Posição de destaque, preferencialmente, o primeiro lugar, são questões com que convivemos no dia-a-dia. Até existe, em tempo de eleições, aquela tentativa de alguns de associar o(a) candidato(a) a uma vida humilde, onde o lema é servir. Se o lema de todos fosse esse, certamente não habitaríamos num planeta tão ameaçado pela destruição, nem a pobreza e a riqueza distanciariam tanto as pessoas entre si.
As comunidades cristãs não tiveram no início de sua história vida fácil, muito menos posição de destaque. Seus membros eram perseguidos e só a partir do imperador Constantino não precisaram mais ter medo de ser presos e viver na clandestinidade. Com isso seus líderes receberam títulos de nobreza e passaram a ter uma série de privilégios. Até hoje há igrejas que se sentem atraídas pelo poder e uma posição de destaque na sociedade.
Qual é o lugar que cabe assumir? No Evangelho deste domingo (Lucas 14.1,7-14) lemos que Jesus se encontra na casa de um dos líderes fariseus para uma janta festiva. Nesta ocasião era muito importante observar as regras vigentes na hora de sentar à mesa. O critério era a posição social dos convidados. Jesus observou nos convidados a tentativa de estarem nos primeiros lugares, mais próximo do dono da festa. Observando o comportamento dos convidados Jesus diz que no Reino de Deus não pode ser assim. Jesus ensina: “Quando fores convidado, vai tomar o último lugar” (v.10). Na verdade o Reino de Deus tem a ver com o ser pequeno, ser servo. Isso significa que, cumprir com a vontade de Deus, é ter olhos para “os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos, porque não tem com que recompensar” (vv 13-14).
Martim Lutero usou uma parábola para ilustrar o comportamento humilde de uma pessoa cristã: “Quando acontece que duas cabras se encontram numa pinguela sobre um rio, como elas se comportam? Elas não conseguem ir para trás, também não podem passar lado a lado, pois a pinguela é muito estreita. Se elas lutarem e derem cabeçadas uma na outra, ambas podem cair na água e se afogar. O que elas fazem então? Por natureza, uma se deita e deixa a outra passar por cima dela. Agindo assim ambas atravessam ilesas a pinguela. Assim também uma pessoa deveria se comportar diante da outra, deixando que passe com os pés por cima dela, antes de brigar, enfrentar-se e guerrear.”
Embora a ilustração não seja propriamente de nossa época, ela dá o que pensar. Não se trata de simplesmente desistir de si mesmo, permitindo que outros passem por cima da gente. Lutero observa muito bem, o que deve mover-nos é a vida, uma vida que inclui o próximo, especialmente daquele que ficou à margem e se encontra fragilizado. Sempre que houver sensibilidade para uma palavra e um gesto que contribui com a solidariedade, com a inclusão de quem é diferente, haverá a chance de viver a salvação numa dimensão em que há futuro para todos e todas. A ressurreição de Jesus confirma que é este o caminho correto aos olhos de Deus, o caminho da inclusão e da solidariedade. De sua vitória sobre a morte brota a graça e a compaixão que motivam a desistir de simplesmente impor os seus próprios interesses e o lema passa a ser o de servir.
Dietmar Teske – Pastor Sinodal
do Sínodo Sul-Rio-Grandense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil