Prédica: Romanos 8.12-17
Autor: Augusto Ernesto Kunert
Data Litúrgica: 8º. Domingo após Trindade
Data da Pregação: 27/07/1980
Proclamar Libertação – Volume: V
I – O termo SARX
1. Bauer, p. 1240, diz que, a partir de Rm 7.18, SARX é o instrumento serviçal do pecado e tão submisso a ele que, onde houvera SARX, se encontra necessariamente o pecado e na SARX não pode habitar nada de bom.
2. Lutero traduziu SARX com Fleisch e João F. Almeida mantém o sentido com a tradução carne.
3. A Bíblia na Linguagem de Hoje usa para SARX o conceito natureza humana.
4. O Novo Dicionário Aurélio, no verbete referente a carne, menciona os pecados da carne, falando também em matéria em oposição ao espírito.
5. O dicionário Sinônimos e Antônimos, de Francisco Fernandes, diz que viver segundo a carne significa viver em concupiscência, lascívia, ambição, cobiça.
6. O antônimo de carne é o espírito. Diversos exegetas explicam o termo SARX como obstinação, amor próprio, teimosia, orgulho e egoísmo humanos. Creio que Lutero, quando falou em nosso homem pecador como a estrutura pecaminosa do homem, definiu o termo SARX corretamente.
7. Gehrke, p. 162, afirma que a compreensão moralista penetrou profundamente na Igreja, interpretando SARX como avareza incontrolada, como egoísmo calculista. Considero tais manifestações como efeitos do nosso velho Adão. A causa do pecado está na estrutura pecaminosa do homem, sendo a avareza, egoísmo etc. consequências e manifestações suas.
II – O termo SOMA
1. Paulo usa no v. 13, ao lado de SARX, o termo SOMA = corpo. Nygreen opina que o motivo para tal está no fato de que o cristão continua a viver no mundo caído, não fora dele, não separado e à parte dele. O homem pecador, em seu ser, em sua estrutura, em sua natureza, se concretiza nos feitos do corpo.
2. Berger diz que vale lutar pela conservação da nova vida em contraposição ao viver segundo a carne, que o cristão está em luta, que aquele que vive segundo a carne não poderá receber a boa vontade de Deus (cf. Fp. 1.27-30), que, citando Benz (p.15), carne não significa carne e osso e sim carere Spiritu Sancto. Somente o Espírito nos salva da perdição para a qual nos arrasta o nosso ser de homem pecaminoso. Onde o Espírito não opera, existe um mar de pecado e de culpa que se consomem na morte.
III – Atualização exegética
1. O Espírito quer renovar a estrutura pecaminosa do homem e aniquilar os feitos do corpo. O Espírito cria o novo homem que vive segundo o Espírito de Deus. A consequência da sua ação é o novo relacionamento com Deus e com os homens. O cristão está libertado da necessidade serviçal ao pecado e recebe forças para mortificar os efeitos do corpo.
Toda a vitalidade do homem, suas possibilidades, suas esperanças, suas ações de auto-promoção e auto-realização são um viver segundo a carne, e este viver acontece à sombra da morte, que inicia com o nascimento. Se queremos, se devemos, se podemos viver segundo a carne, hoje e todos os dias, não podemos esquecer jamais que somos cavalheiros ingénuos sobre o Lago de Constança, que a nossa vida vai ao encontro da morte. (Barth, p.276)
2. Mesmo assim, havendo em tudo que fazemos um fruto do Espírito (G! 5.22), um fruto da luz (Ef 5.29), diz Barth, uma obra justificada por Deus, então aconteceu o milagre. A nossa vivência cristã tem na vontade de Deus sua fundamentação e única razão de ser, e jamais na justiça humana Esta verdade evangélica exige que reconheçamos, sempre de novo, que não temos direitos a reclamar de Deus; nenhuma pessoa os tem, nem mesmo o humilde, o sincero, o inquieto, mas cada um deve deixar morrer em toda sua atuação, como expressa Lutero, o homem pecador. Acontecendo assim, vivemos ao encontro da vida. No Espírito, e somente no Espírito, a carne morre para, no seu morrer, dar entrada à luz da esperança, (Barth, p.278)
3. Lutero, referindo-se ao v. 14 disse: Este é um texto maravilhoso, consolador e merece ser escrito com letras de ouro. Trata-se da presença atuante do Espírito de Deus, que salva da morte e leva à vida. Ele nos liberta do comprometimento com as cousas fúteis da vida, pois, a nossa libertação em Deus é, simultaneamente, a nossa prisão em Deus (Barth). Neste acontecimento não prevalece algum entusiasmo, humano mas, somos, isto sim, orientados na ressurreição de Jesus, da morte para a vida (Barth). O Espírito liberta da vida segundo a carne para uma vivência na qual somos guiados pelo Espírito de Deus. A libertação da vida na carne é a libertação da vivência no medo, para uma vida em amor. No ser guiado pelo Espírito de Deus acontece o fim e o início, morte e vida, juízo e justiça. (Barth, p.279)
4. Em sua preleção sobre a epístola aos Romanos, Lutero acentua a livre e alegre disposição dos que são agraciados pelo Espírito de Deus. Na livre e alegre disposição posso abdicar das cousas agradáveis aos olhos Gn 3.6. A ação do Espírito Santo em meu homem pecador permite sair da minha contrariedade a Deus, sair do meu egoísmo calculista, da minha avareza incontrolada. (Nygreen) Guiado pelo Espírito de Deus encontro nova vivência, estou em novidade de vida, encontro a minha identidade de filho de Deus.
