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A SAÚDE É A PRIMEIRA E, TUDO O OUTRO, PASSA A SEGUNDO TERMINO

Se algo está nos ensinando a pandemia do coronavirus, que estamos suportando, é que o mais importante, para todos os seres humanos, é a saúde. É o que mais nos preocupa e mais nos interessa a todos neste momento. A saúde é a primeira coisa. Tudo o resto passa para um segundo termo e subordinado ao problema da saúde.

Na Biblia, o personagem, que mais se interessou pela saúde das pessoas e mais se dedicou a Curar doentes, foi Jesus de Nazaré. Jesus não foi um médico, mas entendeu a religião de tal forma que, para ele, a primeira coisa e o mais urgente foi remediar o sofrimento dos doentes. Com isso Jesus nos ensinou que a igreja cristã deve olhar com atenção os problemas das pessoas.

A primeira coisa, para Jesus, foi sempre aliviar e remediar o sofrimento dos doentes, dos pobres, dos mais desamparados deste mundo. Mesmo que isso tivesse de ser feito quebrando as regras dos dirigentes religiosos ou deixando de lado cumprir as regras e obrigações que o clero impunha sobre as pessoas.

Por isso, o que interessa, nos quatro evangelhos, não é a historicidade desses relatos, mas sim a significatividade do que fez e disse Jesus. O que significa cada relato? Isto é o que importa. Claro que Jesus veio nos dizer que ele é o Filho de Deus. Jesus é Deus. Mas lá no fundo, o que significa isso? Significa que Deus está onde se remedia o sofrimento dos doentes.

Foi por isso que Jesus desconcertou tanta gente. Até João Batista ficou desconcertado. É por isso que mandou uns discípulos perguntar a Jesus: é você que tinha que vir ou esperamos pelos outros? (MT 11, 3). A resposta de Jesus foi muito clara: Ide contar ao João O que você está vendo e ouvindo: Os cegos veem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres recebem a boa notícia (Mt 11, 4-5; is 26, 19).

Jesus já havia realizado muito milagres. Mas era difícil acreditar que Jesus fosse o Enviado de Deus, devido à sua origem humilde, à maneira muito diferente de interpretar a lei e à sua pouca conexão com o templo e seus rituais. Muitos se opunham a reconhecer que ele fosse um profeta ungido pelo Senhor, movido simplesmente por preconceitos culturais e sociais.

Os ‘sinais e prodígios’ que Jesus realizou no meio das pessoas pobres causaram grande impacto e foram motivo de controvérsia. Muitos religiosos daquela época viam nas curas que Jesus realizava, simplesmente o trabalho de um curandeiro. Mas seus discípulos entenderam todo o seu valor libertador e salvífico. Pois não se tratava apenas de remediar as limitações humanas, mas de devolver toda a dignidade ao ser humano. A pessoa que recuperava a visão podia descobrir que seu problema não era um castigo de Deus pelos pecados de seus antepassados, nem uma terrível prova do destino. Era uma pessoa que passava do desespero à fé e descobria em Jesus o profeta, o ungido do Senhor. Seu problema, uma limitação física, havia se tornado uma terrível marca social e religiosa. A pessoa deficiente carregava também o terrível fardo do desprezo que a cultura e a religião daquela época lhe havia imposto. Jesus liberta o cego do peso insuportável da marginalização social e o leva a uma comunidade onde ele é aceito pelo que é, independentemente dos rótulos que os preconceitos sociais lhe haviam imposto.

Mas a cura de Jesus, causa um grande drama entre os vizinhos do lugar onde o cego costumava pedir esmolas e entre os fariseus que eram um grupo de judeus piedosos e cumpridores da lei. Até os pais do cego estão envolvidos no drama.

Todo mundo se pergunta como é possível que um homem nascido cego possa ver agora. Eles suspeitam que algo grande aconteceu, eles perguntam por quem curou o cego, mas não acreditam que Jesus é a causa da luz dos seus olhos. Um homem simples como Jesus não parece capaz de fazer essas maravilhas. Menos ainda, tendo operado no sábado, dia sagrado de descanso que os fariseus mantinham escrupulosamente. E menos ainda sendo o cego um pobre coitado que pedia esmola aos pés de um dos portões da cidade. Todo mundo interroga o pobre cego que agora vê: os vizinhos, os fariseus, os chefes do templo. Aquele ex-cego é interrogado, atacado, xingado e finalmente expulso da comunidade/da sinagoga.

Muitos outros seguidores de Jesus foram expulsos da religião judaica pelos líderes religiosos. Jesus vai a encontro deles e forma uma nova comunidade, a igreja cristã. A comunidade cristã está entusiasmada, cheia de alegria e amor, verdadeiramente possuída pela descoberta que fez em Jesus. Sentem que Ele lhes muda o mundo, que veem as coisas ao contrário do que antes, e é nele que Deus está presente. E assim o confessam. A comunidade cristã surge com pessoas que tiveram uma experiencia pessoal com Jesus, que mudaram sua maneira de ver as coisas, a partir do momento em que foram iluminados por Jesus, em que Jesus lhes abriu os olhos e o coração.

Nem sempre nossas igrejas precisam de pessoas que encham as igrejas com posicionamentos intransigentes. O que as nossas igrejas precisam não são discussões calorosas sobre a nossa forma de crer em Jesus. O que precisamos em nossas igrejas é ouvir mais o testemunho que contagia, é saber como Jesus tem escutado e olhado para o sofrimento das pessoas e tem libertado essas pessoas de seu sofrimento e de sua dor.

Nesses tempos em que o medo de morrer nos aterroriza, Jesus nos chama a atenção para que sejamos sensíveis e solidários, que busquemos a Deus por nós mesmos, por nossas famílias e por tantas pessoas que sofrem e procuram uma comunidade onde possam encontrar ao Jesus dos Evangelhos, o verdadeiro Filho de Deus.
 Amém.