não sabia ajudar-se a si mesmo? Uma mulher meio maluca… e talvez mais um outro do mesmo grupo, que tinha predisposições para esse tipo de sonho… ou que… e é isso que eu suponho… queria assombrar outras pessoas com essa charlatanaria. (Traduzido de Kirchliches Aussenamt der EKD. p. 98).
O mundo helenista e também o judaico não sabem como enquadrar o absurdo da ressurreição. No judaísmo muitos esperavam, porém nem todos (Mc 12.18-27), uma ressurreição no fim do mundo, mas ninguém afirmava de um morto que ele já ressuscitara agora. E no mundo helenista se falava da apoteose dos grandes homens, querendo expressar com isso que suas almas, de origem divina, regressaram ao mundo dos deuses. Uma ressurreição do corpo, porém, parece-lhes, como aos filósofos em Atenas (At 17.32), um absurdo (Kirchliches Aussenamt der EKD, p. 106).
Pensamentos e filosofias assim estão presentes na vida das pessoas, e também das igrejas cristãs. A ressurreição de Cristo, vá lá, mas crer que com a sua ressurreição já aconteceu também a nossa, para isso não há cabeça. E assim estamos sob a afirmação de Paulo: Se a presença e vida de Cristo — em nós — ficam limitadas aos dias desta nossa vida terrestre, que esperança é.essa? No fim, então, fica tudo no mesmo. Um pouco mais de amor durante a vida, alguma espe¬rança por sublimações, mas no fim o vazio, a miséria e infelicidade (v. 19). Então, sim, é melhor valer-se da exploração da vida e do próximo (v.32), afundar-se nas drogas e nos anestésicos. Ou, no máximo, deveríamos satisfazer-nos com a interpretação de que a nossa ressurreição já aconteceu com a nossa conversão para Cristo (2 Trn 2.18).
Mas Paulo insiste no fato da ressurreição de Cristo e na sua abrangência universal. Resulta em esquizofrenia espiritual, crer na ressurreição de Cristo e ao mesmo tempo compreender-se como alguém que, apesar de ainda vivo, acabará morto. Em vez de se compreender como alguém que, mesmo morrendo, viverá para sempre (Jo 5.24; 6.47; 11.25,26). Cristo não veio para fazer uma apresentação de espetáculo e ser aplaudido. Veio compartilhar, assumindo a nossa morte e dando-nos a sua vida. Ele não é o único ressuscitado. É o primeiro, as primícias dos que dormem (vv.20-23). Assim, os cristãos não têm apenas uma esperança, mas um Senhor vivo. Se assim não fosse, o ser cristão e a Igreja não passariam de embuste e vigarice. E melhor seria acabar com o Batismo e a Santa Ceia, porque teriam apenas a finalidade de dopar. Para que comungar, para que comer o seu corpo e beber o seu sangue, se no fim a morte comesse tudo? E batizar para quê, se a vida eterna é apenas privilégio do Senhor? Então Cristo seria apenas a repetição do que temos diante dos olhos a cada dia: a vida como privilégio dos grandes. Os pequenos que morram. Paulo, porém, grita que não é assim com Cristo: Fomos sepultados com Cristo na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida (Rm 6.4). E esta vida permanece, mesmo que tenha de passar pelo gargalo da morte.
De fato, se Cristo não fosse primícias da nossa ressurreição, a Igreja precisaria acabar com os dogmas de agora e adotar uma filosofia ou ideologia humanista, quem sabe, para lutar por uma sociedade mais justa e igual. Mas também só isso. E falar em Reino de Deus seria eternamente um sonho, se não houvesse ressurreição dos mortos, mesmo tendo Cristo ressuscitado. — É na ressurreição que está o fundamento do Evangelho e do Reino. Lutero, na explicação ao 2° Artigo do Credo Apostólico, no Catecismo Maior, diz: Senhor significa tanto como Redentor, isto é, aquele que nos trouxe do diabo a Deus, da morte à vida, do pecado à justiça, e que nisto nos conserva (Livro de Concórdia, p. 450s).
