Viva o fim de Adão
Proclamar Libertação – Volume 41
Prédica: Romanos 5.12-19
Leituras: Gênesis 2.15-17; 3.1-7
Autoria: Flávio Schmitt
Data Litúrgica: 1º Domingo na Quaresma
Data da Pregação: 05/03/2017
1. Introdução
O texto de Romanos, indicado para a pregação no 1º Domingo na Quaresma, confronta a comunidade cristã com sua condição de peregrina. Chama aten- ção que, ao longo dos quarenta anos de existência do auxílio homilético Proclamar Libertação, esse texto de Romanos somente foi contemplado uma vez (PL 27), delimitado pelos versículos 12-15, e indicado para pregação no 5º Domingo após Pentecostes.
Também chama atenção que não há indicação de leitura do evangelho para o domingo. No PL 27, havia a indicação da leitura de Mateus 10.26-33. A leitura do texto de Gênesis abre o entendimento para o texto da pregação. O fato de remeter à figura de Adão torna a leitura do texto de Gênesis imprescindível para a compreensão e contextualização da questão discutida no texto de Romanos.
Em Romanos 5.12-19, somos confrontados com uma questão que não está totalmente resolvida no âmbito da discussão teológica. Para Paulo está claro que o pecado passou a fazer parte da existência humana com Adão. Da mesma forma, por meio de Jesus o ser humano alcança a vida que vence a morte. Contudo a forma como as palavras e ideias do apóstolo foram interpretadas ao longo do tempo nem sempre contribuem para a edificação do corpo de Cristo.
2. Exegese
O quinto capítulo da Carta de Paulo aos Romanos ocupa um lugar especial não somente na carta, mas no conjunto do pensamento de Paulo. Ao longo desse capítulo, Paulo desdobra as implicações do ser declarado justo diante de Deus por causa de Jesus. Ser declarado justo implica fundamentalmente estar em paz com Deus.
Num primeiro momento, em Romanos 5.1-11, escrito na primeira pessoa do plural, o apóstolo desenvolve o tema da justiça da fé. A partir de Romanos 5.12-21, escrito na terceira pessoa do plural, trata da relação entre pecado/morte e justiça/vida eterna, tendo a lei e Jesus como paradigmas. O assunto iniciado em Romanos 5.12 tem seu desenvolvimento até Romanos 7.25. Em todos esses versículos, a argumentação de Paulo gira em torno da libertação da morte, do pecado e da lei decorrente da morte e ressurreição de Jesus.
V. 12-14 – O v. 12 abre um novo assunto no capítulo ao retomar uma discussão que vinha sendo desenvolvida ao longo dos capítulos anteriores e que trata da universalidade do pecado (“todos pecaram”, Rm 3.9) e da justificação por intermédio de Cristo (Rm 4.25).
Justamente por causa de um homem o pecado entrou no mundo. E por causa do pecado, a morte.
Inicialmente, Paulo faz uma comparação entre a condição humana antes de Cristo e depois de Cristo. Antes de Cristo predomina a condição adâmica. A diferença está no pecado. Paulo estabelece um paralelo entre Adão e Cristo. Em cada unidade desse paralelo há um protótipo. Adão é o tipo ideal relacionado com o pecado e a morte. Cristo é o tipo ideal da justiça e da vida. O paralelismo antitético reforça o contraste entre Adão e Cristo. “Adão é a cabeça da humanidade pecadora; Cristo é a cabeça da humanidade justificada” (PL 27, p. 176).
O apóstolo tem em mente o texto de Gn 3.1-7. “O caráter etiológico da narração do Gênesis aponta para o pecado como causa da miséria geral da humanidade (dor, aflição, divisão, morte). A desobediência de Adão arremessou no mundo uma força ativa e nefasta. O pecado é apresentado como um poder mau personificado e inimigo de Deus, que afasta dele os homens” (PL 27, p. 176).
Na primeira parte do v. 12, Paulo afirma que o pecado entrou na humanidade por meio de Adão. Como consequência, a morte também entrou. Até aqui ainda não está claro se a morte alcança todos como consequência direta do pecado de Adão ou do pecar de cada ser humano. As duas primeiras orações do versículo não dizem mais do que está dito em Gênesis (Gn 2.17; 3.3,19). Na terceira e quarta orações do versículo, o apóstolo acrescenta algo que não está explícito em nenhuma narrativa do Antigo Testamento, embora seja dedução natural da narrativa de Gênesis, a saber, que o ser humano morre por causa do pecado de Adão e não por causa de seu próprio pecar.
