O pastoreio, o cuidado e a hospitalidade de Deus
Proclamar Libertação – Volume 40
Prédica: Salmo 23
Leituras: João 10.22-30 e Atos 9.36-43
Autoria: Wilhelm Sell
Data Litúrgica: 4º Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 17/04/2016
1. Introdução
Estamos no período pós-Páscoa. Algumas semanas atrás, pudemos vivenciar todo o significado da obra vicária de Jesus Cristo junto com os desdobramentos de sua ressurreição. É fato que inaugura em nossa fé a esperança que irrompe em nossas vidas enquanto indivíduo e pessoas. Esperança não só naquilo que vem após a morte, mas na própria vida e possibilidades de vida que surgem a partir dessa realidade que se fez história. Já agora se experimentam a nossa morte e ressurreição em Cristo, o que gera expectativa na própria criação, que aguarda nossa revelação enquanto filhos e filhas de Deus. Nitidamente, essa fé não convida a “fugir” do mundo, mas a agir nele, trazendo resquícios do reino de Deus para dentro da realidade após a queda.
A igreja primitiva, descrita no livro de Atos, mostra-nos o desenvolvimento da vivência da fé, dos sinais do reino que irrompem a partir do pastoreio e cuidado de Deus. No texto indicado como leitura, Atos 9.36-43, encontramos a história da ressurreição de Dorcas, mulher reconhecida por seu envolvimento prático de fé, pois era “notável pelas boas obras e esmolas que fazia” (v. 36). Pedro, diante do pedido das pessoas presentes, ora a Deus pela falecida, que então passa a reviver. Essa história demonstra o Deus que continua presente de maneira pessoal em histórias de vida. Seu agir revela um Deus que se apresenta com cuidado, providência e diligência. Age como bom pastor que dá sua vida pelas ovelhas. Não qualquer pastor, mas o Deus Pastor. Suas ovelhas ouvem sua voz e o seguem. É isso o que nos falam o texto e o contexto do Evangelho de João (10.22-30). Diante do interrogatório Jesus revela-se. Ele é o bom pastor, enviado de Deus, o próprio Deus (“eu e o Pai somos um”).
A imagem de Deus como bom pastor não é nova. Aliás, a figura de Deus como bom pastor tem toda uma carga simbólica que Jesus Cristo traz sobre si ao denominar-se de tal forma. Quem nunca ouviu o Salmo 23? É o texto previsto para este Quarto Domingo da Páscoa, sobre o qual queremos laborar abaixo.
2. Exegese
O Salmo 23 é, por excelência, um salmo de confiança. Diferentemente da maioria dos salmos, onde se manifestam mais súplicas e orações, neste encontramos uma confissão na segurança que vem da parte de Deus como pastor e anfi trião, ao que parece fruto de uma experiência pessoal. Esse salmo torna-se um cântico de ação de graças, pronunciado dentro do templo como oração litúrgica para a celebração dos atos salvíficos de Deus. Seu período de surgimento é pré-exílico, provavelmente do tempo da monarquia de Davi. Nesse sentido, mesmo que seja controvertida a afirmação, entende-se que não há relevantes justificativas para não permitir a autoria ao próprio rei Davi; ou, em outro sentido, respeitar a intencionalidade histórica dessa atribuição.
Torna-se um dos textos bíblicos mais conhecidos e populares de todo o universo judaico-cristão. São apenas seis versículos. Na versão hebraica, são cinquenta e seis palavras, ou seja, oito vezes sete, sendo que o número sete serve aos poetas hebreus como elemento estilístico que visava facilitar o impacto, a eloquência e a memorização dos poemas. Um dos motivos para sua simpatia e sucesso popular está ligado às duas imagens que o autor traz no poema. A primeira é a do Deus de Israel como pastor muito próximo da ovelha, que se sente acolhida de maneira pessoal (v. 1-4). Na segunda imagem, Deus é apresentado como anfitrião (v. 5-6), que recebe seu convidado, servindo-o e garantindo sua proteção. São duas imagens muito impactantes, metáforas que prendem a atenção do seu leitor, fazendo-o querer ter a mesma certeza, experiência e confiança em Deus. Sabemos que as figuras do pastor e do anfitrião são bastante conhecidas no contexto geográfico cultural do Antigo Oriente e, consequentemente, do Antigo Israel. Mas elas vão além! São imagens presentes que atravessaram os séculos, sendo assim continuamente acessíveis e compreensíveis.
O salmista, enquanto locutor, fala a seus ouvintes sobre o comportamento de seu Senhor (v. 1b-3 e v. 6), enquanto que, num segundo momento, fala diretamente a ele (v. 4,5). É um poema que traz algo relativamente novo, que é a individualidade da experiência. Enquanto as imagens do pastor (divino) e do rebanho (coletivo) são bastante comuns e quase unânimes (Sl 80.2; Is 40.11; Jr 31.10; Ez 34.11-16; Mq 7.14), no Salmo 23 temos a experiência do pastor com uma só ovelha, descrevendo a atuação desse a partir da experiência de vida e fé da pessoa. Esse aspecto individual do poema também tem consequências para seu destaque. O Salmo 23 lembra a imagem trazida em Ezequiel 34.15a: Procurarei pela (ovelha) que se perdeu, farei voltar a que se dispersou, enfaixarei a que se quebrou e fortalecerei a que se retorce de dores. No entanto, o único momento em que um indivíduo confessa o Senhor como pastor pessoal acontece somente no Salmo 23 e em Gênesis 48.15.
O Salmo 23 faz parte do primeiro saltério de Davi (Sl 3-41). Quando o poema é atribuído a ele, o leitor é convidado a recebê-lo como palavras do conhecido rei. Sabemos que Davi era pastor (2Sm 16.11) e que mais tarde pastoreou como rei o povo de Deus (cf. Sl 78.71-72). Há toda uma carga simbólica dessa sua função pastoral. Nesse sentido, torna-se significativo quando então se confessa Deus como o real e absoluto pastor. Essa confissão surge como proclamação da verdadeira hospitalidade e pastoreio, capaz de garantir bem-estar e sobrevivência. Esse conforto e proteção nem o homem mais “importante”, como o rei Davi, poderia dar, e sim, como ele mesmo confessa, somente Deus.
a) O pastoreio do Senhor
V. 1 – No primeiro versículo, encontramos a imagem de Deus como pastor. A ideia não é a distinção do pastor divino em relação a outros pastores, mas a descrição da atuação daquele. O anúncio dado aos ouvintes “O Senhor é meu pastor” é extremamente curto no hebraico; são apenas duas palavras, dispensando verbo auxiliar, destacando a ideia de Deus como o agente que oferece proteção e sossego. Esse é o primeiro lema do versículo em questão. Vale lembrar que a tarefa de pastorear no Antigo Israel não é vista de maneira romântica, mas como tarefa árdua, que exigia atenção e diligência no cuidado e manutenção dos animais (veja, por ex., Gn 31.38-40). Noutro momento do versículo, há a confissão “não sinto falta de nada”, um segundo lema, que também pela brevidade chama atenção para a plenitude da satisfação que se instala quando se é cuidado por esse pastor.
V. 2 – Seguindo a apresentação, o salmista descreve de maneira completa a ação perfeita do pastor, justificando por que a ovelha não sente falta de nada. Ele oferece alimentos como pastagens verdes e águas em lugares de repouso. Essa realidade torna-se possível somente por causa da condução favorável do pastor. É sua atuação que restaura o vigor, dá novas perspectivas, possibilidades. Esse caminho de salvação rumo a uma situação de bem-estar e segurança passa pelas trilhas da justiça.
V. 3 – É com justiça que Deus quer guiar o ser humano (Sl 5.9), pois ele pastoreia segundo o direito (Ez 34.16). A justiça, o direito e a retidão (Pv 2.9) são as trilhas pelas quais ele conduz seu povo. E esse caminho é conhecido! Desde as origens da história, Deus tem revelado sua vontade, que se transformou em ensino (mandamentos, torá). Feliz é quem sente prazer com esse ensino (Sl 1.2). No entanto, esse vai além de conceituações e com insistência desdobra-se na promoção da justiça, pensando no pobre, marginalizado e injustiçado. É pela promoção da justiça que o povo volta sempre ao templo e a Jerusalém (Sl 122). Fechando a primeira parte do salmo, o anunciante coloca o nome do Senhor como modelo de justiça. Assim como Deus santificou seu nome quando libertou seu povo da escravidão no Egito (Lv. 22.31-33), ele sempre estará com aquele que sente falta do que é necessário para a vivência digna. Nesse sentido, o pastoreio pessoal do Senhor é signifi cativo. E é seu nome que dá a certeza desse cuidado e manutenção.