5. Vivemos em uma duplicidade de situação, livres do pecado pela graça e sujeitos ao pecado em nossa vivência no mundo caído (Nygreen, p.237) Lutero caracteriza esta situação de duplicidade com a sua conhecida expressão simul iustus et peccator.
No seu viver em Cristo, o cristão está livre da morte. Isto, porém, não quer dizer que a morte deixou de ser a dura realidade. Continuamos no corpo, neste mundo e vivemos ao encontro da plenitude dos novos tempos. Neles a morte já não existirá (Ap 21.4). O apóstolo afirma: se viverdes segundo a carne caminhais para a morte. O resistir aos feitos do corpo é dádiva aos que são guiados pelo Espírito de Deus: somos livres do pecado pela graça, isto é, a carne perdeu o domínio sobre nós.
O texto evidencia que o viver segundo a carne é um caminhar para a morte, é uma vida de escravo, uma vida na prisão dos feitos do corpo, e traz consigo a condenação: é uma vida de mortos no sentido da palavra de Cristo, quando disse deixai os mortos sepultar os mortos (cf. também Jo 1.12-13 e 3.6).
6. Não podemos confundir a filiação de Deus com a situação de criaturas de Deus. O nosso nascimento não nos identifica como filhos de Deus. Nos adonamos de uma qualificação que nem sempre merecemos. Como nascidos de uma mulher, somos criaturas de Deus, somos o velho Adão. Filhos de Deus somos porque Jesus Cristo nos aceitou em sua graça e a ação do Espírito nos renova. Barth diz que o mesmo Espírito que vive em Cristo atua e vive em nós; que é o Espírito de Deus que purifica os nossos corpos mortos. E somente os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
7. Bauer opina que aba-pai é uma evocação na oração; que é uma palavra aramaica usada pelos cristãos primitivos de fala grega, na língua original. Encontramo-la também em Mc 14.36. Em ABBA se expressa o relacionamento íntimo do filho com o Pai: a confiança, a obediência, o amor, mas também a esperança em Deus como Pai, ao qual tudo é possível. Encontramos ABBA em G1 4.6, onde Paulo testemunha: enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba-Pai. Chamar Deus de Pai é possível aos que são guiados pelo Espírito de Deus; nos que estão em Cristo se manifesta a resposta obediente da fé. ABBA é a manifestação do novo homem criado pelo Espírito de Deus (Ef 3.16). Ele nos deu a vida estando vós mortos nos vossos delitos e pecados (Ef 2.1). Ao chamarem Deus de Pai, os guiados pelo Espírito de Deus confessam que encontraram em Cristo a sua identidade de filhos de Deus e de co-herdeiros com Cristo.
