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Estimada comunidade, irmãs e irmãos em Cristo,

De uma pequena criança se tem a esperança que ela possa crescer, amadurecer e alcançar a idade adulta, realizando sonhos e projetos de vida. A esperança de uma criança é diferente da esperança de uma pessoa adulta, que já percorreu muitos caminhos na vida, e que agora sabe que tem menos anos nas mãos para desfrutar o que a vida lhe oferece. O texto bíblico anunciado hoje nos fala da apresentação de Jesus no templo de Jerusalém. É uma história repleta de esperança.

Para início de conversa, nos deparamos com a esperança do jovem casal Maria e José ao apresentar no templo o bebê Jesus para ser dedicado ao Senhor Deus. Esta era uma prática comum, conforme ordenada pela lei no Antigo Testamento (Ex 13.2): o primeiro filho homem de um casal precisava ser consagrado a Deus. Como qualquer outro primogênito de um casal israelita, Jesus também teve de passar pelo tradicional ritual de dedicação ao Senhor. Como outros casais de Israel, Maria e José também alimentavam a esperança que Jesus fosse crescer, amadurecer e alcançar a idade adulta, realizando sonhos e projetos de vida.

O ritual de dedicação do primeiro filho homem era carregado de simbolismo histórico. Trazia à memória do povo o livramento da escravidão no Egito, quando Deus libertou e conduziu o povo de Israel para uma nova terra, dando lhes liberdade e uma nova vida. Consagrar ou dedicar o primogênito era um gesto para manter viva na memória o Deus de Israel, Deus fiel que cumpre suas promessas. Maria e José, que já tinham vivenciado o nascimento incomum de seu filho, alimentavam a esperança de que Jesus era alguém especial, escolhido por Deus, embora não sabiam ainda ao certo como, o que e quando Deus iria cumprir sua palavra. realizar sua esperança. Tudo isto era para o jovem casal uma incógnita, uma pergunta que ainda aguardava resposta.

Eis que enquanto José e Maria estavam no templo, se preparando para consagrar ao Senhor Deus o seu filho Jesus, o casal foi surpreendido por um homem idoso que pegou o menino no colo e começou a louvar a Deus. Foi uma surpresa e tanto porque o templo de Jerusalém era enorme e certamente outros bebês estavam presentes para serem dedicados ao Senhor. Simeão – este era seu nome – homem justo e piedoso, guiado pelo Espírito Santo, viu em Jesus o cumprimento de sua esperança. Conforme a história bíblica, o Espírito de Deus tinha prometido a Simeão conhecer o Messias antes dele morrer. Ou seja, já faziam muitos anos que Simão aguardava o cumprimento desta promessa. E ele era um homem que sabia esperar. Por anos, o idoso Simeão cultivou com paciência a esperança. E quando Deus finalmente lhe indicou o cumprimento de sua esperança, Simeão se alegrou, pegou a criança no colo e agradeceu a Deus, “Agora, Senhor, cumpriste a promessa que fizeste e já podes deixar este teu servo partir em paz. Pois eu já vi com os meus próprios olhos a tua salvação” (Lc 229-30). Finalmente Simeão teve o privilégio de ver e segurar em seus braços Jesus, o motivo de sua longa espera. Por isso, Simeão pediu a Deus para enfim morrer e partir em paz.

Em seu canto de louvor a Deus, Simeão falou da razão de sua esperança: Jesus, a luz para mostrar o caminho de Deus a todos os povos, tanto a judeus como não-judeus. Ou seja, em Jesus as portas da salvação, do amor e da graça de Deus são amplas e definitivamente abertas para que pessoas de diferentes culturas, línguas e raças tenham acesso à nova vida e liberdade que vem de Deus. O Espírito de Deus também revelou a Simeão que Jesus, o escolhido de Deus, iria enfrentar oposição e até mesmo sofrimento – um sofrimento que, como uma espada, cortaria o coração de sua mãe. Maria e José não sabiam e nem tinham como saber da cruz que estava reservada para Jesus.

O jovem casal ouviu as palavras de esperança anunciadas por Simeão. Como, o que e quando elas se realizariam não lhes foi dito. O casal teria de esperar anos, muitos anos, para ver e compreender as palavras de Simeão. Assim como o idoso Simeão teve de esperar Deus cumprir sua promessa, Maria também teria de aprender a esperar. Maria também teria que cultivar com paciência a esperança.

Esperar em esperança certamente é um dos ensinamentos nesta história bíblica – um ensino necessário e urgente para os dias de hoje. Pois pertencemos a uma geração devorada pelo imediatismo e pela rapidez. Nós, incluindo você e eu, muitas vezes temos dificuldade de esperar e aguardar as diferentes etapas da caminhada da vida. A comunicação instantânea via WhatsApp ou redes sociais cria a ilusão de que na vida tudo é imediato e rápido. Seja na hora de escutar o que a outra pessoa tem para nos dizer, seja nos relacionamentos atropelados entre as pessoas, seja na hora de preparar os alimentos e até mesmo na hora do plantio – parece-nos que todo mundo está com pressa, sem tempo para esperar, vítima da ansiedade que toma conta de nós e de nossa sociedade. A este estado de espírito um filósofo chama a nossa convivência de “sociedade do cansaço”, com sua hiperatividade e esgotamento físico e mental.

Por causa da impaciência, muitas vezes sofremos frustrações e decepções quando transferimos a rapidez e imediatismo da tecnologia moderna para as nossas relações com outras pessoas e também na nossa comunhão com Deus. Entretanto – eis um lembrete importante – as relações humanas e a comunhão com Deus não se constroem ultrapassando as barreiras de tempo e lugar. Construir relacionamentos com pessoas e amadurecer espiritualmente são processos lentos de crescimento e desenvolvimento.

Muitas vezes, as pessoas exigem respostas imediatas de Deus, como se Deus tivesse de atender aos caprichos humanos. Deus, por sua vez, pede de nós paciência, não porque Deus precisa de mais tempo para realizar sua vontade, mas porque nós, seres humanos, precisamos aprender que o tempo pertence a Deus e não a nós.

Igualmente nas relações humanas, muitas vezes é necessário dar tempo ao tempo, cultivar a paciência com o próximo e consigo mesmo, perdoando as faltas do outro ou tendo paciência para perdoar as próprias faltas. Como pessoas, nós somos limitados no tempo e no espaço. Aliás, o próprio Jesus, filho de Deus, como ser humano também se sujeitou aos limites do tempo e do espaço. Também o menino Jesus precisou tempo para crescer, tempo para atravessar as diferentes fases da vida, tempo para amadurecer e finalmente, na idade adulta, no tempo certo de Deus, iniciar sua missão.

Saber esperar, cultivar a esperança é a lição que a história bíblica de hoje nos apresenta. A história bíblica nos fala da esperança de Maria e José ao consagrar o pequeno Jesus ao Senhor Deus, na expectativa de que Jesus irá crescer em sabedoria e ficar forte, sob a benção de Deus (Lc 2.40). A história bíblica nos fala de Simeão que, com esperança e paciência, aguardou Deus cumprir sua promessa. E tudo isto aconteceu no templo. Assim como Maria e José, assim como Simeão, assim como nós aqui hoje, não existe lugar melhor para aprender a esperar, não existe tempo melhor para cultivar a esperança, a não ser na presença de Deus. Deus, através de Jesus e sua palavra, é fiel para alimentar a nossa esperança e nos conduzir por caminhos de crescimento e amadurecimento. Jesus é o sinal da esperança por todos nós. Amém.