A Rede de Mulheres e Justiça de Gênero da América Latina e Caribe põe à sua disposição recursos litúrgicos alusivos ao Dia Internacional da Mulher. Este material foi pensado para um culto comunitário com Santa Ceia, podendo ser adaptado e trabalhado com grupos da sua comunidade. Além da liturgia, há recursos homiléticos e uma dinâmica para aprofundar a reflexão e envolver as pessoas participantes. Os recursos adicionais estão disponíveis ao final da liturgia.
Texto Bíblico
A pregação se baseia em Apocalipse 12.1-6, 13-16, com inspiração no evangelho de Mateus 11.28-30. A partir desses textos, refletimos sobre os desafios enfrentados pelas mulheres, a força da resistência, a esperança e a importância da ação coletiva. A proposta litúrgica e metodológica foi desenvolvida pela Musicista Dra. Soraya Heinrich Eberle e Pastora Carmen Michel, tendo por base o estudo bíblico de Marli Lutz, publicado em Espiral da Fé: Mulheres no Novo Testamento (Faculdades EST, 2024). A ilustração é de Suzana Cristina Witt.
Providenciar Imagens
Selecione imagens que representem diversas gerações, etnias, classes sociais e pessoas com deficiência. As imagens devem retratar diferentes realidades das mulheres, como educação, trabalho, maternidade, lutas sociais, violência e superação. Figura da mulher com asas.
As imagens devem ser projetadas ou fixadas em local visível à comunidade.
Material para o mural coletivo
– Pequenas asas de papel para distribuição entre as pessoas participantes;
– Quadro mural, papel pardo ou tecido para servir de base ao mural coletivo;
– Canetas e lápis coloridos para que as pessoas participantes possam escrever ou desenhar;
– Alfinetes ou outro material de fixação para prender as asas de papel no mural.
Tempo Litúrgico
Esta liturgia se insere no contexto da Quaresma e do Dia Internacional da Mulher (08 de março). Recomendamos que a celebração ocorra ao longo do mês de março, enquanto a data ainda está em evidência. Que este momento de preparação e celebração seja inspirador e abençoado!
Carmen Michel
Georgina Arriagada
Coordenação da Rede de Mulheres e Justiça de Gênero da América Latina e Caribe
Clique para fazer o download do material em formato WORD
LITURGIA DIA INTERNACIONAL DA MULHER 2025
Musicista Dra. Soraya Heinrich Eberle – Programa de Gênero e Religião da Faculdades EST
LITURGIA DE ENTRADA
Acolhida e saudação informal
L: Com muita alegria e entusiasmo acolhemos vocês para este culto, que tem como tema “A mulher que recebeu asas de Deus: Resistência em tempo de perseguição:”, baseado no livro de Apocalipse. [Recordar o 8 de março, o motivo de estarmos reunidas e reunidos nesse dia].
Litania de entrada
L: Bem-vindas todas as pessoas que estão aqui para este encontro!
Venham todas que estão cansadas e sobrecarregadas.
Venham todas as que estão doentes.
Venham todas que precisam de cuidado e proteção.
T: Nós viemos para debaixo das asas de Deus, de seu Filho Jesus e do Espírito Santo.
L: Deus nos acolhe e nos dá sua proteção.
T: Deus, Pai e Mãe, acolhe-nos e não mais teremos medo.
L: Tu és a fonte do cuidado: estenda tuas asas sobre nós.
T: Venham para debaixo das asas de Deus, fonte de amor e de justiça.
L: Tu és a fonte de proteção: dá-nos asas fortes para voar!
T: Tu nos judas a prosseguir: proteja-nos em todos os caminhos. Amém.
Canto – T: LCI 524 – Xote da vitória
Oração do dia
Deus, nossa esperança: tu renovas nosso vigor a cada dia, dando-nos condições para resistir e superar tantas e muitas adversidades. Em Jesus, nos deste a possibilidade de ver a vida abundante que preparaste para nós. Te pedimos: dá-nos hoje a força, a esperança e a proteção que necessitamos para viver esse dia e todos os desafios de nosso tempo. Para que sigamos fortalecidas e fortalecidos, semeando a esperança de teu Reino nesse mundo. Te pedimos em nome de Jesus Cristo, na unidade da Ruah, força criativa de vida.
T: Amém.
LITURGIA DA PALAVRA
Leituras bíblicas
L: A palavra de Deus é orientação no caminho da vida. Por isso, a ouvimos com devoção.