b) O cuidado do Senhor
V. 4 – Neste verso, a perspectiva do Salmo muda e o salmista passa a dirigir-se diretamente a Deus. A imagem e a experiência do pastoreio divino transformam-se agora numa alocução comprometedora de oração. Por meio dessa seu anunciante confessa de maneira prática sua confiança nesse pastoreio. Mesmo em situações extremas de perigo, com risco de morte, trazendo à memória a lembrança dos desfiladeiros e barrancos íngremes característicos da região desértica de Judá, que se acentuam na escuridão, a segurança continua por causa da diligência do pastor. Ele usa seu bastão para proteção e com o cajado segue firme no caminho e propósito. A palavra escuridão serve, na cultura do Antigo Israel, para ilustrar um lugar marcado pela opressão (Is 9.1-3), prisão, acorrentamento e miséria (Sl 107.10,14). Também a região pela qual Deus fez caminhar seu povo, quando o fez subir do Egito, é tida como terra árida e escura, lugar onde os seres humanos normalmente não caminham nem habitam (Jr 2.6).
A escuridão simboliza o lugar onde a sobrevivência da pessoa ou sua dignidade não se encontram mais garantidas por causa de um poder opressivo que as nega. É nessa situação que o salmista confessa-se confiante no cuidado e na diligência do pastor. Diante dessa situação, o justo perseguido, que pronuncia sua
confiança por meio das mesmas palavras, espera poder verificar o companheirismo confortante do Senhor ao andar num vale escuro como a morte.
c) O Deus anfitrião
V. 5 – O v. 5 inicia a segunda parte do salmo. Nessa encontramos outra imagem: Deus como bom anfitrião e a hospitalidade oferecida. Continuando a perspectiva do v. 4, o salmista dirige-se a seu Senhor, relatando como experimentou a ação hospitaleira dele como anfitrião. O primeiro aspecto vai de acordo com a cultura do Antigo Oriente de receber as visitas celebrando a hospitalidade e oferecendo a melhor possibilidade de alimentação. Além disso, traz certeza a partir da memória da ação de Deus no êxodo, quando preparou uma mesa para o povo no deserto após a saída do Egito (Sl 78.19). O segundo aspecto, a do agressor (adversários), refere-se a pessoas que causam aflições a outros. Esses podem ser conterrâneos que trazem pranto (Sl 6.7), escárnio (Sl 31.12), insulto (Sl 42.11), mas também invasores estrangeiros que ameaçam a paz e a segurança (Sl 74.13). Nesse sentido, o anfitrião dá garantias e conforto mesmo em meio à situação de perigo (Gn 19.4-11). O terceiro aspecto traz a ideia da cabeça ser oleada com perfume. “Composto por diversos aromas e tendo como base o azeite, o perfume oleoso refresca a pele da cabeça, favorecendo, desse modo, o repouso (v. 2b) e a recuperação do alento (v. 3a), devolvendo vigor ao corpo inteiro (cf. Sl 92.11)”. O quarto aspecto revela a hospitalidade oferecida com abundância: a taça transbordando significa alegria e bem-estar de coração (Sl 104.15). Em resumo, os aspectos trazidos nesse versículo são muito ricos em imagens e sensações para seu ouvinte. Além disso, a recepção com comida, bebida e unção remete à tradição da realeza, dando a ideia de ser recebido pelo próprio rei divino.
