Prédica: 2 Tessalonicense 3.1-5
Autor: Ulrico Meyer
Data Litúrgica: 5° Domingo após Trindade
Data da Pregação: 22/07/1984
Proclamar Libertação – Volume: IX
I – A situação da comunidade de Tessalônica
A comunidade de Tessalônica começara bem na sua vivência de fé. O próprio Paulo já a havia elogiado e tomado como exemplo em outras comunidades cristãs (1 Ts 1.7-8 e 2 Ts 1.4). O apóstolo se alegra com este fato. Porém, aos poucos, começaram a surgir problemas e inconvenientes, e Paulo se vê na obrigação de exortar os tessalonicenses através de cartas. De Corinto, ele escreve duas cartas seguidas. Na primeira, investe contra a tranquilidade e a acomodação da comunidade. Eles não mais levavam a sério a vinda de Jesus Cristo. A comunidade, portanto, estava começando a dormir nas palhas. Sonhava com uma falsa segurança e uma paz fictícia (1 Ts 5.3). Paulo sentiu-se na obrigação de acordá-la para estar alerta, vigiar e orar (Cf. Mc 13.33).
Na segunda carta ele ataca o extremo oposto: o fanatismo. As perseguições contra a comunidade dos tessalonicenses haviam recrudescido. Atos impensados, como agitação da plebe (Veja At 17.13), levaram as autoridades, provavelmente, a tomar medidas mais drásticas contra os cristãos. Este fato possibilitou a intrusos e impostores levar as pessoas a um fanatismo religioso. Em dias de necessidade e perseguições a Igreja pode ansiar pela volta do Senhor com mais ardor do que em tempos tranquilos.(Egenolf, p. 9). A comunidade toda estava alvoroçada, talvez devido a falsas pregações de pessoas que queriam aproveitar-se da situação desesperadora, colocando-se, elas mesmas, como o Senhor que voltara. Estes enganadores serão aniquilados quando o Senhor realmente vier (2 Ts 2.8).
Na Segunda Carta aos Tessalonicenses, Paulo ataca também os preguiçosos. São os que, por comodidade ou por não mais verem sentido em trabalhar, devido à vinda próxima do Senhor, aproveitam-se da comunidade, vivendo às suas custas (2 Ts 3.6ss). O apóstolo não pode deixar de repreender essa gente, porque, na verdade, estão esquecendo seus deveres como cristãos. Acomodar-se, vivendo às custas dos outros, não é atitude cristã.
Paulo, portanto, nesta segunda carta, ataca dois tipos de problemas: fanatismo e preguiça. Ele incita também a comunidade a estar alerta, vigiar e orar.
II — O texto
1. Contexto
O texto de 2 Ts 3.1-5 finaliza a primeira exortação (fanatismo), convidando e exortando a comunidade de Tessalônica a orar pelos apóstolos para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada. O v.5 poderia encerrar a carta, pois no v.6 o apóstolo começa um novo assunto: exortação aos preguiçosos. Portanto, o texto em apreço (3.1-5) pode ser visto, tranquilamente, separado de seu contexto. Trata-se especificamente de um convite à oração.
2. Estrutura
O texto pode ser estruturado da seguinte maneira: Vv.1-2 — Convite à oração:
V.1 — Oração pelos apóstolos e pela propagação da palavra do Senhor.
V.2 — Oração para que os apóstolos estejam livres dos homens.
V.3 — A fidelidade do Senhor renova a fé e fortalece a comunidade.
V.4 — Os apóstolos confiam na comunidade por causa do Senhor.
V,5 — Desejo final: que o Senhor os conduza no amor de Deus e na fé em Cristo.
III — Conteúdo
Vv.1-2: Por fim, irmãos, orai por nós…. Parece ser egoísmo por parte de Paulo pedir que a comunidade ore por ele e seus companheiros, Silvano e Timóteo (1.1). Porém, ele pede tal oração por dois motivos:
a) para que a Palavra do Senhor se propague, e
b) para que eles estejam livres com relação à perversidade do mundo.
O motivo central do convite à oração é, justa e unicamente, a preocupação pela propagação do Evangelho de Jesus Cristo no mundo. O apóstolo pensa num vasto mundo pagão que ainda não conheceu a Palavra do Senhor e, conseqüentemente, não teve ainda a oportunidade da salvação. Portanto, o apóstolo não pensa somente em si e nos companheiros. Ele pensa mais naqueles que ignoram a Palavra da libertação e a vinda do Senhor. E, se Paulo pede orações por si mesmo, é porque se vê como instrumento de Deus para a divulgação do Evangelho. O Senhor confiou a Paulo, Silvano e Timóteo, a sua Palavra para que, por meio deles, ela se propague pelo mundo inteiro. Para cumprir essa nobre missão, eles precisavam de muita força. E esta força somente poderia vir de' Deus. Por isso, a oração da comunidade lhes era importante. Não é por conta própria que os apóstolos pregam a palavra, mas antes como colaboradores de Deus no Evangelho de Jesus Cristo (1 Ts 3.2). (Egenolf, p.72).