T: LCI 151 – Tua Palavra é lâmpada
Epístola: Apocalipse 12.1-6, 13-16 (pregação)
T: LCI 151 – Tua Palavra é lâmpada (repetir)
Evangelho: Mateus 11.28-30 (usar linguagem inclusiva)
T: LCI 151 – Tua Palavra é lâmpada (repetir)
Pregação
[Confira, ao final desta liturgia, os recursos metodológicos e de aprofundamento do texto para auxiliar na pregação]
Oração geral da Igreja
L: Façamos agora um momento de silêncio interior, aquietando-nos, refletindo brevemente sobre tudo o que foi compartilhado hoje. Colocamos tudo nas mãos de Deus, pedindo a Deus que nos escute em nossa oração. Oremos:
(Deixar um tempo de silêncio…)
L: Força criadora da vida, tu sopras sobre nós e nos movimentas. Damos graças por tua presença entre nós.
L: Pedimos por tua Igreja no mundo e por esta comunidade aqui reunida: dá-nos tua força e teu amor, para seguir adiante, em fidelidade a tudo que nos tens ensinado.
L: Pedimos pelas pessoas que detêm o poder, e que muitas vezes se transformam em opressoras. Que possas soprar também sobre elas, instigando suas consciências, para agirem de maneira justa e em defesa de quem está mais vulnerável.
L: Pedimos por todas as pessoas entre nós e das nossas relações que sofrem por uma ou outra razão. Dá-lhes asas de coragem e força. Envolve-as com asas de ternura e cuidado.
L: Oramos porque sabemos que tu nos ouves. E o fazemos em nome de Deus, Pai e Mãe, de Jesus Cristo e do Espírito Santo.
T: Amém.
LITURGIA DA CEIA DO SENHOR
Preparo da mesa e ofertório
L: Deus nos guarda sob suas asas protetoras. Deus nos dá asas, para que alcemos voos de libertação. Ele nos acompanha, e percebemos isso ao partir o pão e o suco da videira. Por isso, preparemos com gratidão e alegria a mesa da comunhão, cantando (recolher também as ofertas):
T: LCI 220 – Tudo vem de ti, Senhor
Oração do ofertório
L: Oremos. Nós te louvamos, Deus da nossa esperança, por tua generosidade: pela terra, pelo sol e pela chuva, pelo trabalho e pelos dons para te servir. Trazemos ao altar parte de tudo que nos presenteaste. Que essas ofertas sirvam para o bem-estar das pessoas que as receberem.
T: Louvado sejas para sempre.
L: Louvado sejas, Deus fiel, pelo pão e pelo fruto da videira, mostra da ampla e generosa natureza que alimenta tuas filhas e teus filhos. Dá que este pão e este fruto da videira sejam para nós comida e bebida da salvação em Cristo Jesus.
T: Amém.
Oração eucarística
L: Deus esteja com vocês.
T: E também com você.
L: Vamos elevar os nossos corações a Deus.
T: A Deus os elevamos.
L: Demos graças ao nosso Deus.
T: Isso é digno e justo.
L: É justo e do nosso dever que, em todos os tempos e lugares, te rendamos graças, ó Deus, pois és Deus de esperança e liberdade. Deste-nos a salvação através de teu filho Jesus Cristo. Por tudo isso, nós te agradecemos, te louvamos e te adoramos:
T: LCI 239 – Santo, santo, santo!
L: Graças te damos, Deus fiel, porque, alegres, podemos nos reunir ao redor desta mesa para receber o benefício do que Cristo fez por nós. Conforme tua promessa, ele nasceu, viveu e anunciou a esperança. Por causa da opressão de pessoas poderosas, perdeu a sua vida, mas ressuscitou, está do teu lado e é nossa esperança viva!
T: Ele veio nos salvar.
L: (Narrativa da instituição) Ele veio nos salvar e deixou-nos um memorial. Na noite em que foi traído, Jesus tomou o pão e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.
T: Jesus, anunciamos tua morte e proclamamos tua ressurreição, até que venhas.
T: LCI 250 – Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra
L: Aguardamos com confiança o dia em que nos reunirás na mesa do banquete do Reino prometido, e por Cristo inaugurado, na qual todas as pessoas que viveram na esperança do teu Reino se reunirão. Também aquelas que antes de nós viveram e proclamaram teu Reino de justiça e paz.
T: LCI 256 – Doxologia
T: Pai nosso…
Gesto da paz
L: A paz sonhada, a paz construída, a paz compartilhada: Cristo é a nossa paz, e é por isso que podemos nos aceitar mutuamente, ainda que sejamos diferentes. Saudemo-nos com um abraço ou um aperto de mão, dizendo: “a paz de Cristo seja contigo”.
