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A vida de cada um de nós é uma viagem. Alguns se deslocam por grandes distâncias. Outros preferem ficar mais próximos do lugar onde nasceram e se criaram. Alguns se deslocam para viver uma aventura, alguns por opção, outros por necessidade. O mesmo acontece com quem fica onde sempre esteve: uma necessidade ou uma opção.

No entanto todos nós, sem escolha, vivemos neste momento uma grande travessia. Vivemos uma travessia onde tentamos nos cuidar, nos manter  saudáveis, nos impondo restrições na tentativa de não ser apanhado ou apanhada por esta terrível doença pandêmica que o vírus invisível tenta passar para cada habitante da Terra.

No cenário do povo da Bíblia vamos perceber várias travessias. No meu conceito, uma travessia sempre estará ligada a alguma aventura ou, melhor ainda, a correr perigos. Na navegação se conhece o fenômeno do vento travessão, aquele que sopra contrário à ação planejada, atrasando ou impedindo uma viagem. Portanto, as travessias bíblicas estão normalmente relacionadas a imprevistos.

Por exemplo, anunciar a esperança a partir do Senhor Ressuscitado — ainda respiramos os ares da Páscoa — continuava e continua sendo uma travessia perigosa para a cristandade.

Toda a vida de Jesus foi uma espécie de travessia com seus perigos mortais. Quando João Batista foi decapitado por Herodes, Jesus voltou à Galileia. Ali havia se estabelecido o centro da revolta contra o poder romano. Ao falarem que Jesus é galileu, estavam dizendo com isso que ele era um rebelde. A região da Galileia foi devastada, consumida por fogo e sangue. E Jesus, com sua pregação do Reino de Deus, se deslocava da Galileia para a Judeia. Visitava cidades que lhe eram amistosas e aquelas em que corria risco de morte. Tiberíades, Séforis, Samaria e Jerusalém eram alguns dos seus destinos nas suas travessias. Na última parada, é crucificado, como fomos recordados há alguns dias.

Fazer as travessias em nossos dias não está sendo tarefa fácil. O que poderia nos ensinar o companheiro de caminhada — Jesus — se também as suas travessias foram tensas e, por fim, o levaram à morte? Ele pode nos ensinar sobre a paz que brota a partir da fé.

No decorrer do tempo a comunidade cristã foi aprendendo a suavizar as travessias conturbadas e tempestuosas. Lembro do que Paulo escreve na sua carta à igreja em Roma falando da paz com Deus e da segurança da fé à medida que avançamos em nossa experiência de vida com Jesus. Ele escreve: “…nos alegramos nos sofrimentos, pois sabemos que os sofrimentos produzem a paciência, a paciência traz a aprovação de Deus, e essa aprovação cria a esperança. 

Essa esperança não nos deixa decepcionados, pois Deus derramou o seu amor no nosso coração, por meio do Espírito Santo, que ele nos deu”. (Rm 5.3-5). Note que a suavização de uma travessia não acontece no isolamento, mas na caminhada conjunta. Ao caminharmos como pessoas unidas, que saem de um mesmo ponto buscando chegar a um mesmo alvo, vamos mais longe um uma travessia. Isso não significa que o vento travessão não possa nos tirar do alvo, mas nossa travessia terá os cuidados que mutuamente — em nossa comunhão de fé — poderemos experimentar.

Aliás, quem de nós não lembra a travessia do mar da Galileia onde Jesus acalmou a tempestade? Não precisamos logo dar uma de Pedro e querer andar sobre as águas, mas a travessia do Senhor e Salvador Jesus Cristo pode — e quer! — nos carregar na nossa necessidade tão atual e urgente: seguir com paciência, na aprovação de Deus (em algumas traduções, perseverança), na esperança neste tempo de sofrimento, na certeza de que Deus não nos decepciona.

Busquemos forças na comunhão, mesmo que por canais virtuais. Não nos isolemos. Meditemos na palavra bíblica. Respiremos. Aquietemos seu coração.

Oremos: Senhor Deus. Reconhecemos que no início da nossa travessia ficamos inquietos e inseguros. Mas, à medida que avançamos, vamos criando pontes — nossas aflições com as aflições de outras pessoas e nossa fé, paciência e esperança com a fé, paciência e esperança de outras pessoas — e essas pontes vão nos proporcionando uma jornada de paz e confiança. Aumenta nossa fé, Senhor. Que os reveses não nos derrubem, pelo contrário, nos fortaleçam. Vem, Senhor Jesus, e fortalece nossa vida. Amém!

Que te abençoe e guarde o Pai, o Filho e o Espírito Santo!