8. A nossa declaração de co-herdeiros com Cristo esclarece que participamos, ao lado da herança que nos está reservada, do sofrimento de Cristo. Devemos contar com a realidade do sofrimento quando, na responsabilidade evangélica, denunciamos fatos e situações que comprovam corrupção e injustiça; quando o respeito à pessoa humana é deixado de lado em defesa de interesses pessoais de grupos econômicos e poderes que se revestiram de força. Karl Barth diz desta situação que se trata de estações na vida do co-herdeiro, as quais sofremos no mundo como Cristo as sofreu; que a nossa vida está continuamente na tensão entre a condição de cidadãos do mundo e a de herdeiros de Deus; que a vida em oração não é uma vida em gorda satisfação, mas uma vida em esperança em pleno sofrimento no mundo passageiro; que somos herdeiros, desde que soframos com Ele para entrarmos com Ele no seu resplendor. No Espírito de Deus que se comunica com o nosso espírito, sabemos que no sofrimento se anuncia o sentido da nossa vida; que o sofrimento significa a caminhada para o resplendor de Deus. (Barth, p.285)
IV – Reflexão para a atualização
1. A ação renovadora do Espírito Santo em nós é a nossa chance. (Gehrke, p.164) A renovação de nossa vida interior cria nova maneira de ser, agir e de reagir. O mundo que nos cerca, as pessoas do nosso convívio, o próprio mundo em sua problemática, recebem novos valores. A renovação nos dinamiza como fermento, luz e sal na sociedade. O Espírito aniquila o que parecia indestrutível; vence o que era inabalável; desvaloriza valores que fomentavam nossa cobiça e acionavam nossa sede e fome por coisas perecíveis. O renascimento ativa um novo relacionamento com Deus e com os homens; não mais os vemos como concorrentes e inimigos ou como peças úteis no jogo dos nossos interesses.
O Espírito de Deus nos deixa ver os homens na perspectiva do plano de salvação de Deus. E nele reconhecemos que aqui e ali os acontecimentos ocorrem: vidas em perigo são salvas; nova força e nova esperança nascem no desânimo; correntes se rompem; pessoas assumem responsabilidades em favor de outras; poderes dominantes e injustos são destituídos; a justiça e o estado de direito novamente têm vez; as barreiras da inveja, do egoísmo, da ganância, da corrupção são vencidas, dando lugar à verdade e à justiça. Inimigos se encontram no perdão. É o Espírito de Deus em ação renovadora e criadora. Ela acontece em palavra e serviço. Stählin (apud Gehrke, p.161 diz: quem crê no Espírito Santo como a ação criadora de Deus e na fé roga pela sua vinda, deve saber que está chamando o estorvo divino (die göttliche Störung) e deve manter-se aberto para que Deus o estorve na sua propriedade, nos seus hábitos, em suas manias, quando deixarem de servir como vasos da santa intranquilidade e da inquietante verdade. Quem rogar vem Espírito Santo deve estar também disposto para pedir vem e me intranquiliza onde devo ser intranquilizado. A renovação do nosso homem interior é a libertação da vida segundo a carne para o amor a Deus e, como guiados pelo Espírito de Deus, para servir aos homens.
2. A filiação é decisiva. Ela nos é outorgada pela graça de Deus em Jesus Cristo. A ação do Espírito Santo nos tira da situação de alienação e de arbitrariedade contra Deus para a situação de reconciliados com Deus; nos liberta da obrigatoriedade dos feitos do corpo para uma vivência em fé e amor. A teologia de Paulo deixa muito claro que qualquer tentativa do homem de justificar-se perante Deus, assume características do viver na carne. A Insegurança e o medo são os seus mais fiéis companheiros. A pessoa jamais saberá se realizou obras em número suficiente para ser aceito por Deus. Confiar na própria piedade significa viver em insegurança, significa ser abatido pelo medo, pois no centro não está o Cristo, mas o próprio eu. Estamos livres desta tentativa? Não tentamos também, sempre de novo, ser donos da nossa vida e nos apresentar a Deus com os nossos méritos? A pergunta se faz necessária: como as cousas andam conosco e nas comunidades da IECLB? O nosso esforço na vida profissional, o desejo de cumprimento do dever, a busca da justiça em nossa vivência na sociedade são uma resposta obediente da fé em Jesus Cristo? Ou tudo isto se concretiza como obras de uma religiosidade que visa conquistar o beneplácito de Deus? Até que ponto o nosso querer econômico, social e político são um querer evangélico ou a pretensão de nos tornarmos agradáveis a Deus e aos homens? Qual é a contribuição evangélica que prestamos, a partir da nossa fé como guiados pelo Espírito de Deus e renovados em nossa estrutura pecaminosa como filhos de Deus, aos marginalizados, aos preteridos, aos que não têm voz nem vez? Não estamos na situação de quem busca os seus interesses para receber o beneplácito de Deus e dos homens, tornando-nos enganadores, os quais, aparentemente, estão a serviço dos homens, mas na realidade querem conquistar para si o serviço de Deus e dos homens?