Ao confrontar Adão e Cristo, Paulo destaca a universalidade do efeito da ação de Deus em Jesus. Se o pecado de Adão atinge todos os seres humanos, a morte de Cristo não é menos universal. Aqui toda a humanidade está contemplada. Para Paulo, a “existência de Jesus não determina apenas a existência dos crentes” (CRANFIELD, 1992, p. 113).
No desenvolvimento de seu pensamento, Paulo dá sequência à ideia a par- tir do conteúdo que já está implícito. “Por meio de um só ser humano o pecado entrou no mundo” e “pelo pecado a morte” e, desse modo, a “morte passou a todos os seres humanos”.
A palavra pecado/hamartia encontra-se no singular. Pode ser entendida como uma potência pessoal que atua no e através do ser humano. Hamartia é o pecado que somente a fé reconhece. O poder total desse pecado somente é reconhecível em Cristo. “O pecado entrou no mundo: o pecado é personificado e apresentado como que vindo de fora para se introduzir no mundo da humanidade. Deixa a impressão de um personagem que abre a porta do mundo e nele entra vitorioso e satisfeito. Contudo Paulo não se detém nos detalhes para explicar a origem do mal. Só quer afirmar o domínio do pecado e da morte espiritual como condenação definitiva antes da justificação pela morte de Cristo” (PL 27, p. 176).
“Tratando-se de ‘morte’ como afastamento de Deus, uma vez que todos foram atingidos por ela, significa que todos se tornaram pecadores (v. 19). Essa é a baseda argumentação para dizer que a justificação é decorrência de “um só” (PL 27, p. 177). Cumpre destacar que, em cinco versículos, a expressão “um só” aparece onze vezes, reforçando o contraste entre um e todos. Para Paulo, um é mais do que todos.
A palavra grega thanatos remete à morte de um sentido de vida do ser humano. Diferente de nekros, morte da vida biológica, thanatos inclui a morte simbólica. Em Romanos 6.10, Paulo pode falar em mortos para o pecado e vivos para Deus. Em Gálatas 2.19, fala em morrer para a lei e viver para Deus. Também o “morrer com Cristo” (Gl 6.14) expressa essa dimensão simbólica.
A expressão grega traduzida por “porque todos pecaram” tem sido alvo de polêmicas. Agostinho entendeu que todos os seres humanos pecaram em Adão em virtude de sua identidade seminal com esse antepassado. Porém a expressão também pode ser entendida no sentido de que cada ser humano protagoniza seu próprio pecar. Nesse sentido, o “pecado humano não seria derivado de Adão (desobediência), mas da condição humana comum com esse antepassado” (CRANFIELD, 1992, p. 115).
Os v. 13 e 14 rompem a lógica do paralelismo para explicar em que consiste o pecado. Como explicar que todos pecaram se não havia lei? Paulo argumenta que pecado estava presente na humanidade mesmo no tempo em que não havia lei.
Paulo reconhece que o pecado existe desde Adão. Contudo o pecado não era imputado, não era colocado na conta de ninguém, pois não havia lei. Nesse contexto, os judeus viviam como os gentios. Eram guiados pela lei da razão e da consciência (Rm 2.12-16). “Como a lei (revelada a Moisés) ainda não era conhecida, os pecados não podiam ser imputados, em seu aspecto formal de transgressão, nem receber a sanção prevista pela lei (cf. 4.15). Mas a responsabilidade pessoal pelo pecado fica a mesma, pela lei natural escrita no coração (Rm 2.14-15). Portanto, ao receberem a Lei, os judeus só viram aumentar sua responsabilidade e sua culpa” (2.9) (PL 27, p. 178).
A morte reinou de Adão até Moisés. Aqui Paulo tem em mente a divisão da história humana segundo os rabinos de seu tempo. Para os rabinos, a história é constituída de três períodos: “de Adão até Moisés – dois mil anos de caos; de Moisés até o Messias: dois mil anos de lei; a partir do Messias: dois mil anos de bênçãos”. “No primeiro período, sem a lei, o pecado estava no mundo e, mesmo sem imputação de transgressão, a morte reinou desde Adão sobre todos os pecadores. No segundo período, o regime da lei só fez acrescentar a responsabilidade pelas ofensas e a merecida cólera de Deus (cf. v. 20). No terceiro período, há liberdade da lei, porque reina a graça de Jesus Cristo, o Messias. Também sobre os que não pecaram da mesma forma da transgressão de Adão” (PL 27, p. 178).
