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Amados irmãos, amadas irmãs,

iniciamos hoje uma nova série de pregações com o título “Epifania: quem é o menino que nasceu em Belém?”. Nesta série, queremos descobrir mais informações sobre a identidade de Jesus. Quem ele era? Apenas homem? Apenas o Filho de Deus? O próprio Deus? Quem é esse que nasceu em Belém e cujo nascimento foi capaz de dividir a história em antes e depois dele mesmo?

A série terá no total sete cultos que serão divididos em duas partes: na primeira parte, teremos quatro cultos online, contando o de hoje e dos dias 11, 18 e 25 de Janeiro; então, teremos a segunda parte com cultos presenciais em fevereiro. Anote aí: dia 05 na Comunidade Vida Nova, dia 12 na Comunidade Bom Pastor e dia 19 novamente na Comunidade Vida Nova, sempre às 9h da manhã. Se você quiser saber mais sobre os mistérios do menino que nasceu em Belém, então entre nessa série com a gente e não perca nenhum capítulo dessa empolgante história.

Hoje estamos no Primeiro Domingo após Epifania. A palavra epifania significa revelação. Isso significa que esse é um tempo do calendário litúrgico em que a Igreja no mundo todo procura conhecer melhor o que as Escrituras revelam e falam sobre Jesus. Certamente não haveria momento mais propício para termos essa série de pregações que agora.

No Primeiro Domingo após Epifania nós lembramos do Batismo de Jesus. Sim. Aquele menino que a poucos dias lembramos o nascimento em Belém já cresceu, tem seus trinta anos de idade e foi batizado por João Batista no Rio Jordão. Isaías, no capítulo 42 que ouvimos anteriormente, profetizou esse acontecimento. Assim nos diz Isaías 42.1: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se agrada. Pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios”. É o próprio Deus quem colocou essas palavras na boca do profeta. Ao lembrarmos do batismo de Jesus, iremos recordar que o Espírito Santo desceu sobre ele em forma de pomba.

O batismo de Jesus marca o início de seu ministério. Sim. O ministério terreno de Jesus vai desde o seu batismo até sua crucificação, ressurreição e ascensão. Qual era a sua missão? Isaías 42.7 nos responde, dizendo: “farei de você mediador da aliança com o povo e luz para os gentios; para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os cativos, e do cárcere, os que jazem em trevas”. Em outras palavras, a missão de Jesus é trazer libertação! Este foi o foco dos seus três anos de ministério.

E tudo começou no batismo. Infelizmente, muitas vezes na igreja atualmente o batismo se torna o ponto final da fé ao invés de ser o ponto inicial. A criança é batizada e voltará à igreja apenas doze anos depois para estudar no Ensino Confirmatório – isso se vier. Os pais têm responsabilidade nisso. Especialmente por causa das escolhas dos padrinhos. Já não se usa mais critérios bíblicos para a escolha dos padrinhos. O dever dos padrinhos é educar o afilhado ou afilhada na fé. Quando pais não dão atenção à fé dos padrinhos, a chance da criança se afastar da presença de Deus é muito grande. Com consequências eternas!

Mas esse não foi o caso de Jesus. Ele foi batizado aos trinta anos de idade. João Batista batizava as multidões que ouviam a sua pregação e se arrependiam dos seus pecados. Jesus, porém, ao invés de ter pecados para se arrepender era, conforme o testemunho de João, o próprio “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. (João 1.29). Jesus era verdadeiramente humano e em tudo igual a nós, exceto no pecado. Ele foi concebido pelo Espírito Santo e, por isso, nasceu sem a mancha do pecado – que é um destino a todos nós desde Adão e Eva.

Primeiramente, João Batista se nega a batizar a Jesus, dizendo: “ – Eu é que preciso ser batizado por você, e é você que vem a mim?” (Mateus 3.14). Com isso, Jesus convenceu João Batista a o batizar. Então aconteceu uma verdadeira Epifania, ou seja, Revelação: “Depois de batizado, Jesus logo saiu da água. E eis que os céus se abriram e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: – Este é o meu Filho amado, em quem me agrado”. (Mateus 3.16-17). É um evento maravilhoso. Aqui encontramos a Santíssima Trindade: o Filho, Segunda Pessoa da Trindade, é o que foi batizado; o Espírito Santo, a Terceira Pessoa da Trindade, desceu como pomba; o Pai, a Primeira Pessoa da Trindade, declara dos céus com sua voz o amor ao seu Filho unigênito.