3. Vivemos sob contínua pressão. A concorrência, muitas vezes suja, é uma realidade. A corrupção do dinheiro é uma verdade inegável. As notícias de que o INAMPS sofreu um golpe por desvio, são manchetes nos jornais. O acontecimento do adubo papel prende a atenção do povo brasileiro. O sofrimento do índio, do sem terra, do posseiro, o problema do empobrecimento do pequeno agricultor, a situação da maioria do povo brasileiro sem participação no desenvolvimento do país, o enriquecimento ilícito, a sonegação, a miséria dos marginalizados da sociedade, a filosofia de uma economia de produção e consumo e, consequentemente, maior lucro, a tecnologia moderna que domina a indústria em detrimento da pessoa humana são alguns exemplos para atualizar a responsabilidade do filho de Deus no sentido de ser fermento, luz e sal em um mundo conturbado e em convulsão pelo pecado do homem. Afonso Pereira (apud Gehrke, p. 344) diz: Ninguém nasceu para ser escravo. Ninguém sofre com alegria injustiça, humilhação e opressão. A pessoa humana que vive em situação desumana, lembra um animal atolado na lama … Escravos são pessoas que vivem sem perspectiva de futuro, que vivem sem esperança. Senhor, liberta-nos e ajuda-nos a libertar os outros. Tu nos chamaste para a liberdade. … Eu te peço em favor dos escravos. Alguém devia receber um emprego, como técnico. Mas uma voz ao telefone o impediu, porque a mesma pessoa fora ativa, em outra fábrica, como participante em uma greve. Agora tem que continuar na procura de emprego. Um outro exemplo: Caso falares novamente durante o serviço, serás despedido. E a escrava mordeu-se nos lábios e silenciou. O chefe da secção declarou: não farás mais serão. Você está lembrado do que aconteceu anteontem com a caixa de mudança? E o escravo, envergonhado e cheio de raiva, baixou a cabeça, lembrando-se dos filhos em casa. A senhora vai atender agora quatro sequências em vez de três, disse o chefe de secção. E a escrava trabalhou mais rápido ainda para atender o ritmo da máquina. Pessoas egoístas levaram seus irmãos de volta à escravidão. Mas tu queres que as pessoas sejam mais humanas e se desenvolvam com o trabalho. O que fizemos: sujamos o trabalho. Tem piedade de nós. … Eu experimento o teu Espírito: quando sofro tratamento injusto e silencio, mesmo que devesse defender-me – quando me decido em conformidade com a minha consciência, mesmo que reconheço que devo assumir sozinho toda a responsabilidade, sem poder prestar esclarecimento – quando sou bondoso para com os meus semelhantes sem encontrar resposta de gratidão, sem sentir satisfação por me ter superado – em tais situações experimento o teu Espírito. Dá-me, Senhor, a coragem para tais experiências – deixa-me viver no Espírito, no teu Espírito.
4. Os guiados pelo Espírito de Deus recebem o reconhecimento de novos valores. Entendem e assumem o seu lugar no mundo e na sociedade. Aconteceu na sua vida uma inversão de situação e de valores, ocorreu uma transformação radical e um novo relacionamento com Deus e com os homens. O Espírito de Deus estorvou a vivência na carne. Derrubou as paredes de separação e nos levou a uma vida em Cristo. E na ação do Espírito nasce a nova vida em testemunho e serviço. Nova vida esta, que não se fecha em si mesma, não se isola em si mesma, mas que em obediência serve a seus semelhantes. É a fé que se concretiza na vivência, no seu meio-ambiente. É a dádiva do Espírito que nos guia ao encontro dos irmãos para que experimentem também, no confronto com a palavra de Deus, a ação regeneradora do Espírito; sintam e saibam da solidariedade no sofrimento; experimentem a libertação da escravidão do pecado que o cordeiro de Deus assumiu , e carregou à cruz.
O Espírito nos envia como missionários da nova vida em Cristo. A nova vida quer ser luz no velador, na família, na profissão, na vida pública e na sociedade. Ela quer concretizar-se como boas obras que glorificam o nome do Pai. Ela quer ser testemunho do filho que glorifica o Pai, o qual comiserou-se e aceitou o filho pródigo. Ela quer levar a justiça, a verdade e a vida aos irmãos para que todos tenham vida e a tenham em abundância.