Fração
L: O cálice, pelo qual damos graças, é a comunhão do sangue de Cristo.
L: O pão, pelo qual damos graças, é a comunhão do corpo de Cristo.
T: Nós, embora muitas e muitos, somos um só corpo.
Comunhão
L: Venham à mesa da esperança, na qual tudo está preparado. É Deus quem nos convida.
Canto pós comunhão
T: LCI 80 – Louvarei a Deus
LITURGIA DO ENVIO
Bênção
L: Que Deus nos envolva com o seu amor e nos preencha com
“a FORÇA
do vento que carrega a pedra,
da água que move a terra,
da mulher que gera [a filha] o filho,
[da jovem] do jovem que abraça os sonhos,
da noite que segura as estrelas,
da rosa que resiste aos espinhos,
do pão que alimenta a vida,
da fé que afasta o medo”.
[Força”, de Aparecida Luzia Teixeira]
T: LCI 295 – O Senhor te abençoe
Envio:
L: Vamos em paz, e sirvamos a Deus com alegria.
T: Graças a Deus!
RECURSOS HOMILÉTICOS
Pastora Ma. Marli Lutz, assessora teológica da Presidência da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
Informações sobre o livro de Apocalipse e sobre o texto de pregação (Apocalipse 12)
a) O livro de Apocalipse é o último do conjunto de 27 livros que compõem o Novo Testamento. Ele surgiu em uma realidade de dura e violenta perseguição às pessoas que confessavam sua fé em Jesus Cristo como Salvador. O império romano era impiedoso e violento. A própria morte de Jesus na cruz já revela essa violência. No tempo do imperador Domiciano, a violência contra a comunidade cristã se acirrou. Em muitos locais de adoração, havia uma estátua do imperador. As pessoas que não se sujeitavam eram perseguidas, presas ou mortas. Domiciano, inclusive, mandou cunhar uma moeda com imagem na qual ele diviniza seu próprio filho, que morreu no ano de 83.
b) Para compreender sua mensagem, precisamos entender sua linguagem construída com elementos simbólicos, que são encontrados, em sua maior parte, no Antigo Testamento (Daniel 10.13-21; Miquéias 4.10; Jó 1.9-11; Zacarias 3.1; entre outros). Ou seja, faz parte da vida de fé resistir usando linguagem simbólica. O livro de Apocalipse não foi escrito para assustar, desesperar, ameaçar com o fim, mas para reanimar e fortalecer as pessoas em sua fé e esperança. Num primeiro momento, o livro foi escrito para as comunidades e pessoas que viviam em diferentes localidades (Esmirna, Éfeso, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Laodicéia e Filadélfia). O autor é identificado pelo nome de João, que estava preso em Patmos em consequência de seu testemunho cristão.
c) Na história narrada no capítulo 12, o livro de Apocalipse nos brinda, inicialmente, com uma linda visão: uma mulher que está no céu, vestida de luz, envolta em muito brilho, leveza e beleza de cores. Mas esse cenário bonito é interrompido pela chegada de um terrível dragão. E ali mesmo, no céu, acontece essa luta injusta, de forças desiguais. É uma luta em meio a dor e desespero diante do terrível dragão que quer devorar o seu bebê ao nascer. Que cena de horror, de extrema violência. Como entender? O que essa linguagem figurativa nos quer transmitir em meio às perseguições que a comunidade cristã passa na atualidade?
Leia Apocalipse 12.1-6; 13-16.
Reflexão sobre a palavra bíblica
A história de Apocalipse 12.1-6; 13-18 fala sobre uma visão que foi observada no céu. Uma visão muito bonita, de uma mulher vestida de sol. Debaixo de seus pés estava a lua. Ela usava na cabeça uma coroa que tinha 12 estrelas.
A mulher está grávida, com dores de parto. Ela está concentrando toda sua força para dar à luz o seu bebê. Como toda mulher em trabalho de parto, ela está vulnerável, fragilizada pelas contrações, se contorcendo em dor, um corpo em luta pela vida de outro corpo que está para nascer.
Durante o trabalho de parto, a mulher vê outro sinal no céu: um enorme dragão, monstruoso. Ele tinha sete cabeças e dez chifres. Com sua cauda, já tinha arrastado do céu a terça parte das estrelas, jogando-as sobre a terra. O dragão coloca-se de pé diante da mulher, pronto para devorar o seu bebê ao nascer.
