Pastora Sinodal Mariane Beyer Ehrat
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“Venham conosco para Papua Nova Guiné” – é o convite inicial na liturgia do Dia Mundial de Oração 2009. Pois bem, vamos ao segundo maior país do Pacífico Sul, com suas mais de 600 ilhas; vamos ao país em que se fala 800 línguas, a maior quantidade de línguas nativas de todo o mundo; que tem mais de 1000 grupos culturais diferentes, com uma infinidade de tradições, com clãs que se orientam pelo sistema matriarcal e outras extremamente patriarcais. Dos 5,8 milhões de habitantes, 85% vivem em área rural, sobretudo, na parte alta da ilha situada a 1.000 metros do nível do mar. Nos centros maiores a sociedade é multicultural. Na capital, Porto Moresby, vive meio milhão de pessoas, e, lado a lado vivem asiáticos, europeus, australianos, americanos e ilhéus. Nos centros urbanos há muito desemprego e violência. Mulheres são vítimas da discriminação e 60% delas são analfabetas. A Igreja tem tido um importante papel no desenvolvimento de Papua Nova Guiné, principalmente na área da educação, saúde e agricultura. O povo tem uma profunda religiosidade, 96% da população é cristã, em sua maioria católicos. A igreja luterana é a segunda maior no país, seguida pela Cristã Unida e Adventista do Sétimo Dia. Grande parte dos povoados estão construídos ao redor da igreja. Até neste particular, sente-se a importância da igreja. As igrejas são muito ativas e as comunidades muito hospitaleiras e vivas no louvor a Deus.
Em nossa pequena viagem a Papua Nova Guiné já ficou claríssimo do por quê da escolha do tema: “Em Cristo somos muitos membros, mas um só corpo” (Romanos 12.5). Em meio a tamanha diversidade a fé é, por excelência, o laço de união. Lá, “unidade na diversidade” não é doutrina, nem chavão, é vivência real. É testemunho fantástico da força da fé, capaz de trazer novidade de vida em meio a estruturas hierárquicas milenares, culturas e sistemas diversos. A história da igreja em Papua Nova Guiné nos dá mostras do que é “não se conformar com o presente século”, mas fazer transformações a partir da renovação de “vossas mentes” (as citações acima, como as que seguem são de Romanos 12). É tarefa da Igreja de Jesus Cristo antecipar o novo “éon” de Deus, isto é, trazer alternativas novas em meio ao mundo velho. Ela não pode dar seu aval onde fortes dominam fracos, onde homens compram direitos sobre mulheres, onde eruditos se privilegiam com o analfabetismo. E, esta transformação não acontece sem “sacrifício vivo”, sem sacrificar individualismo em favor da comunidade. Por isso, comunidade que vive a fé, fundada na misericórdia e graça divina, supera divisões e ides e experimenta o espírito de unidade na diversidade, apesar de muitas línguas, culturas, tradições e crenças até.
Em Jesus a misericórdia de Deus se materializou, “se tornou carne”, atingiu judeus, gregos e bárbaros, toda a humanidade. E, é justamente na vivência da misericórdia e da fé que embora muitos, nos tornamos “um só corpo”. Cristo Jesus é o vínculo da comunhão. E mais: além de sermos “um só corpo”, somos também “membros uns dos outros”. Estamos ligados não só ao corpo, mas uns aos outros. “Somos irmãos e irmãs no amor de Deus”, assim diz o refrão de um hino do Dia Mundial de Oração. Saber-se membro de uma grande família gera bem estar, há quem nos abrace, que ora e zela por nós. No sermos “membros uns dos outros”, a dor do outro nos atinge e desafia, não conseguimos mais passar de largo pelas necessidades do próximo.
Na vivência da misericórdia experimentamos acolhida e ajuda e assumimos compromissos. Mas, o grande segredo é que em nós nasce o sentimento de pertença – somos de Cristo, somos da família de Deus, somos irmãos e irmãs. Somos parte de um grande corpo. Cremos que devemos ir na contra mão do individualismo hodierno e das tribos que se criaram em nossa sociedade e pregar que um mundo melhor é possível. Através da vivência da fé e da misericórdia cairão barreiras e abriremos caminhos de “unidade na diversidade”, experimentaremos comunhão intensa e a certeza da pertença a algo maior, o Corpo de Cristo. Oremos por isso.