“O pecado de Adão foi a transgressão formal de um preceito. Mas os que viveram depois, até a lei chegar, não pecaram da mesma forma. Isso significa que o mal que fizeram não é considerado no seu aspecto formal de transgressão, porque ainda não tinham recebido algum preceito (cf. v. 13)” (PL 27, p. 178). Paulo retoma a ideia de que na última época o Messias daria uma nova lei ou uma reinterpretação da lei.
No final, o versículo 14 destaca o caráter de tipo, modelo, exemplo prefigurado por Adão. No plano de Deus esboçado por Paulo, Adão prefigura o tipo universal do pecado e da morte. Cristo prefigura o tipo universal da salvação. O qual é ‘figura’ daquele que havia de vir. A “figura” do passado é um exemplo, um tipo, algo que tem uma semelhança com a realidade futura, chamada antítipo (cf. At 7.43; 1Ts 1.7; 2Ts 3.9; 1Co 10.6). Jesus é o antítipo, o “segundo/último Adão” (cf. 1Co 15.45-47), mas somente como contraste, e de maneira absolutamente superior e perfeita (PL 27, p. 179).
V. 15-17 – Os v. 15-17 sublinham a incomensurável superioridade do be- nefício de Jesus em contraposição ao dano de Adão. Os versículos retomam a dessemelhança de Cristo e Adão. Paulo apresenta duas dessemelhanças. Cada uma delas é acompanhada por argumentos explicativos.
Na primeira dessemelhança, o apóstolo contrapõe o dom gratuito e a ofensa ou falta do ser humano. Ao falar do dom imerecido, Paulo pode estar falando de Jesus e sua obra em favor dos seres humanos ou do “dom gracioso de status de justiça perante Deus”. No primeiro caso, o foco está em Jesus. No segundo caso, no crente.
A afirmação da dessemelhança entre Cristo e Adão é explicada na segunda parte do v. 15. Aqui os artigos definidos e termos do original grego “um só”, “um só homem”, “os muitos” desempenham importante função. Destacam que o contraste não está em qualquer ser humano e muitos, mas entre Adão e Cristo, ou seja, entre Cristo e toda a humanidade. Ao ser empregada em oposição à expressão “um só”, a palavra “muitos” adquire função inclusiva e não exclusiva. A palavra “muitos” é oposta a “um só” e não a “todos”.
O “muito mais” faz parte do rol de hiperbolismos paulinos que destacam a superioridade de Cristo. O que está em contraste com Adão não é nada mais do que a graça de Deus. Paulo já havia recorrido ao “muito mais” nos v. 8 e 10. Nessa parte também emprega a expressão duas vezes: nos v. 15 e 17.
A segunda explicação da dessemelhança entre Cristo e Adão aparece na primeira parte do v. 16. O dom dado por Deus não é um mero equivalente ao pecado de Adão. Não se trata de uma simples compensação. Por isso Paulo afirma: “Porque o julgamento seguiu-se a uma só falta e resultou em condenação, mas o dom gracioso seguiu-se a muitas faltas e resultou em justificação” (CRANFIELD, 1992, p. 119). Há, portanto, uma diferença substancial entre o pecado de Adão e o dom gracioso em Cristo. A falta diz respeito a uma circunstância e contexto externo. O dom diz respeito ao número incalculável de faltas.
Na sequência, a dessemelhança continua com a morte e o dom da justiça. Aqui Paulo retoma os argumentos já empregados no v. 15b. A expressão “pela falta de um só” retoma a ideia do “um só” do v. 15b. No entanto, em lugar de “muitos morreram” em v. 15b, agora é utilizada a expressão a “morte imperou”. O correspondente ao “através de um só homem” é “por meio de um só”, complementado por Jesus Cristo.
O que Paulo já havia dito no v. 15b diz novamente na oração principal do v. 17, acentuando assim a iniciativa da graça de Deus. Em vez de dizer “a vida reinará” em oposição à expressão “a morte imperou”, Paulo diz: “os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão na vida”.
Paulo destaca que não há uma simples substituição do reino da vida pelo reino da morte, mas uma verdadeira vida regida pela vontade de Deus. Com isso Paulo também está dizendo que os verdadeiros receptores da graça ainda não reinam, mas “reinarão” com Deus.
V. 18-19 – Depois de esclarecer a dessemelhança entre Adão e Cristo, Pau- lo continua sua comparação. A declaração formal de comparação é introduzida pela expressão “por conseguinte”. Toda a sequência está empenhada em esclarecer a relação entre a “falta” de um só homem, Adão, e a “conduta justa” de um só homem, Cristo. O v. 18 repete e completa, de forma mais breve, o essencial do v. 12.
