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A 1ª. Conferência Ministerial 2014 do Sul-Rio-Grandense aconteceu em 25/03, na cidade de Pedro Osório, no âmbito da Paróquia Pedro Osório. Após a saudação do pastor sinodal Dietmar Teske, acolhendo os colegas recém-chegados: – Pa. Carina T Schmidt, Pa. Beatriz R Haacke e P. Gleidson A Fritsche, bem como o Est. Teol. Renato Endlich, foi a vez da Paróquia anfitriã fazer a sua apresentação. Isso coube ao P. Eldo P. Schmitz e à Sra. Renata Kasinger.

Convidado pelo Sínodo Sul-Rio-Grandense, o Prof. Dr. Roberto Ervino Zwetsch da Faculdades EST, São Leopoldo, assessorou a Conferência Ministerial e fez a seguinte síntese de sua assessoria:

“A exposição iniciou com a leitura responsiva do Salmo 42 e um momento de silêncio. Então propus uma dinâmica em que cada pessoa dizia seu nome, o lugar onde atuava e escolhia uma palavra para definir sua relação com a cidade ou lugar onde vive. Boa parte do grupo respondeu escolhendo palavras ricas de sentido e que não só dizem algo da pessoa, mas como se percebe no contexto onde vive e trabalha como ministro/a do evangelho. A leitura do poema de Charles Kiefer serviu como motivação para a abordagem bíblica de Jeremias 29, a carta do profeta aos exilados judeus na Babilônia.

´Uma cidade, amada, não existe
No espaço, nem se faz de ruela escuras
Ou avenidas orvalhadas.
Uma cidade é mais que um conjunto
De edifícios, ou não é nada.
Uma cidade é um estado de espírito,
Uma esperança,
Uma paixão enrodilhada
Num desvão de escada.
Uma cidade, amada, é uma saudade.´

Após o comentário do poema, apresentei fotos do foto-jornalista Tadeu Vilani, do jornal Zero Hora e que fazem parte de um trabalho pelo qual ele recebeu o maior prêmio dessa categoria no ano de 2010. São fotos de pessoas da Vila Dique, que ficava atrás do aeroporto Salgado Filho, Porto Alegre. Elas foram remanejadas do lugar em virtude das obras de ampliação do aeroporto. Observando as pessoas, se fez comentários sobre o que estas pessoas esperam da vida, como se relacionam com suas dificuldades e como representam um desafio para quem deseja fazer missão urbana e lutar pela paz na cidade. Para quem deseja acessar as fotos, basta buscar o nome do autor na internet que encontrará seu blog e muitas outras fotos.

O Tema e o Lema da IECLB deverão permanecer na agenda da igreja por muito tempo. A missão ou pastoral urbana é o tema do presente e do futuro das igrejas cristãs como um todo. A maior parte das pessoas vive hoje em cidades, e aquelas que ainda vivem e trabalham no campo estão influenciadas pelas regras, as necessidades e a cultura urbana.Assim, também a atividade pastoral/ministerial precisa articular-se nesse novo contexto e compreender o que as pessoas nos estão dizendo e buscando.

Após um exame breve do texto de Jeremias 29, acentuou-se que a proposta da paz na cidade vale tanto para os exilados em terra estranha (Babilônia) como para o povo da terra que não deixou Judá, mas que permaneceu lá na maior miséria. Construir a paz na cidade é constituir família, ter filhos, filhas, plantar, trabalhar, colher, planejar o futuro, preparar-se para um longo período de exílio, de sentir-se estranho sem perder a esperança. Este é o desafio do profeta, contra as vozes, de quem dizia que a desgraça “seria passageira” e logo Deus faria o povo retornar livre para “casa”. Jeremias, realisticamente, mostra que a questão é saber viver até “setenta anos” (por um longo tempo) em terra estranha, sem perder a dimensão da vida cotidiana onde vivemos nossa fé e caminhamos com o Deus da Vida. Deus não ficou preso no templo destruído. Aliás, o próprio exílio é um processo histórico que serve como pedagogia divina para o povo voltar ao primeiro amor.

Nesse contexto: “Buscai a paz da terra para onde vos desterrei e intercedei em favor dela perante o Senhor, pois na sua paz reside a vossa paz” (v. 7). Javé completa: “Logo que se completarem 70 anos voltarei a me ocupar de vocês. Porque eu sei os projetos que tenho pra vocês, projetos de paz e não de desventura, para prover a vocês esperança e futuro!” (v.11). O sentido da palavra SHALOM aqui é rico e merece ser explorado! A paz carece de ser buscada com toda aspiração, devoção, entrega, de todo o coração (v. 13). Nessa busca Deus se revelará a nós (v.14),nem antes nem depois, mas precisamente em meio à busca! Como interpretar esta mensagem para a nossa realidade atual? Quais são as tendências que hoje nos desanimam e nos paralisam diante dos enormes desafios que as cidades nos colocam? Como superá-las? Sozinhos ou juntando forças, fraquezas, ideias, esperanças?

