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O contexto atual, de pandemia da Covid-19, nos desafia. Muito se tem falado sobre medidas que diminuem os riscos do contágio. O isolamento social é, até o momento presente, o único método comprovadamente eficaz. Ele previne o contágio, o que é particularmente importante em um contexto em que não há, ainda, remédio que cure a doença ou vacina que imunize o corpo contra o coronavírus. Prevenir é sempre melhor do que remediar. Prevenir é cuidar.

O cuidado é uma atitude, um valor, sobre o qual precisamos aprender mais e mais. Ele é bíblico, pois para Deus toda a pessoa humana é sagrada a partir de sua natureza, e não de sua funcionalidade. Cada pessoa é, assim, a imagem do próprio Criador. Disso advém a dignidade inalienável de cada ser humano: cada vida é valiosa.

O agir cuidadoso e responsável é fundamental no atual contexto. A teologia e a igreja cristã têm muito a oferecer neste aspecto. Então perguntamos: como a igreja cristã pode contribuir no desenvolvimento de uma cultura do cuidado? A igreja, através dos valores evangélicos, reforça a importância das leis de proteção, muitas das quais se encontram na Bíblia. A teologia também nos lembra e nos revela, contudo, que a marca do/a verdadeiro/a discípulo de Jesus Cristo é a vida responsável. Trata-se de uma atitude baseada na ética cristã, que é sempre a ética do cuidado, tanto de si quanto do próximo/a e da criação toda.

O agir responsável, do qual falamos aqui, não busca se referir a uma “obediência cega”, mas a uma ação livre e responsável, fundamentada na compreensão da vontade de Deus. Significa viver a partir da graça e do amor de Deus em nossa vida e em nossa sociedade; e é assim que nos tornamos livres para amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos/as. Significa um servir que é capaz de discernir, no cotidiano de nossas vidas, a vontade de Deus em situações bem concretas. No caso do coronavírus, trata-se, num primeiro momento, de prevenir o contágio. No seguimento fiel a Jesus Cristo, a igreja deixa de se preocupar somente com ela mesma, e assume ser presença serviçal entre as pessoas. Ela participa das dores e sofrimentos do mundo. Ela é presença diaconal, assim como Jesus Cristo o foi em sua época.

Isolamento social não significa viver egoisticamente, recluso/a, alheio/a às dores das demais pessoas e do que ocorre na cidade/município onde residimos. Muito pode ser feito, pois o amor não tem fronteiras. Cada comunidade cristã precisa, então, estruturar a sua diaconia, a sua presença serviçal, com as forças e possibilidades que ela possui. Não há padrão, norma ou exigência legalista. Há, isto sim, uma possibilidade aberta para expressar a fé através do amor.

Compartilho, aqui, a iniciativa da Comunidade/Paróquia (IECLB) de Maringá-PR. Ela assume, mesmo com modéstia, ser presença diaconal em meio à pandemia.

A Paróquia é a mantenedora do Lar Bom Samaritano, instituição que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. As atividades diárias, nesta época, estão temporariamente suspensas, mas o cuidado com as famílias e as crianças continua. A instituição foi escolhida pelo governo estadual para ser um pólo de distribuição do Cartão Comida Boa, um cartão que dá direito à aquisição de alimentos. Também oferece cestas básicas e máscaras para as pessoas que mais necessitam, doadas pelos membros da comunidade luterana.

Outra atividade muito importante é a confecção de máscaras. Mulheres com habilidade na costura confeccionam máscaras para o Hospital Universitário de Maringá, para UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), bem como para pais e crianças do Lar Bom Samaritano e para o público em geral. Adotou-se a metodologia do “varal das máscaras”, isto é, máscaras são distribuídas em frente à igreja e os/as transeuntes, que ainda não possuem a sua, podem apanhar uma. Junto a essa entrega, são distribuídos folhetos evangelísticos com a identidade da igreja que realiza essa ação, no caso, a IECLB em Maringá.

Outra ação, ainda, diz respeito à distribuição de cestas básicas. Os membros são sensibilizados/as para doarem alimentos, os quais são distribuídos a pessoas em extrema necessidade. Todas essas frentes de ações diaconais estão sob o encargo da coordenação local da diaconia. Membros individualmente também desenvolvem a diaconia espontânea, ajudando vizinhos ou conhecidos que se encontram em dificuldade ou mesmo em forma de serviços, como o atendimento psicológico social.

A Comunidade luterana de Maringá tem consciência de que é pouco o que ela faz, mas sabe também que o pouco é muito para quem dele necessita. Acima de tudo, ela sabe que viver em comunidade cristã é muito mais do que viver com os outros/as, mas é, sim, viver para os outros/as.