Proclamar Libertação – Volume 37
Prédica: Tiago 5.1-6
Leituras: Provérbios 6.6-11 e Mateus 20.1-16
Autor: Günter Adolf Wolff
Data Litúrgica: Dia do Trabalho
Data da Pregação: 01/05/2013
1. Introdução
A relação entre os textos de leitura – Provérbios 6.6-11 e Mateus 20.1-16 – é um tanto contraditória, mas a relação entre Mateus 20.1-16 e o texto de pregação de Tiago 5.1-6 é de complementação. Para Provérbios 6.6-11, a preguiça leva à bandidagem e à pobreza. Devemos alertar que a pobreza não advém apenas da preguiça, mas principalmente da exploração à qual a classe trabalhadora está sujeita. A origem da pobreza está na riqueza. No entanto, os desempregados de Mateus 20.1-16 não são preguiçosos, mas desempregados em busca de trabalho. Assim como Jesus em Mateus 20 mostra a sociedade de classes e suas contradições, também Tiago o faz. Mateus 20 propõe o fim da exploração, sugerindo um salário justo, que é o que cada um precisa para viver. No conceito popular, preguiçoso é o pobre, mas o rico que não trabalha, por viver do trabalho da classe trabalhadora, não é tido como preguiçoso, mas como investidor e empreendedor. O pobre que rouba, rouba por ser preguiçoso; rico que rouba parte do trabalho da peonada por não pagá-la (o trabalho excedente gera o lucro), é gente de bem, abençoada por Deus. Nas palavras de Marx: “O dinheiro é o bem supremo, e por isso seu possuidor é bom”.
No capitalismo, há duas formas de roubo: o roubo legal e o roubo ilegal. O roubo legal é o pagamento no salário apenas do trabalho necessário, retendo o trabalho excedente, que é o lucro. O roubo ilegal são as corrupções, falcatruas, crimes do colarinho branco, desvios, assaltos, contrabando, sonegação fiscal etc. Crime é apenas o roubo ilegal. Quem rouba legalmente, não pagando todo o trabalho produzido pelo peão, é um herói, uma pessoa de bem e um exemplo a ser seguido. A compreensão do salário contém o mecanismo para ocultar esse roubo “legal“.
2. Exegese
Nosso texto insere-se no contexto da carta que fala das advertências que vão de Tiago 3.1 a 5.6: aos que querem ser mestres (3.1-12); contra as rivalidades (3.13-18); contra a cobiça (4.1-10); contra a maledicência (4.11-12); contra a ganância (4.13-17); contra a injustiça dos ricos (5.1-6).
Tiago carrega na coerência da fé em Jesus Cristo: a fé tem quer ser coerente com a prática. Afinal, o que está em jogo é o novo projeto do reino de Deus, que é o oposto do reino do mundo. No entanto, a prática do reino do mundo anda muito presente no meio da comunidade, como relata Tiago 5.1-6. Construir o novo, o reino de Deus, não é fácil, pois estamos rodeados pela prática geral do reino do mundo. Fé não é um mero sentimento, mas é uma nova prática do reino de Deus. Tiago 1.27 lembra essa nova prática de fé: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”. Não vamos mais reproduzir o jeito de pensar e de viver do mundo, não vamos nos deixar contaminar; agora vale a dinâmica do reino de Deus, em que somos irmãos/ãs. Tiago 5.1-6 bate forte nessa incoerência. Cristão não pode explorar e oprimir, mas deve acolher os mais fracos e vulneráveis, pois o próprio Cristo está nesses (Mt 25.44-45). Acolher os fracos e explorados é acolher o próprio Cristo. Portanto explorar os fracos é explorar o próprio Cristo.
No capítulo 5, Tiago começa sem meias palavras, dizendo que os ricos estão sob o julgamento de Deus, vão pagar pelo que fizeram com os trabalhadores empobrecidos. Tiago deixa claro que riqueza e corrupção são a mesma coisa. Tiago mostra como funciona a sociedade de classes e a luta de classes. Tiago exagera dizendo que o ouro conseguido pela exploração do trabalho dos empobrecidos vai enferrujar de tão podre que é. Não só podre, mas perecível, contra todas as leis da natureza. O material mais precioso e valioso, considerado o mais seguro investimento, é perecível, é fajuta, enferruja.
Tiago denuncia o acúmulo de tesouros à custa do não pagamento do salário dos trabalhadores e com isso diz como se acumulam tesouros. Esses tesouros não provêm de Deus; riqueza não é bênção de Deus, por isso vai trazer a perdição. Lá se foi a teologia da prosperidade! Exploração da classe trabalhadora clama a Deus. Deus não é cego e nem surdo, como já diz em Êxodo 3.9: “Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo”. Tiago retoma a dinâmica da denúncia profética do Antigo Testamento: Queremos construir um novo projeto, e por isso não dá para se deixar engambelar pelo velho projeto do mundo. Não é à toa que Tiago retoma o termo Senhor dos Exércitos. Esse termo Israel usava no período da luta pela terra e contra o Estado nas montanhas da Palestina, no intuito de construir um novo projeto de sociedade igualitária, sem classes, com poder popular e onde os meios de produção pertencem ao coletivo. Nesse projeto, não cabem a exploração e nem a riqueza, que sempre é de origem do trabalho não pago. Nessa nova sociedade, não pode haver exploração econômica. É a luta do Senhor dos Exércitos, que se antepõe à sociedade classista desigual existente, que não pode ser reproduzida pela comunidade de Jesus Cristo. Pois a comunidade de Jesus Cristo quer construir o reino de Deus e não fortalecer os laços opressivos da sociedade classista envolvente, hoje a capitalista. Reproduzindo o sistema vigente, anula-se o projeto do reino de Deus. Portanto fé em Jesus Cristo não é qualquer coisa; é insurreição e insubordinação ao reino do mundo.
Deuteronômio 24.14-15 põe a regra: “Não oprimirás o jornaleiro pobre e necessitado, seja ele teu irmão ou estrangeiro que está na tua terra e na tua cidade. No seu dia, lhe darás o seu salário, antes do pôr do sol, porquanto é pobre, e disso depende a sua vida; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado”.
O v. 4 fala da exploração, e os v. 5 e 6 falam da opressão inerente à exploração. Esse texto lembra Miqueias 3.1-12, em que o profeta denuncia que o povo está sendo esfolado e quebrado para ser jogado no panelão, para fazer sopa dele. Lembra também Jeremias 12.1-4. Tudo isso não são obras da fé (Tg 2.26); é reprodução do velho projeto do mundo, que continua contaminando a comunidade e dando as diretrizes da vivência, e não o evangelho do reino de Deus, que propõe uma nova sociedade não classista, mas igualitária.
Aqui a comunidade está dentro do sistema de classes existente: patrões e trabalhadores sem terra. O sistema econômico era escravista, mas havia senhores de terra que usavam a mão de obra livre sazonal no período das colheitas. Era a mão de obra dos diaristas que não tinham a cidadania romana; eram estrangeiros (paroikoi) sem terra. Cristão rico é uma contradição e não condiz com as exigências do evangelho. O final do capítulo 4 encaminha o assunto a seguir, apontando para a arrogância e a autossuficiência. Tiago 4.17 lembra: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando”. Agora Tiago descreve o que é pecado e como é o pecado. Pecado tem nome, e Tiago dá o nome ao pecado. Quer dizer: nós cristãos sabemos qual é o projeto de Deus, mas não o reproduzimos, e isso é pecado. A grande pergunta de hoje é se a comunidade sabe qual é o projeto de Deus. Acontece que a comunidade de hoje também não sabe qual é o projeto de Deus (o reino de Deus). Por isso reproduz o capitalismo e defende-o com unhas e dentes. Cristão não defende o capitalismo; cristão defende o reino de Deus. Só Deus salva; o capitalismo não salva.
Tiago denuncia a existência da luta de classes na comunidade e na sociedade como não condizente com o projeto do reino de Deus. A luta de classes agride a vontade de Deus (o texto mostra isso). Por isso ela precisa ser eliminada. Ela será eliminada na medida em que não haja mais classes sociais. Não havendo mais classes sociais, não haverá mais exploração e opressão econômica; finalmente, seremos irmãos e irmãs em Cristo, portanto iguais e fraternos. Fé cristã e riqueza se autoexcluem, são opostos. Riqueza não é bênção de Deus; é pecado, pois surge do roubo do salário retido.