Duas questões foram destacadas em relação ao desafio que o tema nos coloca: – 1) Sociedade plural – quais os desafios para o anúncio do evangelho (evangelização) ? Nesse sentido, a grande responsabilidade que temos é traduzir o evangelho para a realidade urbana sempre em mutação. A cidade atual apresenta sombras, obscuridades, luz: Que luz? Que oportunidades? Mas também pode ser uma refiguração do Novo Mundo de Deus (Silvio Meincke)? De que forma? A cidade desafia as comunidades de fé a viver em permanente “estado de missão”: – a) as pessoas necessitam convencer-se pessoal e renovadamente (não há mais curral eclesiástico); – b) a questão da autoridade: ninguém aceita a autoridade como imposição; – c) conversão madura e constante (Lutero: não ser, mas vir a ser, tornar-se cristão cada dia!); – d) uma teologia evangélica: Cristo e cruz; – e) uma ética evangélica libertadora: a liberdade cristã; – f) um jeito de ser comunidade: acolhedora, ouvinte, parceira – “somos simultaneamente justos e pecadores”: o que significa isso? O P. Eloir Weber escreveu: “A descoberta de que somos justos e pecadores é uma libertação da necessidade e da cobrança pela perfeição que há no mundo pentecostal”. – 2) Espiritualidade e liberdade: como viver e anunciar este evangelho da graça que liberta? Há nos tempos atuais algo como um “retorno ao religioso”, uma busca por “espiritualidade”. Mas é algo difuso, difícil de conceituar e sistematizar.Características dessa religiosidade difusa: é subjetiva, emocional, está baseada na experiência, é interreligiosa (supõe coexistência com múltiplas espiritualidades), é sincrética. O desafio para nós que atuamos no ministério é aprender a dialogar com esta “espiritualidade difusa” e descobrir caminhos para apresentar, afirmar nossa fé, sem nos julgarmos “donos da verdade” (é como andar sobre o fio da navalha!). Nosso colega Lauri E. Wirth, de Valinhos, SP, aponta dois caminhos possíveis:

Um caminho: – a) propor uma comunidade de amor que vive a fé em constante diálogo com as pessoas (da comunidade e para além da comunidade); – b) traduzir a encarnação de Deus em Cristo para nossos dias; – c) lutar por ser comunidade inclusiva; – d) releitura da teologia da cruz (Deus em Cristo se solidariza conosco na dor, no fracasso, no luto e na morte – e nos abre para uma nova vida – viver em Cristo, andar no Espírito, cf. Paulo); – e) uma fé que valoriza e defende a criação (ex. Criatitude – JE na Rio + 20, 2012 – tema de tese de doutorado na PUC/RS em fevereiro/2014); f) novas formas de oração, de diálogo com Deus (no templo, na rua, em casa, em qualquer lugar).

Outro caminho: tornar-se comunidade acolhedora (temos dificuldade de aceitar os diferentes). Ter olhos para quem está desenraizado, fora do lugar na cidade: tornar-se como uma segunda família (como lidar com favelados, com gente que não pode pagar mensalidade, com pessoas com deficiência, com mulheres sozinhas e com filhos, com pessoas homoafetivas?). Duas proposições: a) inserir-se no meio urbano sem abandonar a herança do passado, mas reinterpretando-a; b) valer-se da imaginação criativa (redescobrir um novo Lutero próximo aos 500 anos da Reforma – 2017 –, o que implica: 1) redefinir nossa concepção de liberdade cristã (Lutero: Da liberdade cristã – 1520, Magnificat – 1521). A liberdade se efetiva na prática do amor incondicional (Romanos 8.1ss; 13.8-10). Lauri E. Wirth: “Livres para servir, verdadeiros carregadores de cruzes! Lutero atualizou para o seu tempo a orientação do apóstolo Paulo aos Gálatas: ‘Carreguem os fardos uns dos outros, e assim vocês estarão cumprindo a lei de Cristo’ (6.2) […] Temos uma oportunidade singular para a afirmação de um diferencial que nos distingue de igrejas que adotaram a lógica da sociedade de consumo como caminho de salvação. Contudo, a credibilidade deste diferencial dependerá de nossa capacidade em demonstrar que a justificação pela fé se concretiza num estilo de vida, pessoal e comunitário, muito mais que em discursos e doutrinas” (Presença Luterana, São Paulo, Sínodo Sudeste, ano 2, nº 4, out/nov 2012, p. 15).

Trata-se, portanto, de buscar a paz da cidade aprendendo a caminhar com outras pessoas, buscando quem está desgarrado, acolhendo quem não conhece a solidariedade fraterna, propondo o caminho da fé no evangelho que liberta como um tesouro que está escondido no campo ou no meio da correria da vida atual.” – (Sugestão de leitura: Cristine HELMER (Org.). Lutero – um teólogo para tempos modernos. Trad. Geraldo Korndörfer. São Leopoldo: Sinodal, EST, 2013.)

À tarde a Conferência tratou de assuntos trazidos pelo pastor sinodal e de ministros orientadores de setores de trabalho em nível sinodal. A próxima CM, 13/05, também se ocupará com o Tema e Lema da IECLB 2014, com assessoria do CAPA – Núcleo Pelotas.


Divulgação: Sínodo Sul-Rio-Grandense