V. 6 – Finalizando, o salmista muda a sua situação de perseguido pelos perigos e agressores a perseguido pela graça da bondade e misericórdia de Deus. Há aqui um paralelo com a ideia conhecida no Novo Testamento como metanoia, novidade de vida, que é oportunizada, gerada e construída pelo próprio Senhor. A bondade e a misericórdia tornam-se termos com os quais se celebra a nova situação. Acentuando esse estado de graça, termina contemplando a possibilidade de habitação, de permanência do estado, para a realidade de toda a experiência. O salmo termina assim revelando todo o movimento de Deus em direção ao ser humano. Revela segurança e proteção, oportunizando esperança em meio a realidades que a negam, e além disso inaugura um novo tempo de possibilidades, onde se celebram a paz, o sossego e sua permanência.
3. Meditação
Karl Barth disse, certa vez, uma frase significativa ao teólogo preocupado em traduzir as Escrituras para a atualidade: “O cristão deve carregar em uma das mãos a Bíblia e na outra o jornal”. No momento em que esse auxílio exegético é escrito, vivencia-se um tempo de crise econômica e política, com novos escândalos de corrupção e moral. É um tempo marcado pela desesperança e desânimo da maioria dos brasileiros, segundo estatísticas recentes. Experimentam-se, nos últimos seis meses (janeiro a junho de 2015), alguns aumentos significativos: tributos, inflação, combustíveis, água, energia, alimentos, entre outros. Mas paradoxalmente as pessoas vivem de jeito altamente consumista. Parece que o lema do Império Romano em sua decadência, o carpe diem, “viva o hoje como se não houvesse amanhã”, está presente como jamais experimentado. O filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella tem chamado atenção para esse aspecto da vida contemporânea. Os jornais estão carregados de notícias a respeito de esquemas de corrupção e instabilidade no governo. Percebeu-se que não é um partido ou uma ideologia específica o problema, mas que a corrupção, a mentira, o descaso perpassam as estruturas de poder, que por mãos de pessoas oprimem, geram morte e causam grandes preocupações às pessoas que caminham nos trilhos da vida.
Essa situação gera um forte sentimento de desesperança, que rouba das pessoas a capacidade de sonhar. Rouba a capacidade de acreditar que é possível ter escolas públicas de qualidade, hospitais que tratem as pessoas com dignidade, que é possível ter uma liderança política mais honesta e justa. Rouba a capacidade de sonhar com uma sociedade melhor e mais justa. Além disso, a desesperança sabota a nossa convicção de que vale a pena ser justo, afinal a injustiça virou a regra. Então se passa a pensar que não faz diferença ser justo. Por exemplo, pensemos uma vez na “ginástica” feita quando as pessoas declaram seu imposto de renda. A desesperança ainda rouba a convicção de que vale a pena ser bom. Afinal, de que adianta ajudar uma pessoa ou uma família a viver com mais dignidade se existem milhares delas vivendo de um jeito completamente indigno? E, por fim, a desesperança ainda nos tira a convicção de que vale a pena fazer a diferença. Fazer a diferença significa mudar vidas e realidades, levar a esperança de que a nossa realidade não é a realidade última, mas há um Deus que é o bom pastor que nos traz esperança e segurança em meio à desesperança e insegurança. O bom pastor deu/dá sua vida pelas ovelhas.
Diante dessa realidade, o Salmo 23 mostra-se atual. Nele somos convidados a confessar, junto com o salmista, nossa confiança em Deus como pastor e anfitrião. Diante dos caminhos inseguros da vida, ele nos defende e guia com cuidado e diligência, levando-nos a lugares de satisfação e descanso. Refrigera-nos a alma, lembrando que sua vontade dá-nos a possibilidade de andar e inaugurar sinais de justiça para pessoas injustiçadas, de paz e liberdade para pessoas oprimidas pela situação vivencial, de esperança em meio ao caos. Esse Deus oferece-nos seu melhor, o Cristo, para que a vida transborde de alegria, derramando sobre todos a esperança que traz alento. Que em meio às estruturas de desesperança que perseguem a vida humana as pessoas cristãs possam ser chamadas sempre de novo a ser discípulas de Cristo, para que a sociedade se encontre constantemente perseguida pela graça, bondade e misericórdia de Deus.
4. Imagens para a prédica
Improvisação sobre o Salmo 23 (Johnson Gnanabaranam)
Não é uma criatura mortal,
sujeita a sumir no mundo,
não é um ser humano
que muda a sua atitude,
assim como faz o camaleão.