Os versículos anteriores haviam destacado a superioridade de Cristo em relação a Adão. Isso será repetido com um paralelismo antitético e palavras sinônimas também nos v. 18-19. A falta de Adão e a obediência de Cristo não estão no mesmo plano. Não há a menor possibilidade de igualar um e outro. Pois a condenação de fato decorre para todos os seres humanos. Porém não se trata de uma fatalidade ou algo irreversível. Pelo contrário, Cristo já começou o processo de reversão do processo. Do status de justiça realizado por Cristo em proveito de todos os seres humanos decorre a vida.
Em seguida, o apóstolo confirma que pela culpa de Adão todos os demais seres humanos, exceto Jesus, tornaram-se vulneráveis à transgressão ao tornar-se pessoalmente pecadores. O destaque fica por conta da solidariedade no pecado.
A última parte do v. 19 destaca o papel de Cristo. Ao se tornar solidário como os humanos, Cristo tomou sobre si o fardo que pesava sobre todos. Ao receber o dom gratuito, tornam-se justos. Assim como a falta, também o status de justo vale para cada ser humano pessoalmente.
Assim como a obediência está para Cristo, a desobediência está para Adão. O ponto de partida para qualificar a falta de Adão e a justiça de Cristo é a vontade revelada de Deus. Não se trata de um mero juízo humano. O paradigma é dado pelo Deus da vida. E isso não vale somente para o juízo final, mas para a vida a ser vivida aqui e agora.
3. Meditação
De imediato, quem deseja pregar sobre esse texto de Romanos precisa ter presente dois aspectos teologicamente discutíveis. O primeiro diz respeito à compreensão de pecado original. As principais ideias sobre pecado original remontam a Agostinho. Segundo esse pensador, todos somos herdeiros do pecado de Adão. Todos nascem com uma culpa herdada dos antepassados. Essa seria nossa sina. Não há como escapar dessa condição. Agostinho praticamente iguala nossa con- dição pecadora com nossa condição humana.
Precisamos perguntar-nos se é essa a compreensão de Paulo comunicada no texto. Há quem diga que não. Ao contrário do que afirma Agostinho, essa tem sido também a interpretação dos padres orientais desde os tempos antigos, segundo os quais Paulo ensina nesse texto que o ser humano, e somente o ser humano, é responsável pela condição pecadora da humanidade. O apóstolo afirma que por um só ser humano entrou o pecado no mundo… Todos os humanos pecaram (5.12), e pecaram pessoalmente. Não foi Adão quem pecou por nós, mas nós pecamos por nós mesmos. Ainda que Adão tenha pecado, esse pecado não nos culpa, apenas revela nossa condição pecadora. O que Adão foi capaz de fazer também nós somos capazes de realizar.
Diferente do mito gnóstico que considerava a humanidade como vítima ignorante e culpável de um trágico acontecimento cósmico original, o apóstolo argumenta aqui que o destino humano, seja para o bem ou para o mal, não é algo inevitável, mas algo querido e acolhido. “Assim, os que ‘viverão e reinarão por Jesus Cristo’ o farão tanto quanto tenham acolhido a superabundância do dom da salvação (Rm 5.17). A participação no reino da vida – como no da morte – não é algo mágico. Entra-se nele como pessoas e, portanto, como seres livres” (RAMOS; OPORTO; GARCÍA, 2006, p. 425).
No esquema “morte em Adão e vida em Cristo” utilizado por Paulo, é in- troduzido um “decisivo elemento de liberdade e responsabilidade que elimina o caráter mecânico e fatalista de uma solidariedade mal-entendida”. Tanto em Adão como em Cristo, a adesão faz-se necessária. Assim como há um efeito mortífero universal em Adão, há um efeito salvífico “pan-universal” em Cristo.
A segunda questão diz respeito ao conceito de pecado em si. Por ser indicado para pregação na Quaresma, tempo por si só dado à penitência, é preciso ter presente qual é a compreensão de pecado que vamos comunicar à comunidade. Pecado aqui “não é uma ação isolada, nem do primeiro ser humano, nem de qualquer outro”. Muito menos algum deslize moral que eventualmente possa ser invocado diante das inúmeras atrocidades cometidas em nossa sociedade. “Não se trata de um fato perverso que misteriosamente se transforma em próprio de todos os homens. É, antes de tudo, uma potência maléfica, uma forma hostil a Deus e a seu reinado, que fez irrupção na vida do homem e o subme- teu à escravidão (Rm 6,12-16; 1 Cor 15,56)” (RAMOS; OPORTO; GARCÍA, 2006, p. 426).