O texto alerta para a ânsia pela riqueza presente na comunidade cristã como algo diabólico e condenado por Deus, pois vai na contramão do projeto do reino de Deus, em que somos irmãos. Riqueza é a característica da velha sociedade; igualdade, fraternidade, acolhida das vítimas do sistema, justiça e comunhão são as características da nova sociedade: o reino de Deus.
Não há lugar para a luta de classes na comunidade de Jesus Cristo. Não há lugar para uma sociedade construída em cima de classes sociais antagônicas na comunidade de Jesus Cristo, pois essa sociedade classista é essencialmente injusta, opressora e diabólica. O capitalismo é diabólico, pois funciona como Tiago nos relata a partir de sua época: pelo não pagamento de todo trabalho realizado.
3. Meditação
Aqui dever-se-ia dar uma aula de capitalismo para desmascarar o seu funcionamento, já que o texto se destina à pregação no dia 1° de Maio, que surgiu a partir da opressão capitalista sobre a classe trabalhadora. A simples leitura do texto de Tiago 5.1-6 já arrepia. Sugiro lê-lo duas vezes em voz alta para a comunidade, pois denuncia a teologia da prosperidade, muito difundida no meio cristão atual.
Tiago acentua que a riqueza é gerada pela retenção do salário dos trabalhadores. Riqueza é roubo. Tiago põe acento na situação dos trabalhadores explorados, injustiçados e massacrados.
O que é o salário? É a quantidade de dinheiro que o trabalhador recebe em troca de seu trabalho. Mas esse não é o equivalente ao valor de produtos (mercadorias) que ele produziu. Seu valor é calculado com base no que ele necessita para sobreviver e manter, com sua família e seus filhos, a mão de obra futura da empresa.
O capital transforma tudo em mercadoria; também as pessoas que se vendem no mercado de trabalho. Como se calcula o preço de uma mercadoria? Calcula-se o Capital Constante (Matéria prima + máquinas e seu desgaste + prédio + água + energia + impostos) mais o Capital Variável (Trabalho necessário + Trabalho excedente) mais a Renda diferencial, que é o Preço da mercadoria + um lucro médio.
Trabalho necessário é o salário que se recebe e que é necessário para a sobrevivência do/a trabalhador/a. Trabalho excedente são os dias que se trabalha e não se recebe por isso, o que gera a mais-valia – o lucro, o capital. Esse trabalho excedente o salário consegue esconder, pois o peão e o patrão combinaram um salário no final do mês, e assim o peão acha que está tudo normal. No entanto, o peão não calcula em quantos dias ele pagou o seu salário e quantos dias ele trabalhou de graça para o patrão. Assim, a exploração do trabalhador acontece durante o processo de produção da mercadoria. Por isso o objetivo do capitalismo é produzir mercadorias, pois é nesse processo de produção das mercadorias que surge o lucro, o capital, pela realização do trabalho excedente que não é pago.
Dou aqui um exemplo para compreender o trabalho excedente, que é o gerador do lucro do capital.
Cálculo do salário de um mecânico de uma agência de carros em valores de maio de 2008:
220 horas trabalhadas ao mês x 50 reais a hora (custo da hora trabalhada) = 11.000 reais – valor gerado ao mês pelo mecânico.
O mecânico recebe 4 SM = R$ 1.660,00 (SM em maio de 2008 era R$ 415,00) + encargos de 100% = R$ 3.320,00, que é o “custo” do mecânico.
R$ 11.000,00 (valor gerado ao mês) – R$ 3.320,00 (“custo do mecânico”) = R$ 7.680,00, que é o lucro do patrão. Assim surge o capital, assim avaliado por Tiago: “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude”.
R$ 50,00 a hora x 8 horas de trabalho ao dia = R$ 400,00 é o valor gerado por dia.
3.320,00 (salário mais encargos) ÷ 400,00 (valor gerado ao dia) = 8,3 dias de trabalho foi o tempo que o mecânico levou para gerar o seu salário mais os encargos sociais. Não é o patrão que paga o salário; é o próprio mecânico que gera com seu trabalho o valor de seu salário e dos encargos sociais.
O mecânico gerou o seu salário em 8,3 dias e trabalhou 19,2 dias de graça para o patrão, que é o trabalho excedente, o mais-valor, o lucro, o capital. 19,2 dias de trabalho não foram pagos, e isso o conceito de salário esconde. Assim, a origem do capital está no roubo dos dias trabalhados e não pagos.
