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A Câmara de Vereadores de Maringá prestou, no dia 12 de setembro, uma homenagem à Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB), concedendo o título de “Consagração Pública Municipal” à Paróquia Evangélica de Confissão Luterana de Maringá.  A iniciativa, proposta pelo vereador Mario Verri, destaca o importante papel da IECLB na comunidade local e a celebração dos 200 anos de Presença Luterana no Brasil. Neste ano de 2024, a IECLB completa 74 anos de atuação no município.

Acompanharam a homenagem pessoas e lideranças da Paróquia, assim como o grupo de louvor, o Pastor Antônio Ottobelli da Luz e a Pastora Rosane Pletsch. O presidente da Paróquia, Gilmar Otaviano Leal Santos, agradeceu a homenagem, ressaltando o legado de fé e serviço da Igreja ao longo das décadas, por meio de um resgate histórico da Igreja Luterana e seus valores.

 

Compromisso e gratidão

Pastor Antônio afirmou o compromisso com o caráter ecumênico e a fraternidade. “Aqui você tem lugar, não importa classe social, gênero, idade ou qualquer outra diferença; nós somos uma Igreja inclusiva; assim como uma Igreja ecumênica que se relaciona com outras igrejas cristãs com o mesmo propósito de dar testemunho do Evangelho”, frisou.

Já em sua fala, a Pastora Rosane expressou gratidão à Comunidade Luterana de Maringá. “Essa homenagem é de vocês que construíram essa Comunidade 74 anos atrás; muitas pessoas já não estão mais entre nós, mas aqui lembramos e temos no coração toda essa história e essas pessoas”, declarou.

 

Testemunho do presidente da Paróquia de Maringá

Abaixo, acompanhe parte do testemunho do presidente da Paróquia, Gilmar Santos, proferido em seu discurso durante a sessão solene:

A Deus, toda honra e toda a Glória!

Quando estou em um evento e alguma pessoa me pergunta qual é a minha religião, eu respondo sabendo que, muito provavelmente, ela não saberá muita coisa sobre o que é ser luterano, luterana ou sobre a confessionalidade luterana. Na maioria das vezes, a pessoa se faz de desentendida e troca de assunto. Outras vezes, aqui em Maringá, falam: “Ah, a Igreja dos alemães!”.

Meu sobrenome é Santos. Nada de alemão, muito pelo contrário. Sou descendente da índia Potira e do cacique Tibiriçá, que já andavam por estas terras antes de Cabral aqui chegar. E, mesmo assim, esta também é a minha Igreja.

Eu entendo a conexão, que é motivo de orgulho para todas as pessoas descendentes de famílias alemãs, que há 74 anos fundaram a Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Maringá com muito amor, suor, trabalho e fé. Aí sim vocês encontrarão sobrenomes como: Eidam, Willrich, Hansen, Ehlert, Meyer, Bartmann, Graebin, Ristow, Lempke, Schipfer, Philipp e outros. Famílias alemãs que, geração após geração, congregam em nossa Igreja.

Então, quero aproveitar a oportunidade dessa homenagem à nossa Igreja para falar o que geralmente não falo quando percebo que a pessoa não sabe o que é a Igreja Luterana.

 

Nossas origens

O Luteranismo ou Protestantismo começou com Martim Lutero, Monge da Ordem dos Agostinianos Mendicantes e Doutor em Teologia. Professor de Teologia, Lutero era atormentado por dúvidas quanto à faculdade humana de tornar-se pessoa justa perante Deus, mediante as boas obras. Mas, em 1513, dedicado ao estudo bíblico em sua cela no Convento Negro dos Agostinianos, onde morava, reconheceu de repente o infinito alcance da verdade do Evangelho:

“‘Concluímos pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei’ (Romanos 3.28). Agora eu considerava a escritura Sagrada de maneira diferente, e tornei-me alegre, como que renascido, sim, como se tivesse entrado pelos portais abertos do próprio paraíso”.