Os apóstolos devem ter forças suficientes para não deixarem dominar-se pelos homens perversos e maus. Mesmo que eles sejam perseguidos, presos e açoitados (como realmente o foram) a Palavra do Senhor precisa continuar viva neles. O apóstolo Paulo dá testemunho disso em 2 Ts 2.9: pelo qual (Jesus Cristo) estou sofrendo até algemas como malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada. Mesmo sendo incomodados e atrapalhados pelas autoridades, eles precisam sentir-se livres desses homens, para a divulgação ampla e aberta do Evangelho de Jesus Cristo. Mesmo que a abertura lhes seja vedada para isso, Deus pode usá-los como instrumentos e abrir frestas para que a luz do Evangelho, por meio deles, brilhe ao mundo. A partir daí a oração da comunidade pode ser eficaz. Pela oração, a comunidade de Tessalônica ajudaria, indiretamente, na divulgação do Evangelho no mundo.
V.3: Apesar de os tessalonicenses se terem mostrado tão infiéis, o Senhor continua fiei. Isso é um alento à comunidade, que reiteradamente, erra e segue o caminho da desobediência, da indiferença, do fanatismo ou da preguiça. Deus os fortalecerá, confirmando-os na fé verdadeira. A constância de fé dos tessalonicenses depende da fidelidade e do amor de Deus. Ele, através de sua fidelidade eterna, também os protegerá de todo o mal. Por isso, as forças adversas à fé não têm vez na comunidade cristã. Deus dará forças à comunidade para continuar firme na fé, guardando-a, protegendo-a das perseguições, atribulações e sofrimentos que o mundo mau impõe aos cristãos.
V.4: Também por causa do Senhor, os apóstolos podem confiar na comunidade de Tessalônica. Eles confiam que Deus a pode usar como instrumento de divulgação do Evangelho. O Senhor fará isso, não a comunidade por forças próprias. Os apóstolos confiam que esta comunidade, enfraquecida pelas forças do mal, pode voltar a receber força de Deus para continuar firme na verdadeira fé, praticando o amor e o bem.
V.5: Por fim vem o desejo de Paulo para que a comunidade seja realmente fortalecida pelo Senhor, e que seja conduzida no amor de Deus e na firmeza de fé em Jesus Cristo. Aqui Paulo ora pela comunidade para que, através dela, a Palavra do Senhor se propague. No v.1 o apóstolo convida a comunidade a interceder por ele e seus companheiros. Aqui é ele quem intercede pela comunidade pelo mesmo motivo. Acontece a reciprocidade. A comunidade ora pelos apóstolos: os apóstolos, pela comunidade.
Tanto a comunidade quanto os apóstolos precisam receber forças de Deus para poderem continuar firmes.
Escopo: A comunidade de Tessalônica é convocada para orar pela divulgação do Evangelho através dos apóstolos. Da mesma forma, os apóstolos intercedem pela divulgação do Evangelho, que deve acontecer através da comunidade de Tessalônica. Os apóstolos confiam na comunidade, porque Deus é fiel e a fortalece e protege de todo o mal.
IV — Meditação
O poder da Igreja depende do poder de Deus. Isto é, se a Igreja tem algum poder no mundo é porque Deus lhe dá este poder. A divulgação do Evangelho, em última análise, acontece porque Deus assim o quer. A mensagem de Jesus Cristo é tão estranha ao mundo, que o ser humano, por mais convicto que seja, não consegue, por forças próprias, transmitir a sua fé ao próximo. Somente Deus poderá tornar eficaz a nossa pregação.
Somos pessoas fracas, e o materialismo, o concreto, o que podemos ver e apalpar, convence-nos muito mais. Uma realidade abstrata, sem provas, está fora de nossas cogitações normais. Por isso, facilmente caímos em tentação e nos agarramos a coisas mais confortáveis do que a verdadeira fé. Muitas vezes, onde a nossa confissão de fé não nos convém, tentamos trilhar outro caminho mais cômodo. Fazemos as nossas próprias leis para escapar à cruz.
O apóstolo Paulo nos faz entender que a oração da comunidade é importante para a propagação do Evangelho. Uma comunidade que não ora, não reconhece sua fraqueza e, sern o notar, cai em deslizes. A oração é eficaz para que a comunidade não se desvie da fé. Da mesma forma, o apóstolo precisa da oração para poder continuar firme na sua fé e no seu ministério, tanto na alegria quanto na tristeza; no conforto como no sofrimento; na saúde como na doença.