Devemos saber que a nova vida não marca um sentimento nem uma visão entusiástica do mundo. Não estamos livres do sofrimento nem da perseguição. Estamos sujeitos aos revezes e à queda. Nem tudo vem a ser um mar de rosas. Continua o sofrimento, a doença, e a dor tem ascendência sobre nós. Continuamos na duplicidade de situação, livres de pecado pela graça e sujeitos ao pecado, mas renovados e guiados pelo Espírito de Deus; aconteceu em nós o milagre da fé que nos faz filhos e herdeiros.
V – Sugestões para a prédica
1. Dizer com clareza que o viver segundo a carne é a expressão da estrutura pecaminosa, é o viver na alienação de Deus, que os feitos do corpo são consequência, são a manifestação do velho Adão em nós; que a avareza, o egoísmo, a exploração, o oportunismo, a corrupção etc. são resultados da maneira de pensar e de agir do nosso homem pecador. Cf. textos como: Gn 3.12s; 1 Co 8.12; Rm 6.17; 7.14-21; veja também as partes I/2,III/1 e lV/1.
2. A prédica deve expressar que a criação do novo homem é obra do Espírito Santo; que a regeneração do nosso homem interior (Ef 3,16) é graça de Deus, operada em nós pelo Espírito de Deus. É indispensável que a prédica deixe isto bem claro para evitar, a compreensão errónea de que o homem possa aplacar ou até eliminar o juízo de Deus por meio de suas obras. Veja e compare III/2 e lV/2.
3. A ação renovadora do Espírito vence nossa escravidão ao pecado. Ela nos liberta de uma vida serviçal ao pecado. A regeneração como ser guiado segundo o Espírito de Deus nos conduz e fortalece na luta contra os feitos do corpo. A ação renovadora do Espírito Santo, criando em nós o novo homem, nos liberta da vida segundo a carne para uma vida dos que são guiados pelo Espírito de Deus. Veja e compare IIl/3.
4. A libertação que o Espírito opera possibilita-nos a livre e alegre disposição de sairmos da arbitrariedade contra Deus, de sairmos do egoísmo calculista e da avareza incontrolada, para vivermos em comunhão com Deus e com os homens. Veja e compare IIl/4.
5. A libertação da escravidão do pecado, o ser nova criatura, são dádivas de Deus. Elas não são posse nem conquista do homem. Continuamos, mesmo que guiados pelo Espírito de Deus, a viver no mundo. Somos parte integrante da sociedade. Confrontamo-nos com os problemas do mundo e da sociedade. Somos compromissados como mordomos de Deus e co-responsáveis pela injustiça, marginalizarão e corrupção na vida pública. Vivemos na duplicidade de livres do pecado pela graça e sujeitos ao pecado em nossa vivência no mundo caído. Veja IIl/7 e IV/4.
6. Viver a libertação do pecado, a renovação na graça de Deus, a filiação de Deus, requer nossa permanência na palavra de Deus e na oração. Veja IIl/7 e IIl/8.
7. A renovação nossa, como guiados pelo Espírito de Deus, tem as suas consequências diretas. Somos filhos e herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. Somos compromissados para uma vida em serviço. A ação libertadora do Espírito aciona inversão de valores em nossa vida. Mudam-se as prioridades para nós. Somos enviados como fermento na sociedade; somos enviados para sermos luz do mundo e sal da terra. Somos libertados do pecado e prisioneiros do amor de Deus. Isto é, somos libertados para servirmos em amor aos irmãos. No serviço respondemos com obediência ao milagre da fé que se operou em nós pela ação do Espírito Santo. Veja IIl/8, IV/3 e IV/4.
VI – Bibliografia
– BARTH, K. Der Römerbrief. Zollikon-Zürich, 1947.
– BAUER. W. Wörterbuch zum Neuen Testament. 3a ed., Berlin, 1937.
– BERGER. K. Meditação sobre Romanos 8.12-17. In: Für Arbeit und Besinnung. Ano 28. N9 13. Stuttgart, 1974.
– EICHHOLZ. G. Meditação sobre Romanos 8.12-17. In: Herr tue meine Lippen auf. Vol. 2. Wuppertal-Barmen. 1959.
– GEHRKE, H. Meditação sobre Romanos 8.12-17. In: Predigtstudien. Vol.2. Stuttgart e Berlin, 1974.
– LUTHER. M. Vorlesung über den Römerbrief. München, 1927.
– NYGREEN, A. Der Römerbrief. Göttingen, 1951.