És tu, o eterno Deus do amor,
tu és o meu pastor.
Tu não és nenhum ditador
que oprime as pessoas,
que não as deixa viver em liberdade.
Tu não és nenhum mercador divino
que troca virtude por riqueza.
Tu és o bom pastor,
que dá vida às ovelhas
através da oferta da própria vida.
Há quem diga: O Senhor não é o meu pastor.
Há quem diga: Tudo me falta.
Mas os que te conhecem dizem:
O Senhor é o meu pastor,
nada me falta.
Não sou eu – mas tu sabes
onde se encontram os verdejantes pastos da paz.
Lá me fazes repousar.
Não sou eu – mas tu sabes
onde correm as águas da alegria.
Para lá me conduzes.
As riquezas do mundo inteiro não são capazes
de renovar minha alma.
A sabedoria de todo o mundo não é capaz
de renovar minha alma.
Mas a tua graça refrigera e renova a minha alma.
Tu me fizeste abandonar a vereda da injustiça.
Tu me conduzes ao caminho da justiça.
Com isso tua justiça se torna conhecida de todos.
Não tenho medo da crueldade da morte.
Não tenho medo do poder do mal.
Porque tu, Ó Deus todo-poderoso, estás comigo.
Tu sabes o que o futuro me reserva.
Sabes o que é bom para mim agora.
E eu sei que tu me amas,
apesar de eu ser assim como sou.
São estas duas coisas que me consolam.
Tu me convidas para o grande festival,
apesar de eu não ser digno.
Tu me honras diante de meus inimigos.
Por isso perdi o medo que antes me inquietava.
Bondade me segue todos os dias da minha vida.
Por isso tenho paz.
Graça me segue todos os dias da minha vida.
Por isso estou rodeado de salvação.
Senhor, agradeço-te pela bondade e graça
que me fi zeste experimentar.
Tu me convidaste
a permanecer em tua casa para sempre.
E tu me conduzes a ela.
Viverei na companhia de pecadores
transformados em santos.
Esse convite me dá um antegosto
da mais pura alegria.
Amado Senhor, agradeço-te pelo poeta que escreveu o Salmo 23.
Agradeço-te pelos poetas que escreveram cânticos como esse,
que fortalecem a nossa fé.
Desperta entre nós muitas pessoas como eles.
Amém.
5. Subsídios litúrgicos
Abaixo, uma meditação de Martim Lutero sobre o v. 5: “O meu cálice transborda”.
Tal força, alegria e embriaguez bem-aventurada os crentes experimentam somente quando estão bem e em paz, mas, também, quando sofrem e morrem. Quando o Sinédrio de Jerusalém mandou açoitar os apóstolos, esses se alegraram com isso (Atos 5.41), e Paulo escreve em Romanos 5.3: “Também nos gloriemos nas próprias tribulações”.
Mas, diz você, ainda não estou preparado a ponto de poder morrer alegre. Isso não faz mal, pois nem Davi dominou essa arte a todo momento. Também ele, por vezes, se lamentava estar rejeitado ante os olhos de Deus. De igual modo, também outros santos não estavam sempre cordialmente confiantes em Deus, e pouco agrado e paciência tiveram em suas tribulações e tentações. O apóstolo Paulo tinha momentos em que confiava com tanta segurança em Cristo, que nem a lei, o pecado, a morte e o diabo o faziam mexer-se (Gálatas 2.20; Filipenses 1.20; Romanos 8.35ss). Logo a seguir, porém, lamenta-se por ser o mais fraco e o pior pecador sobre a terra (1 Coríntios 2.3; Romanos 7.14,24; Gálatas 5.17). Por isso, você não deve logo desesperar quando se sente ainda fraco e pequeno na fé; pelo contrário, dedique-se à oração, pedindo que possa permanecer na palavra e cresça na fé e no conhecimento de Cristo.
Bibliografia
GRENZER, Matthias. Pastoreio e hospitalidade do Senhor: exegese do Salmo 23. In: Atualidade Teológica. Revista do Departamento de Teologia da Puc-Rio, Ano XVI, n. 14, 2012, p. 301-321.
KRAUS, Hans-Joachim. Psalms 1-59 – A commentary. v. 1. Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1978.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).