220 horas ÷ por 8 horas diárias dá 27,5 dias de trabalho ao mês; diminuídos os 8,3 dias em que o mecânico gera o seu salário e encargos, sobram 19,2 dias trabalhados de graça. Essa é a fraude embutida no salário, esse é o roubo que gera a riqueza. Isso decididamente não pode ser bênção de Deus.
Escutei, muitas vezes, de muitos empresários cristãos convertidos falando da vida boa de seus peões, dizendo: “Os empregados é que têm uma vida boa. Não precisam se preocupar depois de sair do serviço, têm um fim de semana de folga, além das férias. Os empresários, por sua vez, têm vida atribulada e sofrida e por isso não conseguem dormir descansados à noite, pensando como irão arranjar dinheiro para pagar os peões no fim do mês”. Ouvi essa conversa de empresários muitas vezes e, por fim, comecei a lhes sugerir que trocassem de papéis e de funções: que entregassem toda a empresa para os peões administrarem e eles, os empresários, virariam tranquilos, afortunados e descansados peões, com os salários e o ritmo de trabalho correspondentes a esses, é claro. Adivinha a resposta!
O capital reduz toda atividade humana a trabalho e toda realização do ser humano a mercadoria. O ser humano é constrangido a aceitar a mais desigual das trocas: a da vida pela sobrevivência, sendo forçado pela necessidade a fazer de suas aptidões um objeto de consumo e vendê-las no mercado de trabalho. Tendo conseguido vender sua força de trabalho, a realização do proletário torna-se sua desrealização; a afirmação do proletário torna-se a negação de si como pessoa, pois o trabalhador não age como ser humano, mas como força de trabalho, como mercadoria, subordinado à vontade do capitalista, em troca de um salário. A burguesia busca controlar o Estado, a principal fonte de acúmulo de riquezas, a partir da chamada mais-valia social, que o Estado concentra anonimamente por meio de impostos. Com esses impostos o Estado realiza obras que são executadas pelas empresas capitalistas e dessa forma se apropria desses impostos.
4. Imagens para a prédica
As imagens para a prédica apontam para Tiago 5.5-6: “Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração em dia de matança; tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência”. É a denúncia da realidade dos trabalhadores. O objetivo do capitalismo é produzir mercadorias, pois é no processo da produção da mercadoria que surge o lucro. Uma palavra de Maurício Botelho, ex-presidente da Embraer, mostra o objetivo do capitalismo: “Não temos nenhum interesse especial pela aviação; nosso objetivo é o lucro”.
O que cria riqueza, o que gera valor é o trabalho humano, empregado na produção de mercadorias. Sem trabalho humano não há riqueza. No processo de produção da riqueza capitalista, há o Trabalho Necessário e o Trabalho Excedente. Trabalho necessário é o salário que se recebe para sua automanutenção. O salário esconde o processo de exploração, pois o trabalhador combinou com o patrão um valor x, e assim ele não faz a conta quanto ele produz por mês a mais do que ele recebe como salário. Esse valor a mais é o Trabalho excedente, que são os dias que se trabalha e não se recebe por isso, o que gera o mais-valor – o lucro –, que é produzido, segundo os relatos dos noticiários, como segue.
1 – Os operários encarregados da montagem dos iPhones, iPads e outros aparelhos da Apple trabalham com frequência em condições terríveis, de acordo com empregados das fábricas, grupos de defesa dos trabalhadores e relatórios publicados pelas próprias companhias. Os operários fazem horas extras excessivas; em alguns casos, trabalham sete dias por semana e vivem em dormitórios superlotados. Alguns trabalham em pé por tanto tempo, que suas pernas incham a ponto de quase não conseguirem andar.
2 – Sugiro ver o filme “Carne e Osso”, que mostra o processo produtivo nos frigoríficos de abate de aves e bovinos.
Vilma Fátima Favero,“encostada” aos 42 anos, trabalhava na Seara de Sidrolândia, no interior do Mato Grosso do Sul, como “ajudante agropecuária”. “A gente separa os pintos, põe na caixa, vacina, forma o lote e põe no caminhão.” Cada trabalhador coloca milhares de pintos por hora nas caixas. Cada caixa tem cem aves. “Tinha gente que não aguentava e desmaiava, pois muitas vezes se varava a noite. Começava às duas da tarde e largava por volta da meia-noite. Muitas vezes, passava do horário, pois eram 130 mil pintos e apenas quatro pessoas para sexar. Se alguém faltava, era pior; o trabalho acumulava para ser dividido entre quem se encontrava. O ritmo aumentava ainda mais, insuportável”. Hoje está incapacitada para o trabalho e tem tendinite e cinco hérnias de disco por causa do trabalho repetitivo e extenuante.