A criança nasce e é levada para perto de Deus e do seu trono. A mulher foi salva do dragão. O próprio Deus preparou um lugar no deserto para onde ela pudesse ser protegida e sustentada. Enquanto isso, o dragão foi vencido e jogado para a terra. Ali, começou a perseguir a mulher. Mas ela recebeu duas asas de uma grande águia para poder voar para o lugar que Deus havia preparado para ela, para ficar livre do poder do dragão.
Sobre o significado, a partir do contexto em que o livro foi escrito, podemos entender que o dragão representa o Império Romano, faminto de poder. Qual dragão invencível, sempre à espreita, para perseguir e matar.
A mulher representa, além das próprias mulheres, Maria, mãe de Jesus, e até mesmo as comunidades cristãs, onde havia muitas líderes mulheres. Da prisão, João escreve essa mensagem de resistência e esperança, anunciando vida com dignidade, relações justas entre as pessoas, futuro para as crianças, mulheres, pessoas idosas. Um sonho. Também para hoje!
E Deus, em meio a essa luta tão desigual, onde está? Deus está presente. Deus intervém em favor da vida da mãe e da criança. A criança é levada para o céu, onde encontra lugar de proteção e acolhimento. Pode ser uma referência à ressurreição de Jesus. A mãe é levada ao deserto onde recebe a proteção de Deus. Com essa imagem, cuja luta é travada no céu, João denuncia a violência do império contra mulheres e crianças, suas maiores vítimas.
Painel Coletivo – Conectando com a vida
Pastora Carmen Michel, coordenadora de Gênero, Gerações e Etnias da IECLB [1]
“O capítulo 12 do livro de Apocalipse descreve, de forma simbólica, a perseguição que mulheres e homens sofriam nas mãos do império romano.
Este texto do Apocalipse, que usa a simbologia da mulher grávida atacada por um dragão, nos lembra violências extremas, como a violência sexual praticada contra mulheres e crianças. Ao mesmo tempo, testemunha a presença de Deus que ama, protege e guarda a vida da criança e da mãe”.
- Que situações de perseguição contra mulheres acontecem hoje?
- O que significa ser mulher, menina, jovem, idosa no mundo de hoje?
- Que “dragões” ainda ameaçam as mulheres? (violência doméstica, desigualdade salarial, exploração, feminicídio, vulnerabilidade social, etarismo…)
- Como identificar os “desertos” – espaços de proteção e reconstrução na vida das mulheres?
a) Imagens – reflexo da realidade
Projetar ou fixar em lugar visível à comunidade imagens impactantes, que mostrem diferentes realidades das mulheres: trabalho, maternidade, lutas sociais, violência, superação etc. Convidar as pessoas a observarem as imagens, chamando-as à reflexão sobre:
– O que as imagens contam sobre as mulheres?
– Como essas histórias se conectam com a mulher de Apocalipse 12?
– Onde percebemos sinais de esperança e transformação?
b) Figura A Mulher com Asas (Apocalipse 12)
Projetar a figura da mulher com asas, conforme descrito em Apocalipse 12. Convidar as pessoas a observarem a figura sob a seguinte motivação:
– O que significa receber asas em meio à perseguição, em meio às dificuldades?
– O que nos fortalece para resistir e lutar por justiça, por uma vida melhor?
– Como podemos ser “asas” umas das outras, uns dos outros?
“É importante lembrar que João escreve para fortalecer a fé e a esperança das comunidades perseguidas daquela época, e de hoje também. A busca por dignidade e justiça permanece sendo atual. E, assim como a mulher do Apocalipse encontrou refúgio e proteção, também hoje há caminhos para resistir e transformar a realidade. A mensagem de João indica que o tempo é de esperançar! Esperançar é buscar vida com dignidade. É ter ânimo para nos engajarmos no cuidado com a vida.
É possível resistir, organizando-nos como coletivo, voando juntas e juntos, em bandos, como jaburus (Mycteria americana), como as pequenas garças-brancas (Egretta thula) e tantas outras aves?”.
c) Mural coletivo
Convidar as pessoas a pensar formas concretas de apoio às mulheres, meninas, jovens e idosas em suas comunidades. Incentive as pessoas a escrever ou desenhar sobre as pequenas asas de papel algo significativo sobre o tema e, em seguida, colocar sua asa no mural, sinalizando o fortalecimento coletivo e o compromisso pessoal com a promoção da justiça de gênero. Para a realização dessa dinâmica, não esqueça de disponibilizar lápis e canetas de diferentes cores.
[1] Dinâmica elaborada a partir do texto da Pastora Ma. Marli Lutz, assessora teológica da Presidência da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Texto original disponível em: Espiral da Fé: Mulheres no Novo Testamento (Faculdades EST, 2024).