Quem é esse que foi batizado por João Batista no Rio Jordão? Assim nos diz Romano Guardini, um teólogo católico que foi professor do Papa Bento XVI e que passou quatro anos pregando apenas sobre a identidade de Jesus. Guardini diz sobre Jesus o seguinte:

ele é o Filho de Deus, da mesma essência de Deus; que traz em seu ser, corporalmente, a divindade; que esta o penetra e o ilumina. Mas ao mesmo tempo ele é também verdadeiramente homem, em tudo igual a nós, menos no pecado.1

Não foi apenas um homem que foi batizado por João Batista no Rio Jordão. Jesus Cristo, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem foi batizado por João Batista no Rio Jordão. Não foi um batismo para a remissão de pecados, mas um batismo para marcar o início de seu ministério e as tentações que iriam tentar a todo custo afastar o Messias da cruz!

Por isso, não é à toa que o mesmo Espírito que desceu sobre Jesus como pomba também o leve à tentação. Assim nos diz Mateus 4.1: “A seguir, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”. Espírito aqui está com letra maiúscula, indicando que não é um espírito maligno que o levou ao deserto para ser tentado, mas o próprio Espírito Santo de Deus. Após a glória epifânica do batismo, eis que vem a atroz tentação de Satanás. No deserto, estará apenas Jesus e o Pai. Sobre a quantidade de quarenta dias, Guardini diz o seguinte: “Quarenta é um número simbólico: significa um longo período de tempo em relação ao ritmo da vida”2.

No deserto, Jesus jejuou. Estava interiormente sozinho diante de Deus. Jesus assumiu o jejum espontaneamente, com disponibilidade interior. Guardini nos explica o que acontece com o nosso corpo através do jejum. Vejam só:

Primeiro se sente apenas a carência; depois desaparece o apetite durante um certo número de dias, maior ou menor segundo as forças e a constituição da natureza afetada. Quando o corpo não recebe nenhum alimento, nutre-se de suas próprias reservas. Mas quando essa autocombustão atinge os órgãos essenciais, produz-se uma fome selvagem, elementar, e a vida corre sério perigo. É desse tipo de “fome” que se fala aqui.3

Em meio a essa fome terrível, surge a primeira tentação: “Então o tentador, aproximando-se, disse a Jesus: – Se você é o Filho de Deus, mande estas pedras se transformarem em pães”. (Mateus 4.3). Lembre-se: isso está sendo dito a alguém que está a quarenta dias sem comer! Que tentação! O diabo atiça a fome de Jesus. Porém, Jesus lhe deu a primeira resposta: “ – Está escrito: “O ser humano não viverá só de pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. (Mateus 4.4). A pessoa batizada aspira pela Palavra de Deus antes de qualquer coisa. Tem fome dessa palavra. Degenera-se quando não se alimenta dela. Perde o rumo. Desvia-se. Afasta-se. Cria e adora a ídolos – sejam deuses ou cultos a personalidades do futebol, da política ou outras áreas.

Então, vem a segunda tentação onde o diabo inclusive se mostra conhecedor da Bíblia – mais que muita gente que vive a vida inteira na igreja. Assim nos diz a Palavra: “Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse: – Se você é Filho de Deus, jogue-se daqui, porque está escrito: “Aos seus anjos ele dará ordens a seu respeito. E eles o sustentarão nas suas mãos, para que você não tropece em alguma pedra”. (Mateus 4.5-6). Olhem que interessante! O diabo usa do Salmo 91.11 para tentar a Jesus. E olha que durante a Pandemia ouvi muita gente compartilhando este salmo nas redes sociais na tentativa de convencer as pessoas que seriam protegidas de todo mal e que não precisavam usar máscaras, evitar aglomerações e fazer as doses das vacinas. Pois bem, agora vemos quão diabólica é essa proposta de descuidado com a vida. E Jesus foi novamente sábio em sua resposta: “Jesus respondeu: – Também está escrito: “Não ponha à prova o Senhor, seu Deus”. (Mateus 4.7). O Jesus batizado por João Batista no Rio Jordão tem um relacionamento tão íntimo com seu Pai que sabe que não deve ir contra a vontade de Deus. E para conhecer a vontade de Deus é preciso estudar a Bíblia como um todo ao invés de apenas decorar versículos isolados apenas para justificar e validar a nossa própria opinião. Mas, hoje, quem quer tirar tempo para estudar a Bíblia? Tira-se tempo para tudo, menos para a Palavra de Deus.

E então, vem a terceira tentação: “O diabo ainda levou Jesus a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e disse: – Tudo isso lhe darei se, prostrado, você me adorar.” (Mateus 4.8-9). Surpreendente! O diabo se achando o dono do mundo, enquanto o Salmo 24.1 nos diz: “A terra e sua plenitude são do Senhor”. O texto bíblico continua falando da sabedoria de Jesus: “Então Jesus lhe ordenou: – Vá embora, Satanás, porque está escrito: “Adore o Senhor, seu Deus, e preste culto somente a ele.” Na mosca! Então o diabo se afasta de Jesus. Conforme Lucas 4.13, se afasta até o momento oportuno.

Assim nos diz o teólogo Romano Guardini sobre esse episódio: “E Jesus regressa para o meio dos homens. Seguem-se alguns dias tranquilos, sobre os quais paira uma grandeza maravilhosa e expectante. Mas logo virão a ele alguns seguidores”4. Sua missão e seus seguidores será o tema do próximo capítulo da nossa série.

Amados irmãos, amadas irmãs,

Com que força palpita a vida de Jesus nesses acontecimentos! Da plenitude e da grandeza entesourada durante os anos de silêncio surge a humildade. E Jesus entra na fila para ser batizado. A essa humildade o céu responde abrindo-se, e o Espírito jorra, e se ouve a voz do Pai, anunciando sua eterna complacência em seu Filho. Do Jordão, Jesus se retira à solidão do deserto. Ali surge a tentação (…). Em seguida, há o regresso ao estreito círculo onde irá desenvolver-se a missão; e a espera silenciosa, até que chegue a hora de começar.5

Esse é Jesus. É Rei. É Senhor. É humilde. É sábio; enfim, é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Em tudo igual a nós, exceto no pecado. E quanto mais conhecermos sobre Jesus, mais seremos impactados pelo seu amor a nós pecadores; amor que foi capaz de o levar para morrer na cruz em nosso lugar; amor que foi capaz de o fazer trocar a sua justiça pelo nosso pecado; amor que foi capaz de o ressuscitar ao terceiro dia para que tenhamos a esperança da vida eterna. Que maravilhoso amor!

Como pessoas batizadas, não estaremos poupados dos sofrimentos e das tentações. Estamos preparados para enfrentá-las? Assim nos diz 1 Coríntios 10.13: “Não sobreveio a vocês nenhuma tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar; pelo contrário, juntamente com a tentação proverá livramento, para que vocês a possam suportar”. Só com temor a Deus, vida de oração e conhecimento bíblico é que podemos vencer as tentações do inimigo. Estamos preparados como Jesus? Temos pecados a confessar nesse sentido? Jesus, o Filho de Deus, te espera de braços abertos. Amém. 


1º DOMINGO APÓS EPIFANIA | BRANCI | TEMPO COMUM | ANO A

08 de Janeiro de 2023


P. William Felipe Zacarias


1 GUARDINI, Romano. O Senhor: reflexões sobre a pessoa e a vida de Jesus Cristo. São Paulo: Cultor de Livros, 2021. p. 46.

GUARDINI, 2021. p. 47.

3 GUARDINI, 2021. p. 48.

4 GUARDINI, 2021. p. 51.

5 GUARDINI, 2021. p. 51.