Paulo ensina aqui que a condição pecadora da humanidade está na origem da morte. Ou seja, fala da origem e dos efeitos do pecado. A morte é como uma força cósmica que trata de separar o ser humano de Deus (Rm 8.38; 1Co 3.22), é o último inimigo a ser vencido (1Co 15.56) e que Cristo, o Senhor da vida, a derrotou com sua própria morte (Rm 6.8-11).
É preciso ter presente que em Romanos 5.12-19 não é Adão, mas Cristo que interessa para Paulo. O centro do texto está em Cristo e sua eficácia liberta- dora, infinitamente superior ao dano causado pelo pecado do primeiro humano e de todos os demais e definitivamente vencedor da morte pela ressurreição.
Mesmo que pecado e morte apareçam como personificados no texto, o propósito de Paulo é mostrar que a esperança cristã é um “destino” de vida e não de morte. Esse estar aí para a vida tem “origem num acontecimento libertador: a intervenção de Jesus Cristo, o Filho de Deus, na história humana”. Por isso quem está em Cristo é nova criatura, já passou da morte para a vida. Agora, pelo amor vivido na fé e, depois, pela vitória sobre a morte física e biológica.
Em relação à pregação, o texto de Romanos 5.12-19 permite diferentes abordagens e ênfases.
Uma primeira possibilidade é organizar a pregação tendo como eixo central a questão do pecado. Nesse caso, convém explicitar que somos criados à imagem e semelhança de Deus, mas nem por isso isentos da possibilidade de pecar. Por outro lado, ninguém transcende sozinho essa condição. Somente em Cristo vencemos essa parada.
Outra possibilidade consiste em explorar algumas antíteses do texto:
Adão – Cristo
Obediência – desobediência
Justiça/perdão/retidão – pecado/culpa/transgressão Vida/justiça – morte/lei
Um só – muitos
Há ainda a possibilidade de organizar a pregação tendo como eixo a excelência de Cristo. Diante da justiça de Deus revelada em Cristo, todas as demais condicionantes da vida (morte, lei, pecado) e suas múltiplas formas de manifestação ficam definitivamente vencidas pela superabundância da graça. Essa perspectiva ressalta a grandeza do amor de Deus e da morte de Jesus.
4. Subsídios litúrgicos
Confissão de pecados
Bondoso Deus! Colocamo-nos diante de tua presença com tudo o que somos e temos feito. Tua palavra revela nossa obediência e desobediência. Com Adão temos sido solidários no pecado. Nossos pensamentos, nossas palavras e nossas ações não nos deixam mentir: somos pecadores e pecadoras. Individual e coletivamente, somos necessitados de tua graça e de teu perdão. Por Jesus Cristo, pedimos-te: perdoa nossos pecados. Amém!
Oração de coleta
Bom e misericordioso Deus! Há pouco confessamos que somos pecadores e pecadoras. Mas também somos teus filhos e filhas. Acreditamos no teu amor para conosco. Reconhecemos teu amor manifestado na morte de teu Filho Jesus e derramado no coração, por meio do Espírito Santo, de todos os que recebem a graça da justificação. Por isso dá-nos teu Santo Espírito e abençoa tua palavra em nossas vidas. Por Jesus Cristo, nosso Senhor, amém.
Oração de intercessão
Amado Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Reunidos aqui na companhia uns dos outros, voltamos nossa palavra e atenção para rogar e interceder por nós, por nossa comunidade e igreja, bem como pela humanidade da qual somos parte. Pedimos-te, de modo especial, por todas as pessoas que se encontram afundadas no pecado.
Por isso concede-nos, Senhor:
serenidade para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos
e sabedoria para distinguir umas das outras.
Que o pecado e a morte possam dar lugar à obediência e à vida. Que a mentira e o engano possam dar lugar à verdade e à confiança.
Que a omissão e o individualismo possam dar lugar à justiça e à solidariedade.
Que o ódio e a raiva possam dar lugar ao teu amor e à tua justiça. Por Jesus Cristo, pedimos-te e oramos. Amém.
Bibliografia
BROWN, Raymond Edward. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004.
CRANFIELD, C. E. B. Carta aos Romanos. São Paulo: Paulinas, 1992. 360 p. (Grande Comentário Bíblico).
OESSELMANN, Dirk Juergen. 5º Domingo após Pentecostes. Romanos 5.12-15. In: Proclamar Libertação: Auxílios Homiléticos. São Leopoldo: Sinodal/ EST, 2002. v. XXVII, p. 172-182.
RAMOS, Federico; OPORTO, Santiago Guijarro; GARCÍA, Miguel Salvador. Comentário ao Novo Testamento. São Paulo: Ave-Maria, 2006.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).