Claro, aqui o Evangelho da ressurreição e a fé são inseparáveis. Todo o quérigma1' contido no Credo Apostólico cai por terra e, com isso, a própria fé, se a confissão parar com morto e sepultado, desceu ao inferno. Lutero diz a respeito: A fé seria um pensamento inútil e mero sonho, como se alguém dissesse durante o sono: Eu creio em Cristo!, mas ao acordar se perguntasse: O que era isso? Fora com essa fé! — Assim a cristandade estaria composta de pessoas enfeitiçadas que vêem fantasmas. De que adiantaria então crer em Deus e Cristo? Se fosse um logro e uma tapeação (Bescheisserei und Täuscherei) alguém pregar que existe uma ressurreição dos mortos, e ela não existisse, — esse então seria o maior de todos os logros. (Traduzido de Voigt.p. 151 s)
Sem ressurreição, não deveríamos fazer caso de Cristo (Is 53.3). A inimizade persistiria (Ef 2.14; Rm 8.7) e falar em posteridade de Cristo seria ridículo (Is 53.10). Então as bem-aventuranças deveriam ser escritas em forma de antítese a penúltima delas poderia ser assim: Perdidos estão os perseguidos pela justiça, porque no fim tudo terá sido em vão (Arens, p. 74). E sobre o túmulo de Jesus, que se disse um com o Pai (Jo 10.30), deveria estar escrito: Amado por ninguém, odiado por ninguém, faleceu hoje, depois de longo sofrimento, suportado com paciência celeste: Deus (Arens, p. 90)!
Mas acontece o contrário, afirma Paulo. A vida está muito viva. Na vinda de Cristo todos ressuscitarão (v.23). Nenhum poder contrário a Deus resistirá, seja qual for a forma camuflada que o diabo usar. Isso naturalmente parece ser hoje uma loucura (1 Co 1.18). Mas o Evangelho todo, não é ele uma alegre loucura, que põe de pernas para o ar a ordem burra deste mundo, montada em cima de vaidades e traições? O que, neste mundo, é de fato assim como se nos apresenta? Até mesmo a morte ainda é enfeitada. Mas os principados, sejam eles de carne e sangue, sejam eles as forças espirituais do mal (Ef 6.10), vão cair (Ap 14.8). Vai vingar a vida como dom gratuito de Deus (Rm 6.23), palavra que fiz escrever sobre o túmulo da minha família. — Na explicação ao 2° Artigo antes já citado, Lutero diz com muita particularidade: Aqui aprendemos a conhecer a segunda pessoa da Divindade, para sabermos o que temos de Deus atém dos bens materiais…, a saber, como ele se derramou inteiramente, nada havendo retido que não nos desse (Livro de Concórdia, p. 450).
Entrementes os cristãos têm participação na morte e ressurreição de Cristo. Exatamente a ressurreição é a força que os coloca no caminho e a serviço da vida. A criação já é coisa feita. Também a ressurreição já está realizada. Mas o Espírito Santo leva avante sua obra sem cessar, até o último dia. Para tanto institui na terra uma congregação, pela qual fala e faz tudo. (Livro de Concórdia, p. 456) Em Cristo, portanto, temos e somos vida. Mesmo morrendo, viveremos! E o 1° Mandamento será o único que restará de todos eles, quando Deus será tudo em todos (v.28). De Deus ninguém escapa. Só vai haver ainda uma maneira de se viver: sob Deus. O nosso próprio ser estará permeado de Deus (Ap 22.1-5). Essa esperança não nos deve cegar para os desafios e as lutas de hoje; mas as lutas e dores de hoje também não nos devem cegar para o fim daquele Deus tudo em todos (v.28; Rm 8.31-34, 39).
IV — Indicações para a prédica
Na primeira parte, seguindo a meditação, poder-se-ia confrontar textos de hinos de Páscoa com o que se pensa por aí sobre a morte e a ressurreição. Não há ressurreição dos mortos (v.19)?
Na segunda parte colocar toda a ênfase na ressurreição de Cristo, com a qual veio a ressurreição dos mortos (vv.20-23). Aqui está o fundamento de tudo. A reabilitação da vida.
Numa terceira parte, pode ser colocada a perspectiva da derrota de todos os inimigos de Deus (vv.24-26), que na ressurreição de Cristo já é realidade. No Domingo de Páscoa fale-se deste triunfo, antes e acima de tudo. A derrocada do diabo e da morte está compreendida na ressurreição de Cristo. Fale-se hoje da sua ressurreição. A luta contra os poderes contestadores deveria ser colocada desta vez em segundo plano. Dela se fale nos outros domingos, especialmente na época da Trindade.
E num quarto e último passo ressalte-se o senhorio exclusivo de Deus. A verdade, expressa nas palavras do 1 ° Mandamento, é absoluta.
V — Subsídios litúrgicos
1. Confissão de pecados: Deus todo-poderoso, em Jesus Cristo tu te revelaste a nós como nosso bondoso Pai e Salvador. Vieste como luz do mundo, mas nós ainda nos escondemos de ti; vieste como o caminho, e nós nos perdemos pelos atalhos; tu és o pão da vida, e nós procuramos satisfazer a nossa fome com coisas inconsistentes; tu és a ressurreição e a vida, e nós andamos assustados com a morte. Senhor, perdoa a nossa falta de fé, de confiança e esperança. Perdoa que os nossos conceitos e preconceitos constantemente se sobrepõem ao teu Evangelho libertador. Tem piedade de nós, Senhor!
2. Oração de coleta: Deus, nosso Pai, aqui estamos como teus filhos, como membros do corpo crucificado e ressuscitado do teu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor. Vem com o teu Reino e o teu poder para o nosso meio, para que aqui nasça uma fonte de água viva e um testemunho que se sobrepõem a todas as estiagens e oposições. Fala-nos, renova-nos e une-nos pela força do teu Espírito para sermos presença de vida neste mundo de morte. Amém.
3. Oração final: entoar o louvor e a adoração daquele que é, que era e que há de vir; lembrar que, mesmo que os olhos enxerguem morte, a fé vislumbra a vida, pois, com a ressurreição de Cristo, Deus já tirou os cadeados que a morte colocou nos túmulos; interceder pelos que têm dificuldade de crer em Deus, Senhor da vida, porque experimentam ameaças à vida, não obtendo um pagamento justo pelo seu trabalho, não tendo acesso à saúde e a um bem-estar material e social mínimo; pelas crianças que muitas vezes já são mortas antes de serem dadas à luz; pelos idosos, cujos dias passam, mas cujo Senhor vai permanecer com eles; pelas autoridades, para que reconheçam que estão sob a autoridade de Deus; que todos nós sejamos portadores da ressurreição e da vida naquilo que dizemos e fazemos, certos de que as chances da morte diante da vida estão de raízes cortadas.
VI — Bibliografia
– ARENS, H. et alii. Kreativität und Predigtarbeit. 2a ed. München, 1975.
– BALZ, H.R. Christus in Korinth. Kassel, 1977.
– BRAKEMEIER, G. O Primeiro Mandamento. In: Proclamar Libertação — Catecismo. São Leopoldo, 1982.
– CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado. Vol. 4. Guaratinguetá, s.d.
– COMISSÃO INTER-LUTERANA DE LITERATURA, ed. Livro de Concórdia. As confissões da Igreja Evangélica Luterana. São Leopoldo/Porto Alegre, 1980.
– ERK. W. Ostern — Gottes grosses Ja. Stuttgart, 1972.
– KIRCHLICHES AUSSENAMT DER EKD. ed. Der auferstandene Christus und das Heil der Welt. Witten, 1972.
– SCHÄFER, H. Mach ein Fenster dran. Stuttgart, 1976.
– VOIGT, G. Meditação sobre 1 Coríntios 15.12-20. In. – . Die Neue Kreatur. 3a ed. Göttingen, 1977. – WALTER, E. A Primeira Epístola aos Coríntios. In: Coleção novo Testamento — Comentário e Mensagem. Vol. 7. Petrópolis, 1973.
– WENDLAND, H.D. Die Briefe an díe Korinther. In: Dos Neue Testament Deutsch. Vol 7. 5a ed. Göttingen, 1948.