Graças a Deus, que constantemente fortalece a pessoa humana, podemos confiar na comunidade e nas pessoas que a compõem. O Evangelho se divulgará através delas.
Será que podemos confiar nas comunidades da IECLB? Será que podemos confiar numa Igreja que tem tantos problemas e tantas linhas teológicas diferentes? Será que podemos confiar nos pastores, que tantas vezes chegam ao ponto de brigar por causa de questões supérfluas e, frequentemente, materialistas? Será que alguém pode confiar a mim o ministério da Palavra? Será que a comunidade em que vivo é digna de crédito, se a maior preocupação dela, nas reuniões, é o problema financeiro? Será que podemos confiar numa comunidade que só pensa em promoções e campanhas para poder construir um templo bonito para, assim, ostentar a sua pompa? Será que não estamos presos a um esquema que a sociedade impõe: progredir em bens e riquezas? E, por esta razão, esquecemos de progredir em algo mais importante? Cresce o número de cristãos e sua fé? A comunidade ora pela divulgação da Palavra do Senhor?
São perguntas que surgem quando se olha para a própria comunidade ou quando se olha para si mesmo. Logo que iniciei o meu pastorado, eu me perguntava: Quem sou eu, para ser o único por quem um grande número de pessoas espera para um culto? Quem sou eu para poder ensinar alguma coisa àqueles vovozinhos tão vividos? Por que uma comunidade tão antiga ainda não consegue realizar um culto sem o pastor? Esta questão continua me intrigando. Penso que uma comunidade devia poder persistir, sem prejuízo à divulgação do Evangelho, também na ausência do pastor. Penso no apóstolo Paulo e em suas viagens missionárias. Ele viajava de cidade em cidade e reunia cristãos. Ficava entre eles algum tempo e encarregava a própria comunidade de continuar na pregação. E ele podia confiar na comunidade! (v.4)
As nossas comunidades estão, em geral, muito acomodadas e perderam o espírito de missão. É difícil encontrar uma pessoa sequer que fale de sua fé ao mundo. Parece que paramos e nos transformamos num clube fechado. O importante é que nós, os sócios, sejamos atendidos com cultos, Batismo, Confirmação, Santa Ceia, bênção matrimonial, sepultamento. Os que estão de fora, que fiquem onde estão! Por outro lado, esquecemos a oração verdadeira: a intercessão para que o Evangelho se propague em todos os recantos do mundo. A nossa igreja, portanto, está doente. Ela não olha para os lados, para os problemas do mundo e da sociedade. Cada um olha somente para o seu umbigo. A doença da Igreja (que são os membros) é o egocentrismo.
Urge restabelecer a saúde desta Igreja para que possa servir de exemplo para a convivência humana. Ela precisa poder espelhar o amor de Deus ao mundo. Para isso ela precisa reaprender a orar.
V — Subsídios litúrgicos
1. Confissão de pecados: Senhor, nosso Deus e Pai. Trazemos agora diante de ti todas as nossas faltas: Senhor, não somos cristãos convictos e firmes. Muitas vezes esquecemos de tua vontade no dia-a-dia de nossa vida. Os nossos planos seguidamente se sobrepõem aos teus. Somos acomodados demais para realmente fazer missão, levando a tua mensagem ao mundo. A nossa vida não condiz com aquilo que tu esperas de nós. Pensamos mais em nós mesmos do que nos outros. Esquecemos de interceder pelos outros e pela propagação do teu Evangelho. Temos outros deuses, nos quais pensamos encontrar mais segurança do que em ti. Gastamos o nosso tempo em coisas fúteis e passageiras. Senhor, ensina-nos a ser gente. Perdoa-nos e tem piedade de nós, Senhor!
2. Oração de coleta: Senhor, nós nos reunimos aqui para ouvir a tua Palavra. Dá que ela nos atinja realmente para que possamos colocá-la em prática em nossa vida. Queremos ser tuas testemunhas para que sempre mais gente possa sentir a tua presença e o teu grande amor. Em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.
3. Assuntos para intercessão na oração final: pela propagação do Evangelho; pela Igreja e seus obreiros para que continuem firmes na verdadeira fé e na pregação da Palavra; peia missão entre os Índios e no submundo das cidades; peias pessoas afastadas da comunidade; pelas autoridades que governam o País, para que deixem os cristãos pregarem livremente o Evangelho; pelos professores e educadores para que ensinem o que é do agrado de Deus.
VI — Bibliografia
– EGENOLF, H. A. A Segunda Epistola aos Tessalonicenses. In.: Coleção Novo Testamento — Comentário e Mensagem. Vol.14. Petrópolis, 1969.