3 – A propriedade de seu Sebastião Pereira em Altamira, um dos vários produtores de cacau da Volta Grande do Xingu na região de Altamira, PA, foi desapropriada em 2011 pela Norte Energia, construtora da Barragem de Belo Monte, e incorporada à área do canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte, conhecida como Sítio Pimental. Apesar de terem destruído sua casa assim que foi decretada a desapropriação, a empresa ainda não pagou o valor da indenização à família. Em função do não pagamento da terra e das lavouras, Sebastião resolveu continuar trabalhando na área e, quando voltou à propriedade, ele foi impedido de entrar e ameaçado de morte se voltasse por seguranças da empresa. As barragens são construídas para gerar lucro para os consórcios que as controlam e que vendem energia barata para que as outras empresas capitalistas possam produzir mercadorias baratas para poder competir no mercado mundial à custa da expropriação dos atingidos.
4 – O trabalho escravo nas fazendas do agronegócio (2.321 escravos libertos em 2011) e nas oficinas de confecção na cidade de São Paulo faz parte da dinâmica do capitalismo. Entre 2005 e 2011, foram libertados cerca de 30 mil trabalhadores em condições de escravidão no país. 45.595 pessoas viveram em 2011 sob a pressão de pistoleiros a serviço da ação dos grileiros do agronegócio em todo o país.
Esses exemplos nos mostram como se produz a riqueza, o lucro. À mesma medida que se produz a riqueza, produzem-se a miséria, a doença, a opressão e o sofrimento indizível da classe trabalhadora. A miséria é o outro lado da moeda da riqueza. Por isso o bispo João Crisóstomo, de Antioquia, que morreu em 407 d.C., disse: “Todo rico é ladrão ou filho de ladrão”. Tiago, como Jesus, coloca os trabalhadores e sua realidade no centro da discussão: são vítimas do sistema. Para uma sociedade de classes, a realidade é essa; esse é o preço do progresso. Mas para quem luta pelo reino de Deus, essa realidade precisa ser denunciada e mudada.
5. Subsídios litúrgicos
Confissão de pecados:
Salário baixo é pecado. Trabalho escravo é pecado. Reproduzir e legitimar a sociedade de classes é pecado. Legitimar o capitalismo através do evangelho é pecado.
Absolvição:
Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido (Fp 4.6, Sl 34.18).
Kyrie Eleison:
Socorre, Senhor, todas as pessoas que, neste vasto mundo, são forçadas a viver de forma indigna: As que vivem diariamente com fome, as que vivem em barracos, sob tetos improvisados ou mesmo a céu aberto, as que passam sede, as que estão fracas, doentes e a ponto de desistir de viver.
As que trabalham em condições subumanas, em ritmo tão acelerado que ficam com lesões permanentes e incapazes para qualquer trabalho.
As que trabalham diariamente com agrotóxicos que as deixam doentes.
Gloria in Excelsis:
Deus, Todo-Poderoso, exaltamos-te, pois nos anunciaste através de teu Filho o projeto da felicidade eterna: o reino de Deus. Exaltamos-te, Senhor, porque a função da tua igreja hoje é participar do processo de libertação iniciado por Jesus Cristo.
Oração Geral da Igreja:
Interceder pelos trabalhadores/as desempregados, pelos malremunerados, pelos que trabalham em lugares insalubres, pelos que estão sendo ameaçados de morte porque lutam por justiça, pelos que lutam pela reforma agrária e contra as barragens, pelos trabalhadores escravizados pelo agronegócio e pelas oficinas têxteis das grandes cidades, pelos camponeses iludidos pelo projeto do agronegócio baseado no químico, no veneno e nas sementes transgênicas.
Bibliografia
CEBI. Cartas Pastorais e Cartas Gerais. Roteiros para reflexão XI. 2011. 2005. São Leopoldo: CEBI & Paulus.
GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. As comunidades cristãs a partir da segunda geração. São Leopoldo: CEBI & Paulus.
TAMEZ, Elsa. A Carta de Tiago. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1985.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).