 

Indulgências

Em 1517, Lutero narra os fatos decisivos que levaram à Reforma:

“Aconteceu no ano quando se escrevia 17, que um monge pregador de nome Tetzel, um grande berrador, carregava por aí as indulgências, gritando, e vendia graça a dinheiro, tão caro ou tão barato quanto podia. Naquele tempo eu era pregador aqui no mosteiro e jovem doutor, imbuído de ardente amor pela Escritura Sagrada. Observando que muita gente de Wittenberg corria atrás das indulgências, comecei a pregar, cautelosamente, que se poderia fazer algo melhor e de maior certeza do que adquirir indulgência. Então escrevi uma carta com teses ao Bispo de Magdeburgo, para que mandasse parar o Tetzel e o impedisse de pregar coisa tão inconveniente para que não resultasse em escândalo. Mas não tive resposta. Portanto, minhas teses contra os abusos de Tetzel foram postas a público e em apenas 14 dias percorreram a Alemanha toda.”

 

95 Teses

Assim, em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou 95 Teses à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg. Vejamos algumas teses:

1. Quando o nosso Senhor e Mestre jesus Cristo disse: ‘Arrependei-vos!’ ele quis que toda a vida dos crentes fosse um só arrependimento.

27. Pregam futilidades humanas quantos afirmam que, tão logo a moeda tinir na caixa, a alma se eleva do purgatório.

32. Serão eternamente condenados juntamente com seus mestres, aqueles que julgam obter certeza da salvação mediante cartas de indulgência.

36. Todo e qualquer cristão verdadeiramente compungido tem pleno perdão da pena e da culpa, o qual lhe pertence mesmo sem carta de indulgência.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

94. Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu cabeça, Cristo, através de padecimento, morte e inferno.

95. E assim esperem mais entrar no reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados mediante consolações infundadas.

 

Justificação pela fé

Nós, pessoas luteranas, acreditamos que a Bíblia é um livro inspirado por Deus através do Espírito Santo e fonte infalível da fé cristã. Assim, pelo poder do Espírito Santo, a Bíblia, autêntica e divina, instiga fé e obediência.

Acreditamos, também, fazer distinção entre as Leis de Deus e os Evangelhos, enquanto aquelas são mandamentos, estes são promessas. Essa distinção nos assegura a claridade necessária para acreditar na salvação pela Graça de Deus através da fé. E é esta a doutrina central do Luteranismo: a justificação pela fé. Acreditamos que as pessoas são salvas pela graça de Deus por si só; através da fé, por si só, e baseada nos Evangelhos.

Acreditamos que Deus, por seu infinito amor, enviou o seu filho Jesus Cristo para redimir a humanidade do pecado e oferecer salvação. Enfatizamos que a salvação vem somente pela graça de Deus, através da fé em Jesus. Rejeitamos a ideia de que boas ações podem ganhar a salvação; e vemos a Graça como um presente de Deus e não algo ganho através do bom comportamento. As boas ações, como alinhado na Confissão de Augsburgo, são resultadas da fé, sempre e em toda circunstância. Os atos bons vêm de Deus, não de nossos corações e esforços, se as boas ações são ausentes, isso indica falta de fé.

 

Preceitos de fé

Acreditamos em um Deus trino e afirmamos que o Espírito Santo é Deus, assim como Jesus e assim como o Pai. Com o mesmo poder e a mesma glória.

Acreditamos que Jesus é o salvador prometido no Velho Testamento. Afirmamos que Jesus é, ao mesmo tempo, Deus e homem; como citado no Catecismo Menor de Lutero, confessamos que Jesus é filho de Deus, nasceu homem através da Virgem Maria, sofreu, morreu e foi sepultado para reconciliar a humanidade com Deus, servindo-se como sacrifício para apagar todos os nossos pecados.

Acreditamos que o Batismo é um ato de salvação em Deus e que cria e reforça a fé, mesmo nas crianças. O Batismo perdoa os pecados, nos salva da morte e do demônio; o Batismo dá salvação eterna para todos aqueles que têm fé.

Acreditamos na Eucaristia, acreditamos na presença real do Corpo e Sangue de Cristo no pão e vinho consagrados.

Em suma, somos pessoas cristãs em fé e em ações e temos muito orgulho disso. Nossa Igreja está aberta para todas as pessoas. Nosso lema em Maringá é: “Aqui você tem lugar!”. Apareçam em nossos Cultos, para tomar um café ou cantar um hino conosco. Vocês serão muito bem recebidos e recebidas e Deus ficará contente ver vocês em sua casa.

 

Com informações: Pastora Rosane Pletsch e Imprensa da Câmara de Vereadores de Maringá

Fotos: Marquinhos Oliveira/Câmara de Maringá